CAPITULO 4 - VARREDURA, AUTÓPSIA, SEXO SANGRENTO
Uma busca na floresta podia ir contra as ordens do prefeito de não causar alarde na população mas Ronisvaldo não estava nem aí. O prefeito Clailton apareceu na represa por volta da uma da tarde quando os homens voluntários se preparavam para as buscas.
— O que pensa que está fazendo aqui?!
— Dando uma busca na floresta prefeito. Veio ajudar?
— Você não vai fazer isso Ronisvaldo! Isso vai deixar a população em pânico! Vai afastar os turistas! Eu quero que tire esses homens daqui agora mesmo!
Ronisvaldo suspirou, a raiva começava a pulsar dentro dele e ele fechou os punhos. Apontou o dedo na cara do prefeito e disse:
— Escute aqui seu verme. Isso aqui é trabalho para a polícia e eu sou a polícia nessa porra! Então, a menos que você veio ajudar, eu sugiro que você arraste essa bunda murcha de volta para a prefeitura. A menos que queira ser preso por desacato.
O prefeito o encarou, a feição transformada em uma máscara de ódio. Depois ele caminhou de volta para a Strada branca que estava dirigindo e saiu dali.
— Certo, homens. - Disse Roni. - Vamos começar. Clorisvaldo, você leva os garotos e os cachorros para a parte norte e dá uma olhada no bosque. Cleonildo e seu pessoal vai com Paulislei para a zona da cachoeira. O resto do pessoal vem comigo. Vamos contornar a represa. Qualquer coisa falamos pelo rádio. Deixem ligado.
E assim iniciaram a varredura que durou quase cinco horas. Vasculharam a floresta de ponta a ponta e não encontraram absolutamente nada.
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— Está vendo essas lacerações na carne? - Apontou Cleonelson, que era o legista de plantão.
— Parecem... Mordidas.
— Não parecem delegado, são mordidas.
— Então ele foi mordido por um animal?
— As dimensões dos ferimentos sugerem um bem grande... Um cachorro grande... Talvez um jacaré.
— Jacaré?!
— Não tem jacarés na represa delegado?
— Eu... Acho que não...
— Pois eu faria umas buscas.
Ele sentou-se em uma cadeira e começou a comer rosquinhas, e Roni não entendia como o homem tinha estômago para comer naquele lugar.
— Já fizemos algumas buscas.
Tudo limpo. - Disse Roni, tirando uma bala de hortelã do bolso e colocando a boca.
Chupar balas de hortelã era um vício que ele herdara de seu pai.
O médico coçou a barba rala que usava.
— Não vejo outra explicação para uma porra assim.
— Não pode ser um cachorro? Talvez um dos cachorros daquela velha lá nas montanhas.
A velha da montanhas se chamava Geosvalda. Ela devia ter pelo menos uns 50 cachorros vira latas. A velha vivia sozinha em uma chácara que ficava na zona rural da cidade.
— Bem... Como eu disse, isso foi causado por um animal grande, e forte. Bem forte. Foi uma mordida do caralho, isso aqui. Arrancou metade do corpo dele, caralho! Não sei se um cachorro teria força pra isso. Se tiver é um cachorro enorme.
Roni suspirou. Agradeceu e saiu dali com o laudo.
No carro ele acendeu um cigarro. Saiu dirigindo pela cidade e pensando nos próximos passos a seguir. Ao menos a teoria de homicídio estava descartada. Pelo menos ele sabia que não havia um maníaco psicopata matando em Rosa Negra. Um animal.
Havia duas possibilidades agora. A primeira era tentar resolver, podia organizar mais um grupo de buscas, um maior dessa vez. Podia chamar os bombeiros em Pindamonhangaba e pedir uma busca minuciosa no lago. Ele nunca ouvira falar da existência de jacarés vivendo no lago, mas era possível.
Era um bom plano. Dois grupos de busca, um atuando na floresta e outro no lago. A outra coisa a fazer era dar um telefonema para o centro de controle de animais selvagens do estado e deixar eles resolverem.
Roni decidiu que faria os dois. Organizaria as buscas o quanto antes, e se conseguissem matar o animal era ponto para ele. Podia esfregar na cara daquele prefeito de merda. Se não achassem nada ligaria para o centro de controle de animais selvagens e deixaria aquele pepino nas mãos deles.
