A FAMÍLIA FERRARI (capítulo atualizado)
E D G A R F E R R A R I
Como de costume eu acordei cedo, alguns minutos antes do meu celular temporário despertar. Como eu odiava quando isso acontecia! O meu relógio biológico sempre está adiantado.
Bem, antes adiantado do que atrasado né? Quando saí do hospital, o médico sugeriu que eu ficasse em repouso, apesar das feridas terem cicatrizado bem, mas eu não podia me dar ao luxo de ficar parado, as contas não iriam parar.
Levantei me espreguiçando para começar o meu ritual matinal de todos os dias. Esfreguei os olhos para limpar as remelas e afastar o sono. Procurei o celular, que estava ao lado da minha cabeceira, junto com o meu despertador Se é que eu poderia chamar aquilo de celular. O aparelho em questão, era um blackberry, aqueles modelos arcaicos, com aquelas teclas horríveis.
Minha avó me emprestou, já que o meu telefone tinha sido destruído na explosão do hospital.
Olhei os SMS sem dar muita atenção à verdade, porque sabia que ninguém mais mandava sms. Como acordei com uns minutos de folga, eu fiquei sentado, jogando o jogo da cobrinha para passar o tempo e me distrair.
Depois da cobra que já estava bem grande, morder a própria cauda e morrer eu soltei um suspiro frustrado e finalmente larguei o celular para ir pro banheiro e tomar banho e arrumar para meu novo emprego, já que fui demitido do antigo por faltar o trabalho no dia do ataque do Stalker contra minha irmã, a amiga dela e minha namorada na minha casa.
A minha avó, Griselda Monteiro, mas que chamamos carinhosamente de a Juíza ou só vó, ficou possessa de raiva e jurou processar a empresa até o último centavo. Ela é advogada aposentada, já tem 80 anos de idade, mas mesmo que quisesse — e como ela queria — ela não poderia mais trabalhar. Infelizmente as pessoas são ignorantes e têm preconceito com advogados idosos e evitam contratar a todo custo, o que obrigou minha avó a se aposentar com os seus 70 anos, mesmo tendo vontade de continuar advogando. Eles estavam perdendo uma excelente profissional.
Dona Griselda, sempre zelosa e amorosa, me jurou que falaria com seus contatos e que essa situação não podia ficar assim, pois eu era uma vítima e insistiu para eu ficar descansando e me recuperando de tudo. Agradeci e recusei gentilmente a convencendo a deixar pra lá, não tínhamos dinheiro para dar andamento em um processo desses e eu tive sorte de encontrar outro trabalho bem rápido para ajudar a pagar as contas e não podia ficar parado.
Agora eu trabalhava como office-boy do fórum, minha avó conseguiu pedir a velhos amigos para me indicar ao cargo, o que me ajudou a conseguir a vaga em oitenta por cento, os outros vinte por cento, foi o fato de eu ter minha própria moto.
O emprego não era aquelas maravilhas, o salário era de uns 975 e quebrados. Eu tinha que ficar fazendo retiradas de entregas de documentos, pagamentos, correspondência e etc em escritórios. Eles exigiram que eu vestisse roupas sociais para circular entre os escritórios em âmbito formal. Usar roupa social para entregar papelada.
Advogados...
Depois de tomar banho, passar minha roupa, me vestir e ajustar os últimos detalhes na frente do espelho, finalmente saí do meu quarto e fui direto para a cozinha onde encontrei a Ellen, minha irmã mais caçula de cinco anos. Como se ela não me visse a anos, arqueou verdadeiramente surpresa, abriu o sorriso mais fofo desse mundo e veio correndo na minha direção como o mini furacão que era para me dar um abraço gritando meu nome como se eu tivesse voltado de uma guerra.
— EDGAR!
Sorri tentando frear o pequeno furacão desenfreado que vinha em minha direção. — Calma lindinha.
Isabella pegou Hellen a tempo, antes dela pular em cima de mim e amassar ou sujar a minha roupa com as mãos sujas de bolo, que estava comendo de café da manhã.
— Opa, devagar baixinha. Não vamos sujar e amassar a roupa dele. — Isabella coloca Hellen na cadeira e começa a limpar as mãozinhas e boca dela, enquanto Hellen resmungava, me pedindo colo.
Sorri agradecendo Isabella, minha irmã do meio e peguei Hellen depois que Isabella a limpou.
— Pronto baixinha. — a abracei e enchi de beijos a fazendo gargalhar feliz e satisfeita por receber seu dengo matinal.
Isabella estava me analisando de cima a baixo, enquanto eu devolvia a Hellen para seu bolo de chocolate, acompanhando com um copo de leite.
Franzi o cenho a encarando sem entender. — O que foi?
— Tá chique.
Dei os ombros sorrindo.
— Pois é, agora eu sou entregador dos advogados e juízes públicos.
— Espero que ganhe melhor que o outro, porque essas roupas são caras pra Hellen manchar de chocolate.
— Eu vou investir no preto. Dá pra disfarçar melhor as manchas.
Isabella ri balançando a cabeça.
— Ah, não esquece de deixar o dinheiro do transporte escolar da Hellen, a vó não pode ficar saindo debaixo do sol pra levar ela. E eu preciso de dinheiro pra comprar um uniforme novo da escola e temos o dinheiro do mercado da semana. Sem merreca dessa vez, quero comer algo gostoso.
— E quando você vai começar a procurar um trabalhinho para ajudar em? — resmunguei, tirando o meu cartão da carteira e deixando na mesa. — Tá ai, você vai fazer o mercado da semana com a vó. Não exagera, ok? Eu ainda tô com experiência nesse novo emprego, temos que economizar.
— Você foi indicado pelos amigos da vó. É melzinho na chupeta, Edgar. Só não fazer nenhuma merda, nem chegar atrasado, então é melhor comer logo e meter o pé. — ela me apressa pegando o cartão, e sai da cozinha.
