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DEVER DE CASA (capítulo atualizado)


E D G A R  F E R R A R R I

Quando a música da Beyoncé saiu do bolso de Cassie, todos os olhares estavam voltados para ela, pensamos que era o Bombardeador ligando, para dar outra pista.
Cassie rapidamente pescou o celular, também imaginando que seria o Bombardeador...

— Droga, é o meu pai... — disse, ainda mais tensa, certamente preferindo que fosse o Bombardeador. Ela estica o aparelho na direção de Enzo — Atende pra mim?

— Eu não. — ele se recusou cruzando os braços — O pai é teu, te vira.

Sem escolha com o aparelho tocando insistentemente, ela seguiu para um canto para atender.
Cassie voltou uns três minutos depois, soltando um suspiro.

— Pronto.

— Ele está muito irritado? — Quis saber Melissa, olhando.

— E quando ele não está irritado? — Cassie retrucou erguendo a sobrancelha.

— Tal pai, tal filha. — Enzo cutucou com um sorrisinho.

— Ok, vocês estão enrolando. — Cassie sinalizou como um treinador em campo dizendo que o tempo acabou. — Chega de perder o tempo que a gente não tem... — seu olhar agora estava concentrado na casa do cachorro morto.


— Mas o que nós podemos... — eu parei no meio da frase, a encarando incrédula — Você não tá pensando em mexer nesse... — eu nem consegui terminar a frase e Cassie já estava assentindo com firmeza, parecendo decidida.

— Mas que droga de jogo é esse? — disse um dos alunos atrás de nós, ele estava ouvindo nossa conversa.

— Vocês colocaram a bomba dentro do Betinho e o trouxeram para cá? — perguntou outra menina, ao se aproximar fazendo cara de nojo.

— Que tipo de maluco vocês são? Deixa a gente sair daqui! — um dos alunos se revoltou, o que foi um estopim para a turma toda se voltar contra a gente.

A professora tentou acalmar os alunos, voltando com a ideia de uma gincana diferente, mas colou, porque não tinha como explicar como que um cachorro morto, em decomposição fazia parte da brincadeira.

Era hora de falar a verdade para eles, não dava mais para máscara, eles já tinham percebido que aquilo não era uma brincadeira, que tinha algo errado.

— Vamos precisar que todos vocês se acalmem... — Melissa começou falando alto, tentando mediar a situação chamando a atenção dos alunos para si. — Infelizmente não dá mais pra gente esconder a verdade de vocês... Queríamos resolver toda essa situação, sem assustar vocês, mas como todos estão vendo...

Os alunos começaram a cochichar entre si, questionando e antes que o burburinho ficasse incontrolável, Cassie tomou a frente.

— Um lunático me enviou um e-mail avisando que havia plantando uma bomba na minha antiga escola... E por algum motivo ele escolheu só nós quatro, para estar aqui. Aceitamos o risco, para salvar vocês. Então, por favor... Só colaborem... Sei que ninguém quer morrer hoje e nem tão cedo.

Todos começaram a falar juntos, a sala virou um misto de descrença, medo e histeria, uns
choravam pedindo pelos pais, outros pareciam não acreditar, pensando que estavam em alguma pegadinha.

— Turma... Só tenho um pedido a fazer... vocês só precisam ficar calmos e confiar na gente. Nós vamos resolver tudo, e quando isso acabar, todos vão poder ir pra casa. Eu prometo a vocês.

Os alunos estavam em silêncio, me encarando sem muita convicção, mas ao menos acataram o meu pedido e a história cessou. Satisfeito, eu me virei para Cassie, Enzo e Melissa com um sorriso.

— Ou eles pensam que somos um bando de malucos, ou acreditam na gente.

— Com certeza é a primeira alternativa.

— Tanto faz, vamos tirar logo esse cachorro da casinha. Precisamos analisar ele. — disse Cassie, começando a arrastar uma mesa.

Melissa a ajudou e juntos, elas juntaram quatro mesas pequenas para formar uma mesa média.

— Pra que isso? — indagou Enzo apontou para a mesa.

— Pra vocês dois colocarem o cachorro aqui. — Melissa respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Eu não vou mexer nisso. — ele contestou incrédulo. — É nojento e perigoso!

— É um cachorro morto, fedendo a carniça pura e provavelmente com a bomba dentro — eu tive que concordar.

— Tic tac, tic tac. — Cassie imitou um relógio de bomba acelerado para nos fazer pressão.

— Vocês podem usar as luvas de limpeza ou das aulas de laboratório. — a professora, se aproximou de nós e foi até outro armário no fundo da sala, uma caixa com material de limpeza e nos entregou.

— O tempo está correndo! — Melissa nos apressou. — Vocês preferem explodir do que pegar num cachorro morto?

Contra a minha vontade eu peguei um par de luvas grandes, e Enzo foi logo atrás de mim resmungando vários palavrões.

— Essa é a coisa mais nojenta que eu já fiz em minha vida.

— Eu preferia trocar mil fraldas sujas da minha irmão, quando era bebe do que pegar nisso. — falei ao concordar com ele.

Com muito nojo e todo cuidado, tiramos o cachorro morto de dentro da casinha. Era um labrador de pelo claro, que deu muito trabalho, pois estava bem pesado. Colocamos o animal morto na mesa com todo o cuidado e o cheiro de cadáver aumentou duas vezes, a professora tratou de afastar todos os alunos de perto do cadáver, tentando proteger.

Enzo e eu endireitamos o cachorro na mesa, e ao virar o corpo com a barriga pra cima, percebemos que ele estava costurado. Deixando nossas suspeitas ainda mais fortes.

— Esse cara é doente... — disse balançando a cabeça.

— Isso é nojento demais para mim. — Enzo se afastou da mesa, enojado. — Eu não vou abrir um cachorro.

