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Seja Bem-Vinda


*** Dias depois ***


O clima de primavera já se espalhava por todas as partes em Toronto. O verde tomava conta das ruas e as árvores eram coloridas com as mais variadas cores de flores. Certamente era um belo início de noite de sexta-feira.

A panela fervia no fogão enquanto Delphine tentava atingir o equilíbrio perfeito dos temperos da Ratatouille que estava cozinhando. Aquela provavelmente era a mais tradicional e talvez a única receita de família dos Cormier. Ela estava levando a colher de pau à boca para testar o ponto de cozimento dos legumes quando foi interrompida pelo toque do interfone.

Delphine foi até o aparelho e atendeu antes de destrancar o portão mais por força do hábito do que por não saber de quem se tratava. Só uma pessoa a visitava.

– Oui?

Del, sou eu.

Então ela apertou o botão que liberava a entrada e voltou para suas panelas; a porta da frente do apartamento já estava aberta.

Mesmo depois de Cosima deixar de ficar na casa dela todos os dias – por conta do período de recuperação – e voltar para o apartamento que dividia com Felix, Delphine disse que ela poderia continuar com a cópia de suas chaves. No entanto, a morena não aceitou, dizia que era melhor elas manterem pelo menos um pouco de individualidade. Aquilo não fazia nem um pingo de sentido para a francesa. Elas passavam tanto tempo uma com a outra quando não estavam em ocupadas com suas respectivas obrigações na universidade e no hospital, que na cabeça dela, Cosima não ter as chaves de seu prédio só gerava o inconveniente delas precisarem recorrer ao interfone todas as vezes. Mesmo assim, Delphine preferiu não forçar a barra.

Cosima entrou no apartamento se detendo na entrada um instante para tirar o casaco de meia estação que usava.

– Hey, boa noite! – falou abraçando Delphine por trás e ficando na ponta dos pés pra conseguir dar um beijo no rosto dela.

– Bonsoir.

– O cheiro está ótimo – ela comentou. – O que você está fazendo?

– Ratatouille – respondeu Delphine a olhando por cima do ombro com um sorriso discreto, sabendo do apreço da morena por aquele prato.

– Meu Deus, você vai conseguir a proeza de me fazer engordar só comendo comida saudável – disse ela indo até a pia para lavar as mãos.

– Isso é um bom sinal, chérie.

– É eu sei. Parece que aquela minha falta de apetite era realmente por causa do tumor.

– E mais que isso; também indica que o tratamento não está te causando nenhum efeito colateral.

– Claro, isso também.

Cosima voltou a se aproximar do fogão, se apoiando de costas sobre a bancada da cozinha.

– Como foi seu dia? – perguntou Delphine.

– Corrido. O Dr. Leekie deve estar ficando caduco, só pode. Os prazos que ele me passou são, tipo, completamente fora da realidade.

Delphine deu risada da forma exagerada com que ela tinha falado. Continuou olhando atenta para a panela a sua frente, já estava quase na hora de desligar o fogo. Foi então que Cosima começou a passar os dedos pelo braço dela que segurava a alça da caçarola.

– Você sabe que dia é hoje, não sabe? – perguntou a morena com a voz carregada de segundas intenções.

– Tenho uma ideia – ela respondeu sentindo seus pelos se eriçarem com o toque de Cosima. – Hoje é o dia da sua alta definitiva.

– Exatamente. E você sabe o que isso significa?

– Significa várias coisas – Delphine falou com a voz propositalmente baixa.

– Mas o que mais me interessa nesse momento... – Cosima continuou – É que agora eu finalmente posso voltar a transar.

Delphine respirou fundo e desligou o fogão.

– O jantar está pronto.

– O jantar pode esperar.

Delphine fechou os olhos por um instante e mordeu os lábios, ainda parada no mesmo lugar. Por fim, olhou para Cosima, que através de suas pupilar dilatadas e rosto levemente corado já dava alguns indícios de sua excitação.

Sincronizadamente, uma se jogou nos braços da outra e se uniram em um beijo intenso e luxurioso. Cosima sem demora levou as mãos para as costas de Delphine e desatou o laço do avental que ela vestia. O tempo que a loira levou para coloca-la sentada sobre a bancada da cozinha, foi o suficiente para que ela a livrasse daquela peça juntamente com a camiseta que a loira vestia.

