TROTE? (capítulo atualizado)
C A S S I A N A A N D R A D E
Puxei a cadeira de rodinhas até a minha escrivaninha, franzido a testa ao ler a mensagem do corpo do e-mail estranho que recebi do destinatário anônimo.
Busquei o destinatário para responder, mas também não me ajudou em nada.
O [email protected] não recebia mensagens, era como se o email não existisse mais.
Me ajeitei na cadeira, pensando no que fazer a seguir e reli o e-mail várias e várias vezes, tentando entender. Obviamente se tratava de algum tipo de trote. Queria achar alguma forma de responder esse troll engraçadinho e mandar ele enfiar essa bomba naquele lugar, mas algo naquele e-mail me causou um frio na espinha, quando li pela primeira vez.
Um mal pressentimento.
Soltei um longo suspiro tentando ser racional e repassei todos os acontecimentos recentes na minha mente.
Um mês atrás, eu estava lutando contra um assassino em série, que estava tentando matar a irmã do meu namorado, a melhor amiga dela e óbvio a filha do detetive encarregado do caso dele, euzinha. Depois de entrar em uma luta corporal, ter perfurado a perna do assassino com um garfo de churrasco, eu apanhei até apagar e quando acordei novamente encontrei meu namorado, Edgar sangrando na cozinha, após ter tentando me salvar. Logo em seguida meu irmão, Enzo me salvou, se jogando contra o Stalker que estava atrás de mim, prestes a me esfaquear pelas costas, horrorizada vi os dois travarem uma luta violenta para a posse da faca, infelizmente o Stalker ganhou e começou a esfaquear Enzo, me fazendo gritar, apavorada. Enzo lutou com todas as forças, se defendendo, colocou o braço na frente, recebendo os primeiros golpes, mas logo o Stalker mirou na sua barriga, enfiando a faca bem fundo. Me forcei a reagir e busquei qualquer coisa que pudesse me servir como arma na cozinha, peguei uma frigideira e acertei com toda a força na cabeça do Stalker o apagando. Logo meu pai chegou com a policial e prenderam o Stalker.
Infelizmente o drama não acabou ainda, dentro do hospital o Stalker conseguiu pegar uma granada e explodiu o lugar com todos nós dentro dele! Dai eu já não lembro de muita coisa, sei que meu pai conseguiu tirar eu, Enzo e Edgar de dentro dos escombros, e o corpo do Stalker ficou carbonizado lá dentro. Esse foi o fim do caso.
Se o Stalker estava morto, esses e-mails desse tal de anônimo só podem ser trotes, certo?
Eu acabei de ganhar alta, que droga! Isso não é brincadeira que se faça. Ah, se eu pegar o desgraçado que fez isso.
Tentei me acalmar e tentar me concentrar nos fatos para não surtar.
O caso foi encerrado, o Stalker morreu. O perigo acabou, certo?
Olhei o e-mail novamente.
Olá Cassie
Você deve estar confusa com a contagem regressiva que está recebendo no celular.
Devido às manchetes sobre o seu grande desempenho no caso do Stalker vi que você tem uma grande capacidade de solucionar problemas. Deixe-me te explicar o jogo. És o primeiro de nossos muitos. Coloquei uma bomba caseira no Colégio Estadual Solano Trindade (CEST) e irá explodir em menos de 48 horas.
Es sua missão:
Encontre a bomba e salve os alunos.
É uma bomba de pequeno porte, capaz de explodir uma sala inteira.
PS: ESTÁ PROIBIDA DE COMUNICAR QUALQUER AUTORIDADE.
ISSO INCLUI SEU PAI E ATÉ MESMO SUA MADRASTA.OS ÚNICOS AUTORIZADOS A SE ENVOLVEREM NO CASO:
EDGAR
ENZO
MELISSA
Deixando seus amigos participarem, acho que fica mais divertido como adoram brincar de detetive.
Boa sorte.