— Pirralha abusada. — resmunguei me sentando e começando a me servir, Hellen veio até minha com seu pratinho da pequena sereia, com o olho pidão.
— Maninho, dá mais bolo pra eu? — pediu fazendo sua melhor voz de neném dengosa, a qual eu não conseguia negar nada.
Sorri cortando mais um pedaço pequeno de bolo, sabia que encher a criança de açúcar a essa hora da manhã, a deixaria mais enérgica do que uma pilha, mas a Isabella que lute.
Hellen voltou toda toda para seu lugar na mesa, devorando o pedaço de bolo fazendo uma dancinha feliz com a cabeça.
— O bolo tá gostoso, princesa?
Hellen assentiu de boca cheia balançando a cabeça exageradamente bagunçando um pouco seus cachinhos. Sorri feito bobo babando na minha irmã caçula. Ah, eu tinha saudades quando a Isabella não era um adolescete e me adorava como a Hellen adora.
Quando terminei o café, tirei a mesa rapidamente, ajudei Hellen a se limpar e fomos pra sala, enquanto eu procurava a minha avó para poder me despedir antes de ir trabalhar.
— Vô? — Chamei ela pela casa a procurando, mas ela não me respondeu. Depois de rodear a casa toda fui até Isabella que estava com Hellen na sala.
— Isabella, cadê a vó?
— Saiu cedo. Hoje é dia de buscar... ela, esqueceu?
Pisquei em choque, eu havia esquecido completamente.
Ela, a quem Isabella se referia, era a nossa mãe.
— É, pelo visto você esqueceu. — diz franzido de leve a sobrancelha, notando a expressão. — Daqui a pouco elas já devem está chegando... — faz careta — Se tudo ocorrer bem, dessa vez, né.
— Eu devia ter ido junto, por que ninguém me lembrou?
— Por que você tem trabalho e não pode se atrasar. Dã. — fala com aquele tom irritante e pretensioso de adolescente me fazendo revirar os olhos.
— Vou tentar encontrar com elas no caminho. — decido seguindo para a porta, preocupado com elas.
— Vai se atrasar, Edgar.
— Não tô nem aí. A avó pode tá precisando de ajuda. — Eu pego meu capacete e chaves no porta chaves e capacete de parede ao lado da porta, assim que abro a mesma me deparo com minha mãe e minha avó discutindo na entrada do quintal.
— Você não precisava me buscar mãe!
— É claro que eu precisava te buscar, Íris. Por que só deixar você sozinha por um minuto que corre para um bar qualquer. — minha avó profere levemente irritada entrando logo atrás da minha mãe.
— Mas eu não acabei de sair de um centro de reabilitação?! — rebateu claramente indignada. — Eu estou reabilitada, mãe!
— Da última vez também reabilitada. — Dona Griselda retrucou desdenhosa e se virou para encarar minha mãe — E qual o primeiro lugar que você procurou, Íris? Sua casa? Não! Foi um bar. Agora chega desse assunto e vá ver seus filhos. — disse a seca e quando me vê abre um sorriso doce. — Oh, meu filho. Ainda está em casa. Vai se atrasar.
Sorri de leve. — Eu estava indo encontrar com vocês.
De repente o furacão Hellen passa por mim e corre em direção a nossa mãe, toda feliz e eufórica.
— MAMÃE!
Minha mãe largou suas bolsas no chão para pegar Hellen no colo e gargalhou junto com a menina, girando e beijando ela.
Isabella parou ao meu lado para observar a cena. Segurei sua mão de leve, carinhoso, tentando passar uma sensação de segurança, que dessa vez podia dar certo. Ela apertou a minha mão de volta, também carinhosa e me correspondeu com um pequeno sorriso.
Lembro quando ela teve a mesma reação da Hellen alguns anos atrás. Hoje em dia, mais velha, entendia que ela voltar não significava muita coisa. Nossa mãe era tão estável quanto um piloto de fórmula 1, poderia completar até a primeira volta, liderando, mas também poderia facilmente perder o controle e sair da pista. Essa era Íris Monteiro Ferrari, nossa mãe. Uma alcoólatra em recuperação.
A história da minha mãe com o álcool é antiga, desde adolescente ela já exagerava, deixando a minha avó morrendo de preocupação. Quando entrou para a faculdade ela melhorou, bebia apenas em festas, sem exagerar tanto. Quando conheceu meu pai, aprendeu novos costumes, como beber só socialmente. Meu pai, Jonathan Ferrari, era policial do Bope, então tinha um autocontrole que passou para a minha mãe. O casamento dos dois sempre foi muito tranquilo, minha mãe não exagerava mais nas bebidas e se divertia muito mais em festas da família, do trabalho e dos amigos.
Foi quando aconteceu a maior tragédia da nossa família, a morte do nosso pai.
Ele morreu em uma operação pelo bope. Uma operação perigosa para prender algum traficante perigoso da época.
Quando os companheiros de farda do meu pai foram em casa, contar a notícia, minha mãe desabou. Ela gritou desesperada em negação, quebrando tudo, assustando a Hellen que tinha apenas alguns meses e a Isabella que tinha somente dez anos na época. Quando cheguei em casa vi Isabella em um canto, abraçada a Hellen no colo, as duas choravam, Hellen assustada por causa da nossa mãe e Isabella já sabendo da notícia do nosso pai, e claro também assustada com a reação da nossa mãe. A mulher que deveria estar confortando e cuidando delas naquele momento.