Delphine tentou tirar a calça de Cosima, encontrando um pouco de dificuldade por conta das botas que ela ainda calçava. A morena se divertia beijando, mordendo, chupando o pescoço da francesa. Delphine subiu as mãos pelas pernas dela e começou a tocá-la ainda por cima da calcinha. O fino tecido rendado já deixava transparecer o grau de sua umidade.

Cosima começou a arfar e se apoiou no balcão para ter uma maior estabilidade. Porém no movimento que fez de levar as mãos para trás, acabou esbarrando em um bowl de inox que estava ali perto e o lançou para o chão, espalhando restos e cascas de legumes pelo assoalho. O barulho do metal se chocando com o piso ressoou pelo ambiente chamando a atenção das duas. Elas se entreolharam e deram risada antes de voltarem a se beijar.

Delphine segurou as coxas da morena com firmeza; ela pareceu entender o recado e enlaçou a cintura da francesa com as pernas, que por sua vez a levantou de onde estava e começou a andar com ela para fora da cozinha.

– Espera – Cosima disse enquanto elas passavam pela sala. – Aqui.

Então Delphine a colocou no chão. Rapidamente Cosima se desfez do que ainda lhe restava de suas roupas e se sentou no sofá, para no momento seguinte, puxar a loira – que a essa altura já estava só de sutiã – para se sentar em seu colo.

Cosima gemeu ao senti-la quente e úmida em sua coxa. Delphine segurou o pescoço da morena com uma mão enquanto que com a outra começou a tocá-la. Cosima desprendeu o sutiã dela com destreza e sem perder mais tempo, tomou seu seio na boca.

– Eu senti sua falta – falou entre beijos e gemidos.

Delphine já estava perdida demais em seu prazer para conseguir responder. Cosima agarrou a bunda dela para ajuda-la nos movimentos de vai e vem enquanto estimulava seus mamilos com a língua.

Talvez pelos longos dias de abstinência forçada, o deleite de ambas estava se aproximando rápido. Delphine passou a rebolar mais intensamente nas pernas nuas de Cosima – sem nunca parar de estimulá-la – e em pouco tempo depois se desfez em um profundo prazer. A imagem gloriosa do gozo de sua namorada foi o que faltava para que a morena deixasse suas vozes se fundirem e desfrutasse de um orgasmo igualmente intenso.

Mas aquilo não seria o suficiente para acabar com todo desejo e energia sexual que elas haviam acumulado durante aquelas semanas.

Tão logo sua respiração ficou um pouco mais controlada, Delphine se levantou e puxou Cosima com ela para o quarto. Assim que chegou lá, se deitou de costas na cama apoiada nos cotovelos e ficou assistindo a morena se aproximar dela, toda insinuante.

Com movimentos que pareciam ter sido calculados, Cosima subiu na cama colocando os joelhos um de cada lado do quadril da francesa. Charmosamente, ela prendeu alguns dos dreads que haviam se soltado do coque minutos antes, prestigiando Delphine com uma visão que beirava a perfeição.

– Tu me fais saliver.

Você me dá água na boca.

Cosima gostou do som daquelas palavras. Vagarosamente se inclinou sobre Delphine para beijá-la, mal permitindo que suas peles se tocassem. Aos poucos começou a explorar o corpo da loira com as mãos, mas ela não parecia estar tão disposta a dividir o controle da situação assim tão fácil; não naquela noite.

Delphine lambeu toda a extensão do pescoço de Cosima, provocando calafrios generalizados por todos seus membros. De maneira determinada, puxou a morena para que ela subisse mais; seus olhos se encontraram por um período que foi suficiente para que ela conseguisse entender o recado.

Cosima engatinhou na cama até ficar praticamente sentada no rosto de Delphine; e ela não perdeu tempo. Assim que o toque aveludado da boca da francesa atingiu seu nervo já pulsante, Cosima voltou a gemer e traçar movimentos circulares com o quadril. Delphine abraçou as coxas dela em busca de maior controle e estabilidade, embora aquilo fosse algo bem difícil de se alcançar àquela altura.

E qual não era a destreza dela! Sua língua traçava movimentos com uma precisão magistral que deixava Cosima à beira da loucura.

– Isso... Desse jeito... – dizia ela ofegante. – Não para!