Ass: V
Outro frio na espinha. Tentei enfiar na minha cabeça que era apenas um trote, que eu estava paranoica. Caramba, eu passei por poucas e boas há pouco tempo. Era normal me sentir assim, apreensiva. Mas toda vez que eu leio esse email, sinto um frio na espinha. Uma sensação ruim.
Como se a Cassie paranoica dentro de mim dissesse: Fica esperta, isso não é brincadeira!
De repente eu percebi que estava sem fôlego, em algum momento eu prendi a respiração.
Fechei os olhos e soltei o ar lentamente, controlando a minha respiração. Percebi também que meu coração estava um pouco mais acelerado que o normal.
Novamente respirei fundo, me acalmando.
Eu não estava tão traumatizada assim para ter um ataque de pânico só por causa de um e-mail.
Controle-se mulher, você é Cassie Andrade! Você descobriu quem é o Stalker e ajudou a prendê-lo. Você lutou com um assassino em série e sobreviveu. Você não tem medo de nada. Você é foda, garota.
Disse para mim mesma, dando leves tapinhas no meu rosto. Sorri olhando para o meu reflexo na tela apagada do meu notebook, já estava me sentindo bem melhor. Respiração controlada, mente leve e ego lá em cima. Eu era boa em me auto-bajular.
Chega de enrolar, mexi no touchpad do notebook para reacender a tela, e voltar para o maldito e-mail. Eu precisava investigar, descobrir algo para ter certeza que não era nada sério.
A grande questão era: Como?
Eu não podia responder o e-mail, porque aparentemente ele não existia, mas ironicamente estava conseguindo me enviar dois e-mails. O primeiro com a foto da minha antiga escola de ensino médio e o segundo com essa mensagem bizarra.
Obviamente era alguém que me conhecia.
Sabia onde estudei, sabe sobre meu pai, Verônica , Enzo, Melissa e Edgar.
Primeiro pensei que poderia ser alguma pegadinha dos meus amigos, Juliana e David, mas na mesma hora eu descartei a ideia. Eles não fariam isso comigo. Sabe de tudo que passei nas mãos desse desgraçado.
Não tinha mais suspeitos em mente. Quem mais saberia todas essas informações?
Fechei os olhos, jogando o corpo para trás e batendo a cabeça de leve no encosto da cadeira.
Acabei de lembrar que demos algumas entrevistas no hospital, depois que o caso stalker foi solucionado e da explosão. Os repórteres começaram a fuçar sobre nossas vidas, buscar informações, até a minha diretora deu entrevista falando que eu estudei lá e fui uma aluna exemplar.
Meu ego de ariana não conseguiu se conter, me obrigando a fazer um pequeno teste de pesquisa no google com o meu nome.
Cassiana Andrade
Os resultados vieram em pesos, em sites de notícias, blogs de amadores e claro as fotos da casa de Edgar, da explosão do hospital. Eram fotos horríveis, todos ensanguentados, gravemente feridos.
Devia ser proibido deixar publicar essas coisas na internet.
Sai das imagens para as noticiais.
Cassiana Andrade, a filha do delegado e investigador Rodolfo Andrade que atua na 13º DP foi uma das principais responsáveis pela prisão do famoso assassino em série que assombrou o Rio de janeiros nos últimos dias...
Continue lendo
A filha do Delegado Rodolfo Andrade, foi a responsável por localizar o criminoso que estava a caminho da casa da sua próxima vítima, para orquestrar mais três mortes brutas da adolescente que vinha se relacionando pela internet, a amiga da adolescete e a filha do delegado.
A jovem ágil rápido, ligando para o pai, escondeu as vítimas e sozinha enfrentou o assassino em série...
Clique aqui para a reportagem completa.
Não pude deixar de sorrir ao ler esses pequenos trechos. Me tornei um tipo de heroína, minhas redes sociais estavam bombando e tudo isso seria muito bom para o meu currículo de futura investigadora e delegada.
