O jantar
Capítulo 03
Desci assim que Marília me deu um remédio para ver se a dor de cabeça e os espirros paravam. Cheguei a grande sala de estar ao momento que deixei o último degrau da escada espiral, soltando um suspiro de insatisfação.
Segui para a sala de jantar, e lá estava Alexia com os cabelos sedosos de coloração castanha postos para trás. Bela comia o almoço demonstrando elegância, uma postura reta e sem cotovelos sobre a mesa.
A iluminação azulada que vinha de um lustre localizado no centro do cômodo agrediu a minha visão.
--- Bom dia! --- cumprimentei, ao puxar a cadeira ao lado, fazendo Alexia retirar a atenção de sua comida.
--- Finalmente acordou --- disse, revirando os olhos, voltando a comer.
--- Só isso? --- questionei, me inclinando para frente, pondo os braços sobre a mesa.
Não vou mentir que esperava algo a mais.
--- Por favor... --- pediu, franzindo a testa ao mesmo instante que fixava os olhos aos meus cotovelos e limpava o canto da boca com o guardanapo.
Minha criadora acredita que bons modos, tem que ser mais rígidos em casa, pois se faz em casa há possibilidades de repetir os mesmos erros em lugares públicos ou até mesmo em eventos sociais que somos chamadas a todo os instantes. Me ausento na maioria deles e Alexia não gosta, pois tem muitas pessoas que perguntam por mim.
O casamento dos Jonsons era uma otima oportunidade para ela me apresentar aos seus colegas.
--- Obrigada! --- agradeceu quando apreciou minha atitude. --- Cansei de lutar com você. Quando for maior vai repensar nos seus atos e se arrepender de cada coisa que fez na adolescência, isso sempre acontece. Mas não vou ficar com cabelos
brancos por sua culpa. Só queria dizer algumas palavrinhas.
--- E é assim que se começa uma discussão --- comentei num modo desanimador.
--- O que deu na sua cabeça ontem a noite? Por que saiu do carro daquela maneira?
Pude rever a cena na mente, a verdade é que eu não tenho uma razão concreta para argumentar.
Alexia não acreditaria que foi por pura adrenalina!
--- A onde você foi?
--- Eu vim para casa. Marília não lhe contou? --- franzi o cenho e me finji de desacreditada.
--- Eu sei quando alguém mente para mim, a pessoa vaga os olhos por todos os lugares, mas nunca encara os meus olhos. É fácil de identificar. Igualmente o que você esta fazendo agora. Não sou besta, Ayla. Fale a verdade! Para onde você foi?
Tentei caçar uma boa desculpa, mas parecia que a mente não funcionava. Nada, nada e nada. Não poderia simplesmente dizer a Alexia que fui para fora da cidade, ela iria me fazer buscar ajuda médica. Até por quê não é normal uma garota adentrar um bosque em plena chuvarada.
Mas na verdade é que ninguém entenderia, ninguém me entende. Talvez eu seja um pouco trancada demais, talvez a minha barreira para as outras pessoas seja muito extensa.
--- Eu fui pegar um ar! --- respondi após alguns segundos calada.
A mulher arqueou as sobrancelhas, soltando uma expressão misteriosa.
--- Você foi tomar um ar... isso é tudo que pode me dizer? Onde você foi tomar um "ar"?
--- Eh --- minha voz tremulou quando saiu da garganta. --- Em um restaurante qualquer --- inventei, dando de ombros.
--- Os Jhonson vão vir jantar aqui hoje, mais tarde iremos escolher a sua roupa.
--- Por que você convidou eles?
--- Além de você ter faltado o casamento do irmão do Mark? --- levantou o par de sombrancelhas pretas ao meu rumo. --- Jhordan perguntou por você ontem a noite, ele estava divino! --- disse, levando uma taça de água para a boca.
Pudia ver a mentira estampada no rosto da mulher, porém, a cabeça latejava demais e tudo que não queria agora era uma briga. Sempre estudei com Jhordan e sou ciente que a última coisa que ele faria era perguntar por mim. Além do mais, creio que ninguem perguntaria por mim.
Sou apenas uma garota que em qualquer possibilidade de ouvir alguém, ponho os fones de ouvido.