— Nem olhem para mim. — já fui me afastando também. — Vocês são os detetives. investigadores ou sei lá o que aqui. Eu só sou um estudante de arquitetura.

Melissa ficou quieta, ainda incrédula, olhando para a barriga costurada do cachorro.

Percebendo que todos já tinham dado pra trás, Cassie estava tensa, seu olhar parou na turma, que estava toda aglomerada perto do quadro, mantendo a maior distância possível da bomba, com a professora. Ela inflou o peito e soltou o ar todo de uma vez.

— É claro que tem que sobrar para Cassie... — ela resmungava enquanto pegava luvas de látex e um estojo para dissecação do armário de química no fundo da sala. Se posicionou na frente do cachorro, com o bisturi em mãos. — Eu faço o trabalho sujo.

Tá bom, tá bom... — Melissa também pegou as luvas, uma tesoura curva e deu um longo suspiro — Não vou deixar você fazer isso sozinha.

Eu queria dizer, que eu e Enzo também tivemos peito de ajudar elas ou tomar a frente da situação, mas a verdade é que quase vomitou só de ter que carregar o cachorro até a mesa. Sem a mínima coragem de chegar perto, nós dois nos observamos de longe, enquanto elas se preparavam para dissecar o cachorro.

Enzo até tentou instruir de longe, dizendo para elas tomarem cuidado, pois leu na internet que as bombas são sensíveis e podem detonar com qualquer movimento brusco, mas parou ao receber o duplo olhar assassino das duas de uma vez só.

Depois de calar Enzo com o olhar, elas começaram o trabalho, Melissa pegou a tesoura e começou a cortar as linhas dos pontos, com extremo cuidado, e fazendo algumas caretas, vendo o sangue do cachorro sujar toda a tesoura.

— Calma. — Cassie sussurrou, olhando atenta, dando instruções para ela ir devagar e não muito fundo.

Quando Melissa terminou de cortar a linha dos pontos, Cassie veio com o bisturi para terminar o trabalho e abrir a barriga do cachorro. Com movimentos delicados, ela foi lentamente reabrindo região já cortada pelo Bombardeador. Como o objeto de corte era pequeno, Cassie teve que deixar a mão entrar dentro do cachorro, acabando por se sujar de sangue.

Eu estava assistindo tudo fazendo caretas igual os alunos, que estavam tão enojados e abismados quanto eu, já Enzo estava virado para a janela evitando de assistir a pequena utopista.

— Estão vendo a bomba? — ele perguntou, sem nem ao menos se virar.

— Não... — Cassie respondeu abrindo um pouco mais a barriga do cachorro com a mão e o auxílio da tesoura, a procura da bomba. — Não tô vendo nada....

Melissa estava dando algumas instruções dizendo para ela empurrar alguns órgãos para abrir caminho e procurar melhor. Seguindo as instruções de Melissa, não demorou muito até Cassie enfiar as duas mãos lá dentro e retirar uma caixinha preta com letras vermelhas com contagem regressiva.

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Quase prendendo a respiração, Cassie colocou a bomba empapada de sangue em cima da mesa, com movimentos muito lentos e cuidadosos.


— Acharam... — falei para Enzo finalmente sair da janela.

— Ela tem um painel... — Melissa estava analisando a bomba enquanto Cassie chacoalhava as mãos enojada se livrando do excesso de sangue.

— Eca. Eca. Eca... — resmungou dando pulinhos enquanto respigava o sangue — Por esses motivos que eu não quis ser veterinária!

Enzo estava se aproximando da bomba com o cenho franzido — Ué, nada de fios vermelhos ou azuis? Eu não estudei para bombas digitais! — reclamou Enzo parando ao lado de Melissa.

— Você estudou para desarmar bombas? — perguntei ao me aproximar em passos lentos deles dois.

— Eu olhei um manual na internet, mas pelo visto ele não vai servir... O que vamos fazer agora? — ele olha para o contador digital — Temos menos de uma hora e vinte.

Os alunos voltaram a cochichar entre si fazendo um contido alvoroço.

— Cala a boca! Vai deixar todo mundo em pânico! — Melissa disse entre os dentes ao tampar a boca de Enzo, ele ergueu as mãos sinalizando que tinha entendido.

— Foi mal. — ele se desculpou quando ela tirou a mão da sua boca.

— Foi péssimo! — Cassie estava tentando limpar as mãos em alguns panos de limpeza.

Melissa soltou um suspirou e voltou a estudar a bomba, rodeando a mesa, olhando com atenção, pegando todos os ângulos possíveis. — Ela tem um pequeno teclado de numerais. Vai de 0 a 9 e além do cronômetro digital, ela tem outro pequeno painel apagado, com quatro espaços para 4 dígitos. Então a senha tem 4 dígitos.

Enzou assobiou, estava impressionado assim como eu com essa pequena amostra de CSI.

— Uau, ela é boa nisso de CSI mesmo... Quase me senti na série de tevê.

Enzo estava balançando a cabeça e concordando comigo.

— Por isso ela é a queridinha do Rodolfo, na delegacia.

Cassie começou a estalar os dedos na nossa frente, chamando a nossa atenção para ela.

— Depois vocês podem fazer uma homenagem no facebook para Melissa, agora temos que descobrir a senha para desarmar a droga dessa bomba!

— Ok, ok. — Enzo se aproximou da bomba, olhando para o painel. — Alguém tem alguma sugestão?

— Nós não podemos ficar chutando, se erramos ela explode! — exclamou Cassie sem paciência.

— Nós só temos uma chance... — Falei encarando a bomba.

— Se a gente ficar parado aqui, esperando ela também vai explodir... — Enzo retrucou.

Cassie nega.

— Deve ter mais alguma pista...

