Capítulo V Problemas de família
*Ouça a música apenas quando esse sinal aparecer: ♪
- JENNAAA! - acordo com um longo grito da minha mãe, me levanto e destranco a porta.
- Por que você trancou a porta? - ela não me dá tempo para responder. - Deixa, isso não me interessa agora. Teu pai está te esperando, se vista logo e desça.
- O que ele faz aqui? - pergunto.
- Parece que ele quer que você vá para a casa dele. - ela explica.
- De novo? - queixo-me.
- Você não é obrigada a ir tá legal? Eu nem faço questão que vá mesmo. Tire esse pijama e desça. - ela fecha a porta. Visto uma roupa simples e desço.
- Oi pai. - ele estava sentado no sofá, parecendo estar impaciente.
- Que bom que desceu, vamos! - ele se levanta em direção a porta da frente.
- Espere. Você nem me perguntou se eu quero ir.
- Eu tenho que ir trabalhar, vamos agora, entendeu?
- Acho bom você se aquetar, ela nem disse se quer ir, ou você não ouviu? - minha mãe entra na conversa.
- Eu sou o pai dela e por isso posso mandar nela também, ela vem!
- Não me venha com essa agora. Você acabou de dizer que vai trabalhar, por qual motivo quer que ela vá para sua casa? você nem vai estar, ela terá que ficar com aquela... - não termina de falar. - Já contou para ela o motivo de ter vindo morar comigo? Foi porque VOCÊ não quis o compromisso de ser um pai presente, diga para ela o que já está estampado no teu rosto, você só quer que ela aceite Keila, porque quer que aos olhos dos outros, eles achem que são uma família perfeita. Você é um bosta de pai, um bosta de ex-marido... - minha mãe se exalta e ele a interrompe.
- Você realmente acha que tem moral para falar comigo assim? Você também nunca foi uma mãe presente, quem cuidava de Jenna? As babás, NÃO você, NUNCA você! - ele altera o tom de voz.
- Quem foi que traiu sua própria esposa?... Então é, eu tenho mais moral que você e posso falar o que quiser a respeito dos seus defeitos. - minha mãe se defende.
- Eu te traí, foi errado mas não me arrependo, ela está grávida, teremos uma família feliz e unida, coisa que nunca aconteceu aqui. Sua filha sabia que eu te traía, ela nos pegou nos flagra tantas vezes, mas nada disse, como sempre, ficou calada sabendo que sua mãe era uma...
- C-CHEGA! - eu grito aos prantos. - Chega, por favor! - um remorso toma conta de mim. Eles me olham assustados.
- Viu o que fez para NOSSA, você querendo ou não, ela é sua filha também. Você fez sua própria filha chorar, eu posso ter todos os defeitos do mundo, eu falo coisas que a machucam, mas nunca por querer, e eu peço desculpas. Você não consegue nem sentir culpa pelo que falou, é por isso que que digo e repito, você é um... - eu olho para minha mãe, e ela entende o recado.
- Sério isso Elisa? Logo você que é sempre tão curta e direta, vir falar sobre essas coisas? Todos sabemos que Jenna faz um grande drama em tudo que ela não gosta, sempre foi assim, não queira bancar a boa mãe com esse discursinho meia-boca.
- Sai da minha AGORA! - ela ordena.
- A verdade dói, não é mesmo? - ele solta um sorriso de deboche.
- Sai daqui e me faça o favor de nunca mais voltar. - ela aponta o dedo indicador para a porta da frente.
- Você não quer que eu leve isso para o judiciário, certo? Então terá que deixar eu ver Jenna quando quiser.
- Não estava apressado para ir trabalhar? Pois então vá logo.
Meu pai vai embora, deixando um clima bem ruim entre nós duas.
- Mãe...
- Vá para o seu quarto. - ela diz sem me olhar.
- V-Você não consegue nem o-olhar nos meus olhos...
- Eu não consigo confiar na minha própria filha, você sabia mas não me disse. Jenna, eu não quero discutir isso. - ela me olha com desapontamento.
♪Eu subo para o meu quarto, deito-me e começo a refletir, observando o teto. A casa está em um total silêncio.
Eu tive medo de contar a verdade para a minha mãe, porque podia não ser o que eu achava que era. Eu tive medo que ela se magoasse. Mas eu ter optado por não dizer, foi muito pior que qualquer verdade que eu pudesse te-la contado.