O lado ruim é que qualquer um que quisesse podia saber pelo menos o mínimo de mim, ao buscar na internet. Isso fez meu sorriso murchar, mas por outro lado só fortaleceu a possibilidade de ser algum trote. Um hater com inveja da minha súbita fama.
Depois do Stalker, eu estava recebendo inúmeros convites inusitados. Principalmente para programas sensacionalistas, entrevista em canais do youtube, lives de instagram.
Afinal uma bomba dentro de um colégio que vai explodir em menos de dois dias?
Balancei a cabeça. Sem chance. Era uma brincadeira.
Deixei um sorriso se formar nos meus lábios contendo a risada fechando o notebook e recuperando a minha sanidade. Já estava ficando desesperada e bancando a detetive por causa de um trote da internet. Estava parecendo até os meus avós que acreditavam em tudo que leio na internet.
Poderia ser até uma dessas pegadinhas que os youtubers estão fazendo para ganhar curtidas.
Ou algum novo tipo de pegadinha com os novos famosos da internet.
Era o mais lógico, então decidi ignorar.
Fechei o notebook, disposta a esquecer o assunto e tentar relaxar um pouco.
Eu acabei de ganhar alta, tirar o gesso e curtir uma bela e vergonhosa festa de família, que armaram estrategicamente para conhecer o Edgar e bem provavelmente se desculpar por acharem que o coitado era o Stalker e de bônus, me envergonhar.
Com esses pensamentos, eu sorri deitada na cama, animada com essa nova fase na minha vida.
No final de contas não foi tão ruim ganhar uma madrasta e um irmão. Graças a nossa rainha da vara de família, Verônica , eu pude conhecer Isabella e perceber o relacionamento dela com o Stalker, além de Claro ajudar a pobre Helena em um caso outro caso perigoso. E não posso esquecer do príncipe da vara de família, o Enzo que salvou a minha vida, colocando a própria em risco. Me levantei com um sorriso bobo, meu pai nunca erra. Ele colocou as pessoas certas em casa para nos ajudar. Quem diria que eu ia acabar amando essas pessoas que odeiam a primeira vista?
Fui em busca do meu celular, procurando na cabeceira ou estante, talvez alguém estivesse falando comigo no whatsapp. Quem sabe Edgar já estivesse em casa e estava me mandando alguma mensagem ou a Melissa estivesse me mandando mensagens reclamando dos repórteres que cercavam a sua casa, como fazia quando eu estava no hospital.
Melissa e eu estávamos voltando a nos falar aos poucos, como antigamente, na escola onde nós duas estudávamos, ela em séries avançadas e eu no ano letivo comum.
Nós duas meio que nos afastamos quando eu entrei pra faculdade e ela entrou pra equipe do meu pai na delegacia e ainda ingressou numa pós graduação..
Confesso que fiquei morrendo de ciúmes e inveja ao ver a Melissa trabalhando ao lado do meu pai todos os dias, e isso é claro, influenciou no meu afastamento.
Eu odiava a ideia de dividir meu pai com quem quer que fosse. Desde que minha mãe nos deixou, éramos só nós dois. Com isso ele se tornou meu melhor amigo, meu parceiro, meu tudo.
Então fui crescendo e ele voltou a trabalhar. O que diminuiu bastante o nosso tempo juntos, mas tudo bem, ele precisava trabalhar e ainda tínhamos os finais de semana, as folgas.
Entretanto, os trabalhos foram dobrando, moramos no Rio de Janeiro, o crime não tirava folga e nem meu pai, se ele quisesse ser delegado e manter as contas em dia, tinha que trabalhar sem parar.
Sempre fui a filha compreensiva, apoiando meu pai na carreira, incentivando.
Sendo filha de pai solteiro, você acaba ficando independente rapidamente. Quando ele começou a ficar atolado em trabalho, eu passei a assumir as tarefas de casa, ele sempre ajudava no que podia pra não me sobrecarregar também.