Cosima enroscou seus dedos nas madeixas loiras de Delphine e em alguns instantes depois, já estava desfrutando de seu segundo clímax daquela noite.

Assim que suas contrações involuntárias cessaram e seus músculos relaxaram, ela se deitou ao lado da francesa que terminava de enxugar o rosto.

– Espero que o isolamento acústico desse apartamento seja bom – Cosima disse sorrindo.

– Acho que vamos descobrir amanhã se eu receber uma multa por barulhos inapropriados.

Elas se abraçaram e riram juntas. Mesmo se a multa viesse, ela certamente teria valido cada centavo.

– O que me diz de uma ducha? – perguntou Cosima. – Depois nós podemos fazer uma pausa rápida para o jantar, eu tô morrendo de fome.

– D'accord – respondeu Delphine com um sorriso safado nos lábios. – Vamos matar toda essa sua fome.

Cosima revirou os olhos considerando uma mudança de planos.

– Ok, ok. Acho que eu consigo aguentar mais um pouco.

Definitivamente aquela seria uma noite longa.

No dia seguinte, Cosima acordou antes de Delphine. Ela não tinha olhado no relógio, mas a julgar pela claridade que preenchia o quarto, já deviam ser mais de nove horas da manhã. Seu corpo dolorido indicava que a maratona que as duas tiveram na noite anterior iria cobrar o seu preço. Por mais que tivesse pensado em levantar e surpreender Delphine com um café da manhã reforçado quando ela acordasse, Cosima continuou preguiçosamente na cama a observando dormir. E aparentemente ela estava tendo sonhos bastante... digamos... agitados.

Depois de vários minutos desfrutando daquele momento ócio tão bem-vindo, Delphine abriu os olhos e deu de cara com Cosima a olhando. Sua reação foi a mesma de uma criança que é pega comendo a sobremesa escondida antes do jantar.

– Com o que você estava sonhando? – a morena perguntou sorrindo para ela.

– Eu... erh... uhm – Delphine gaguejou enquanto esfregava os olhos, como se ainda não tivesse totalmente acordada. – Nada.

– Não estava sonhando? – Cosima insiste franzindo o cenho.

– Non... Nada demais.

– Nada demais faz você gemer?

Delphine ficou tão vermelha quanto um estandarte da Grifinória.

– Era eu no seu sonho? – Cosima insistiu.

– É claro que sim – a loira disse evitando o contato visual. – Meus pensamentos são todos seus.

– E o que eu estava fazendo?

Delphine tentou disfarçar. Passou os dedos nos cabelos e olhou ao redor procurando por algo que pudesse lhe tirar daquela situação.

– Que horas são? Onde é que eu deixei meu celular...?

Mas Cosima não a deixaria escapar assim tão facilmente. Segurou ela pelo braço, impedindo que se levantasse da cama e deu um beijo nas costas de sua mão.

– Me conta vai – pediu fazendo sua melhor cara de cachorrinho pidão.

– Tá bom... – Delphine disse em meio à um suspiro e por fim cedendo. – Você estava por cima de mim.

– Eu estava por cima de você algumas horas atrás – Cosima deslizou por baixo do lençol que ocultava a nudez de ambas, e se deitou por sobre o corpo da francesa. – Desse jeito?

– Oui – ela suspirou. – Quer dizer, mais ou menos.

– O que mais eu fazia?

– Você estava dentro de mim.

Cosima sorriu. Lubrificou os dedos de uma forma bastante sensual com sua própria saliva e depois penetrou Delphine, que ao que parecia, já estava suficientemente pronta para recebe-la.

– Assim?

– Non – ela falou com os olhos fechados. – Não era com os seus dedos.

Cosima a olhou com as sobrancelhas franzidas.

– Então como?

– Suas mãos estavam livres, mas, você, estava dentro de mim... – Se é que isso era possível, ela pareceu ter ficado ainda mais vermelha. – Você tinha... Você tinha um...

Aquilo não fez sentido para Cosima logo de cara, mas quando entendeu ao que Delphine estava se referindo, toda sua concentração no que estava fazendo se dissipou e ela rolou de volta para o seu lugar.

– Wow! Saquei – ela disse encarando o teto sem saber exatamente como reagir. – Bom... se você quiser... nós podemos...