— Nós já usamos todas as pistas que ele deu no celular... — Melissa estava massageando as próprias têmporas, parecendo se esforçar para pensar em algo.

Como ela, todos nós nos esforçamos para pensar em algo, fazendo a sala de aula cair em um silêncio desconcertante. Os alunos já nem choravam mais, estavam abraçados, acolhidos em seus grupos de amigos. A professora estava rezando, aos sussurros e alguns alunos a acompanharam nas orações, pedindo por uma ajuda ou intervenção divina.

Olhei para o teto.
Deus, se o senhor está nos ouvindo, agora é hora de nos atender.
Pensei em encarar o teto, minha avó sempre foi muito religiosa, frequentava a igreja todos os quintas e domingos. Separava sua oferta para uma igreja perto de casa, que pegava o dinheiro para alimentar os mais necessitados e agasalha-los nos dias de frio. Costumava acompanhar a minha avó nos dias de domingo, para fazer companhia, agradecer nossas pequenas conquistas e pedir que a minha mãe se cure do vício. Não era religioso como a minha avó, mas acreditava em Deus.
Então, mesmo que ele não pudesse intervir divinamente, fazendo algum milagre, pedi ao menos o menor dos sinais, pra gente sair dessa.
Infelizmente, acho que ele não estava me ouvindo, pois nada aconteceu. Nenhuma luz atravessou a janela, apontando para alguma pista. Abaixei a cabeça, soltando um suspiro de conformação.

Comecei a divagar em círculos sem perceber, estava tendo uma visão panorâmica de todos e tudo à minha volta, a bomba marcando menos de uma hora para explodir, os alunos chorando em silêncio na outra extremidade da sala em aceitação ao destino cruel que nos espera. Cassie de costas para todos e de frente para a janela, onde o vidro refletia sua expressão de desesperança. Melissa continuava na mesma posição sentada numa cadeira, massageando as têmporas enquanto encarava a bomba com uma expressão quase neurótica, observando a contagem chegar aos seus quarenta minutos restantes. Diferente de todos, Enzo estava inquieto, demonstrando seu desespero, sua preocupação ao caminhar freneticamente de um lado pro outro, atravessando toda a sala, murmurando que isso não podia terminar assim.

Parecia que esse era o nosso fim, ao poucos todos nós estávamos entrando no estágio de aceitação, menos Enzo, que continuava agitado, murmurando negações enquanto caminhava de uma extremidade de sala, até a outra. Meu pescoço já estava cansado de acompanhar o caminhar dele de um lado para o outro, até que uma dessas voltas me fez sair do transe de completação dos detalhes de minutos antes do nosso fim e reparar em algo escrito no quadro branco, em letras garrafais. Pisquei-me aproximando do quadro branco, vendo aquelas três palavras escritas em letras maiúsculas, elas estavam em um tamanho médio num canto do quadro sendo ofuscadas pela belíssima letra cursiva de Cassie, que ocupavam o restante do quadro, com os nomes das cinco equipes escritos bem grande e legível, que montamos para a falsa gincana.

Comecei a caminhar, tropeçando em meus próprios pés, esbarrando em Enzo que voltava da sua milésima volta pela sala, até parar me apoiando no quadro branco, ficando levemente ofegante, ficando de frente para uma possível pista, que provavelmente ninguém reparou.

— Professora.... Você escreveu isso? — perguntei batendo no quadro e interrompendo sua oração.

Com o cenho franzido, ela voltou seus olhos molhados e vermelhos para o quadro branco, na direção que eu estava apontando.

— Não... Essa não é a minha letra.

— Gente... Acho que encontrei uma pista... — falei alto o suficiente para eles me ouvirem do outro lado da sala, mas para a minha surpresa os três já estavam bem atrás de mim, fitando o quadro.

💣💣💣

C A S S I E   A N D R A D E

Quando Edgar nos gritou, nós todos já estávamos na frente do quadro, lendo as três palavras, que eram a nossa próxima pista.

DEVER DE CASA


— Ainda temos uma chance... É uma pista, não é? A professora disse que não foi ela que escreveu isso... Então já devia estar no quadro quando ela chegou.

— Eu acho que já estava, hoje eu comecei a aula com leitura. Não usamos o quadro. — ela confirmou pra Edgar.

— Temos uma pista. — Melissa estava vibrando, na frente do quadro, cheia de esperanças novamente — Uma pista, só pode ser sobre a senha... Um tipo de dica... — ela começou a colocar seu cérebro de genia para trabalhar novamente. — Ele deve ter escrito, como alguma resposta de um dever de casa. O resultado de alguma conta ou alguma expressão numérica.

— Muito bem, crianças. É hora de corrigir o dever de casa.

Como o chamado de Enzo, todos os alunos começaram a colaborar, pegando seus cadernos e livros de matemática, pra gente dar uma olhada, Depois que não encontramos nada em matemática, recorremos a todas as matérias, buscando pistas entre os números das páginas, questões e datas e números entre os textos. Procuramos em todos os livros, cadernos e tudo que fosse ligado a dever de casa, mas não encontramos absolutamente nada.

A sala de aula estava com papel espalhado por todo o canto, mas nenhuma dessas folhas tinha o que precisávamos.

— Esse canalha só pode estar tirando com a nossa cara! — Enzou resmungou, começando a ficar aborrecido novamente. — Não tem nada aqui!

— Calma, calma! — falei segurando em seus braços, tentando acalmá-lo — Agora que temos uma nova pista, não podemos desistir.. — ele respirou fundo e assentiu me encarando, o soltei quando percebi que estava mais calmo.

— Tem razão...

— Se a pista não está nos cadernos, nem livros ou em nada que vimos, temos que pensar mais...
O que mais pode ter relação com as palavras dever de casa?

— Já olhamos nos livros, nas mochilas, nos cadernos, apostilas... — Edgar estava enumerando nos dedos. — Já olhamos tudo! Onde mais poderia faltar olhar?