Contudo, quando a Melissa entrou na equipe e começou trabalhar com ele, era só orgulho.
Ele só sabia falar dela e elogiá-la o tempo todo.
Nossa! Como Melissa é inteligente! Como Melissa é responsável! Como ela é dedicada! Como ela trabalha bem, mesmo sem tanta experiência. Como é esforçada! Melissa é um verdadeiro prodígio, um tesouro para a homicídios.Tive sorte de encontrá-la.É impressionante como Melissa consegue conciliar o trabalho e os estudos, sem deixar a desejar em qualquer um dos dois.
Em todos os nossos jantares, ele tinha algo de impressionante que Mellissa descobriu na investigação e ajudou muito.
Chegou um dia que eu estava de saco cheio e acabei sugerindo para ele adotar a Melissa de uma vez, já que ela era tão perfeita. Quem assim ele finalmente teria uma filha perfeita.
Foi quando ele parou de falar do trabalho pra mim.
Eu era uma idiota, ciumenta, e invejosa e acabei pegando ranço da coitada da Melissa, que não fez nada contra mim. Mas convenhamos, eu tinha apenas 15 anos na época e até então era filha única. Não estava acostumada a dividir as atenções. Não dá para culpar a pobre e imatura Cassie do passado.
Balancei a cabeça saindo dos meus devaneios e voltando para o presente, percebendo as voltas que o mundo dá, além da Melissa agora eu também dividia meu pai com a monarquia da vara de família. É, a Cassie de hoje pode se acostumar com isso.
Finalmente encontrei meu celular na mesa do notebook, ele estava silencioso e quando desbloqueei a tela vi a chuva de notificações, eu estava recebendo muitas mensagens, muitas mensagens mesmo. E não, não eram dos meus amigos, de Edgar ou de seguidores nas redes sociais.
Era a maldita contagem regressiva.
Então a investigadora dentro de mim voltou a conspirar, sobre essas mensagens, os e-mails, formulando várias perguntas lógicas e sem resposta na minha cabeça.
Como essa pessoa, esse pregador de peças conseguiu meu número?
O meu celular antigo foi completamente destruído na explosão junto com chip e tudo, então meu celular era novo, o chip também. Só tinha dado meu número para minha família e amigos mais próximos, que não eram muitos.
Juntei tudo o que eu sabia sobre o meu troll, o que por sinal não era muito.
1) Ele sabia como fazer um e-mail anônimo, incomunicável. Podia me mandar e-mails, mas eu não podia responder.
2) De alguma forma ele conseguiu meu número do celular, e consegue enviar mensagens, mesmo sendo bloqueado.
Provavelmente era alguém que entendia de tecnologias e eu não conhecia ninguém com essas habilidades.
Mexi no notebook novamente abrindo a minha página de e-mail e reparei na assinatura.
Ass: V
Meu cenho se franziu, fazendo meu rosto formar uma leve careta e estreitando os olhos.
— Assinado V? Seria uma pista do nome do hater?
O email era e sua assinatura era V.
E essa era toda a informação que eu tinha do meu hater.
E só com isso eu tinha para descobrir o significado de tudo.
— Falando sozinha, maluca? — Enzo me perguntou ao entrar no quarto e fechar a porta atrás de si.
Às vezes esqueço que ainda dividia o quarto com o príncipe da vara de família, digo meu novo irmãozinho.
— Só estou pensando alto demais. — respondi respondi vagamente, fechando o notebook, largando o celular na escrivania e voltando para minha cama e deitando já exausta de tanto pensar nessa história de bomba na escola.
— O que foi? O cara mal foi e já tá pensando nele? — zombou me fazendo revirar os olhos. — Já está com saudades do namoradinho.
— Sem tempo irmão! — respondi sem paciência, puxando meus lençóis para me cobrir e virei de lado para dormir. Eu estava precisando descansar para limpar a mente.