Eu tinha ido ao mercado, minha mãe iria fazer um dos pratos preferidos dele, rabada com batata e agrião, ela pediu para comprar tudo no mercado perto de casa. Quando estava voltando de bike, vi uma viatura da polícia estacionada na minha porta, logo acelerei as pedaladas, achando que meu pai já tinha chegado. Peguei as bolsas e corri animado para casa, mas eu paro ouvindo os gritos e choros. Deixo as sacolas de mercado caírem no chão e corro para dentro de casa, entrando às pressas e apreensivo. No momento que eu coloquei os pés dentro de casa, percebi que meu mudo tinha ruído. De um lado ao ver minha mãe, se debatendo, chorando desesperada, gritando pelo nome do meu pai, destruindo tudo que via pela frente, enquanto os policiais tentavam segurar e acalmar. E do outro, ao ver minhas duas irmãs, encolhidas em um canto, chorando, assustadas com tudo que estava acontecendo, meu coração pareceu encolher no peito, com a tamanha dor. Eu quis gritar, cair ajoelhado e chorar, mas não podia, eu tinha que tirar Isabella e Hellen de casa, deixar elas com a nossa vizinha, que era amiga da família, pedi para ligar pra minha avó de lá, para ela vir nos buscar. Em seguida voltei pra casa para ajudar a minha mãe e tudo isso me segurando para não desabar e chorar desesperadamente e piorar o estado da minha mãe. Os policiais ficaram com a gente até a minha avó chegar.
Depois do enterro do meu pai, não demorou uma semana para as coisas desabarem em casa.
Os familiares nos visitaram nos primeiros dias, conversando com a gente, oferecendo apoio se necessário. Ouvi muitos dizerem que eu era muito parecido com ele. Eu pensei que talvez por isso minha mãe evitava me olhar. Ela preferia as garrafas de vinho da pequena adega especial, que ele improvisou na sala. No chão, ao lado das garrafas, era onde ela passava a maior parte do tempo bebendo e chorando caindo na depressão. Foi assim durante os dois primeiros meses, ela até parou de amamentar a Hellen, me mandando comprar leite NAN pra ela.
Foi quando eu percebi que a gente tinha perdido a mamãe também e tive que cuidar dela e das minhas irmãs sozinho. Comecei a faltar no colégio, apenas mandando Isabella. Precisava ficar em casa para cuidar de Hellen e da minha mãe. Admito que cuidar da Hellen foi bem mais fácil do que cuidar da mamãe, a Hellen apenas chorava, sujava a fralda e pedia mamar. Já minha mãe mal queria levantar para tomar banho ou comer. Não queria sair de perto da adega e às vezes tinha suas crises. De dia ela bebia desesperadamente na tentativa de apagar a dor, mas a noite perambulava pela casa completamente embriagada chamando o nome dele, chorando, chamando pelo nome dele, às vezes gritando e quebrando tudo.
Muitas vezes os vizinhos vinham perguntar se estava tudo bem, eu mentia, dizendo que minha alguém da família já estava a caminho. Mas era eu quem a acalmava nas crises, dava banho, a colocava na cama e limpava toda a bagunça, enquanto Isabella fazia Hellen dormir novamente.
Essa foi nossa vida durante os três primeiros meses, que foi o tempo suficiente que conseguimos manter as aparências, quando os parentes visitavam para ver como estávamos.
Mas a escola acionou o conselho tutelar devido às minhas faltas. Eles tentaram contato com minha mãe várias vezes durante aqueles três meses, mas como não tinham respostas da minha mãe, entraram em contato com a minha avó.
Eu não levei nenhuma bronca por ter mentido e faltado a escola, com sorte o pessoal do conselho tutelar se solidarizou com nossa situação, após saber da morte do meu pai e com a minha avó por parte de mãe se mudando para nossa casa, não foi preciso abrir nenhum processo. Eu só tinha que voltar para a escola, recuperar as faltas com aulas extras para não reprovar e perder o ano.
Depois da minha avó ter passado os primeiros dias cuidando da minha mãe, vendo ela se embebedar de dia e ter crises a noite, afetando toda a família, decidiu internar a filha.
Isso há cinco anos atrás. E até hoje ela está saindo e entrando da clínica, tentando se recuperar do vício. Os especialistas explicaram um milhão de vezes, a clínica sozinha não cura. Eles precisam do total apoio e compreensão da família, mas principalmente da vontade de recuperação do paciente. Sem isso o tratamento era em vão. Nós, a família, fazíamos a sua parte, o problema era minha mãe fazer a dela.
Isabella soltou a minha mão, me fazendo sair dos devaneios, minha mãe ainda com Hellen no colo, estava olhando para gente, com um grande sorriso. Foi quando percebi que ela estava maquiada, cabelo bem arrumado, com as pontas onduladas e roupas novas.
O que surpreendeu a mim e a Isabella. Ela sempre foi uma mulher vaidosa, mas depois que começou a gastar todo o dinheiro com bebidas, deixou a vaidade de lado por muito tempo para se entregar ao vício.
— Agora é pra valer, meus amores. — ela estava sorrindo, os olhos úmidos, emocionada — Eu juro pra vocês que agora é pra valer. — sorrindo, ela nos chamou para juntar para o abraço.
Isabella com os olhos cheios de lágrimas, foi correndo. Sorrindo, também emocionado, me juntei ao abraço. O primeiro abraço depois de 18 meses.
Depois de nos abraçarmos demoradamente, para matar a saudade daquele toque materno de antigamente, nós sentimos novamente com esperança de que finalmente teríamos nossa mãe de volta, depois de tanto tempo.
Depois de longos minutos, nos soltamos e minha mãe respira fundo, tentando se recompor, como todos nós, ela seca as lágrimas dos nossos rosto com carinho, sorrindo.
— Então... Será que eu posso saber para onde vai o meu filho, assim todo bonitão? — perguntou minha mãe ajustando a minha roupa, que tinha amassado um pouco com os abraços.
— Trabalhar.
— Todo chique assim? Fiquei tanto tempo naquela clínica que você já está formado, filho? — indagou num tom brincalhão me fazendo rir.
— Quem me dera, mãe. Ainda falta muito. Eu tô trabalhando de office boy para o fórum. E tenho que ir agora, ou perco esse emprego. — respondi girando as chaves da minha moto. — Depois do trabalho eu venho direto pra casa. Para um jantar em família. — prometi deixando um beijo na minha avó que nos observava da porta de casa e depois nela.