Quando olhei em direção a bomba o cronômetro marcava 20 minutos restantes, fazendo meu coração apertar.

— Vamos continuar procurando! — falei voltando a procurar a pista, me recusando a desistir — Não podemos parar!

Logo todos começaram a se movimentar, voltando a procurar pela sala seguindo a pista do dever de casa. Sabíamos que ele não deixaria a pista tão fácil, como a dica que ele deixou no quadro, então tínhamos que nos esforçar mais.

Procuramos por uns quinze minutos em vão, pois ninguém encontrou absolutamente nada que correspondesse à pista do dever de casa, ou que tinha os quatro números que procuramos. Vi alguns alunos começando a desistir, como peças de dominós, todos os alunos começam a se deixar cair no chão, um atrás do outro, sentando no chão e jogando a toalha. Eles estavam cansados e sem esperança de sobreviver.

— Gente... não podemos parar... nós... Enzo?

Enzo me encarou, balançando a cabeça em negativa, dizendo com os olhos, que já não adiantava dar falsas esperanças para eles.
Faltavam menos de cinco minutos para a bomba explodir.

— Edgar... — chamei quase sem voz e ele me olhou também sem esperanças, já conformado com a nossa morte iminente. E então, quase suplicante eu olhei na direção da Mel, que estava sentada numa cadeira roendo unhas. — Mel... Você não desistiu, né? Me ajuda a continuar procurando, ainda temos cinco, minutos... — fui até ela, me abaixando e segurei nos seus pulso com cuidado, tirando seus dedos da boca — Você ainda tá comigo, né? Só temos que olhar por outro ângulo... Tentar ver isso de outra maneira... Dever de casa pode ser algum tipo de enigma... Como... como nos filmes... E se tiver como converter essas letras em números....

— Outro ângulo... — ela repetiu sussurrando e se levantou abruptamente me fazendo cair sentada no chão.

— Melissa! — resmunguei sentindo a bunda dolorida pela queda.

— Desculpa... eu só pensei que... — se desculpou sem nem me olhar, indo em direção ao cachorro morto. De repente seu rosto se iluminou, como se ela tivesse feito uma grande descoberta. — Sim... É bem possível... Levando em conta tudo que ele já fez... — franzi o cenho ao ver e ouvi Melissa falando sozinha ao vestir novamente as luvas amarelas de limpeza em uma das mãos, ela olhou para bomba, nos restava três minutos.

Surpreendendo a todo mundo, Melissa foi para perto da cabeça do cachorro, com as duas mãos, abriu a boca do bicho e enfiou a mão com luva dentro da goela dele, virando a cabeça para direção oposta, fazendo uma careta de nojo.
Ignorando o nosso choque e expressões de nojo, Melissa enfiou quase o braço todo dentro da goela do bicho e de repente arqueando parece sentir algo no fundo.

— Melissa?

Ela ignorou o chamado de Enzo e tirou a mão de dentro da boca do cachorro, correu até então foi o kit de dissecação e pegou o bisturi sujo de sangue, que usei para abrir a barriga do cachorro, e com ele, ela rasgou garganta do bicho sem a menor cerimônia, fazendo a metade dos alunos soltaram um gemido de nojo e desviar o olhar, já a outra metade dos alunos, não conseguiam tirar os olhos da cena bizarra a nossa frente, inclusive eu. Que estava começando a entender o raciocínio dela.

Depois de abrir a garganta, ela enfiou a mão lá dentro, indo fundo, vasculhando até encontrar o que queria. Quando ela alcançou, abriu um sorriso e puxou de uma vez.

Era uma folha de papel que algum dia já foi branca e agora estava empapada de um sangue vivo e melecoso de cachorro morto de não sei quantos dias.

Sem esperar mais um segundo sequer, ela abriu a folha e leu em voz alta.

— RIP: 1984 - 2015


Entendo, Enzo que estava mais perto da bomba, correu se debruçando sobre o painel, que marcava apenas um minuto.

— São só quatro dígitos... Qual das duas datas eu uso?

Melissa olha o papel novamente, analisando rápido. — Usa 2015, está destacado em negrito na folha.

Faltando dez segundos, Enzo digitou com os dedos trêmulos e fechou os olhos, esperando.

— DESARMOU! — Gritou Edgar pulando atrás de Enzo, após perceber que a contagem regressiva congelou nos últimos 4 segundos. — A BOMBA FOI DESARMADA!


E então a sala vibrou de felicidade, Enzo e Edgar estavam pulando e gritando com os alunos: Conseguimos, nós conseguimos! em uma comemoração equivalente a um estádio vibrando pela copa do mundo. A felicidade era tanta, que a maioria chorava emocionado, agradecendo a Deus e a nós.
Na verdade, a Melissa conseguiu, ela nos salvou nos últimos minutos.
Sorrindo eu, quase pulei em cima dela, a abraçando apertado, emocionada sem me importar com suas mãos sujas de sangue de cachorro, ela riu retribuindo o abraço, igualmente emocionada.

— Você conseguiu. Você nos salvou. — falei soltando ela do nosso abraço apertado e melecado de sangue de cachorro morto.

Melissa balança a cabeça sorrindo.

— Foi um trabalho em equipe.

— Você que descobriu onde estava a pista com a senha... Meu cachorro comeu o dever de casa... Genial... Só você mesmo para pensar nisso. — falei dando uma cotovelada de leve nela.

Melissa soltou um risinho.

— Você que deu a ideia de olhar por outro ângulo, outra perspectiva. Edgar achou a pista no quadro, o Enzo ajudou nos trazendo de volta, quando quase desistimos... na liderança, nos fazendo lembrar que tínhamos deixado algo passar.

Balancei a cabeça.

