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Capítulo 35 - Não nos conhecemos

Lucas.

Na minha cozinha. 

Eu e Bob passamos a noite juntos, ele ainda dormia no andar de cima e me deparei com a última pessoa que eu esperava encontrar. Parecia um sonho. Ou um pesadelo. 

  —  Oi, Jéssica! —  Ele sorriu na minha direção enquanto eu só queria que ele desaparecesse.

Mesmo sabendo que não devo nada a ele, não conseguia deixar de sentir que o momento era muito errado de alguma forma. Dias atrás ele se declarou para mim, disse ser um homem apaixonado. E agora está aqui.

— Desculpa, mas... Como você entrou aqui?

—  Bom, eu... —Quando Lucas começou a falar, foi interrompido. 

— Bom dia, bela adormecida! — Minha mãe me cumprimentou alegremente enquanto entrava na cozinha carregando uma sacola de pães e frios. Ela sempre acorda depois de mim, mais precisamente por volta do meio-dia, então claramente me chamava assim para passar uma boa impressão para a visita. Isso não me incomodou, estava muito mais interessada em entender o que ele estava fazendo aqui.

— Hoje não é domingo — disse de maneira seca para Lucas. — Você não deveria estar aqui.

— Ai meu Deus, não me diga que você vai começar um novo escândalo! — Minha mãe interveio antes que ele pudesse responder. — Eu pensei que vocês tivessem feito as pazes! Só por isso o deixei entrar.

— Na verdade, a Jéssica está certa — Lucas disse cordialmente, sorrindo para nós duas. — Eu não deveria ter vindo, mas achei que não faria mal em passar aqui rapidinho para deixar isso.

Estendeu na minha direção um embrulho pequeno que eu peguei rapidamente e abri, sentindo a minha respiração vacilar pouco a pouco. Era um patinho de borracha, nada mais.

— Um brinquedo ideal para a idade do nosso filho! — Lucas exclamou orgulhoso. — Lembra da última vez que eu trouxe um boneco errado? Tratei de pesquisar na internet qual seria o tipo de presente que consertasse o mico e todos os principais especialistas aprovam o patinho desta marca.

— Ah, legal — eu só queria que ele fosse embora o mais rápido possível.— Quero dizer, obrigada! Obrigada mesmo, tenho certeza de que o Ick vai gostar. Agora você precisa ir, estou atrasada para o trabalho.

— Você acha que ele vai gostar mesmo?

— Sim, vou colocar na banheira dele.

— Ele está acordado? Queria ver a reação...

— Lucas — o interrompi. — Você precisa mesmo ir embora. Este não foi o nosso combinado.

Ele sorriu e levantou as duas mãos em sinal de rendido:

— Você que manda, Jéssica. Já estou indo!

— Eu te acompanho até a porta.

Saímos juntos da cozinha e cruzamos a sala em direção a porta de saída:

— Desculpa ter vindo sem avisar — Lucas disse. — É que a última vez que estive aqui foi tão legal que não pude esperar até o próximo final de semana.

Quando abri a porta já me sentia muito mais aliviada. Afinal, nenhum desastre aconteceu. Só então me dei conta do quão rude fui com Lucas que só estava querendo fazer algo legal.

— Desculpa, tudo ainda é muito novo — falei segurando a porta. — É melhor irmos com calma.

— Você tem razão, total razão! Eu vou tentar me controlar...

Lucas parou de falar e olhou para algo por cima do meu ombro. Pela sua expressão eu sabia exatamente o que aconteceu.

Parado no batente da porta Lucas teve a visão ideal de Bob descendo as escadas que levam ao meu quarto, com os cabelos bagunçados e ares de quem acabou de acordar.

Lucas olhou para Bob, depois para mim e então para Bob novamente. Ele estava claramente transtornado, como se visse um fantasma. Bob, por sua vez, parece ter entendido o que acontecia, mas não parecia encontrar nenhuma solução confortável para ela. Eu mesma não fazia ideia do que fazer.

Foi Lucas que levantou o braço e acenou para Bob que pareceu não ter outra opção que não a de andar até nós.

— Prazer, nós não nos conhecemos — Lucas disse. — Eu sou o pai do filho da Jéssica.

— Prazer, mas nós nos conhecemos sim. — Bob respondeu. — Nós estudamos juntos.

— Na faculdade?

— Não, na escola. Passamos muitos anos na mesma sala.

— Eu não lembro de você.

— O meu nome é Bob.

Lucas levantou as sobrancelhas.

— Claro, Bob, eu me lembro agora. Bom te ver, cara, mas agora eu preciso ir — em seguida completou a próxima frase olhando diretamente para mim. — Eu nem deveria estar aqui.

Entrou no seu carro, deu partida e saiu cantando o pneu rua abaixo.

Meu coração estava quase saindo pela boca.

— Bom, isso foi beem desconfortável — Bob disse.

— Não foi nada — falei. — Eu e Lucas não estamos juntos.

— Ele sabe disso? A cara que fez foi impressionante.

— Eu não sei do que você está falando. Aceita panquecas?

— Aceito. Ah! E nós quebramos o seu notebook por acidente ontem a noite.

É verdade, eu e Lucas não tínhamos nada. Ele falou que gostava de mim, mas isso não significava que eu devia algo a ele. Só não queria que fosse assim, como se eu estivesse tentando esconder, como se fosse um flagra. Eu só não queria que Lucas fizesse aquela expressão. 

Senti que a situação iria piorar e eu não estava preparada para isso.

***

Nota do autor

Oi, pessoal. Tudo bom?

Eu quero aproveitar o espaço para agradecer MUITO por todo apoio que recebi nos últimos dias, desde que decidi abrir o financiamento coletivo. 

Recebi algumas mensagens de pessoas que vão começar a contribuir mês que vem e várias de quem não pode contribuir financeiramente, mas é igualmente importante nesta jornada. 

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