ㅤㅤA morte do senhor Retsu foi algo repentino e inesperado, antes os humanos primordiais queriam o levar por conta própria, o arcanjo não gostou dessa atitude, achou que fora uma afronta contra os céus, afinal eles já teriam falhado na missão de matar o príncipe dos dragões, inúteis, era a definição para os dois que se passava na cabeça de Miguel, o arcanjo.

ㅤㅤ– Desobedeceram as ordens do imperador assim, vocês tem coragem. . . Malditos! – Ele parecia querer cortar o rosto de Eva agora, mas Adão se ajoelhou para ele como forma de reverência. – Sinto muito senhor. . . Eu fiz minha esposa sair de lá contra sua vontade, teríamos feito o trabalho se não fosse por mim! – Ele se rendeu fácil, não queria ver Eva se ferindo por nada, ela já sofria demais por conta própria. – Bom, eu não estou aqui para cuidar de vocês mesmo, só vim garantir que esse velho morresse, venham comigo até o céu, o imperador quer conversar com vocês.

ㅤㅤO arcanjo ergueu a mão, essa que começou a brilhar com uma luz sagrada que com certeza deixaria qualquer um que olhasse demais, cego. Com isso, abriu uma espécie de portal para os céus, e então ambos os três entraram; relutante Eva entrou, não queria deixar o corpo do velho senhor ali no chão, sem um enterro digno, mas um olhar de repreensão do deus a fez ignorar, mesmo que não quisesse; com a entrada no portal, o que aconteceria lá dentro era mistério, afinal o núcleo importante por agora, é a chegada de Gabriel e Maria até o campo de flores divinas.
ㅤㅤMaria afirmou que o mapa indicava com magia que já estavam ali perto, então o dragão começou a pousar vagarosamente, até que quando terminou a descida, ambos se impressionaram, tinham lindas flores? Claro que sim, mas também. . . Espadas! Sim, espadas gigantescas que nem mesmo os gigantes daquele mundo poderiam empunhar, eram o suficiente para rasgar montanhas no meio, quem seria o dono delas? Além dessas enormes, tinham pequenas no meio das flores, estavam enferrujadas e desgastadas com o passar dos séculos.

ㅤㅤ– Tem certeza que esse é o lugar? – Gabriel ficou na forma humana sem tirar Maria de cima a fazendo cair de cara no chão. – Oh, desculpa!

ㅤㅤ– Idiota, na próxima avisa! – O garoto levou um cascudo sem demora, mas o leve momento descontraído passou após ouvirem barulhos em meio as flores e o campo de espadas, parecia algo pequeno mas era veloz. – Gabriel, se prepara! – Ela se armou com os punhos, os levantando para lutar.

ㅤㅤGabriel nem respondeu, apenas olhou para ela com desdém, enquanto se aproximava da tal coisa, e quando tirou das flores, era só um coelho negro. – É só um coelho, poxa! – Maria vendo que ficou com medo de um coelho se virou de costas. – Eu já sabia, claro! – Uma mentira óbvia. Mas com isso, pelo menos rendeu boas risadas para Gabriel que deixou o coelho ir, com isso; seguiram viagem ao meio das espadas.
ㅤㅤCom algumas horas andando, já estava ficando tarde naquela área, o sol estava perto de partir, então eles fizeram um pequeno acampamento, só com uma fogueira e uns sacos de dormir improvisados, mas para a infelicidade de Maria ela estava sozinha no escuro, ela olhava ao redor e até parecia que tinham silhuetas observando ela por trás das espadas. – Onde está Gabriel?! Droga!! – Ele partiu em busca dele, até que achou ele sobre uma pedra, parecia estar treinando os chutes que viu Eva fazer, mas infelizmente não conseguia nem subir a perna metade do que era necessário.