— O que tá pegando? — perguntou se aproximando, quando me virei ele já estava de pé em frente a minha cama, me olhando. — Não tá parecendo muito feliz, para quem teve uma festa de alta com churrasco, depois de pegar o famoso e serial killer do Rio de Janeiro... — pisca — Não gostou da nossa surpresa?
Me levantando sentando rapidamente e negando — Não é isso. Eu amei a festa que vocês fizeram... — tive que respirar fundo, fechando os olhos. Quando abri novamente apontei para em direção ao meu notebook. — Dá só uma olhada no meu e-mail.
Enzo franziu a testa me encarando.
— Eu não sei sua senha...
— Como se já não tivesse fuçando meu computador antes. Vê logo!
Enzo me encarou sem entender por alguns instantes e foi até a mesinha onde ficava meu notebook, se acomodou na cadeira, abriu o meu notebook, digitando a senha e a tela desbloqueio desapareceu mostrando o meu e- mail. Ele ficou lendo por quase dois minutos até se virar na minha direção e indagou.
— Mas que merda é essa, Cassie?
Eu dei os ombros sinalizando que também não sabia.
— Só sei que esse colégio fica perto daqui. Eu estudei lá durante ensino fundamental e ensino médio... E não é só isso não. Esse hater tem me mandando uns números pelo celular, uma contagem regressiva. — Eu levantei indo até Enzo e desbloqueei o celular para mostrar as mensagens para ele.
Enzo pegou o celular que vibrava loucamente a cada minuto recebendo as mensagens.
000000000: 2760
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000000000: 2745
— É assustador, não é? — perguntei percebendo o choque nele.
— Que brincadeira sinistra. — ele me encarou — É brincadeira, não é? Você fez isso, Cassie?
Eu lancei um olhar sério para Enzo e ele logo entendeu.
— Isso começou quando? — perguntou.
— Há duas ou três horas...— respondi dando de ombros, sem saber ao certo — Eu estava aqui com Edgar, ele também viu. Diz que pode ser um vírus... Eu também pensei na possibilidade de ser um trote.
Enzo olhou no relógio de pulso verificando a hora e disse em voz alta.
— São 00h33m. — ele suspirou fundo e pareceu refletir por uns instantes. — Com certeza é um trote ou um vírus.
Revirei os olhos com a constatação do óbvio, eu mesma já tinha dito que desconfiava de ser um trote ou vírus.
— Ora, ora, parece que temos um Sherlock Holmes aqui. — zombei o encarando e cruzando os braços — Você acabou de repetir o que eu disse, gênio.
— Por que você disse o óbvio, né Cassie. — me retrucou — E o seu notebook precisa mesmo de uma limpeza.
— Mas e se não for um vírus ou nenhum trote? E se essa ameaça for verdadeira? — perguntei preocupada mudando de tom de repente, ficando apreensiva — Isso é muito trabalho só para um trote, não acha? E-mail incomunicável e provavelmente não rastreável, vírus no meu celular e no computador...
— Sabe o que eu acho? — Enzo perguntou me encarando.
— O que? — quis saber curiosa, imaginando que tinha alguma teoria sobre isso, já que eu não consegui pensar em nenhuma.
— Eu acho o caso do Stalker, meio que acabou te deixando um pouco paranóica. — Enzo abriu um sorriso vendo minha frustração com resposta inútil e soltou uma risadinha — Uma bomba... Numa escola, sério Cassie? Não tem um serial killer a cada esquina, querendo te desafiar. Não deixa a fama subir a sua cabeça detetive.
Respirei fundo, para não chutar a canela de Enzo, já que não alcançava o seu rosto, que era onde eu queria acertar um soco. Eu odeio ser baixinha.
— Sabia que falar com você sobre isso era uma perda de tempo. Você é um idiota. — voltei para a minha cama, enquanto Enzo ainda ria da minha cara.