— Por isso que meu pai te ama, você é tão modestamente irritante. — brinco a fazendo rir.

Os meninos se juntaram a nós duas, nos abraçando.

— Vencemos esse otário! — Comemorou Enzo.


— Esquadrão 1 Bombardeador 0! — Edgar falou o placar, sorrindo animado.

— Somos um esquadrão antibombas agora? — indagou rindo

— Bom, ele tá nos chamando assim.

— Estamos mais pra Esquadrão Suicida — falou Melissa nos fazendo rir e concordar com ela



💣💣💣


E N Z O T E I X E I R A


Finalmente pudemos abrir a porta e a turma da sétima série saiu como uma verdadeira manada, querendo se ver o mais longe o possível dali.

A saída turbulenta da turma chamou a atenção dos outros alunos e professores nos corredores, que estavam liberando suas turmas para irem para casa após o sinal.
Quando saímos da sala, percebemos que a escola seguia sua rotina completamente normal, como se ninguém tivesse implantado uma bomba naquela sala, mas a nossa presença atraiu alguns olhares estranhos. Para a nossa sorte, não ficamos sendo o centro das atenções por muito tempo, quando carros de polícia começaram a chegar e estacionar na frente da escola com as sirenes ligadas, todos os alunos começaram a correr para fora, curiosos para saber do que se tratava. A diretora estava lidando com vários pais furiosos, querendo saber o que estava acontecendo com seus filhos.
Quando as crianças correram em direção a saída, indo ao encontro de seus pais, eles começaram a se acalmar.

— Ele ainda deve estar dentro da escola ou ao menos por perto, estava nos vendo e ouvindo. Ainda podemos pegar esse desgraçado! — falei.

— Com o alarde todo que a polícia deu, ele já deve ter fugido. — disse Cassie olhando as viaturas.

— Podemos tentar a sala de vigilância. — sugeriu Melissa olhando para o alto, vendo câmera de segurança no corredor.

— Professora, pode nos mostrar onde fica?

Prontamente aceita e nos leva até a sala de segurança do colégio.

Descemos às rampas, acompanhando os passos nem tão ligeiros da professora, Já ofegante, por andar tão depressa para sua idade, ela indicou o lugar, dando instruções simples. Seguimos passando pelo corredor onde fica a sala da diretora, descemos um lance de escadas, no fundo do colégio, chegando até a sala de vigilância.

Surpreendendo a todos, Cassie disparou na nossa frente, sendo a mais rápida entre nós, mesmo tendo as pernas mais curtas. Ela chegou na porta e tentou abrir, mas estava trancada.

Cassie irritada, chutou a porta xingando alguns palavrões.

— Merda... — disse encostando na parede ofegante.

— O que vocês dois estão esperando? Derrubem essa porta. — falou Melissa apontando.

— Tudo bem, eu sempre quis fazer isso. — disse animado indo em direção a porta e chutei com força, mas era uma porta bem resistente.
Edgar se juntou a mim, também animado.

— Legal, isso vai ser como nos filmes. Vamos no três.

Balancei a cabeça concordando, e contamos juntos.

— Um, dois e três!

Chutamos forte, escancarando a porta, a fazendo bater forte na parede atrás dela.
Nós quatro entramos juntos, com cuidado, sem saber exatamente o que esperar.
A sala de vigilância estava um verdadeiro breu, as cortinas da janela estavam fechadas, bloqueando a luz do sol, então eu procurei um interruptor, para iluminar o ambiente.

Quando a luz se acendeu revelou-se uma verdadeira sala de vigilância.
Um monitor enorme de umas 49 polegadas estava com a tela apagada, havia uma mesa de escritório com teclado e mouse. Cassie empurrou uma cadeira de rodinhas para o lado e mexeu no mouse, fazendo a tela se acender e mostrar várias divisões, mostrando cada parte do colégio, o pátio, os corredores, as entradas e saídas do colégio, o refeitório, a quadra de educação fisica, a sala de informática, biblioteca. O colégio tinha câmeras em praticamente todos os lugares.
Era assustador.

— Você estudou aqui? — perguntei para Cassie, incrédulo.

— Ainda bem que na minha época não tinha toda essa tecnologia... — respondeu ainda fitando as câmeras, podíamos ver a polícia falando com a diretora e professora, e alguns pais de alunos.

Começamos a revirar a sala, em busca do Bombardeador ou alguma pista que leve até ele ou sua identidade, mas não havia nenhuma evidência, ele não deixou nada para trás. Conseguimos encontrar apenas uma mulher, que estava desmaiada dentro do armário de limpeza da sala.

Era vigilante contratada pela escola, a coitada tinha sido atingida na nuca pelo desgraça, e estava com um leve sangramento.

Melissa a analisou rapidamente, para saber se a gente precisaria de um médico.

— Ela vai ficar bem, foi só um corte.

— E o Bombardeador fugiu.


Seguimos para fora da escola desanimados.
O desgraçado que havia tocado com terror com a gente há poucos minutos atrás, conseguiu escapar.

— Bom, pelo menos não morremos. Eu vou pedir pra diretora deixar aquela sala isolada e mandar evacuar a escola, até a equipe antibomba chegar e tirar aquela coisa daqui. — falou Cassie com as mãos no bolso.

— Isso... é uma ótima ideia... E depois, que tal um supercombo no bobs? — Melissa sugeriu nos encarando com um sorriso.

Edgar e eu a olhamos incrédulos.

— Você acabou de degolar um cachorro morto... — apontei para suas mãos que ainda estavam manchadas de sangue — E ainda tem estômago para pensar em comida.

— Eu nem tive tempo de tomar café da manhã. — me retrucou — O perigo já passou e agora eu estou morrendo de fome.