— É isso. Que se foda.
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SETE HORAS DEPOIS
Sob o frio luar de Junho um Santana 1.8 prata ano 95 estava parado em um beco às margens da represa Xurinara. Com a luz da lua brilhando majestosa dava para ver o manto prateado que eram as águas calmas do lago.
Dentro do carro estavam Roberval de 24 anos e Tiffany. Tiffany era o nome de guerra de Abelardo Nogueira, que tinha 19 anos, e uma bundinha de dar inveja em qualquer mulher. Mas Abelardo gostava de ser chamado de Tiffany, e cá entre nós, Tiffany combinava mais com ele, já que sua aparência era bastante afeminada.
O rádio do carro estava ligado e Freddy Mercury estava cantando Bohemian Rhapsody. Roberval gostava de rock, ele passava grande parte do dia ouvindo bandas como Queen, Guns N' Roses, Aerosmith e AC/DC. Para Roberval Rock era quase uma religião e ele ficava feliz que Tiffany também gostasse, porque ele estava apaixonado por ela.
Seus pais reprovariam o relacionamento dos dois, porque Tiffany não era bem uma garota, ela só se parecia com uma, mas como diria sua mãe, o que ela tinha entre as pernas era um pau, e só homens tinham paus, mulheres tinha buceta e ponto final.
Mas Roberval não estava ligando muito para opinião dos outros a respeito do que ele gostava ou deixava de gostar.
Eles chegaram ali por volta das nove e meia da noite e começaram a tomar vinho (era barato - a coisa estava feia - mas era vinho) depois fumaram uma maconha bem da hora, sob a luz do luar, e depois começaram a se beijar. Roberval meteu a mão entre as pernas de Tiffany e percebeu que ela estava com o pênis ereto, e ele pensou que não tinha nada a ver chupar. Depois Tiffany fez o mesmo nele, e ela sabia bem como fazer, ô se sabia.
Agora eles estavam pelados fazendo o sexo mais gostoso que Roberval já fizera na vida, e o carro balançava pra lá e pra cá enquanto Freddy Mercury interpretava seus versos com maestria:
Is this the real life?
Is this just fantasy?
Caught in a landside,
No escape from reality
Open your eyes,
Look up to the skies and see,
I'm just a poor boy, I need no sympathy,
Because I'm easy come, easy go,
Little high, little low,
Any way the wind blows doesn't really matter to
Me, to me.
Quando a coisa acabou (pela terceira vez) Tiffany falou uma verdade: ele disse que o amava e era verdade porque Roberval era diferente. Roberval a tratava com respeito e carinho, não era um homofóbico de merda que a tratava como um lixo porque ela rebolava demais. Roberval era um cara legal.
Roberval não soube o que responder. Ele sabia que estava apaixonado. Tinha a chance de dizer aquilo agora, mas não sabia o que responder. Talvez devesse contar que Tiffany era a primeira pessoa com quem ele transava, que antes dela ele era apenas um bosta, um perdedor de merda que nunca tinha trepado com uma garota antes, porque geralmente as garotas o tratavam como um lixo porque ele era feio, meio barrigudo e tinha o pau pequeno. E ele gostava de Tiffany porque ela não se importava com o tamanho do pau dele e nem com o Santana velho e barulhento que ele dirigia.
A coisa evoluiu para mais uma trepada daquelas, e quando acabou os dois ficaram largados no banco traseiro do Santana. Roberval aproveitou para acender um cigarro e abrir a janela e foi nesse momento que eles ouviram aquele som indescritível.
Era indescritível porque não era parecido com nada que Roberval já tinha ouvido na vida. Parecia a mistura de um grito agoniante e o rugido de leão, isso misturado ao uivo de um cachorro que estava sentindo muita dor.
— Que merda é essa? - Perguntou Tiffany começando a vestir a calcinha.
— Deve ser algum cachorro.
— Cachorro do inferno, você quer dizer.
— Eu sei lá.
— Isso não se parece com um cachorro.
O "uivo" voltou a se repetir o que fez Tiffany se encolher no banco.
— Parece estar perto.
— Deve ser apenas algum animal. Não se preocupe.
— Quero ir embora.
Roberval meneou a cabeça.
— Vou dar uma mijadinha e a gente já vai.