— Não filho, não falte a faculdade por mim. — pediu segurando a minha mão — É o seu futuro, não quero atrapalhar mais do que já atrapalhei seus estudos.
— Você nunca me atrapalha. Nunca, entendeu? — falei segurando sua mão e beijando.
Ela tentou forçar um sorriso, mas sem acreditar muito.
— Vejo vocês no jantar. — Me apresso, correndo pra minha moto, coloco o capacete antes de subir na moto, giro a chave ligando o motor, já saindo em alta velocidade para ganhar tempo.
💣💣💣
Conseguir chegar a tempo no trabalho, ultrapassando alguns sinais. Não me orgulhava de burlar a lei, mas não podia correr o risco de perder mais um emprego. Eu sempre pilotei com muito cuidado, para não causar acidentes e machucar outras pessoas, pois zelava muito pela minha vida e vidas alheias quando estava na moto.
Hoje o dia no trabalho foi cheio,eu fiz muitas retiradas e entregas de documentos e pagamentos entre outros serviços administrativos. Eu almocei um salgado em uma lanchonete qualquer, para descansar meia hora e adiantar algumas entregas para mostrar eficiência pro chefe.
Agora com a minha mãe de volta em casa, eu não podia deixar a desejar para correr o risco de ser mandado embora.
Larguei às 18h15m do trabalho no fórum, precisei abastecer o tanque que estava quase vazio.
Deixei cheio para o dia seguinte e segui para casa, agora sem correr, aproveitando o vento no meu rosto em uma velocidade tranquila.
Era dia de ir direito para a faculdade, mas como minha mãe voltou pra casa hoje, eu resolvi faltar a aula. Sorri feito um bobo debaixo do capacete, sabia que não devia me encher de esperanças assim, mas era inevitável. Minha mãe estava voltando para casa, depois de cinco anos lutando contra o alcoolismo entre idas e vindas. E ela parecia realmente bem, feliz. Com vontade de mudar. Hoje é um dia especial e eu não podia perder isso por nada.
Parei no sinal, ao lado do meio fio, ainda sorrindo feito bobo, quando vi as promoções de celulares, numa vitrine, lembrando que Dona Griselda me mandou comprar um celular para poder devolver o ching ling dela. Manobrei entrando no estacionamento da loja, estacionei a moto guardando o capacete e fui comprar dois celulares. Um pra mim e um pra minha avó, pra ensinar ela a usar o whatsapp e facilitar a nossa comunicação. Escolhi dois modelos diferentes, mas que estavam na promoção. Paguei tudo no cartão de crédito, parcelando em dez vezes sem juros, e embrulhei o da minha avó para presentear com um sorriso. Eu acho que ela iria gostar da surpresa.
No estacionamento mesmo, eu coloquei meu chip para configurar o meu novo celular, e sincronizar meus dados salvos no google + e baixar os meus aplicativos.
Baixei os mais importantes bancos de mensagens e redes sociais.
Depois que meu whatsapp sincronizou, eu tinha uma mensagem nova de um número que não estava salvo na minha agenda.
000000000: Betinho.
Estranhando a mensagem, eu franzi a testa e busquei na minha memória se conhecia algum Betinho. Não me ocorreu ninguém com esse apelido.
Imaginando que seria um engano eu apenas ignorei e fui olhar as outras mensagens dos meus contatos e arfei de leve vendo que tinha uma mensagem da Cassie. Ela tinha mandado há cinco minutos.
Detetive Cassie 🖤: Quando vamos falar com o seu amigo para resolver o problema do meu celular
Levei a mão a cabeça, eu esqueci completamente que tinha marcado de vê o lance do celular dela. Se desse um bolo na Cassie, ela seria capaz de me matar da forma mais dolorosa que o Stalker nunca teria pensado em fazer. Sai do estacionamento da loja, para o vigia parar de me olhar feio e parei na parede da calçada para ligar pra ela.
— Que horas você quer ver o celular? — Fui direto ao ponto. Como já levei algumas facadas por ela, eu acho que já passamos da fase de começar com alô e tudo mais.
— Agora, você não acabou de sair do trabalho? Eu estou te esperando.
— É que eu tenho que voltar para casa logo depois. — contei guardando o celular da minha avó no compartimento da moto e pegando o capacete.
— Pensei que tinha aula.
— Eu tenho, mas eu não vou hoje.
— E por que? — indagou Cassie do outro lado da linha, claramente desconfiada.
— É uma longa história — disse descartando aquele assunto.
— Estranho... — ela começou a falar — Primeiro você vai trabalhar, coisa que nem deveria, já que ganhou alta quase junto comigo depois de ter levado várias facadas... E agora do nada, decide faltar a aula. O que está acontecendo?
— Mais tarde eu te explico, Cassie. Eu prometo.
— Então eu vou pra sua casa. Pode me contar lá.
— Não é uma boa ideia, não agora. — balancei a cabeça em negativa, mesmo que ela não pudesse ver.
— O churrasco não foi uma boa ideia, mas você foi mesmo assim. — retrucou.
— São situações totalmente diferentes e seu pai que me convidou, não foi como se eu tivesse aparecido do nada.
— Então me convida.
— Cassie...
— Qual é, Edgar, não me faça implorar. Eu só quero... Na verdade eu preciso sair de casa um pouco. — sua voz estava totalmente diferente agora, quase dócil...Ela soltou um longo suspiro. — Eu tô uma pilha de nervos com esse negócio todo do e-mail, do celular, a bomba na escola. Sou eu quem vai acabar explodindo. Preciso me distrair, Edgar. Por favor.
Joguei a cabeça para trás suspirando e troquei o celular de lado. — Estou indo de buscar. — acabei cedendo, afinal Cassie já conhecia quase toda a minha família, não faria mal levá-la para um jantar para conhecer a minha mãe. Já estávamos namorando mesmo, uma hora ou outra ela iria saber do drama da minha família.
Cassie soltou um gritinho animado, dizendo que me ama, avisou que estava indo se arrumar antes de desligar.