— Eu também tô morrendo de fome. — Cassie concordou levando a mão na barriga. — Nós vamos lavar as mãos, sair daqui, evitar a polícia para não responder perguntas e sermos obrigados a mentir. Vamos ir para minha casa tomar um banho, trocar essas roupas nojentas e por fim vamos a uma boa lanchonete, onde vocês dois vão pagar um lanche completo pra gente, como agradecimento de ter feito todo o trabalho sujo, por nós quatro.

Ergue uma das sobrancelhas, ao ouvir todas as ordens de exigências da Cassie.
Encarei Edgar, que estava mordendo o lábio.

— Nem tem como contestar, cara. É o mínimo.

Ele estava certo. Devíamos isso a elas, mesmo sabendo que era sim ou sim, eu verbalizei, dizendo que concordava.

— Ok, vamos lá.

Satisfeitas, as duas foram até o primeiro feminino que encontraram, para tentar se limpar um pouco.
Suas blusas estavam empapadas de sangue devido a autópsia e degolação do cachorro morto, seria difícil se livrar daquilo.

Enquanto elas tentavam se limpar, nós dois esperamos perto do banheiro.

— Mas que isso é um abuso, é.

— Elas realmente fizeram o trabalho sujo, cara — Edgar falou fazendo algumas caretas parecendo se lembrar das cenas.

— Você assistiu? — perguntei franzindo o cenho — Viu elas abrindo o cachorro?

— Eu vi. E foi nojento, todo aquele sangue gosmento — Edgar respondeu assentindo — Eu acho que não vou conseguir comer mais nada que tenha massa de tomate ou ketchup por um bom tempo.

— Sem detalhes. — resmunguei sem querer que meu cérebro tente visualizar aquelas cenas.

Edgar gargalhou balançando a cabeça.

— Você é um comédia, cara. — de repente ele ficou sério, ao cruzar os braços — O que você acha que vai acontecer daqui para frente? — perguntou — Sabendo que esse cara está nos vigiando e que isso não é mais nenhuma pegadinha.

— Ainda não sabemos se não é pegadinha... Não sabemos se a bomba era..

Edgar me lançou um olhar sério.

— Sério? Você ainda tem dúvidas que esse maníaco não está só brincando? — indagou me encarando — Ele matou um cachorro, enfiou uma bomba no estômago do bicho e depois a senha da bomba na garganta!

— Eu sei, eu sei... É só o meu lado lógico... — esfreguei o rosto — Eu não sei mais de nada, cara. Dessa vez tivemos sorte...

— Vamos esperar que não tenha uma próxima vez... — falou Edgar, sem muita convicção.

Quando as meninas saíram do banheiro, logo encerramos o assunto, sem querer deixar elas mais pilhadas. Era hora de relaxar para aproveitar a nossa conquista, fomos pegar nossas motos estacionadas atrás da escola e seguimos para casa.

Melissa estava na minha garupa, e Cassie na de Edgar, quando estacionados em frente a garagem, para nosso azar encontramos minha mãe trabalhando no quintal.

Ela já estava vindo em nossa direção com um grande sorriso, mas quando viu Cassie e Melissa descer da moto, com roupas manchadas de sangue, deu um grito.

— MEU DEUS DO CÉU! O que é isso?

Nós quatro trocamos olhares espantados, quase entrando em pânico, sem saber como responder isso.

— Isso? — Cassie piscou olhando para a blusa — Isso... isso é tinta, oras! — ela respondeu pensando rápido — Lembra que fomos chamados para a minha antiga escola? Era pra projeto da escola com pintura e etc. Coisa de artes... — riu — Fizemos uma cagada... Precisamos de um banho... — concluiu entrando em casa.

Melissa, forçou um sorriso apenas concordando e seguiu Cassie para dentro de casa.

Franzido o cenho, minha mãe pareceu estranhar a situação, mas não fez mais perguntas.
Eu apenas sorri, beijando seu rosto e entrei com Edgar no meu encalço.


💣💣💣

M E L I S S A   S A N C H E Z


Depois de passar pela madrasta de Cassie, eu acompanhei seus passos ligeiros até o quarto que ela dividia com Enzo. Quando passei pela porta, ela mandou trancar a porta.

— Essa foi por pouco. — disse ao terminar de girar a chave, me virando pra ela — E ainda bem que foi a sua madrasta que encontramos, se fosse o seu pai, eu nem sei o que a gente diria, pois assim ele nos visse com esse sangue na roupas, ele saberia na hora. Ele fareja mentira de longe.

— Eu sei bem disso! — disse Cassie tirando as roupas sujas de sangue, ela já estava de sutiã e calcinha, ela segurou as duas peças que despiu com nojo e jogou no lixo — Eca.

— Isso não é um pouco extremo? — perguntei encarando, achando um exagero — A gente não assassinou ninguém pra jogar as supostas provas no lixo.

Cassie deu um riso sarcástico me encarando.

— Mel, sangue de cachorro morto, partes de cachorro morto respingaram nessas roupas. — falou me encarando — Eu nunca vou conseguir esquecer isso, quando olhar para essas roupas.

Uma careta se formou no meu rosto, ao se lembrar dessas cenas.

— Tem razão. — Comecei a me despir rapidamente, ficando só de peças íntimas assim como ela e joguei as peças sujas de sangue no lixo.

Cassie fechou pegou o saco de lixo, amarrando sua boca.

— Você pode tomar banho aqui no meu quarto e eu vou usar o do meu pai. — disse abrindo o seu lado do guarda-roupas e tirando algumas peças. — Pode pegar o que quiser, fica à vontade. — Cassie pegou uma toalha branca, enrolando-a pelo corpo, pegou o saco de lixo, destrancou o quarto e saiu fechando a porta.