Ele abriu a porta do carro saiu. Atirou fora a bituca do cigarro e aproveitou para dar uma esticada nas costas.
Aquele barulho estranho voltou a se repetir e Roberval chegou a pensar que pudessem ser seus amigos (ele não tinha muitos) que talvez estivessem lhe pregando uma peça. Eles descobriram que ele estava comendo uma travestizinha ali e resolveram zoar. Mas então descartou a ideia. Aquele era um lugar quase desconhecido. Devia ser só algum animal.
Ele olhou no relógio de pulso que era um Rolex falso que custara cinquenta reais e viu que passava da meia-noite.
Caminhou uns 25 metros e se aproximou do lago onde começou a tirar água do joelho.
O lago estava calmo, as plácidas águas sendo banhadas pela luz da lua que naquela noite parecia ter um brilho meio alaranjado.
Alguma coisa se moveu na água. Roberval franziu o cenho e viu alguém saindo da água, ao menos parecia uma pessoa, não dava para ver direito era apenas um sombra negra.
Ele sentiu seu coração palpitar, uma pontada de medo se apossou dele, e de repente uma urgência de sair dali o invadiu.
A sombra começou a caminhar em sua direção e Roberval deu um passo para trás. Ele viu dois pontos vermelhos se acendendo onde deveria ficar a cabeça daquilo. Metade de seu corpo começou a correr quando ele ouviu aquele som estranho que agora soava terrível, ameaçador.
Roberval correu dois metros da direção do carro e caiu, e foi quando a coisa o atacou. Roberval gritou quando sentiu enormes dentes furando sua carne, ele sentiu uma coisa quente jorrando, saindo de si.
Seu braço e seu ombro esquerdo foram arrancados e Roberval gritou, gritou e gritou.
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Tiffany ouviu os gritos, mas só percebeu que havia alguma coisa terrível acontecendo quando Roberval apareceu no para-brisa do carro ensanguentado e gritando. Atrás dele havia uma coisa, uma coisa enorme, a coisa tinha uma bocarra descomunal e estava mastigando a carne de Roberval enquanto ele gritava e estado de total horror, pedindo ajuda.
Tiffany também começou a gritar, a chorar e a espernear, e parecia que lá fora estava chovendo sangue, porque o sangue estava cobrindo o carro, tapando a cena tenebrosa que se descortinava na sua frente.
A coisa durou apenas 1 minuto e parou. Por um momento tudo ficou mergulhado no mais absoluto silêncio. Tiffany ficou ali, chorando, em estado de total pânico, seu corpo tremia.
Então a coisa apareceu na janela.
Tiffany viu imensos olhos amarelos, com aparência de olhos de felino. Mas aquilo não era um gato, parecia...
A coisa bateu no carro e o deslocou por quase um metro e meio. Tiffany se encolheu, gritando, o terror a consumia em toda a sua intensidade.
Ela viu quando a coisa subiu no teto do carro e o amassou. O monstro desceu pelo capô e começou a andar na direção do lago.
Quando acabou Tiffany ficou ali quase cinco minutos, encolhida em uma posição fetal.
Depois ela tomou coragem, abriu a porta e saiu tremendo. O ar frio que dominava a noite acentuava ainda mais os tremores.
Tiffany contornou o carro ensanguentado e então viu o que seus olhos jamais conseguiriam esquecer: Roberval estava no chão, reduzido a pedaços, as tripas estavam espalhadas por toda parte, os olhos abertos em uma eterna expressão de horror, assim como a boca. Aquela coisa, fosse lá o que fosse aquilo, havia comido o pênis dele.
Tiffany, chorava incontrolavelmente. Ela colocou as mãos na boca abafando um grito e olhou na direção do lago. Havia alguém lá. Parecia uma pessoa, mas só parecia. Tiffany conseguiu ver dois olhos que aparentemente estavam acesos no meio da noite penumbrosa.
Aquele grito terrível ecoou novamente fazendo todo o corpo de Tiffany estremecer.
Ela tentou correr, escorregou e caiu de cara nas tripas de Roberval. Tiffany gritou. A náusea se apossou dela e ela não conseguiu segurar o vômito.
Se levantou com dificuldade e correu até o carro, se jogou no banco do motorista, ligou o motor e saiu levantando poeira.
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