💣💣💣
Em menos de meia hora em cheguei na casa de Cassie, estacionei na calçada em frente a casa e buzinei duas vezes. Ela apareceu na janela do quarto, acenou para que eu esperasse um pouco.
Depois de mais ou menos uns cinco minutos, ela finalmente saiu de casa e veio ao meu encontro, me abraçando e beijando.
— Oi.
Sorri retribuindo o beijo, carinhoso e a abraçando pela cintura, e a ergo no ar de leve.
— Oi, minha baixinha.
Cassie ri e bate no meu peito.
— Idiota. — ela ajeita uma bolsinha preta no ombro — Podemos ir.
Sorri pegando os dois capacetes e entregando um para ela.
— Você avisou para o seu pai, né? Eu não quero levar um tiro ou ser acusado ou preso por sequestro. — brinquei lembrando que o pai dela era policial.
— Já avisei engraçadinho. — respondeu colocando o capacete.
Disse enquanto subia a moto para manobrar e emparelhar com o meio fio, para facilitar a subida dela. A moto era um pouco alta e Cassie teve um pouco de dificuldade, mas subiu se apoiando em mim. Ela deu um tapa nas minhas costas ao perceber que estava rindo dela.
— É que você é muito pequena. Não sei como pode caber tanta marra nesse corpinho de meio metro.
— Pra sua informação eu tenho quase um metro e sessenta, tá!
— Uau! Quase uma gigante.
— Você não vai querer chegar em casa todo roxo de porrada, né seu branquelo?
— Meu Deus! Se você fosse um cachorro com certeza seria um pinsher!
— Edgar, vai tomar no meio do seu cú, ok?
Eu gargalhei.
— Uma verdadeira princesa. Só tentar não xingar lá em casa, tem criança pequena. — Dei partida, seguindo para a loja do meu amigo, que conserta celulares.
— Relaxa, porque a Cinderela aqui tem que estar de volta às onze horas.
— Às onze? Pensei que fosse dormir lá em casa, comigo. — disse um pouco desapontado.
— São as regras idiotas do meu pai. — respondeu me apertando quando fazia uma curva. — Devagar, devagar!
— Mas eu nem tô indo rápido. — falei rindo, e fazendo outra curva. Como a estrada estava tranquila e vazia eu pude acelerar a vontade.
— Edgar vai devagar! — Cassie gritou me apertando com medo.
Gargalhei animado e diminuí um pouco numa velocidade média para ela se acalmar.
— Você já pode me deixar respirar um pouco. — brinquei, mas com um fundo de verdade. Cassie era bem forte para seu tamanho. Ela me afrouxou o aperto, mas ainda segurava firme, com receio de cair, sorri e tentei tranquilizá-la. Dirigindo quase devagar, deixando ela aproveitar a vista da orla, sentindo a brisa do mar. — Relaxa, Cassie. E aproveite, a moto é a melhor coisa, é rápida e prática. Sente só esse vento agradável, é quase uma terapia.
— Terapia de choque, só se for. — implicou, mas acabou relaxando, com a vista e encostando a cabeça nas minhas costas, sem me apertar tanto.
Sorri e mantive essa velocidade até chegar na loja do meu amigo. Chegamos em meia hora, por causa da velocidade, mas foi gostoso ter Cassie agarrada em mim. Estacionei em frente a loja, e nós dois entramos com os capacetes pendurados no braço.
Jonas, que trabalhava com celulares. Cumprimentei, apresentei Cassie e ela explicou o problema do celular, franzindo o cenho, dizendo que podia se tratar mesmo de algum vírus, depois de dar o orçamento disse que estaria pronto amanhã. Agradecemos e seguimos para minha casa, que não era muito longe dali.
Chegando, deixei minha moto em frente a porta da garagem e entrei com Cassie, penduramos os capacetes na parede e já nos deparamos com Isabella e Hellen na sala, assistindo televisão.
Isabella nos olhou com um sorrisinho e já levantou dizendo em voz alta, anunciando para a vizinhança toda.
— O Edgar chegou! E ele trouxe a namorada!
Hellen por sua vez soltou um risinho e veio correndo em nossa direção, ela começou a cantarolar pulando a nossa volta.
— O Ed tá namorando, o Ed tá namorando, o Ed tá namorando. No parque beijando, no parque beijando... — ela parou na nossa frente, fazendo biquinho imitando sons de beijinhos e saiu correndo às gargalhadas.
Cassie estava sorrindo, tentando segurar o riso.
— Eu te avisei. — adverti a levando para sentar no sofá.
— Sua irmãzinha é uma fofa.
Poucos segundos depois de Hellen sair cantarolando para a cozinha, minha mãe saiu da mesma, secando as mãos molhadas com um pano de prato rosa.
— Namorada? — indagou da cozinha, provavelmente falando com Isabella, quando nos viu e abriu um grande sorriso e sentou no sofá ao lado — Meu filhotinho arrumou uma namorada! — minha mãe exclamou animada, olhando de mim a Cassie. — Até que enfim.
— Até que enfim? — questionei ofendido, erguendo as sobrancelhas.
Cassie soltou uma leve risada.
— E é tão linda. — ela elogiou Cassie, que sorriu um pouco sem jeito.
— Obrigada, a senhora também é muito linda.
— Sem essa de senhora, mocinha. Senhora está no céu Pode me chamar de Íris, eu sou a mãe do Edgar.
Cassie riu educadamente da péssima piada da minha mãe e apertou sua mão e se apresentou antes que eu pudesse fazer as honras.
— Prazer em te conhecer. Eu sou a Cassiana, mas pode me chamar só de Cassie. — Cassie ofereceu a mão, mas minha mãe a puxou para um abraço caloroso, estava bem animada.
Cassie sendo pega de surpresa, logo retribuiu o abraço.
— E então, como vocês se conheceram? — Dona Íris, a rainha da indiscrição, perguntou assim que soltou Cassie do abraço de urso.
— Mãe... — chamei a atenção dela, tentando a repreender.
