Capítulo 4
-Eu comprei cerveja para você.
Depois de horas de trabalho no supermercado do pai de Luke, encontro-o sentado no muro do estacionamento quase vazio, com apenas algumas pessoas terminando de colocar as compras no carro e os funcionários se aprontando para ir para casa.
Subo no muro com dificuldade e acomodo-me ao seu lado. Luke penteia os cabelos loiros com os dedos e passa uma das garrafas para mim, suada pelo calor, sem desviar os olhos da paisagem a sua frente.
Dali de cima podia observar as residências construídas lado a lado, algumas iluminadas e outros na escuridão da noite. Os postes de luz branca traçavam caminhos até desaparecerem no horizonte. O zumbido dos carros no asfalto ao longe era perceptível.
Abro a cerveja e dou um gole deixando o líquido amargo esquentar em minha boca antes de engolir. Deixo meus ombros se curvarem como os de Luke e respiro fundo pela primeira vez no dia. Meus olhos se fecham e aguço os ouvidos deixando os sons da noite entrar. Solto um longo suspiro pela boca e meu amigo se meche ao meu lado.
-Cansada?- Pergunta dando, em seguida, mais um gole em sua cerveja já na metade.
-A Bethany bem que me avisou. De noite é movimentado.
Quando o sol desaparecia no horizonte, o mercado se enchia das mais diversificadas pessoas. Umas vestiam seus trajes de trabalho. Ternos, jeans gastos, uniformes e fardas. E, outras, usavam roupas confortáveis com o cabelo ainda molhado do banho. Mas não era só isso que se encontrava circulando no estabelecimento. Havia uma ampla variedade que eu sentia curiosidade em observar, imaginar o quanto as vidas são diferentes uma das outras.
Nenhuma é igual a outra. Apenas semelhantes.
-Você se acostuma.
O vento frio da noite envolve meu corpo ainda quente do trabalho. É um alivio senti-lo secar o suor da minha testa e espantar os fios desgrenhados dos olhos.
Terminamos nossa cerveja sem dizer uma palavra, com o vento nos provocando arrepios e os sons nos rodeando. Luke salta do muro com um baque seco e depois indica onde jogar as garrafas de vidro vazias. Ele enfia as mãos no bolso da jaqueta e ergue o capuz escondendo todo seu cabelo loiro reluzente enquanto caminha em direção ao carro.
-Você quer uma carona? Está meio tarde.
Agora o estacionamento estava totalmente vazio e as luzes do interior do mercado estavam apagadas. Tudo estava exageradamente escuro. Luke gira as chaves nos dedos e se apoia no carro, também escuro, esperando pela minha resposta.
-Seria ótimo.
Sento-me no banco do passageiro sentindo o calor do interior esquentar a pele fria pelo vento. Pelo retrovisor dou uma espiada na minha aparência. Minha franja desgrenhada e o cabelo ainda preso em um coque que começava a afrouxar.
-O silêncio, geralmente, me incomoda bastante, mas ele parece glorioso no meio da noite após o trabalho.
-Eu me sinto assim também- apoio a cabeça contra o vidro da janela observando os postes passarem rapidamente por nós- Nunca imaginei que faria mais do que atender hospedes impacientes.
Lembro-me que quando criança passava boa parte da tarde espiando as pessoas que chegavam ao hotel. A maioria das pessoas chegavam em belos carros, grandes e com a tintura brilhante, e me imaginava no futuro trabalhando no lugar daquele homem que era responsável por acomodar cada um no estacionamento. Todo o dia experimentaria modelos diferentes para que, talvez, pudesse comprar um no futuro.
Hoje trabalho em um supermercado apenas por que implorei para Luke por uma vaga e também por sermos amigos de longa data. E eu ainda não estacionei nenhum carro no estacionamento do hotel.
-Pois é Jessie- Ele faz a curva e para em frente a um pequeno prédio- O mundo dá voltas, não é mesmo?
Assinto.
Mas às vezes eu gostaria que ele desse voltas para o lado contrário.
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