Mas então ela foi interrompida por um celular tocando.

– Eu acho que é o meu – Delphine falou aproveitando a oportunidade de pôr um fim naquele assunto e sair da cama.

Ela não conseguiu localizá-lo imediatamente, mas depois de alguns toques, acabou encontrando o aparelho em cima da cômoda, perdido em meio ao amontoado de roupas que elas tinham recolhido pela casa depois do jantar na noite anterior.

– Allo? – ela atendeu enquanto abria a gaveta e tirava uma calcinha limpa para vestir. – Felix?

Ao ouvir o nome do amigo, Cosima foi trazida de volta ao mundo real – aquele onde ela e Delphine não eram as únicas pessoas existentes – também se levantando da cama e foi em busca alguma coisa para vestir.

– Sim, ela tá aqui, ela... O celular deve ter ficado sem bateria...

Cosima revirou os olhos.

– Dá aqui, deixa que eu falo com ele. – Ela estendeu a mão e Delphine lhe entregou o celular. – Fee, você acabou de interromper uma conversa muito interessante que eu estava tendo com a minha garota aqui.

Delphine sorriu e se dirigiu para o banheiro.

Sei bem que tipo de conversa vocês deviam estar tendo. E nem adianta se fingir de coitada, eu sei que vocês já devem ter tirado o atraso na noite passada.

– Muito esperto, Sr. Dawkins – Cosima disse sorrindo satisfeita. – Mas anda logo, por que você ligou?

Porque eu tô no hospital.

– Hospital? – ela se assustou mudando para um tom mais sério. – Você está bem? Aconteceu alguma coisa?

Ao ouvir a palavra 'hospital', Delphine – com a boca cheia de pasta de dente – colocou a cabeça para fora do banheiro e fez gestou perguntando para Cosima o que tinha acontecido, e esta por sua vez apenas deu os ombros.

Sim, eu estou bem e sim, aconteceu uma coisa. Na verdade, aconteceu alguém. A Kira nasceu a uma meia hora atrás.

Cosima levou a mão na testa e um enorme sorriso estampou seu rosto.

– O quê? Mas... mas ainda está cedo...

Sim, ainda faltavam umas 7 semanas, mas essa madrugada a Sarah começou a ter contrações e a S teve que trazer ela pro hospital.

– Wow! E... como ela está? Como elas estão?

Estão ótimas. A Sarah conseguiu ter o parto normal sem nenhuma complicação e a Kira nasceu super saudável, mesmo que vá ter que passar um tempo na incubadora por ter sido prematura. Elas estão na maternidade do hospital escola, caso você queira fazer uma visita.

– Claro, eu vou sim.

Agora eu preciso ir, a S tá me chamando aqui.

– Claro, vai lá. E obrigada por avisar.

Tchau querida.

Cosima ainda processando a informação, desligou o celular e o deixou sobre a cômoda.

– O que foi? – Delphine perguntou entrando de volta no quarto. – Ele está bem?

– É, ele está ótimo – ela fez uma pausa e passou a mão na cabeça. – A Kira nasceu.

Delphine esboçou uma expressão de surpresa.

– Nossa, foi antes do tempo, não foi?

– Sim, ela estava de 7 meses.

– Bom, acho que bebês não se importam muito com calendário, afinal de contas.

Cosima continuou onde estava, olhando para ela e com um sorriso feliz nos lábios.

– Você vai no hospital visita-las? – a loira perguntou.

– Sim – respondeu Cosima dando prosseguimento ao seu processo de se vestir. – Sim, eu vou. Tipo, o Felix já me disse que elas estão bem, mas... sabe como é...

Delphine sabia.

– Tudo bem, eu te acompanho no caminho. Eu já tinha que ir pro hospital ver se está tudo certo na produção das vacinas mesmo.

Apesar de nenhum milagre ter acontecido e ela e Sarah ainda terem suas diferenças, Delphine já estava muito mais tranquila com relação a convivência que Cosima tinha com a ex. Era como se depois de tudo que passaram; depois de saber sobre a doença dela, suas inseguranças tivessem se dissipado e liberado o espaço para a confiança.

Delphine tinha devolvido o carro para locadora desde que Cosima havia sido liberada para fazer pequenas caminhadas, então elas foram até o Hospital caminhando.