— O que? Já que você não me conta nada, eu quero saber por ela.
Cassie riu — Tudo bem. A gente se conheceu pela internet, na verdade.
— Pela internet? — Isabella interpelou levemente indignada, se metendo no meio da conversa — Que engraçado, justo o sr e a sra Careta que me crucificaram tanto por um app de relacionamento. — ela cruzou os braços — Mas estavam os dois lá, bem lindos trocaram idéias no chat da uol.
— Garota me respeita que eu não sou tão velha assim pra ficar entrando em chats do uol. Se é que isso ainda ainda. — Cassie retrucou, erguendo o dedo em direção a Isabella com todo um gingado — Pra começar, nós nos conhecemos em grupos do facebook de interesses em comum.
E o seu caso foi bem peculiar, nem preciso lembrar, né?
— Continua sendo injusto. Edgar deletou a minha conta e agora fica supervisionando o meu celular todos os dias! — Isabella cruzou os braços ainda indignada. — Eu nem tenho mais privacidade.
— Pois eu acho muito justo. — Minha avó finalmente saiu da cozinha, saindo em minha defesa, eu agradeci beijando a minha velha.
— Eu também. — concordou Cassie.
— Puxa saco. — resmungou Isabella.
— Mas o que aconteceu? — Minha mãe estava confusa.
— Nada, minha filha. Depois te contamos. Vamos continuar conhecendo a adorável namorada do Edgar. — minha avó sorri olhando para Cassie — É bom te ver de novo, querida.
Cassie sorri, levantando para cumprimentar e abraçar a minha avó, dizendo que também estava feliz em vê-la novamente. Nós decidimos não falar nada sobre o caso do Stalker para minha mãe. Temíamos que o mínimo estresse poderia trazer de volta os medos e as recaídas.
— Então querida, o que você faz o que da vida? — continuou minha mãe retomando o interrogatório para nossa sorte e meu constrangimento. — Porque o Edgar sempre foi muito trabalhador e...
— Mãe! — tentei cortá-la, levando a mão ao rosto — É melhor a gente servir o jantar.
Cassie estava rindo, se divertindo com toda a situação, pois ela tinha passado quase o mesmo no dia do churrasco.
— Relaxa, Edgar. Eu estou estagiando com a minha madrasta, no escritório dela. Ela é advogada.
— É mesmo? — disse minha mãe impressionada — O que você faz lá?
— Mãe, já chega. É sério. — a cortei, falando mais sério agora. — Tá me fazendo passar vergonha. É a primeira vez que a Cassie vem aqui, e já a enchem de perguntas.
Dona Íris ergue as mãos se rendendo — Ok, ok. Chega de perguntas. — ela sorri inclinado para Cassie e segurando suas mãos. — Eu estou muito feliz que meu filho tenha encontrado uma ótima namorada. Você parece uma menina muito especial. Ele tem muita sorte.
— Eu devo admitir que ele tem mesmo. — Cassie sorriu, concordando com ela.
Ela fez a minha mãe ri.
— Boa. Eu já gostei de você.
— Vamos, vou servir o jantar. Cassie, você me ajuda a colocar a mesa, querida? — minha avó pediu se levantando.
— Claro, Dona Griselda! — ela já estava se levantando para ajudar, eu a acompanhei a puxando de leve para o canto da cozinha, fora da vista da minha mãe.
Cassie franziu o cenho, encostando na parede, sem entender porque eu a puxei para aquele canto.
Eu me aproximei mais, ficando bem perto, para poder falar baixo, sem correr o risco da minha mãe escutar.
— Antes de você ir com a minha avó,eu tenho que te falar uma coisa...
Cassie pisca, me olhando, nossas respirações se cruzando.
— Pode falar. — sussurrou.
— A minha mãe não sabe da história do Stalker... — suspirei, ainda era difícil falar sobre isso, mas eu tomei coragem e falei — Ela acabou de sair de uma clínica de reabilitação, ela está se recuperando de alguns vícios. Ela é uma alcoólatra, Cassie. Passou os últimos cinco anos entrando e saindo da clínica. Nós não falamos nada, porque temos medo que toda essa história de algum gatilho e ela volte a beber de novo.
Cassie pisca surpresa, mas segura minhas mãos, beijando carinhosa e assente.
— Pode ficar tranquilo. Eu não fico me gabando por aí pelo caso do Stalker. — falou com um sorriso, acariciando o meu rosto, mas de repente ela fez uma cara de confusa. — Nem lembro mais desse caso e você?
Ri assentindo e beijei sua testa.
— Obrigado.
Cassie sorri e ficou na ponta do pé para me dar um beijo, sorria a pegando pela cintura e levantando de leve, a beijando.
— Dona Cassiem, não fuja do trabalho mocinha!
Nós dois caímos na risada e eu coloquei ela no chão e ela foi animada em direção a minha avó.
— É que seu neto que está tão apaixonado, que não consegue se desgrudar de mim por um minuto, dona Gri. — ela explicou para minha avó me fazendo rir alto.
— É exatamente ao contrário! — retruquei, e a acompanhei até a mesa de jantar e dei um tapa estalado na sua bunda. — Pode colocar ela pra trabalhar, vó. Eu deixo.
Cassie me encarou com certo ar de incredulidade e constrangimento e tenho certeza que ela travou a língua para não dizer nada obsceno, porque estávamos na frente da minha avó, mas seu olhar me fuzilando me disse tudo. Eu apenas pisquei pra ela e soprei um beijo no ar.
— Tenho um trabalho pra você também garoto. Vai no mercado e trás tudo dessa lista. — mandou me entregar uma folha de caderno. Era uma lista de ingredientes e logo abrindo um sorriso, vendo do que se tratava.
— Torta de morango? Vou te trazer aqui mais vezes, Cassie. Olha só quantos mimos.