Sorri com a gentileza, e assim que ela saiu eu tranquei a porta, e fui para o banheiro. Como estava calor, eu deixei o chuveiro na opção verão e fiquei embaixo dele, por longos minutos, esperando que a água gelada pudesse purificar o meu corpo de todo aquele sangue nojento. Usei o sabonete líquido da Cassie, me esfregando bem, usei também o shampoo e condicionador, lembrando que o sangue podia ter respingado nos meus cabelos, a água estava tão gostosa que eu poderia ficar por ali, por mais de uma hora, porém minha consciência pesou ao lembrar que a água do mundo estava acabando e eu estava aqui, desperdiçando por quase trinta minutos.

Quando sai do boxer, vi duas toalhas que se destoavam umas das outras, elas estavam bem dobradas, parecia que ainda não haviam sido usadas. Usei a primeira para secar os meus cabelos, era uma toalha preta com a estampa do Batman, que logo julguei ser do Enzo, para secar o meu corpo eu me enrolei em uma branca com caveiras cor de rosa, sorrindo logo julguei ser a da Cassie.

Quase seca eu saí do banheiro, e fui para o lado de Cassie do guarda-roupa.
Cassie e eu tínhamos estilos bem diferentes, muitas roupas pretas, cinzas ou escuras, enquanto eu gostava mais do colorido e tons pastéis. Peguei um shortinho de pano, que ficou mais curto do que eu imaginava, por eu ser mais alta que ela. Em seguida busquei uma blusa, maior que pudesse para equilibrar, mas Cassie tinha mais cropped do que blusas, e os croppeds de Cassie em mim, pareciam mais sutiãs de tão curtos, me olhei no espelho, me sentindo bastante incomodada e então meus olhos foram para a parte do lado e vi algumas regatas de Enzo, peguei uma camiseta do boston celtics, e vesti por cima do cropped e short de Cassie, a camisa era grande, ficou quase como um vestido em mim. Espero que ele não se importe.

Tirei a toalha da cabeça, meu cabelo estava úmido, então tive que deixá-los soltos para secarem sozinho, fui até a cabeceira de Cassie usando um pouco de creme de cabelo e o desodorante.

Quando terminei de me arrumar, destranquei a porta e saí do quarto de Cassie e Enzo segui pelo corredor até as escadas. Dos degraus eu já escutava as vozes de Enzo e Edgar, em algum debate, comentando sobre algo que passava na televisão, eu já estava na metade da escada quando ouvi a porta da sala se abrir.

— Ah, chegaram! — era a voz de Rodolfo — Onde está a Cassie?

Pisquei, ouvindo que seu tom não era dos melhores e comecei a recuar de costas mesmo sem fazer barulho, ele não podia me ver.

— Tô aqui.

Cassie respondeu atrás de mim, me assustando e me fazendo esbarrar nela.
Ela desviou de mim, e desceu as escalas, apoiando a mão no corrimão e descendo ao encontro do pai. Cassie também estava de shortinho de pano, parecido com o meu, mas nela parecia bem maior.
Ela vestia uma blusa branca que caia nos ombros com uma estampa preta do Mickey.

Rodolfo se virou para a escada, para ver a filha e sua cara foi de surpresa quando me viu bem atrás dela.

— Melissa! O que está fazendo aqui? — indagou-me olhando — Por que não foi trabalhar? Pensei que tivesse acontecido algo com você! Ninguém conseguiu entrar em contato.

Eu terminei de descer as escadas, para tentar me explicar.

— Desculpa. — foi a primeira coisa que consegui falar e ele me encarou esperando mas, esperando uma boa explicação — Eu... eu não pude ir trabalhar hoje... É que aconteceu algumas coisas...
— O que? Eu falei com a sua família e seus pais disseram que está tudo bem. O que aconteceu, Melissa? O que te fez largar todas as suas responsabilidades e parar na minha casa?

— Eu não posso explicar... — falei fechando os olhos — Desculpa, chefe...

— Não pode explicar? — indagou incrédulo em um tom ríspido, me fazendo abrir os olhos para encará-lo — Deixa eu adivinhar. Isso tem algo a ver com essa reuniãozinha de vocês?

— Mais ou menos... — respondi, desviando os olhos envergonhada.

— Ah! É claro! — Rodolfo exclamou alto, em um tom implacável, quase áspero — Claro, é claro o que seria mais importante do que fazer o seu trabalho, que é investigar alguns computadores cheios de provas de uma desvio de dinheiro estimado em milhões para prender alguns bandidos? — ele indagou espalmando as mãos e olhou para Cassie, Edgar e Enzo destilando ironia — Ahh! Óbvio, uma reunião com os amiguinhos... — ele volta a me encarar — Hoje, perdemos um dia de investigação, as provas principais estavam nos computadores que apreendemos, que ficaram parados, porque você não estava lá para fazer o seu trabalho.


Eu recebi o golpe bem na boca do estômago e só pude abaixar a cabeça.
Como poderia responder aquilo, como poderia me defender, se não podia contar a verdade para ele.

— E não foi só isso! Você sabe que eu te efetivei na minha equipe porque sei que você é muito inteligente, Melissa, mesmo sabendo que você era nova para esse trabalho, eu acreditei na sua competência para esse cargo e você tem se saído muito bem, até então... Mas uma irresponsabilidade dessas? — ele apontou para as latinhas de Skol beats na mesinha de centro. — Como eu vou explicar, que o orçamento a mais que pedi para melhorar nosso laboratório forense, para você, está vazio e parado, enquanto a nossa cientista forense está aqui, numa reuniãozinha com os amigos?

— Eu...

Quando ia tentar falar algo, Cassie deu alguns passos na minha frente, e saiu em minha defesa.

— Ei, vai com calma, pai! — falou chamando a atenção dele pra si — Não precisa falar com ela assim. Você sabe muito bem que entre nós quatro, Melissa é de longe a mais responsável e sensata de todos.

