"E que os motivos para sorrir sejam maiores do que os para chorar."

Meu primeiro dia de aula numa escola nova, será amanhã, tenho esperanças que aquela escola seja diferente, ela tem que ser. Confesso, já pensei tentar ser algo que não sou no primeiro dia, para que assim, eu seja aceita, mas não, não irei me esconder em uma máscara, para conseguir fazer "amigos". Eu sou assim e não me imagino sendo de outro jeito, mesmo que esse jeito possa me salvar do bullying.

Sou aquela menina que não é tão boa com as palavras e que por isso, prefere desenhar para tentar se expressar. Meus desenhos não são os melhores, mas eu gosto deles, quando eu desenho é como se eu conseguisse levar uma parte do peso que estou sentindo para o papel, com isso eu me sinto mais livre. Meus desenhos variam muito, pode ser uma pintura alegre, cheia de cores e esperança, como pode ser também uma pintura melancólica, usando cores escuras ou só com um contorno em preto, expressando uma tristeza profunda. Isso irá depender de como estou me sentindo e como as pessoas fazem eu me sentir.

Eu não mostro os meus desenhos para ninguém, o primeiro motivo é que não tenho ninguém para mostrar, se não a Dona Ivone - a senhora que arruma as coisas aqui em casa - mas ela vem poucas vezes, por isso não tenho afinidade o suficiente, e os meus pais, mas eles não entenderiam o que eu estivesse expressando no desenho, além do mais eles acham isso uma perda de tempo, pois o tempo que gasto para desenhar eu podia estar estudando.

Ainda sobre os meus pais, eles não estão mais juntos, se divorciaram a uma semana, o motivo? Meu pai traiu minha mãe com a Keila, sua secretária. Eu a conhecia, pois sempre quando ia visitar meu pai em seu escritório, ela estava lá, sentada em sua cadeira, mexendo no computador, sempre tão educada. No fundo, eu sabia que meu pai traía minha mãe, foram mais de quatro vezes que os peguei no flagra digamos, eu nunca vi os dois se beijando nem nada, mas uma vez quando fui visitá-lo, vi Keila em seu colo - a desculpa foi que ela havia escorregado e caído em cima dele - outra vez foi quando fui falar com ela para pedir que permitisse minha entrada no escritório dele, e antes que pudesse dizer qualquer coisa a ouvi falando no telefone com as seguintes frases: "Você sabe que é o meu chefe preferido não sabe?" E soltou algumas risadas singelas. Desta vez não teve desculpa, pois ela não havia notado minha presença. Entre outros flagras que já presenciei.

Eu achava que meu pai estava traindo minha mãe, sim achava, mas eu não tinha certeza, não seria justo colocar sementes de discórdia num casamento que já durava 15 anos - sem contar o tempo que eles só namoraram - eram 15 anos de confiança que podiam ser jogados fora por uma incerteza minha. Eu me arrependo de não ter contado nada a minha mãe, ela acabou descobrindo da pior forma, os pegou no flagra, ela viu os dois se beijando no escritório dele. Lembro-me de ver ela desamparada me explicando que viu ele e sua secretária se beijando. Lembro-me também do quanto ela ficou desaponta comigo ao notar pela minha expressão facial que já sabia.
"Jenna, você já sabia? Meu Deus! Você já sabia..."
"Eu não tinha certeza..."
Talvez essas foram as piores palavras que eu poderia dizer naquele momento, entretanto, foram as únicas que consegui pronunciar. Nossa relação que já não era muito próxima, ficou mais distante ainda. Minha mãe resolveu se mudar para outra cidade e me levar junto, na verdade, essa decisão partiu dos dois, eles só se esquecerem de perguntar para a pessoa que teria de mudar de escola, de cidade, mas como eu mesma ouvi meu pai falar, "ela nem vai se importar, não fez amigos, não sai de casa..."

Madsburgh, esse será o nome da minha nova escola, o lugar onde espero que me aceitem do jeito que sou. Que não me coloquem apelidos sobre minha gagueira, sobre minha magreza ou sobre minha "nerddisse". Eu só quero ser aceita da maneira que sou, é pedir demais? É pedir demais que tenham mais respeito com o outro, e que aprendam, zoar o outro não é legal, não é engraçado, é errado e se chama bullying.

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