💣💣💣
Quando voltei do mercado, a mesa já estava posta e minha avó e minha mãe estavam esquentando o jantar. Deixei os ingredientes na bancada, para minha velha preparar sua famosa torta, eu fui atrás da minha namorada. Cassie estava brincando de boneca com Hellen. Sorri vendo a interação das duas, para minha surpresa, Cassie até tinha jeito com as crianças, pois minha caçula pareceu adorar a Cassie de primeira.
Deixei as duas se conhecendo melhor e fui ajudar a minha avó com a torta, cortando ingredientes e ajudando com o recheio, aproveitando para roubar uns morangos, é claro. Quando terminamos com a torta, ela me agradeceu com um beijo no rosto e mandou eu ir ficar com a minha namorada.
Sorri e fui obedecer a dona Griselda rendendo a Cassie das brincadeiras de Hellen, pois se deixasse ela iria querer brincar eternamente.
— Hora do banho, baixinha.
A garotinha resmungou fazendo birra, batendo levemente os pés.
— Num quero! — retrucou cheia de manha, fazendo biquinho.
— Ihhh, temos uma Cascona aqui? — brinquei perguntando.
Hellen dá uma risadinha e pergunta — Cascona?
— É, a versão menina do Cascão. Se você fosse menino seria um Cascãozinho, mas como é menina é um Casconazinha.
Cassie se conteve para não ri.
— Não é Cascona, é Maria Cascuda!
Hellen, a fã de turma da Mônica, que nem sabe ler me corrigindo.
— Mas Maria Cascuda toma banho e você não quer tomar. Por isso é igual o Cascão, uma Cascona. — argumentei.
— Sou nada!
— É sim.
— Não sou não! — falou já brava, novamente.
— Hellen é Cascona, Hellen é Cascona, não toma banho, fedidinha, não toma banho, fedidinha. — Cantarolei pra ela.
— Não sou, não sou!
— Então vai tomar banho. — falei olhando.
Hellen subiu para tomar banho emburrada.
Sorri balançando a cabeça e comecei a catar os brinquedos dela e Cassie soltou uma leve risada.
— Meu Deus! Você é um poço de maturidade. — falou me ajudando a recolher os brinquedos.
Sorri orgulhoso.
— Foram anos de treinamento.
💣💣💣
Cassie e eu conseguimos passar alguns minutos no sofá, conversando até anunciar que o jantar estava servido. Isabella desceu com a Hellen e todos fomos nos sentar à mesa.
O jantar foi macarrão com almôndega.
— Espero que goste. É bem simples, mas é feito com muito amor. — minha mãe disse, nos servindo.
— Eu amo macarrão com almôndegas. — disse Cassie sorrindo e brincou— Já me conquistaram pela barriga, já era. Vou vir aqui sempre.
Minha mãe riu feliz.
— Você é sempre bem-vinda aqui, querida.
Minha mãe realmente gostou de Cassie, elas conversavam animadas, pareciam que se conheciam há anos. Cassie já era da família.
Hellen já estava respingada de molho até os cabelos, e iria precisar de outro banho. Isabella tentava limpar ela mas era em vão, a baixinha insistia em chupar o macarrão, imitando os desenhos que via, ao invés de enrolar no garfo como a gente ensinou. Mas ninguém ficou incomodado com isso, Hellen era o nosso xodó, ela tinha seus privilégios dentro de casa.
O jantar foi gostoso, leve e muito divertido. Foi muito melhor do que imaginei. Comemos a sobremesa até pedir bis, ficamos conversando para fazer a digestão. E foi óbvio que minha mãe e minha avó começaram a contar histórias da minha infância. Cassie adorou esse momento e ouviu todas com atenção, se divertindo do meu constrangimento. Decidi cortar a vergonha na quarta história e fomos ajudar a lavar a louça. Quando terminamos o jantar levei Cassie até o meu quarto, para termos um momento juntos, com um pouco de privacidade.
— Esse é o meu quarto.
Cassie entrou no meu quarto analisando, como uma inspetora, mas não havia muita coisa para se ver, além de uma cama de solteiro, um guarda-roupa pequeno e simples de solteiro, um computadorzinho, uma televisão, o videogame, uma janela grande e um ar condicionado para sobreviver no rio de janeiro. Não havia nenhuma decoração demais, as paredes eram pintadas de azul marinho, a mesa do meu computador tinha alguns porta retratos da família, tinha alguns brinquedos de Hellen espalhados pelo chão.
— O que achou?
— Não é de todo ruim... — Falou por fim, com seu ar de deboche.
— Pelo menos eu não tenho que dividir o quarto. — retruquei, erguendo a sobrancelha.
Cassie se virou pra mim levando a mão ao peito, como se tivesse sido atingida.
— Nossa. Essa doeu.
Ri passando por ela e fechando a porta do quarto.
— Você pediu por essa, vai.
Cassie sorri balançando a cabeça, admitindo. Quando eu giro a chave, trancando o quarto, ela ergue a sobrancelha me encarando.
— Quer ver uma coisa de todo o bom agora? — perguntei sorrindo.
— O que mais você tem pra me mostrar?
Dei alguns passos em sua direção, pegando ela pela cintura e ergui a fazendo arquear surpresa e a beijei intensamente. Cassie retribuiu logo de imediato, segurando na minha nuca, puxando meu cabelo de leve, enquanto eu abocanhava seu pescoço chupando de leve. Sorri apertando seu corpo contra o meu e a carreguei até a cama, Cassie entrelaçou suas pernas na minha cintura, me puxando em sua direção. Continuei a beijando, ficando por cima dela, acariciando seu corpo, minhas mãos deslizavam lentamente segundo suas curvas, fazendo o caminho pelos seus quadris, coxas, procurando contato com a pele, mas só sentia sua calça jeans.
— Cassie, você só usa jeans? Já tentou vestidos ou saias? Só pra facilitar as coisas?
Cassie franziu o cenho e bateu no meu peito. — Sério? Deixa de ser tarado. Você tá acabando com o clima.
