Ao acordar
Capítulo 02
Manti as minhas mãos pequeninas unidas igualmente as pernas, podia perceber os olhares maldosos das outras crianças no pátio do orfanato, mas não me importava.
Escutei alto o rugido da porta e virei o rosto para o lado. A diretora se sentou na cadeira a minha frente, eu havia colocado o assento para ela.
Era o nosso ritual da tarde, contar historias de aprendizado.
--- Bem, hoje eu vou repetir o mesmo conto da semana passada, para ver se não vai esquecer. Daqui uma semana você vai embora minha criança, e eu quero que recorde bem das minhas palavras.
Assenti balançando a cabeça, enquanto os meus olhos transbordaram de lágrimas.
--- Preso numa gaiola, o passarinho bate as suas asas nas grades improvisadas de madeira. Já se foram duas semanas de agitação, já se foram duas semanas que um caçador o encontrou 'e tirou a sua vida'. Porém, a pequena ave nunca desistiu de voar novamente, e no momento de cansaço puder pousar num galho de uma árvore para soltar o seu canto. O homem que o pegou, ficava intrigado com a sua inquietação, que era diferente de todos os outros pássaros. Os outros se acostumaram, pois, já haviam sido presos desde filhote, nunca houveram experimentado o vento e a sensação de ser livre. Certo dia o passarinho parou de lutar a favor da sua liberdade. As suas asas se desgastaram e as suas forças acabaram. Aos poucos, a ave começou a aquietar-se, abraçando com suas frágeis e gastas asas o descanso eterno e profundo da sua morte. No entanto, ele já houvera morrido antes, quando aquele homem arrancou a sua liberdade.
Me adimirou com um sorriso largo, e pude ver a sua imagem se desmanchando como as nuvens, gritei alto e depois sai correndo sem rumo, parando no meio da escuridão que me cobriu quando me ajoelhei para o vácuo, com os olhos alagados em lágrimas.
As batidas na porta me despertaram. Busquei pelas bochechas molhadas e as limpei.
Estava de volta a minha triste realidade. O passarinho se encontrava preso na gaiola novamente.
Ergui o meu tronco para frente enquanto me espreguiçava e sentia uma dor aguda na cabeça. Analisei que já era meio dia, pelo relógio prendido na parede.
Sempre odiei cordar tarde!
Encarei a finura e a negritude das costinas se elevarem pela brisa que atravessava as janelas. Pus os pés descalços no chão, me guiando para a abertura.
Mesmo com o cinza presente no céu, e o dia aparentando infernal, abri um sorriso quando o vento beijou o meu rosto e os meus olhos se fecharam.
Flashes surgiram na minha mente. Aquele garoto de asas azuis voando. Quem era ele? Por que me deixou daquele jeito?
A única coisa que me recordo é de acordar com um relâmpago no meu rosto, caida no chão e completamente suja. Depois da minha saida a floresta, voltei para casa tentando que ninguem me reparasse, afinal, não foi difícil. Há algum tempo que a mídia não sabe como a Ayla Collier, a pequena modelo famosa, se encontra.
Ontem o meu sangue estava fervendo, meu corpo achava-se em aptidão por liberdade. Pude me perguntar o por que de ter nascido.
Nasci para Alexia controlar a minha vida e os meus desejos?
Sou apenas uma garota de cabeça pesada por pensamentos absurdos e dúvidas sem respostas. Sou apenas uma garota estranha que frequentemente passa por despercebida na escola e em locais públicos. Sou apenas uma garota que foi adotada por uma modelo de sucesso por ela não só querer mostrar aos outros a sua "caridade" ao adotar uma órfã como também querer me transformar nela, assim, mudando a minha tão adorável vida do lixo ao luxo.
Fugi de meus pensamentos ao momento que soltei um espirro. Uma das consequencias de minha aventura, pois a outra é a discussão que vou ter com minha mãe adotiva.
Busquei pelo o meu celular na mesa de cabeceira e entrei no instagran, provavelmente só ira haver fotos do casamento dos Jhonson.
Deslizei o dedo na tela, até parar em um poste preto e branco. As minhas pernas falharam e logo me joguei na cama, estava desacreditada.
Receber a notícia inesperada que alguém próximo a você se suicidou, não é fácil. Embora, não tenha muito intimidade com a Brice, eramos colegas de classe, e eu nunca notei algo estranho nela. Talvez seja isso, as pessoas fingem estar bem o tempo todo ou simplismente não percebemos a tristeza.
Balancei a cabeça meio abatida, calcei o chinelo de quarto e segui para o banheiro.
☆☆☆
Saí do banheiro vestida num moletom verde escuro e com uma toalha envolvendo os meus cabelos molhados.
Não demorou muito para um rugido rápido e grosseiro surgir na porta, e a minha irmazinha adentrar o meu quarto apresentando um sorriso largo.
Alexia adotou ela assim que eu desisti de ser modelo, agora a mulher estar investindo nela.
Bela veio correndo até mim, e me serviu um abraço apertado. Nas suas mãos estava um boneco.
--- Mamãe disse que você virou a Bela Adormecida --- comenta, se jogando sentada na cama.
--- Ah é? --- arqueei as sombrancelhas, deslizando as mãos nas pernas até pousarem no joelhos, e ficar na altira de seus olhos.
--- Por isso eu trouxe o Edward --- mostrou o seu brinquedo. Comecei a sorrir imediatamente, dando um beijo na sua bochecha fofa.
Desvei o olhar para a porta e aprecieei a Marília com uma cesta de roupas sujas. A expressão dela não estava uma das melhores para mim, Marília é tão gentil que é facil reconhecer quando se encontra de mau humor.
--- Bela, meu amor, você pode nos deixar a sós? --- ela questionou colocando a cesta sobre a minha cama. Minha irmazinha assentiu calada e se retirou do quarto.
--- Ah não começa Marília! --- me deito na cama. --- já não basta a bronca que vou receber da Alexia? --- pergunto.
--- Primeiro, você esta molhando o lençol que eu troquei ontem, então, por favor, não se deita com o cabelo encharcado de água. E outra, qual foi daquele estado que você chegou ontem mocinha? Bebeu demais até cair em uma rua e passar horas lá? --- observei a mulher de cabelos pretos me encarar com a mão aliada a cintura.
--- Sabe qual é o seu problema Marília? --- me levantei e ela arqueiou as sombrancelhas esperando alguma resposta. --- assiste noticiário demais, eu não utilizei droga alguma, não se preocupe.
--- Mesmo se tivesse não iria falar, óbvio --- sussurra.
--- Marília... --- dou uma gargalhada, negando a cabeça.
--- Que foi? Eu so estava falando que tem que se preparar para o jantar dos Jhonson! --- pegou na cesta novamente e elevou a mesma para perto de seu corpo.
--- Jantar a onde? Na casa dos Jhonson?
--- Não, aqui mesmo! A cozinha esta igual a de um restaurante, empregadas por todo canto. Você sabe como a Alexia é ansiosa... tudo tem que ficar um brilho.
--- Sério que eu vou ter que aguentar esse jantar?
--- É claro Ayla, o garoto que vem é da sua idade, como Alexia diz: você é perfeita para servir de companhia.
--- O Jhordan vem? Ah não, por que aquele cretino não ficou na Inglaterra? --- pergunto para Marília, ela dá de ombros e sai do cômodo.
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