Apesar de nós estarmos expostas ao vento da noite, eu sentia o ar quente a minha volta. A cada respiração ou a cada mínimo movimento que Leah fazia em minha direção fazia minha pele corar e o ar parecer ainda mais quente. Até agora nenhuma de nós tínhamos falado uma palavra. Apenas trocamos comentários sobre a noite estar realmente bela.

Dou um gole no meu refrigerante e observo alguns carros iluminando a rua abaixo de nós. Por mais que esteja tarde, algumas pessoas ainda caminhavam pelas sombras, voltando para casa na calada da noite. Se eu morasse nessa região, acho que não teria medo de andar sozinha, pois as ruas eram bem iluminadas pelos postes. Na minha rua, as luzes são falhas e amareladas, deixando as casas cobertas pela escuridão.

Essa é uma das poucas vezes que vim na casa de Luke. Eu não me lembrava de como seu apartamento era organizado e de como possuía móveis bonitos e polidos. Apesar da multidão de pessoas enchendo sua sala e largando copos descartáveis por todo canto, dava para ver que tinha muito capricho pelo lugar.

Talvez eu devesse juntar dinheiro para trocar meu sofá barato por um de couro, comprar tinta para pintar as falhas e as manchas, trocar a cortina rasgada e polir o chão. Desde que me mudei não tive dinheiro sobrando para esses caprichos. Estive guardando para comer e pagar o aluguel em dia para não ter que dormir nas ruas. Quem sabe eu possa fazer um esforço para arrumar meu cantinho.

Desconfortável pelo silêncio, apoio na grade da sacada e dou um gole na bebida borbulhante no copo vermelho. Tenho certeza de que são do mercado, pois já os vi serem comprados diversas vezes.

Olho para Leah, que mantinha os olhos voltados para o horizonte. A luz que vinha do lado de dentro iluminava seu rosto parcialmente, deixando-o com um ar misterioso já que a outra metade de seu corpo estava coberta pela escuridão.

Observo-a dar um gole na bebida e o manter na boca por alguns segundos antes de engolir. Os músculos de seu pescoço se movendo de uma maneira estranhamente atraente. A camiseta que usava deixava exposto todo seu braço, que brilhava sobre a luz.

-O que está olhando?- Pergunta. Eu nem havia notado seu olhos em mim, pois estava distraída demais olhando para as curvas atraentes de seu corpo.

-Olhando como você fica bonita nessa luz- Digo, sentindo minhas bochechas corarem imediatamente.

Leah sorri sem mostrar os dentes e pousa o copo delicadamente na beirada da sacada. Depois, dá um único passo que é o suficiente para acabar com quase todo o espaço entre nós. Com sua proximidade o ar ficou mais quente, mas ainda sim sentia correntes frias passando por entre nossos corpos. Queria tanto acabar com esse espacinho.

A mão de Leah para delicadamente no meu rosto. Seus dedos acariciam minha bochecha e seus olhos me percorrem até pousarem em meus lábios. Segundos depois estou em seus braços. Suas mãos passeando das minhas costas até a nuca.

-Me desculpa por aquele dia- Sussurro em seu ouvido- Eu queria ter continuado, mas...

-Jess para de se desculpar- Ela se afasta apenas o suficiente para olhar nos meus olhos- Esta tudo bem. De verdade. E acho que nem deveríamos ter continuado de qualquer forma.

-Você acha que não deveríamos nos relacionar?

-Não é isso- Responde ela e várias ruguinhas surgem entre suas sobrancelhas. O piercing refletindo levemente a luz- É só que... O amor é confuso.

-Eu sei- Deslizo minha mão até sua clavícula nua- Mas você tem sido minha bússola.

-E você tem sido a dona dos meus pensamentos.

Queria voltar a abraça-la. Desta vez com mais força, mas resolvo fazer algo melhor. Escorrego a mão até sua nuca para puxa-la contra mim. Contra meus lábios. Imediatamente sinto o sabor gaseificado do energético e do refrigerante. Eu me sentia como uma adolescente, beijando e bebendo escondida.