Com um sorriso, voltei a beijá-la, mordiscando seu lábio, descendo os beijos pelo pescoço, a fazendo suspirar e fechar os olhos. — Você nem imagina o quanto eu tenho me segurado... — continuei descendo os beijos até o decote da sua blusa justa, beijando o topo dos seios. — O quanto é difícil ficar tão perto de você... Sem poder te beijar assim, sem sentir o calor da sua pele... — continuei beijando seu corpo enquanto a minha mão deslizava para dentro da sua blusa.
Cassie gemeu de leve, sentindo a minha leve massagem e agarrou meus cabelos, puxando de leve para me beijar profundamente, enquanto eu continuava acariciando seu corpo.
Cassie também deslizou as mãos, pelo meu corpo também, descendo das costas e apertou a minha bunda.
— Assim fica difícil a gente manter um clima.
— Por que? — ela me perguntou sem entender.
— Porra, Cassie. Passar a mão na minha bunda?
Cassie ri.
— O que? Eu gosto da sua bunda, é durinha e você passa na minha. — ela ergueu a sobrancelha — Nada mais justo.
— E se eu passasse...
Cassie segurou meu rosto e apertou de leve ameaçadora.
— Olha as confianças, Edgar...cê me respeita em.
Soltei uma risada alta, voltando a beijá-la com vontade.
— Coisa chata. Eu não sei o que vi em você.
Cassie sorri, retribuindo, acariciando meu rosto.
— Além de eu ser uma grande gostosa? Sou inteligente, bonita, engraçada, tenho bom, sou bem humorada... — ela começa a contar nos dedos.
— Esqueceu de modesta.
— Ah, claro e sou muito modesta, é óbvio. — acrescentou rindo.
— Você é uma palhaça, isso sim. — disse levantando seu queixo para beijar seu rosto— Minha palhaça. — Quando pretendia voltar aos nossos amassos, minha avó interrompeu batendo na porta.
— Edgar! Deixe essa porta aberta. Não quero ter bisnetos até você se formar, ouviu bem, garoto?
Levei a mão à cabeça e resmunguei em tom de repreensão. — Vô!
— Deixa eles, mãe. — a voz da minha soou atrás da porta também, ela parecia estar levando a minha avó para outro cômodo. — Só tenham juizo e claro, não se esqueçam da proteção.
Eu afundei a minha cara no travesseiro de tanto constrangimento. Cassie estava rindo de gargalhar, adorando a situação. Sorri ouvindo sua risada contagiosa e balancei a cabeça a olhando com um sorriso.
— Você tá adorando isso, né?
— Eu adoro te ver sendo constragindo. — admitiu rindo.
— Como a senhora é vingativa, em.
Cassie sorriu vindo em minha direção, empurrando meu corpo de leve para me fazer ficar de barriga pra cima, e poder subir em cima de mim. — É que á no meu signo, eu sou ariana raiz, bebê. — ela já estava descendo em direção a meus lábios para me beijar, quando parou de repente, olhando para o meu relógio despertador e seus olhos se arregalaram. — Ai meu deus. São já é meia noite e meia! Meu pai vai tirar o meu fígado. — ela saltou de cima de mim, e abaixou procurando seus sapatos. — Você tem que me levar pra casa.
— O que? Agora? — sem entender o desespero todo — Por que?
— Eu estou atrasada. Tenho horário pra chegar em casa.
— Horário pra chegar em casa?
— E nem é a mais absurda das regras. — disse calçando o tênis. — Vamos logo Edgar.
— Regras?
— É uma história muito, muito longa e eu tenho que ir. Outro dia eu explico.
— Tudo bem. Eu posso tomar um banho pra tirar essa roupa do trabalho. Só vou demorar uns cinco minutos.
Cassie soltou um longo suspirou ao se sentar na cama e me deu de ombros. — O que é um peido, pra quem já está cagado? Vai lá.
💣💣💣
C A S S I E A N D R A D E
Logo depois que Edgar entrou no banheiro para tomar banho, eu fiquei inquieta, meus pés balançavam por causa da minha ansiedade. Eu não aguentei ficar sentada e comecei a caminhar de um lado para o outro dentro do quarto, dando voltas e voltas.
Meu celular devia estar com umas cinquentas ligações não atendidas e mais um milhão de mensagens do meu pai. Ele devia está puto da vida, pensando que eu estou o ignorando de propósito. Dúvido que ele iria acreditar que o celular novo que ele comprou estava com defeito, sorte que eu pedi o recebi pro amigo do Edgar, assim poderia provar a minha história.
Continuei andando de um lado para o outro, dando voltas pensando em uma desculpa convincente para dar pra ele, parei quando vi o celular novo do Edgar em cima da mesa do computador.
Era um celular bonito, modelo recente, mas ele ainda não tinha colocado a capa e a película.
Peguei o aparelho na mão para ver mais de perto e percebi que não tinha senha.
Sorri e deslizei a tela de bloqueio, para dar uma pequena olhada. O que? Eu podia fazer isso. Era a namorada dele, oras. Vi os aplicativos e não tinha nada de mais, só aplicativos de banco, redes sociais e whatsapp. Cliquei no aplicativo de mensagens por curiosidade, não pretendia ler as mensagens dele, mas percebi que ele não tinha muitas conversas, só dos amigos da faculdades e grupos da faculdade. Continuei deslizando a procura do meu contato. queria ver como ele salvava o meu nome.
Detetive Cassie ♥
Eu acabei abrindo um sorriso bobo quando vi o coraçãozinho preto ao lado do meu nome, mas meu sorriso se desmanchou quase no mesmo segundo quando outro número me chamou atenção. Um contato não salva, que estava abaixo, mandou uma mensagem para Edgar.
000000000
Era um número estranho, composto só por digitos zeros.
Como se fosse um número anônimo. Minha respiração ficou pesada de repente, ofegante, minhas mãos estavam tremendo de leve, esse número tinha mandado uma mensagem para Edgar. Sem pensar duas vezes, eu abri a conversa para ver a mensagem.
000000000:- Betinho.💣💣💣
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