Deitada, eu ainda remoía essa história na minha mente, eu ainda não engoliu essa história de um simples trote. Quem teria todo esse trabalho de viralizar o meu notebook, hackear o meu celular para mandar mensagens infinitas, só para pegar um simples trote. Entretanto Enzo tinha uma certa razão, a história do Stalker ainda não foi digerida direto. Só fazia um mês da morte do assassino em série, da explosão do hospital, talvez eu estivesse mesmo com um pouco de paranóia. Sobrecarregada de estresse. Uma boa noite de sono poderia clarear a minha mente.
💣💣💣
Eu tive uma péssima noite de sono.
Vários pesadelos diferentes, e todos com explosões, e o estava em todos Stalker jogando granadas e bombas. Rolei a noite inteira, tentando dispersar os pesadelos até quase cair da cama, sem conseguir pregar os olhos. Era apenas quatro horas da manhã quando despertei do meu último pesadelo, desde então fiquei acordada, olhando para o teto, tentando encontrar um significado em meus sonhos.
Quando dei por mim, já estava de manhã, acho que acabei cochilando, enquanto olhava para o teto.
Eram oito horas da manhã.
Me levantei resmungando, estava me sentindo pesada como uma pedra e cansada, graças aos malditos pesadelos que não me deixaram descansar.
Sentei na beira da cama, esfregando meus olhos e peguei meu celular como de costume, para dar uma olhada matinal nas minhas mensagens, e eu continuava recebendo as malditas mensagens da contagem regressiva.
000000000: 2260
Enviada às 08h07m
000000000: 2259
Enviada às 08h08m
000000000: 2258
Enviada às 8h09m
000000000: 2257
Enviada às 08h10m
Com um longo suspiro, eu desativei o wi-fi e dados móveis para não me estressar.
Essa maldita contagem não deixava eu ler minhas mensagens pessoais em paz sem subir uma notificação por minuto.
Enquanto eu me levantava, me espreguiçando, perguntei a mim mesma, com aqueles números gravados na cabeça.
— Quantas horas são 2257 minutos?
Mas como eu sou de humanas, nem me esforcei para contar, já sabendo que meu cálculo daria errado. Segui para o banheiro decidida, era hoje que iria consertar o meu celular, com o amigo do Edgar e pedir para ele descobrir, quem mandou me hackeou e mandou esses e-mails e mensagens de texto irritantes no whatsapp. Mesmo se o amigo do Edgar não conseguisse me ajudar com isso, podia recorrer a minha velha amiga, Melissa, sei que ela entende dessas coisas, aliás, não existe nada que essa garota não entenda, é por isso que meu pai contratou ela.
Depois de tomar meu banho e me arrumar, fui para sala e encontrei meu pai e Verônica terminando de se preparar para irem trabalhar.
— Caiu da cama? — perguntou o meu pai com um sorrisinho ao me ver descer as escadas. A rainha da vara de família estava ajudando ele com a gola da blusa social.
— Quase isso. — respondi chegando no final e me jogando no sofá — Hoje eu não vou trabalhar? — perguntei me voltando para a rainha, já que ela não me acordou.
— Folga, querida. Você passou por muitas emoções e acabou de ganhar alta. E por enquanto não preciso dos seus serviços de investigadora ou espiã — ela me brindou com um sorriso brincalhão — Ah, tem café na mesa pra vocês. E pro almoço, tem comida na geladeira ou vocês podem pedir comida pela internet. Amo vocês, tchauzinho. — Antes de ir, ela veio me dar um beijo no meu rosto e deu um demorado e meloso beijo no meu pai.
Fazendo careta, eu fui para cozinha para não vomitar com tanta melação a essa hora da manhã.
Tomei café da manhã com tranquilidade, aproveitando tudo que a Verônica tinha comprado. Croissant, vários tipos de pães, geleias importadas, café, leite, suco, achocolatado, biscoitos e torradas, tinha queijos, presuntos, bolo várias outras coisas deliciosas.