ㅤㅤ– Merda, eu não consigo! Como que eu refleti o ataque de Adão com essa habilidade inútil que tenho?! – Estava frustrado consigo mesmo, ainda praticando, Maria decidiu não o atrapalhar, ele precisava fazer aquilo, ficar sozinho e se provar para si mesmo. O medo da garota até sumiu, o sentimento ruim de antes virou admiração; decidindo agora, que não ficaria para trás.

ㅤㅤEla saiu dali e voltou ao acampamento, olhava fixamente para a fogueira e então começava a fazer uma espécie de dança, para fazer as energias do mundo fluírem pelo seu corpo, mesmo que não sentisse nada, queria fazer o fogo da fogueira subir mais, e ao finalizar o movimento, abriu a mão na frente do fogo, mas ele não subiu, apenas fez com que queimasse a mão. – Ai ai ai! Não era assim! – Ela pulava e jogava água na mão com um cantil, se acalmando mais. Percebeu que como Gabriel, tinha um longo caminho para que pudesse ficar mais forte, um longo caminho.
ㅤㅤ– O que está fazendo, Maria? – Ela tomou um susto com Gabriel e pulou para frente pegando uma espada no chão e apontando para ele. – Fique longe, criatura maligna! – Ele estava com uma expressão confusa, mas estava de noite, compreendeu e fez ela largar a espada, precisavam dormir. E foi o que fizeram, entraram nas sacolas que fizeram e adormeceram, com o barulho da fogueira sendo sua única companhia.

ㅤㅤJá com o nascer do sol, a primeira a acordar foi Maria, que viu que o príncipe dormia igual um ogro, não acordava por nada. Então ela pegou um balde e foi para longe dali, voltando alguns minutos depois com o balde cheio de água, o jogando com violência na cabeça do garoto. – Ah! O que foi, acharam a gente?! – Ele colocava as escamas a mostra e dava um enorme salto, até os olhos dele mudaram, ficaram vermelhos. – Não, eu só te joguei água mesmo! – Ela fazia um movimento com o punho, querendo enfatizar a brincadeira, até que Gabriel viu as roupas molhadas e começou a correr atrás dela com raiva. Depois de se secar, ele foi comer, precisavam de energia para continuarem, diferente de Maria que comia pouco, fizeram quase um banquete em uma bolsa mágica para Gabriel, parecia ter comida infinita lá dentro.

ㅤㅤE quando finalmente parou, Maria estava cochilando, ele bateu as palmas e ela acordou. – Tô acordada e pronta pra aventura! – Ela dizia se levantando parecendo um robô toda travada, e então pegou as coisas, tinham que continuar andando por ali. E enquanto caminhavam, o príncipe percebeu que não sabia o que estavam procurando, nem ao menos perguntou ao seus novos amigos.

ㅤㅤ– Maria, assim. . . Do que a gente tá atrás? – Ela pegou uma pedra que também tinha uma runa, essa brilhava em verde, e parecia piscar sempre que passavam por alguns lugares.

ㅤㅤ– O senhor Grindewold disse Gabriel, que tínhamos que achar a marcação de um elfo muito famoso por aí, Roger. Ele deixou em alguma espada gigante por aqui, se a gente achar, vamos saber aonde fica o reino dos elfos! Mesmo que eu não saiba no que uma marcação vai ajudar, sabe. . . – Gabriel ficou confuso, se era um reino não era bem conhecido? Era só se disfarçar por aí e perguntar a direção, mas Maria respondeu essa dúvida antes que ele perguntasse.

ㅤㅤ– Ele disse que os elfos tem alguns costumes muito fechados, então seu reino é protegido por uma magia que impede que cheguem lá, mas ele disse que se lermos a transcrição, iríamos direto para lá. – Ela continuou andando, seguindo as piscadas da pedra mágica, até que sentiu que sua bolsa tinha ficado mais leve, Gabriel pegou alguns papéis lá de dentro, neles tinha escrito;

ㅤㅤ– "Dragões agora são traidores do mundo, aqueles que acharem e trouxerem vivos ou mortos para a capital do mundo, ganharão recompensas exorbitantes em dinheiro, mais de 10,000,000 wuzos."

