CAPÍTULO 11 - CLAREIRA
Era uma floresta, mas as, árvores eram corpo humanos, a floresta era um grande cemitério onde os mortos brotavam, viravam tenebrosas árvores. Estava chovendo e a chuva era sangue, dava para ouvir as gotas caindo nas folhas das árvores enquanto pintava o chão de vermelho.
Ela estava caminhando no meio daquela floresta tenebrosa, seus pés pisavam a lama ensanguentada, ela estava nua, e seu corpo coberto de sangue.
Havia um chamado que a atraia, ela não sabia o que era, só sabia que precisava ir para a frente até encontrar.
Ouviu um som tenebroso que parecia um rangido. Tudo estava mergulhado no mais absoluto silêncio, e no meio daquele silêncio sepulcral, o rangido parecia o som mais alto e tenebroso que existia.
NHEEEC NHEEEC NHEEEC NHEEEC
Havia outros sons, mas ela descobriu que era apenas os mortos implorando uma misericórdia que não existia naquele lugar.
Ela foi avançando, às vezes a mão tenebrosamente gelada de algum morto agarrava sua perna, ela se livrava dela e continuava avançando, seguindo aquele som; aquele som era a única referencia que ela tinha para seguir.
De repente uma clareira se descortinou diante de si, uma clareira de formato circular, e de alguma forma ela sabia que estava no coração da floresta.
Havia uma casa lá, nada mais que uma misera cabana, a cor era preta, como se a casa tivesse sido consumida pelo fogo. Era uma cabana de aspecto terrível e assustador, e ela descobriu que aquele som de coisas rangendo vinha da casa, mais especificamente das janelas de madeira que estavam balançando ao vento, um vento inexistente.
Ela ficou parada diante da horrenda vivenda por alguns instantes, olhando para ela, e era como se a casa também a olhasse. Ela sentia seu olhar, a casa enxergava além do corpo, a casa sondava a alma, penetrava no mais recôndito de seu interior e sabia o que ela guardava lá dentro, a coisa que estava crescendo muito rapidamente, e que em breve eclodiria.
De alguma forma ela sabia que aquilo não era real, apesar da forte sensação de realidade. Ao seu redor a floresta era uma mancha negra tenebrosa, e os mortos estavam lá, ela viu seus olhos acesos, ouviu suas suplicas, seu anseio por saciar uma eterna fome.
Havia um lance de escadas de dormentes e troncos até a casa e ela começou a subir. Parou em uma varanda decrépita, tomada por teias de aranhas. Estendeu a mão para tocar a maçaneta e a porta se abriu.
Era um convite, a casa a atraia, queria que ela entrasse lá.
Ela hesitou por alguns instantes, mas então empurrou a porta terminando de abri-la.
Ficou ali, parada por alguns instantes, contemplando o interior tenebroso e finalmente entrou.
O interior era decrépito, quase desprovido de móveis. Havia ossos humanos espalhados por toda a parte, caídos no chão, pendurados pelas paredes.
Mais à frente havia o que parecia um fogão, um imenso caldeirão velho estava ao fogo, cozinhando alguma coisa bizarra que ela não queria saber o que era.
Joana divisou um vulto, a silhueta de uma mulher usando roupas pretas rotas. Ela estava parada, de costas para Joana e segurava o que parecia ser um cajado.
- Você veio Joana.- A voz que falou com ela era cavernosa, tenebrosa. – afinal não tinha escolha, não é?
- Onde... onde estou?!
- Você está na transição, é rápido. Não vai ficar aqui por muito tempo. Está aqui só para ver o porquê, a verdade.
- Eu... eu não entendo...
- Claro que não criança. Ainda não. Olhe no caldeirão e veja.
Joana hesitou, ficou parada ali por alguns instantes e viu a difusa silhueta da mulher sinistra se afastar do caldeirão. Ela se aproximou com cautela, o coração palpitando, e então olhou para dentro do caldeirão.
Seus olhos se arregalaram, um terror indescritível começou a se apoderar dela. Ela se afastou meneando a cabeça, completamente desesperada.
- Não adianta fugir, criança. – Sentenciou a bruxa .- É seu destino.
A mulher, ou fosse lá o que fosse aquilo, começou a gargalhar, e era uma gargalhada medonha, completamente sinistra.
Joana se afastou ainda mais.
Havia um espelho à direita, espelho esse que ela ainda não tinha reparado.
Joana viu seu reflexo e gritou abismada de pânico. Aquela não era ela, era um monstro metade humano, metade Jacaré, e o monstro estava comendo alguma coisa, Joana viu o que era e soltou um berro de terror e repugnância.
Era um bebê, a coisa estava comendo um bebê.
***********
Joana deu um grito e começou a sofrer espasmos na cama.
Persilene, que estava sentada em uma poltrona lendo um livro que era Mr. Mercedez, de Stephen King (ela estava ali já fazia um mês e meio, desde que a filha tinha sido internada, ia para a casa, apenas para tomar banho, e se recusava terminantemente a sair dali), jogou o livro e correu a acudir a filha, logo em seguida ela começou a gritar, médicos e enfermeiros apareceram no quarto, a mãe da garota foi contida e retirada do quarto aos berros, e Joana passou a ser socorrida.
**********
O doutor Junesclenis estava tentando entender o caso da garota, mas até então não tinha feito progressos.
Joana tinha chegado naquele hospital quase morta, com múltiplos ferimentos por todo o corpo, sendo que o pior estava no rosto da garota, o rosto dela tinha sido arrancado, pelo que só podia ser a mordida de um bicho bem grande, quem sabe um lobo, ou um urso, ele apostaria suas fichas em um jacaré.
O fato dela estar viva já era um grande milagre, mas ela estava viva, e deveria ter sequelas, terríveis sequelas, principalmente na aparência, que tinha sido desfigurada. Mas ela não tinha nenhuma sequela, e o doutor fazia questão de enfatizar a palavra nenhuma. Ao longo daquele mês eles começaram a perceber uma impossível e incrível regeneração dos ferimentos da garota, e 15 dias depois ele ligou para o centro de pesquisas de ciências que ficava em São José dos Campos. Eram os caras do governo, é claro, seu sobrinho trabalhava lá.
O que estava acontecendo com Joana precisava ser estudado, era uma coisa que eles tentaram explicar aos pais da garota, mas eles foram taxativos e a resposta foi um grande não. O pai da garota era o delegado da cidade, e foi bem claro com o doutor, ou ele dava alta à filha, que já não tinha absolutamente mais nenhum ferimento, ou receberia voz de prisão.
Mas Junesclenis não estava disposto a ceder assim tão cedo. Alguma coisa estava acontecendo com aquela garota, e ele estava disposto a qualquer coisa para descobrir o que era.
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