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CAPITULO 3 - CONVERSAS MATINAIS


— E então? Você vai na festa?

Quem estava perguntando era Cleidislaine, a melhor amiga de Joana. Cleidislaine era loira, tinha 18 anos e os seios enormes que geralmente deixavam os garotos da escola loucos e babando como cachorros com raiva. Joana não tinha os seios tão grandes e não tinha inveja da amiga, já que achava que ter os seios daquele tamanho era um grande exagero. Além disso, Cleidislaine era desproporcional: tinha os peitos enormes e a bunda pequena, o que era esquisito demais.

A festa a que ela estava se referindo era o baile Xurinara, que acontecia todos os anos na represa Xurinara. Não era realmente um baile, mas mais uma reunião de jovens e adolescentes para comemorar a entrada das férias de julho. Eles iam lá para encher a cara, fumar maconha e transar.

A polícia já tinha parado o baile umas três vezes, e isso aconteceu depois que os funkeiros começaram a frequentar o lugar. Antes, era tudo calmo, o pessoal curtia um som (geralmente rock) numa boa, sem exageros. Mas então os funkeiros começaram a frequentar o lugar e achavam que todos na cidade tinham obrigação de ouvir o lixo que eles ouviam. O resultado era que a polícia era atraída e a coisa ficava feia.

Joana odiava funkeiros. Seu pai dissera que lembrava do tempo em que não existiam funkeiros, e Joana queria ter vivido naquela época. Devia ter sido um bom tempo.

A prefeitura colocou grades ao redor do terreno perto da represa, mas é claro que isso não inibia os frequentadores.

Joana não pretendia ir até o lugar onde a festa era realizada. Ela e Josivaldo pretendiam ir até o outro lado da represa Xurinara. A ideia era passar uma noite legal, sem funkeiros enchendo o saco, quem sabe tomar um vinho e perder a virgindade. Joana achava que era um programa bem melhor do que aguentar um bando de funkeiros cheios de droga na cabeça enchendo o saco.

— Eu não vou a festa alguma. Josivaldo odeia aquela agitação, e eu também.

— Mas você ia antes.

— Da última vez que fui, quase acabei na cadeia e meu pai quase me deu uma surra. Eu não vou lá. Vai estar abarrotado de funkeiros.

— Eu sei. Vai ser um batidão.

Joana fez cara feia.

— Isso me dá nojo. Não sei como você gosta de um lixo desses!

— Você tem que ter a mente aberta, minha filha.

— Muito obrigada, mas eu prefiro era a mente fechada e abrir outra coisa.

Cleidislaine soltou uma gargalhada.

— Sua cadela!

Joana mostrou o dedo médio.

Passaram por alguns garotos que comeram os peitos de Cleidislaine com os olhos e encontraram mais duas amigas, Geisivalda e Carlene.

Geisivalda era uma garota negra, de estatura mediana, magra, mas nem tanto. Estava usando uma calça de moletom branca e uma blusa rosa que deixava à mostra seu umbigo, blusa essa totalmente desproporcional à temperatura de 14 graus que estava fazendo naquela manhã. Carlene tinha um metro e setenta e dois de altura e estava no time de basquete feminino da escola. Tinha ares masculinos e Joana tinha certeza de que ela andava pegando algumas garotas por aí, dentre as quais a própria Geisivalda. Joana sentia que Carlene também a queria, e isso a deixava com nojo. Lamber uma vagina devia ser horrível, e ela não conseguia entender como os caras conseguiam. Ela sempre ouvia o pai dizendo que tinha cheiro de bacalhau, e bacalhau não tinha o cheiro muito agradável. Seu vô ia além e chamava a coisa de "gambá". Joana sentia náuseas só em pensar.

— A festa vai bombar na sexta — dizia Geisivalda. — O Gleidson vai levar o som que ele tem no carro.

— Vão fazer uma droga de baile funk, isso sim.

— Aí, dá um tempo, Joana. Você devia ir e experimentar pegar um cara de verdade.

Joana revirou os olhos.

— Homem que usa óculos espelhado, bermuda caída no meio da bunda e fala um monte de gíria pra mim não é homem, é um saco de merda. A gente se vê por aí.

Joana saiu, deixando as amigas. Ela não queria entrar em uma discussão sobre tipos masculinos e seu uso, era desnecessário e tediante.

Ela viu Josivaldo, junto com alguns amigos, e se aproximou. Josivaldo tinha 19 anos, não era lindo, mas não era feio. Além disso, era o cara mais legal que ela conhecia, e seu pai gostava dele, o que era uma grande coisa. Gostava tanto dele que uma vez por mês deixava que ele cortasse a grama e aparasse as sebes do jardim.

Josivaldo sorriu quando a viu e Joana se jogou em seus braços.

— Puta que pariu! Você está cheirando gostoso! Que delícia!

— Ui! — fez Otaviano, um dos amigos de Josivaldo.

Joana mostrou o dedo médio pra ele e abraçou Josivaldo.

— Pare com essas coisas. Você parece ter acordado meio safadinho hoje.

Ele disse perto do ouvido direito dela:

— Não vejo a hora de sexta chegar logo.

Joana se desvencilhou dele.

— Não sei... Eu e minhas amigas estamos pensando em dar uma festa do pijama.

— Sei bem o que rola nessas festinhas de pijama de menina — disse Claudislei, o outro amigo de Josivaldo.

— Você já foi a uma, né, Clau? — disse Josivaldo. — Que pijaminha você usou? Da Hello Kitty?

Foi a vez de Claudislei mostrar o dedo médio.

Josivaldo olhou para Joana e disse:

— Nem pense nessa ideia, gata. É sério. Eu sequestro você.

— Meu pai te prende. Ele é o delegado, lembra?

— Sumo com você antes que ele possa respirar.

— Credo, Josi! Que papo é esse?

Joana foi saindo. Ele a agarrou pelo braço, a puxou para si e a beijou.

— É brincadeira, minha boneca. Você sabe.

Os dois se beijaram.

— Mas que merda! — exclamou Otaviano. — Que melação. Vou dar o fora antes que eu vomite.

— Também tô fora — disse Claudislei. — A gente se vê.

Josivaldo segurou a mão de Joana. Os dois foram caminhando em direção à classe.

— Eu estava pensando sobre sexta... — começou Joana.

— Não vai dar mesmo uma festa do pijama, vai?

— Não... Claro que não. Mas...

— Mas o que, gata?

— Será que não é perigoso?

— Perigoso por quê?

— Sabe aquela coisa que eu te contei... Que meu pai contou...

— O negócio dos assassinatos?

— Isso. Não será perigoso?

— Claro que não, gata. As mortes ocorreram longe do lugar onde a gente vai. A represa é enorme. E a polícia anda por aí. Meu pai me contou que o policiamento foi reforçado na cidade. Não existe o que temer.

Joana deu um sorriso meio nervoso, e Josivaldo pensou que ela não estava tão convencida assim.

— Vai ser de boa, garota — ele segurou a bunda dela discretamente e sussurrou em seus ouvidos: — E gostoso.

Joana sorriu.

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