Rodolfo, ergue as sobrancelhas e aponta para a mesa cheia de latinhas de bebidas e depois para nós quatro.

— Parece que nem tanto, né? Em plena quarta-feira? Faltar ao trabalho para uma festinha...

— Não, não é nada disso que você tá pensando, Rodolfo. — Enzo se levantou tentando explicar. — Não é uma festinha. Nós podemos explicar.

— Eu não quero ouvir suas explicações... Nem as desculpas esfarrapadas de vocês... — ele se vira para mim — Hoje você me decepcionou Melissa. A equipe toda estava contanto com você, e você nos deixou na mão, para quê? Isso aqui? — aponta para a televisão em algum clipe musical e bebidas.

Sentir os meus olhos encherem e Cassie se pôs na minha frente.

— Não. Ela não largou tudo por isso... foi por minha causa. — Cassie falou o encarando e eu pisquei e segurei sua mão, com medo que ela falasse do Bombardeador.

Rodolfo encarava a filha, com certa curiosidade.

— É isso mesmo. Eu chamei a Mel pra cá pra casa. — continuou — Eu a fiz faltar ao trabalho pra ficar aqui comigo.

— Então, ela faltou ao trabalho só pra te fazer companhia? — indagou com um tom sarcástico.

— Exatamente. — ela desviou o olhar, e apertou de leve a minha mão— Eu estava precisando de uma amiga...pra desabafar... você sabe, eu não tenho lá muitas amigas e Mel é uma dessas poucas e eu queria ela por perto... — Cassie suspirou e levantou o olhar para encará-lo novamente — Daí eu inventei uma mentira qualquer, para ela ficar preocupada e vir correndo me encontrar na praça perto da escola, de manhã, por isso ela não pode ir trabalhar... Porque ela estava comigo... — Cassie olhou para a mesa, dos meninos onde estavam as latinhas e garrafas de bebidas — Depois de passar um tempo na praça, nós para casa, chamamos Edgar e ficamos aqui, conversando e curtindo, até perder a hora.

Rodolfo sorriu fraco, seguiu até a poltrona e sentou lentamente, para tirar os sapatos e disse com uma impassibilidade assustadora — Vocês sabem... Vocês duas principalmente. — apontou para mim e Cassie — Que eu odeio, quando tentam me enganar. — Ao terminar de tirar os sapatos, ele cruzou uma perna sobre a outra e encarou a filha — Eu posso farejar mentiras a quilômetros de distância, ou não teria chegado aonde cheguei, se fosse tão fácil me enganar.

Droga, droga, droga!
Eu sabia que isso não ia dar certo.

— Rodolfo, eu... — eu comecei me aproximando nele, mas sem saber exatamente o que falar para sair dessa situação.

— Quer saber a verdade? — Cassie indagou para ele tomar a frente novamente.

Encarando a filha, Rodolfo assentiu.

— Nada mais, nada menos além da verdade.

— A verdade é que... — Cassie parou engolindo em seco, parecendo escolher as palavras certas.

Além do olhar sério do pai, ela tinha nossos olhares temerosos, sobre o que ela tinha a dizer.

Eu balancei a cabeça, sutilmente, dizendo pra ela não fazer isso, não expor a história do Bombardear, não sabíamos do que ele poderia ser capaz e ainda não tínhamos provas contundentes contra ele.

Cassie ignorou todos os olhares, cruzou os braços e baixou os olhos, olhando para os próprios pés.

— A verdade é que... Ela ligou... A minha mãe ligou.

Essa revelação pegou todos de surpresa, não sabíamos se era verdade ou não, mas ela havia conseguido desarmar Rodolfo, só com aquelas palavras.

Cassie ergueu a cabeça lentamente e forçou um sorriso, como se estivesse falando alguma piada sem graça.

— Quero dizer... Ela tenta me ligar, né. Me manda várias mensagens... — ela parou e respirou fundo — E sabe para que? — Cassie riu — Dinheiro. Só pra pedir dinheiro.


Rodolfo estava apertando o punho, no sofá, dava para sentir a sua raiva.

— Aquela vagabunda! Eu vou...

Cassie balança a cabeça em negativa e se aproxima do pai, o interrompendo e pegando sua mão fechada...

— Não... não pai. O senhor não vai fazer nada, porque vamos continuar ignorando ela, como a gente sempre fez. — ela abriu a mão dele, lentamente dedo a dedo e beijou a mão com carinho, Rodolfo suspirou e beijou a mão da filha e com a outra mão secou algumas lágrimas.

— Isso vem acontecendo há quanto tempo, Cassie? — pergunta preocupado.

Cassie nega.

— Eu não quero falar dela, porque eu sei que falar dela não faz bem pra você e nem pra mim... — ela suspirou — Desculpa, eu não queria atrapalhar o seu caso, roubando a Melissa...

— Vamos conversar sobre isso em particular, depois. — ele disse levantando, pegou sua mochila e subiu as escadas, deixando Cassie sentada no braço do sofá.

Cassie suspirou fundo, esfregando o rosto.

— Que saco! — resmungou, irritada.

— Você não precisava fazer isso. — falei me aproximando dela, preocupada.

— Você não merecia ouvir todos aqueles sermões. Ainda mais depois de ser a grande heroína do dia.

Sorri a abraçando.

— Você é a melhor amiga do mundo!

— E essa história da sua mãe ligar pedindo dinheiro? — indagou Enzo olhando para Cassie, parecendo preocupado — Isso é verdade?

— Eu não quero mais falar sobre ela. — ela replicou pegando uma das latinhas coloridas de skol beats da mão de Enzo e deu um pequeno gole, fazendo uma careta engraçada ao engolir — Que horror! Isso é uma porcaria. — Cassie devolveu a lata para ele, secando a boca com a mão — Vem cá, a gente não vai sair?

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