– Eu estive pensando... – começou Cosima. – Acho que eu vou comprar uma bicicleta.

– O quê? – Delphine riu da aleatoriedade do apontamento dela.

– Sabe, é que minha namorada está trabalhando numa pesquisa super importante no Hospital. Aí fica me chamado várias vezes na semana pra ir visita-la e acaba me espetando com agulhas e tirando o meu sangue no processo. Bom, ainda que o trajeto não seja assim tão longo, seria bem mais rápido de me locomover pelo campus com uma bike do que a pé do jeito que eu tenho feito.

– É, faz sentido – disse Delphine pegando na mão dela. – E talvez sua namorada também devesse comprar uma. Então as duas poderiam aproveitar para pedalar no parque juntas. Dizem que é um belo passeio a se fazer nos fins de tarde de verão em Toronto.

– Hum. Acho que minha namorada é uma romântica incurável.

Delphine inclinou o rosto para baixo com um sorriso tímido nos lábios.

– Talvez.

Logo depois, elas chegaram na entrada do Hospital e por coincidência encontraram Felix.

– Hey, você já está indo embora? – perguntou Cosima abraçando o amigo. – Não vai me dizer que já cansou de ser tio?

– Ah, por favor, nem me lembre dessa parte. Ainda não me acostumei com essa função que a minha irmãzinha empurrou pra cima de mim. Já tô até sentido as rugas começando a aparecer – ele falou enquanto cumprimentava Delphine com um beijo no rosto. – Elas se confundiram na hora de vir para o hospital e acabaram trazendo só a bolsa do bebê. Agora eu estou indo lá em casa buscar algumas roupas pra Sarah.

– Em qual quarto elas estão?

– 62. Mas só a Sarah está lá, e ainda um pouco sonolenta por conta das medicações que deram pra ela depois do parto. Eles já levaram a Kira pra UTI neonatal.

– Ah, nesse caso acho melhor eu voltar depois então – disse Cosima.

– Que nada. Eles não deixam ninguém pegar a Kira, mas você vai conseguir ver ela através daquelas paredes de vidro. É só passar ali na recepção que eles te dão um acesso de visitante.

– Ok.

– Eu já vou indo então. Daqui a pouco tô de volta.

– Okay, tchau.

As duas entraram no hospital e Cosima deu o nome de Sarah na recepção para que sua entrada fosse liberada.

– Eu vou precisar fazer uma ligação para o quarto para que o acesso de vocês seja liberado – falou a atendente. – Qual é o nome de vocês?

– Ah, non – Delphine interveio. – Só ela vai entrar.

– O quê? Porque? – perguntou Cosima.

– Não sei, Cosima. Você sabe que eu e a Sarah temos nossas diferenças...

– Tudo bem, você não precisar ir no quarto. Vamos comigo só ver a Kira.

– Não sei se ela iria gostar...

– Pelo amor de Deus Delphine! – disse Cosima com um sorriso meio incrédulo. – Ainda que ela tivesse algum motivo pra isso, não é como fosse conseguir esconder a menina de você pra sempre. Além disso, você só vai ver ela através de um vidro e de dentro de uma incubadora. Você não vai, sei lá, sequestrar a criança.

– Tem certeza que isso não vai te trazer problemas?

– E por acaso tem algum bom motivo pra isso me causar problemas?

– Ok. Então eu vou com você conhecer a Kira, mas depois tenho mesmo que ir pro laboratório.

– Tudo bem – Cosima se voltou para recepcionista que já dava indícios de estar perdendo a paciência. – Me desculpe pela demora. É... Cosima Niehaus e Delphine Cormier.

A moça discou alguns números no telefone, falou alguma coisa com a pessoa do outro lado da linha, e instantes depois finalizou a chamada.

– A Sra. Sadler liberou a entrada de você – ela abriu uma gaveta por debaixo do balcão, pegou adesivos com a palavra "visitante", e entregou um para cada uma. – Vocês precisam colar isso na roupa de você.

– Certo. Obrigada.

– Nossa! – falou Cosima logo que chegaram de frente a UTI neonatal. – São tantos... Qual desses será que é ela?

Delphine se aproximou do vidro e se esforçou pra tentar conseguir ler alguma coisa nos prontuários que ficavam presos junto às incubadoras. Até que algum tempo depois ela finalmente conseguiu identificar: Kira Manning, 1550g.

– Aqui – ela disse apontando para a bebê que havia sido deixada bem próxima à parede do corredor pelo lado de dentro. – É essa aqui.

– Caramba, como ela é pequena! – Cosima falou aproximando o rosto do vidro.

– Sim – Delphine disse sorrindo. – Essa mocinha aí devia ter esperado mais algumas semanas dentro da mãe dela. Mas ela vai ficar bem.

– A pele dela está tão vermelha...

– É assim mesmo. Os recém-nascidos tem a pele muito fina, e por ela ser prematura, quase não tem gordura e o tecido subcutâneo é bem escasso; isso faz com que os vasos sanguíneos e as veias fiquem mais visíveis, o que dá esse aspecto avermelhado.

Cosima olhou para Delphine também sorrindo. Deu um passo para trás, passou o braço por trás das costas da loira e encostou a cabeça no ombro dela.

– Sabe, as vezes eu quase consigo entender os criacionistas ou esses religiosos que acreditam que tudo acontece por alguma espécie de milagre de algum ser superior.

– O quê? – Delphine perguntou incrédula.

– Tipo, eu sou cientista. Ver células se multiplicarem é o meu dia a dia e mesmo assim, as vezes é difícil acreditar que por conta de condições ideias um óvulo e um espermatozoide formaram um zigoto, que esse zigoto virou isso, – Cosima apontou para a criança dentro da incubadora – e que um dia essa coisinha aí vai se tornar isso – terminou apontando para seu próprio corpo.

– E por isso é mais fácil acreditar que o ser humano saiu de uma poça de lama? – Delphine perguntou franzindo as sobrancelhas.

– Não. Acho que eu não consegui me expressar direito – ela respondeu rindo. – Talvez possa fazer algum sentido para pessoas com um conhecimento mais limitado.... Você não pode negar que é uma explicação mais rápida e mais lúdica.

– Sim, e completamente fantasiosa.

– Ok, você não consegue deixar sua lógica e racionalidade de lado nem um pouquinho, né?

Delphine não respondeu, apenas apertou um pouco o abraço e deixou um beijo na cabeça dela.

Elas ficaram ali paradas por algum tempo, apenas observando o bebê dormindo e raramente ousando alguns movimentos fracos, puxando as sondas e fios que a monitoravam.

– Cosima... – Delphine quebrou o silêncio que havia se formado.

– Sim?

– Você pensou melhor naquele assunto?

– Que assunto?

Mas a loira não teve a chance de responder. O celular de Cosima – que afinal de contas só estava pedido na sala naquele dia mais cedo, não sem bateria – começou a tocar dentro da bolsa dela que rapidamente o atendeu antes que alguma enfermeira pudesse vir chamar sua atenção.

– Alô?... Oi, sim nós estamos bem... Viemos ver a Kira primeiro... Sim, eu sei qual é quarto... Daqui a pouco chego aí.

As duas tinham desfeito o abraço e Delphine pegou seu próprio celular para conferir as horas.

– Era a S – Cosima falou se voltando para ela. – Achou que nós tínhamos nos perdido.

– É, nós acabamos ficando aqui bastante tempo. Eu já vou indo pro laboratório.

– Sim. Agora eu vou lá ver a Sarah e mais tarde também preciso ir cuidar dos meus "filhos" – ela fez aspas com os dedos se referindo às suas cobaias. – Podemos almoçar aqui no restaurante do hospital mesmo, o que acha?

– Por mim está ótimo – Delphine voltou a se aproximar e deu um beijo rápido nos lábios dela. – Até daqui a pouco, chérie.

– Tchau.

E então elas se afastaram em direções opostas do corredor.

Nos sábados Delphine não tinha pacientes para atender, mas gostava de aproveitar aqueles dias mais calmos para adiantar as análises dos materiais colhidos, preparar mais doses do tratamento para semana e também finalizar relatórios a serem encaminhados para o Dyad.

Porém naquele dia, além do "pequeno" atraso que ela teve ao levantar da cama e depois a visita à pequena Kira, seu trabalho estava demorando mais do que de costume por conta de um pequeno contratempo nos resultados de uma amostra de sangue em específico.

Cosima já havia recebido três doses da vacina e nas duas primeiras os resultados haviam sido bastante positivos. No entanto, nesse último exame o resultado indicava que o número de marcadores tumorais dela haviam tido um pequeno aumento em vez da diminuição que era esperada. Isso havia feito com que Delphine tivesse que se colocar de frente ao microscópio para fazer a checagem da amostra dela manualmente. Mas o centro de análises não tinha errado. De fato, o quadro de Cosima apresentava uma ligeira piora.

Não há razão para desespero. Recaídas são normais.

Mas aquilo só tinha acontecido com Cosima até o momento.

De qualquer forma, não custa nada repetir o exame.

Então ela se levantou da banqueta, tirou as luvas de látex e pegou o celular para ligar para Cosima.

– Hey.

Oi, você já terminou aí?

– Sim, mais ou menos – Delphine respondeu. – Cosima, será que você pode dar uma passada aqui antes da gente ir almoçar?

Claro, aconteceu alguma coisa?

– Bom, seus resultados tiveram uma pequena alteração e eu gostaria de repetir os exames.

Ok – respondeu ela tendo uma ligeira mudança no tom de voz. – Já estou indo.

Logo que desligou o telefone, Delphine começou a separa o kit que usaria para repetir os exames em Cosima. Voltou para sua sala e não precisou esperar muito até que a morena batesse na porta.

– Tá aberto, pode entrar.

Cosima entrou no consultório com uma expressão que beirava a preocupação.

– Del, o que houve? Por que eu preciso repetir o exame?

– Hey, não se precisa se alarmar – ela disse sorrindo. – Seus níveis de CA-125 tiveram um pequeno aumento, mas não é nada muito assustador. Só quero repetir os exames pra garantir que não foi só um erro de amostra.

– Sei – Cosima bufou e relaxou um pouco o corpo. Largou a bolsa em cima da mesa de Delphine e foi ocupar seu lugar na poltrona de coleta. – Sabe, já tô começando a achar que seu novo fetiche é me espetar com agulhas.

Delphine apenas riu do comentário dela enquanto prendia o garrote em seu braço.

Tão exagerada...

Quando ela entrou com o acesso na veia, viu Cosima suspirar com um pouco mais de intensidade.

– Pauvre petit chiot.

– Você que é.

Nem com uma agulha espetada nela como estava, Cosima conseguia evitar de se derreter toda quando Delphine fala em francês daquele jeito.

– Del, quando a gente tava lá na maternidade, antes da S me ligar, você queria me perguntar uma coisa, não queria?

– Ah, isso...

Delphine se demorou um pouco fechando a ampola de sangue e prendendo um curativo no braço de Cosima.

– Olha, eu não estou querendo te pressionar a nada, mas você já pensou naquela questão de preservar seus óvulos?

Cosima desviou o olhar e respirou fundo.

– Pra ser bem sincera eu pensei sim – Cosima falou se ajeitando melhor na poltrona. – Olha, eu realmente não sei se eu quero ser mãe. Me pergunto se eu sou muito egoísta ou talvez covarde por não achar que a maternidade seja pra mim... Mas o que eu sei é que existe a possibilidade da minha cabeça mudar daqui alguns anos e talvez filhos biológicos deixem de ser uma opção para mim no futuro, não que isso seja um problema, é claro – falou tentando conter a agitação de suas mãos. – Enfim, eu decidi que, sim, eu vou colher os meus óvulos.

– Ótimo! – Delphine disse demonstrando um pouco mais de empolgação do que gostaria. – Eu andei perguntando sobre isso aqui no hospital e eles tem um programa para pacientes oncológicos que desejam preservar a fertilidade. Tem a possibilidade de você conseguir fazer a coleta de graça ou a valores muito mais baixos do que em clinicas particulares. Vou tentar conseguir uma consulta pra você o quanto antes.

– Certo.

Cosima não pode deixar reconhecer a expectativa crescendo em Delphine. Não era apenas pelo relacionamento delas ser relativamente recente, mas ela não conseguia deixar de se preocupar com o gosto da loira por crianças. Já havia notado aquilo nos meses em que elas estavam juntas e até mesmo naquele dia mais cedo, no brilho em seu olhar quando viram Kira na maternidade. Ela temia a respeito dos impactos que uma divergência em uma questão tão fundamental como aquela – deixar ou não descendentes – poderiam ter sobre a relação delas no futuro.

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