A adrenalina volta a passear pelo meu corpo junto com o desejo. A cada segundo que passava contra seus lábios, mais eu tinha vontade de beija-la. De senti-la. Passeio pelo seu corpo, sentindo a curva de seus braços e costas. Em poucos segundos chego a sua bunda. Quando começo a explorá-la, a cortina que tapava a visão da sacada se abre com força.

Rapidamente, eu e Leah nos afastamos e alisamos a roupa, tentando disfarçar o rosto corado e dissipar o ar de desejo que circulava entre nós.

-Desculpa atrapalhar- Começa Luke, coçando a nuca com nervosismo- É só que não tive tempo para conversar com vocês ainda. Gostariam de ir até a cozinha comer algo? As pizzas chegaram.

-Ah, claro- Fala Leah, pois eu ainda estava me recuperando do susto e da boca de Leah na minha. Ainda sentia meu coração batendo rápido no peito enquanto minhas pernas pareciam gelatina.

Seguimos Luke até a cozinha do apartamento. Lá havia menos pessoas, pois elas estavam concentradas na sala. As caixas de pizzas estavam empilhadas e abertas em cima da mesa. O cheiro batalhava por espaço com a música. Sinto o estômago roncar.

-Fiquem à vontade- Diz abrindo uma caixa nova e quente de pizza- Pepperoni?

-Obrigada- Agradeço levando a fatia até a boca e dando uma mordida grande. O óleo escorre pelo meu queixo, mas Leah limpa com as pontas do dedo antes que qualquer um perceba. A única coisa que Luke repara é que ela lambe os dedos após o gesto.

-Então... Eu fiquei sabendo que vocês estão tendo um caso. Como se conheceram?- Começa, ficando nas pontas dos pés para abrir um armário e pegar uma garrafa de vinho- Aceitam?

-Você se lembra de quando fomos interrogados por acharem que um dos funcionários roubou dinheiro do caixa?- Digo de boca cheia, pois parar de comer não era uma opção. Eu realmente estava com fome- Leah ajudou com os interrogatórios, lembra?

-É verdade!- Ele levanta as sobrancelhas e rugas se formam na pele branca da sua testa. Depois, ele tira uma mecha do rosto e bebe um gole do vinho- Bem que seu rosto é familiar. Mas como vocês se aproximaram depois disso? Foi a amor à primeira vista?

-Bem...

-A Jessie me procurou para resolver umas questões pessoais e eu acabei ficando responsável por guia-la. Então tivemos muito contato depois do acidente no mercado.

-Isso foi inesperado.

-Nunca estamos esperando pelo amor-Comento e busco por mais uma fatia de pizza. Apesar de oleosa, é uma das melhores coisas que já comi na vida- E você e Bethany? Como estão?

Eu não queria perguntar. Na verdade eu queria. Mas sempre que pensava neles um sentimento ruim surgia dentro de mim. E também queria mudar o foco da conversa. Falar sobre meu relacionamento é embaraçoso. Se é que posso chamar o que está acontecendo entre mim e Leah de relacionamento.

-Escuta. Preciso que guardem segredo- Luke se aproxima de nós. O cheiro de vinho predominava em seu hálito- Estou planejando pedir Beth em namoro daqui uns dias. Vou leva-la em algum lugar bonito e fazer o pedido. Você conhece algum lugar que ela goste Jess?

-Não. Mas aposto que ela curte jardins- Respondo engolindo a massa na minha boca. Luke namorando? Eu não esperava por isso.

-Beth é a loira, certo? – Pergunta Leah fazendo movimento circulares com a taça cheia de vinho- Vocês formam um belo casal.

-Você fala de mim e de Leah, mas seu relacionamento com Beth também foi inesperado.

-É- Ele sorri- Realmente, nunca estamos esperando pelo amor.

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