Um café da manhã de hotel, digno da realeza da vara de família.
Depois de degustar meu café da manhã chique, eu voltei para a sala de estar para assistir televisão e encontrei meu pai na sua poltrona de poderoso chefão, onde quase ninguém podia sentar. Ele estava terminando de calçar os sapatos.
— Comporte-se. — Se despediu de mim com um beijo, pegou suas coisas e saiu.
— Tchau. — acenei me despedindo, quando ele saiu, fechei a porta, me joguei no sofá pegando o controle.
Absolutamente sem nada para fazer, eu passei o resto da manhã assistindo desenhos antigos para me distrair. Quando o relógio de parede indicava quase um hora da tarde, Enzo surgiu descendo as escadas, com a cara ainda amassada e mau-humorada.
— Por que você não desliga essa droga? — resmungou jogando o meu celular ao meu lado e entrando na cozinha.
000000000: 1850
Enviada às 13h15m
000000000: 1849
Enviada às 13h16m
000000000: 1848
Enviada às 13h17m
000000000: 1847
Enviada às 13h18m
000000000: 1846
Enviada às 13h19m
000000000: 1845
Enviada às 13h20m
000000000: 1844
Enviada às 13h21m
000000000: 1843
Enviada às 13h22m
000000000: 1842
Enviada às 13h23m
000000000: 1841
Enviada às 13h24m
Peguei o aparelho, que agora além de vibrar , também notificou o recebimento das mensagens, desbloqueie a tela para tirar o som e desativar o wifi novamente.
— Quantas horas são 1841 minutos? — perguntei para Enzo que era melhor em matemática do que eu, e esperei a resposta pensativa.
— Sei lá, umas trinta horas. — gritou da cozinha em resposta — Por que?
— Nada. — Dei de ombros e senti o celular começar a vibrar de novo, recebendo mais mensagens de contagem regressiva. Franzi o cenho já ficando irritada e desativei wifi pela segunda ou terceira vez no dia. Isso me lembrou que já tinha feito isso lá no quarto, de madrugada antes de dormir.
Tentei ignorar as mensagens subindo sem parar e deslizei o dedo pela tela no aplicativo de agenda, buscando o número da casa de Edgar, quando não encontrei acabei lembrando que não tinha mais o número dele e nem o de ninguém porque ainda estava sincronizando os meus dados no aparelho novo.
Soltei um longo suspiro e tratei de fazer essa demorada sincronização de dados e contatos para recuperar as coisas importantes do meu celular antigo.
— Vai dizer que você ainda tá pensando nessa bomba no colégio? — Enzo me perguntou saindo da cozinha com uma bandeja cheia de comida, bem exagerada para o meu gosto. — Cassie, eu só tenho duas perguntas pra você: Pergunta número um: por que diabos alguém colocaria uma bomba numa escola? E a pergunta número dois: E porque esse alguém avisaria justo você? — ele me indagou ao sentar no sofá e colocar sua bandeja na mesa de centro.
— Como eu vou saber, Enzo!? Eu só sei que, antes de ignorar totalmente essa ameaça, eu preciso ter certeza que é um trote ou...
— Ou o que? Você é do esquadrão antibombas e ninguém me avisou? — Ergueu uma das sobrancelhas me encarando — Mesmo que fosse 'verdade'... — ele pôs aspas imaginárias na palavra verdade — Você não saberia desarmar uma bomba.
— Você não leu o e-mail? É um desafio. Um tipo de caça a bomba. Um jogo. E ele quer que a gente jogue.
— Ele quem, Cassie? O Stalker? Ele tá morto. Nós vimos o corpo dele, fritado na explosão.