Eu deveria ter falado, agora esse remorso ficará em mim até os últimos dias da minha infeliz vida. Gostaria que alguém tivesse me dito as consequências do meu ato, eu queria poder voltar no tempo e mudar tudo, mas isso é impossível, igual a todas as outras coisas que sonho um dia realizar. As vezes me falta vontade para levantar da cama e seguir em frente pois eu sei que será tudo igual outra vez, então por que ter vontade para sair da minha confortável cama se antes mesmo de levantar já sei como será o meu dia? Por que acreditar que as coisas irão melhorar, por que ainda ter esperança? Eu já tentei ter e não me adiantou em nada. É melhor que eu não tenha nenhum tipo de motivação, assim eu não terei desilusão.
O meu problema é criar grandes expectativas, imaginar coisas que nunca se realizarão. Quando eu conheci Chloe, ela despertou em mim uma fagulha de felicidade misturado com um sentimento que mais se parecia com esperança, criei fantasias sobre nós duas, que eu e ela nos tornaríamos melhores amigas, seria para ela que eu contaria minhas decepções e minhas alegrias, quem eu mostraria meus desenhos e entenderia o que eu tivesse expressando neles. A mais pura verdade é que vi nela a oportunidade de sentir outra vez as mesmas coisas de quando minha avó Amélia ainda estava viva, é errado eu sei entretanto, inconscientemente pensei que Chloe poderia substituir minha avó, não que pudesse existir alguém tão especial quanto ela, minha avó era única, mas ela poderia me fazer feliz como minha avó já fez. É por isso que não posso criar expectativas, eu sei que no final esse sentimento vai me destruir.
Uma vez, quando tinha 8 anos meus pais me prometeram que iriam na festinha da escola, eles me disseram que poderiam até demorar mas dariam um jeito de ir. Aquela festinha era muito importante para mim, eu fiquei uma semana inteira treinando uma música para os meus pais, era a primeira vez que me apresentaria na frente de todos, queria perder o medo de gaguejar e ser confiante igual a minha mãe. Quando chegou a minha vez, eu fui para o salão da escola e não vi minha mãe e muito menos meu pai, pedi para professora esperar mais um pouco porque eles haviam me prometido que viriam e eu confiava neles, sempre acreditei na palavra deles. Eu não ficava acordada na noite de natal porque eles me falavam que caso eu ficasse, o Papai Noel não viria, na manhã de páscoa eu acordava animada para procurar os ovos da páscoa que meus pais diziam ser o coelhinho que trazia, teve uma vez que o coelhinho da Páscoa não me trouxe nada, eu pensei não ter sido uma boa menina durante o ano, esse era o único motivo plausível para ele não ter me dado nada, alguns dias após descobri que a verdade era que meus pais tinham esquecido de comprar, eles mesmo que me explicaram, e foi aos 8 anos de idade que parei de acreditar no coelhinho da páscoa e consequentemente no Papai Noel, pois se não existia um, o outro também não existia. Mesmo assim, eu acreditava neles, eles eram meus pais, meu espelho eu queria ser como eles quando crescesse. Lembro-me de ter ficado por alguns minutos esperando, a professora me olhava com pena, ela sabia que eles não viriam. Eu decidi me apresentar mesmo sem a presença deles, vai que eles chegassem no meio da minha apresentação e me fizessem uma surpresa? Ingenuidade da minha parte... Nas minhas primeiras frases eu gaguejei e isso foi o suficiente para ser motivo de rizada, eu saí dali com tanta vergonha, era como se eu houvesse feito algo inaceitável. No fim, minha mãe foi me buscar, ela pediu desculpas e eu muito magoada e incapaz de entende-la seja lá qual fosse o motivo, disse que não aceitaria sua desculpas, ela então, tirou 50 reais de seu bolso e me deu como forma de pagamento com a finalidade de aceitar suas desculpas, eu não tinha entendimento do valor do dinheiro, então o rasguei na frente dela, ela pareceu não se importar, e o que eu mais queria naquele momento era justamente o contrário. Chegamos em casa e meu pai nem se quer estava, até hoje espero um pedido de desculpas que eu sei que nunca terei, eu fui muito magoada. Naquele dia em diante falei para mim mesma que nunca mais acreditaria na palavra deles, e é aí que entra novamente o meu defeito, eu voltei a acreditar neles e tive esperança que cumpririam com o que me prometiam, esse sentimento só me serviu para ter mais frustrações em relação a eles.
Eu só não quero mais me machucar e a única opção é não me importar com mais nada.
"Careca de sonhos, de esperanças,
De uma vida sem rastros, que só rebaixa [...]" (Saulo Pessato)♪
Olá, o capítulo ficou um pouco deprimido, eu também coloquei uma música para dar um clima, acho que fica mais fácil para entender o que Jenna está sentindo. Se quiserem conversar comigo sobre o que estão sentindo, eu estou aqui, você não está sozinho!♡
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro