Capítulo 36: O luto
Ela podia ouvir o seus irmãos chamando-a, mas mal a registrou enquanto segurava sua mãe em seus braços. Morta por um homem que tinha apenas o dever de proteger a realeza.
Ela deveria ter esperado isso. Ayla Phareman perdeu a fé nas pessoas há muito tempo.
Alguém a puxa para longe de tudo o que ela perdeu. Ayla não viu quem era, só sabe que foi abraçada, mas o perfume que exala da pessoa a faz olhar:
— Emma. - a Princesa apenas sussurra.
— Eu vou te levar daqui
— Eu não quero a deixar. - Ayla parece menor do que é naquele momento, mesmo com seus 1,70 de altura. - Não quero me afastar dela.
Mas mesmo com seu protesto, Emma a leva para sua casa, sabendo como o castelo estava um alvoroço atrás do assassino e as fofocas pelos corredores, além do Rei está sofrendo com a perda de sua amada esposa.
Elas podem até está sem conversar por semanas, quase meses, mas Emma sabe muito bem que ninguém conseguiria dar o suporte necessário para ela e que também sabe ou tem uma certeza que esse assassinato é por causa da vingança que Ayla esta planejando e em andamento.
Agora seria o certo pedir a ela para abandonar a vingança? Emma sabe a resposta e agora ela entende ou tenta entender, se a amiga decidir seguir em frente com isso, pois ela sabe que a perda da mãe ao invés de a fazer desistir de tudo, ela irá avançar, pois o plano do assassino foi uma tentativa de a fazer temer e que não deu certo, pois não conseguiu o que queria com isso.
— Foi o Lutero Decker.
Emma se espanta ao ouvir Ayla falar, ainda mais com o nome do guarda de confiança do Rei, que recebeu a promoção com honras pelo serviço. Emma nem precisou perguntar nada, pois estava muito claro que assassinou a Rainha, quem planejou o quase assassinato de Ayla e o principal, quem matou o seu irmãozinho.
Ayla não consegue assimilar a dor que está sentindo nesse momento. vários sentimentos de uma vez, com raiva, tristeza, saudade, frustração, impotência, solidão. Chegando a ter dor física. Sua cabeça doía, e não parava.
Ayla se curvou em posição fetal, puxando o travesseiro sobre a cabeça para bloquear toda a luz e som; um pouco de qualquer um dos dois parecia piorar a dor, e ela realmente não queria isso.
O que ela queria...
Ayla é cortada de seus pensamentos, quando sente sendo abraçada por Emma, pela cama ser mais estreita, Emma e Ayla acabam dormindo de conchinha.
A parte mais difícil do luto é chegar e vê que não é um pesadelo que simplesmente não vamos ver mais quem tanto amamos, que sempre haverá aquele vazio horrível que consome a gente por dentro, o desespero toma conta de tudo quando percebemos que não vamos mais vê-la sorrir que não vamos mais escutar sua voz ecoando pelo palácio. A falta de ar, a vontade de chorar sufocando, os olhos ardendo com as lágrimas brotando, o coração a mil.
"Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer..." Eclesiastes 3:1-2. Esse trecho do livro de Eclesiastes tem uma visão da morte como ciclo natural da vida. Ou seja, facilita o entendimento e aceitação para lidarmos com o luto.
Mas não é esse sentimento que impera no coração de Ayla, ela não entende, mas a única coisa que está em sua mente é a vingança.
Lutero não sabe ainda o que lhe espera, pois Ayla sabe muito bem como ele se importa com a sua esposa, mesmo sendo um assassino a sangue frio, ele tem um ponto fraco e qual é a melhor forma de atacar alguém? Usando aquilo que a pessoa gosta e sempre um passo à frente do inimigo.
Rosetta Decker já está a um passo da loucura, agora é só dar um empurrãozinho final.
— Você pode se vingar do mal, sem se tornar parte dele?
É uma pergunta recorrente que se passa na mente de Ayla, é um pensamento desde que Malle lhe fez essa pergunta e ela ainda não tem uma resposta para isso, mas ela espera que não se torne como aqueles que lhe fizeram mal no passado, com Lutero que lhe faz mal no presente.
— Você está muito pensativa.
A voz de Emma tira de seus pensamentos, em suas mãos, a bandeja com frutas e pães para o desjejum.
— Você acha que sou ruim?
— Você não é ruim, você é a pessoa mais bondosa que cheguei a conhecer em toda a minha curta vida de 18 anos.
— Emma, é você que é boa, você me faz ser o que era antes de tudo o que aconteceu comigo, você consegue me fazer rir verdadeiramente, com você consigo ser a inocente e doce Ayla Phareman.
Ayla falava tudo isso e se aproximava de Emma, essa que ficava cada vez mais envergonhada pelas palavras da amiga, sorte que seus pais não estavam em casa naquele momento.
Ayla sorriu e Emma virou a cabeça, com as bochechas vermelhas. A princesa segurou a bochecha da amiga com ambas as mãos e beijou seus lábios com relutância.
Seus lábios se separaram, e a Princesa percebeu que sua língua não sabia para onde ir, o que levou a outro sorriso no beijo até que o calor superou a sensação de embaraço.
E Emma, Ayla inalou o perfume e todo o seu corpo tremeu quando a mão de Emma se moveu sobre seu corpo.
O primeiro beijo de Ayla com Emma foi doce, não se comparando a nenhum outro que já teve. Talvez fosse pela hora que ela queria beijá-la, mas Ayla podia sentir que Emma estava confiante e teve coragem de aprofundar o beijo. Ayla respondeu alegremente sem hesitar.
Elas acabaram se separando, mas no momento, Ayla sentiu que poderia ficar perdida em seu beijo para sempre.
As duas sabem que teriam que falar sobre esse acontecimento, falar sobre esse sentimento tão belo e puro, mas tão errado e pecador.
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