ㅤㅤEla pegou os papéis de volta e colocou na bolsa. – Gabriel, você não precisava ver isso, é algo cruel. – Realmente era, a sua linda espécie sendo caçada apenas por dinheiro? Por um momento pensou que ninguém iria tentar caçar seu povo, até que lembrou de uma organização do mundo, eram os “Caçadores”.

ㅤㅤQue tinham apenas humanos como membros, seu trabalho era caçar seres fantásticos que trouxessem perigo para outras raças. – Oh cacete, Maria! E se os caçadores vierem atrás da gente?! A gente não tem chance! – Ele parecia bem confiante nessa informação, afinal quando mais novo, seu pai uma vez mostrou os caçadores fazendo seu trabalho, eram implacáveis.

ㅤㅤ– Não se preocupa, se eles vierem você se transforma e saímos voando! – Ela nunca viu eles em ação, sua confiança iria durar pouco, afinal. . .

ㅤㅤJá tinham três caçadores seguindo eles, discretamente passando entre as espadas gigantes para não serem vistos, além do que, estavam bem distantes. Como eles eram? Bom, tinha uma garota lá, ela tinha cabelos loiros que brilhavam enquanto a luz do sol batia, talvez até de noite brilhasse daquele jeito. Ela estava acompanhada de três enormes ursos com os olhos brilhantes, na mesma cor de seu cabelo; hipnotizados os animais estavam.

ㅤㅤ– Cachinhos dourados, mande seus ursos para mais longe, eles vão acabar percebendo! – Falando com a loira, tinha um senhor, usava um uniforme azul claro, tinha uma idade até que avançada, cabelos grisalhos bem cuidados e óculos de sol, era sensível com luzes fortes, afinal.

ㅤㅤ– Pegue mais leve com ela Vidro, ela ainda é nova no trabalho, haha! – A loira ficou irritada com o comentário de seu colega, chamado de Pescador, eles não tinham nomes? Era regulamento do esquadrão dos caçadores, eles não podiam usar nomes, apenas apelidos e títulos.

ㅤㅤO velho tinha mãos vazias, a loira carregava uma espada de dois gumes e o pescador? Ele usava uma vara de pesca, sim. . . Ridículo não? Era difícil se sentir ameaçado com esse trio esquisito, mas não dá para se enganar assim nesse mundo, os mais excêntricos, são os mais fortes.

ㅤㅤ– Bom, isso não importa! Temos uma longa e divertida caçada pela frente! – O velho afirmava fechando os punhos, os mandando parar, afinal Maria e Gabriel acharam o que queriam, uma espada enorme, menos enferrujada que as outras e nela, tinham palavras em latim, que Maria e nem Gabriel entendiam, teriam que dar um jeito de descobrirem algo.

ㅤㅤO velho senhor caçador, decidiu que eles não iriam conseguir sair dali de forma alguma, aproveitando que o tempo lá parecia passar mais rápido, já estava anoitecendo, com a luz da lua. Isso fez com que o brilho dos cachos da loira chegasse até nossos heróis, que imediatamente olhavam para trás. Três caçadores ali na frente, parece que Gabriel tinha o que chamavam por aí de. . . Boca de praga! Isso, sempre que algo pode dar errado, vai dar!

ㅤㅤOs ursos começaram a rosnar olhando para o príncipe e a sua amiga maga, o velho fazia alguns alongamentos, enquanto o pescador? Apenas bocejava, queria acabar logo com aquilo e ir dormir. Mas esses dois já passaram por muita coisa, não iam se render assim, Gabriel colocou suas escamas para fora junto da sua cauda e chifres, estava pronto; Maria? Tinha algumas artimanhas em sua bolsa. E então que comece. . . A hora da caçada!

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤCONTINUA. . .