— Eu... Não disse que era o Stalker... Eu sei que ele tá morto. Vimos ele morrer quando ativou aquela granada puxando o pino com os dentes. — disse me lembrando perfeitamente de toda a cena... A risada dele, a explosão, o calor insuportável, o som ensurdecedor, o mundo parece desabar sobre nossas cabeças.
Enzo estalou os dedos para chamar minha atenção, me desviando do meu devaneio.
— Então me responde, Cassie.
— Responder o que? — perguntei confusa, o encarando nos olhos.
— Quem está fazendo isso? Eu mesmo te respondo: Um otário da internet, que quer filmar você, saindo de casa correndo, para tentar bancar a heroína de novo e ele ganhar likes no youtube por te fazer de palhaça. — Enzo suspirou pegando o controle e mudando de canal — Tem muita gente escrota na internet, Cassie. Muitos parecem que te amam, mas querem se aproveitar de você e da fama que ganhou com o caso do Stalker. Não deixe esses palhaços te apavorem.
— Tarde demais... — resmunguei cruzando os braços. — Eu nem consegui dormir essa noite, Enzo. Eu tive um monte de pesadelos com explosões e o Stalker estava lá nos meus sonhos com a maldita granada... — eu levei a mão ao peito, ao lado do coração — E eu to sentindo uma coisa ruim, sabe... Uma sensação de que tem algo para acontecer.
— E o que? Stalker está por trás da bomba? Você teve uma visão? — indagou com um sorrisinho zombeteiro.
Bufei diante do deboche de Enzo.
— Vai. Se. Foder! — cuspir a ofensa irritada, jogando uma almofada nele com força.
Rapidamente me levantei subindo as escadas para voltar pro meu quarto sem mais paciência para o deboche do babaca do Enzo. Eu nem sei porque eu fui contar pra ele o que eu estava sentindo para o imbecil do príncipe da vara de família.
Enzo estava rindo do sofá. — Eu vou falar para o seu pai te proibir de assistir CSI em... — ele parou de rir, ofegante balançando a cabeça e pegou seu copo grande de suco de laranja. — Ai, ai...
Falando sério agora, Cassie? Seria V de que? De vingança? Igual o filme? Não, já sei! É V de
Vou fazer essa garota de trouxa, fazendo ela soltar para quatro cantos do mundo um alerta falso de bomba numa escola para passar vergonha na internet virando meme, por causa de uma pegadinha de haters. — Enzo me encara sério, agora sem rir — Cassie, eu só estou tentando te colocar de volta a realidade.
Você enfrentou o Stalker sozinha, um psicopático lunático que tentou nos matar duas vezes... Isso mexer com a cabeça de qualquer um... Mas agora acabou... Você pode até se tornado uma celebridade heroica, nos jornais, tv e internet, mas não a ponto de receber chamadas de socorro ou ameaças reais de bomba. Se acredita mesmo que é verdade, é melhor deixar isso pra polícia, fale com o seu pai.
Me apoio no corrimão para respondê-lo.
— V de vírus, V de alguma inicial de codinome de hacker e sim, talvez até V de vingança, porque não sabemos nada da identidade do Stalker. E se ele não estivesse trabalhando sozinho? Ele podia ter tido um parceiro, um comparsa? Se você parasse para usar o cérebro que tem aí como enfeite debaixo desse topete cheio de gel, iria perceber que existem muitas possibilidades. — Começo primeiro respondendo a seus deboches e desci alguns degraus para encará-lo bem — E na pior das hipóteses, se essa ameaça de bomba for verdadeira, eu não quero carregar o peso de uns quarenta alunos que poderiam ser salvos se eu tivesse simplesmente acreditado nos meus instintos.
— apontei na sua direção — E se você não quiser ajudar, tudo bem, mas não se meta ou se atreva a envolver o meu pai ou qualquer pessoa da polícia nisso. Mesmo podendo ser feita de trouxa e virar meme na internet, como você disse, eu vou investigar isso até o fim.
Segui para o quarto, deixando Enzo sozinho na sala.
💣💣💣
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