☆☆☆
Tudo estava de acordo com o que Alexia desejava. Tanto a sala de estar como o cômodo que iremos jantar estão plenamente perfeitos.
O sorriso que Alexia veste o rosto me angustia assim como o vestido que a mesma me obrigou a pôr. "Assim Jhordan vai lhe notar" palavras que sairam da boca dela. Como se eu quisesse a atenção daquele idiota!
Esperavamos no sofá, e admito que manter as costas ereta e as mãos unidas ao joelho é bem cansativo.
O amarelo do vestido opaco reluzia nos objetos prateados do ambiente. Virei o rosto na intenção de observar Bela, e a garota, despreparada, estava com os ombros inclinados para frente, descansando a coluna, porém, ao perceber os olhos cravados nela, imediatamente levantou o peito novamente.
Pressionei os lábios para não gargalhar. Por outro lado, podia sentir a sua dor, a minha infância foi assim ao lado de Alexia.
Finalmente a campainha tocou, e Marília abriu a porta. Alexia em movimentos rápidos se adiantou a direção dos convidados.
Permaneci no mesmo local, so me ergui quando os Jhonsons chegaram perto, cumprimetei com um aperto de mão o Mark e sua mulher e pela a infelicidade também tive que apertar a mão de Jhordan.
O garoto mostrou os dentes brancos brilhantes enquanto eu encarava os olhos verdes. A sua face abriu tanto a ponto de destacar as covinhas. Largou os meus dedos e se posicionou ao lado. Cravei as unhas na palma da mão e respirei fundo. So de pensar que tenho que conversar com essas pessoas faz o mundo rodar.
☆☆☆
Sempre que Mark fazia alguma piada o meu rosto se revestia num sorriso totalmente falso. O homem não possui graça alguma.
E o seu filho não para de me olhar estranho, se estivessemos sozinhos eu o mandaria parar, mas como não é o caso, não tenho muito o que fazer, apenas coço a nuca denunciando o desconforto. Jhordan bebeu um pouco da bebida, arqueando as sombrancelhas ao meu rumo.
A audição pedia socorro assim como os pulmões pediam por ar puro, o qual foge toda vez que tenho companhia de pessoas do mesmo nível que Alexia.
--- Com licença, vou pegar um pouco de ar na varanda! --- disse depois de analisar que todos já haviam acabado de comer, e apenas estavam bebendo e jogando conversa fora.
Me levantei delicadamente na intenção de passar por despercebida. Me distanciei balançando o vestido que segue até os joelhos calmamente, caminhando igualmente quando desfilava.
Prossegui a pequena sacada, pondo os braços sobre o ferro da serca e soltando um grande suspiro como se estivesse tirando um peso das costas. Descansei os ombros a medida que bufei alto.
--- Mas que droga! --- resmunguei comigo mesma. Enxergando a movimentação que rolava lá embaixo, apenas adimirei as luzes infernais que acabam com a visão.
Até sentir uma pessoa me sercando por trás. Por reflexo, observei as mãos que agarram o ferro que os meus braços se apoiavam. Jhordan. Revirei os olhos, cruzei os braços e expirei pesado.
--- Como pode ser tão folgado? --- questionei e o garoto logo se afastou e permaneceu ao lado, passando também a avistar o tráfego na avenida.
--- Esta bonita, hoje --- afirmou com a cabeça. --- Quer me impressionar? Sua mãe disse que fala sobre mim.
--- Gosta do modo que me vesti? --- perguntei, puxando um sorriso de canto.
--- Por quê quer saber? --- mostrou os dentes, passando a sua atenção para mim.
--- Para fazer uma lista do que você gosta e realizar tudo ao contrario! --- declarei firme. E quando adiantei dois passos de volta a sala de jantar, o garoto elevou a voz:
--- Tenta ser mais estilosa! Para ver se alguém lhe nota!
Enterrei as unhas na palma da mão e voltei, não expressando se quer um pouco de raiva, por mais que o meu sangue bombeava quente.
--- Você gosta de aconcelhar... --- agarrei na taça preenchida de champanhe que Jhordan segurava e jorrei a bebida na sua camisa branca. --- E eu não gosto de receber concelhos, ainda mais se é contra as minhas ideologias. --- dou meia volta e tento seguir o caminho novamente.
--- O que você tem contra mim, hein Ayla? O que eu lhe fiz?
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