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Reencontro

– Vocês não podem me deixa sem notícias desse jeito! – Felix demandou tom exaltado com as mãos apoiadas no balcão de atendimento. – É a minha amiga que está ai dentro!

– Os médicos ainda não terminaram – a auxiliar de enfermagem disse calmamente. – O senhor precisa ter um pouco mais de paciência...

– Paciência?? Quero só ver se você ia paciência se estivesse aqui no meu lugar!

– Felix!

Ao ouvir seu nome ser chamado, o rapaz se virou e deu de cara com Delphine vindo a seu encontro.

– Ah, Delphine! Ainda bem que você chegou. – Ele se voltou para ela. – Eu sei que a Cosima está aí dentro, mas ninguém quer me dizer nada!

– Calma – a loira pediu puxando-o para um canto. – A enfermeira voltou e me disse que ela já está na UTI; o Dr. Duncan está com ela.

– Tá, mas isso não quer dizer quase nada!

Delphine parou um minuto e inspecionou o espaço que a cercava. Eles estavam em um pequeno saguão que dava acesso à algumas partes importantes do hospital, dentre elas a porta que levaria até os leitos de UTI.

No entanto, um leitor magnético instalado bem ao lado dela indicava que seu acesso era restrito; apenas pessoal autorizado poderia passar por ali naquele horário.

Mas não custa nada tentar.

A francesa se ajeitou no jaleco e sacou seu crachá. Mas como já era de se esperar, a porta não foi destravada quando ela passou o cartão no sensor.

– E agora? – Felix perguntou.

– Agora nós esperamos – ela disse apoiando as costas na parede. – E por favor, Felix; tenta se controlar. Arrumar confusão com os funcionários não vai ajudar a Cosima em nada.

O rapaz chegou a abrir a boca para retrucar o puxão de orelha, porém nesse momento a porta de abriu, dando passagem a dois funcionários que traziam uma maca vazia para fora. Gentilmente e sem nenhuma segunda intenção, Delphine segurou a porta para elas com um sorriso simpático no rosto. Tão logo terminaram de passar, ela descaradamente se esgueirou lá para dentro.

O corredor era longo; nos dois lados ficam dispostos quartos altamente equipados e monitorados, enquanto no final ficava uma sala maior, com vários leitos dispostos em fileiras, destinada para os pacientes que precisavam de vigilância constante. Delphine foi caminhando com bastante calma, olhando através dos vidros de todos os quartos para ver se encontrava Cosima.

Aquele provavelmente era um dia atípico, pois a lotação era máxima e a movimentação de funcionários estava realmente grande, coisa que deve ter facilitado com que ela não fosse reconhecida como uma intrusa. A julgar pelo estado de vários dos pacientes internados – alguns chegando a ter membros inteiros enfaixados – Delphine podia supor que algum incidente com fogo devia ter acontecido bem recentemente.

Ela continuou sua busca tentando não chamar atenção, mas foi impedida de prosseguir antes que conseguisse atingir a metade do corredor.

– Srta. Cormier – ela ouviu uma voz masculina a chamando de alguns metros mais à frente

– Dr. Duncan – Delphine disse indo até ele. – Como ela está?

– Você não deveria estar aqui.

– Me desculpe doutor, mas eu preciso vê-la.

Sabendo que não adiantaria continuar tentando impedi-la que a francesa continuaria tentando, Ethan abaixou a guarda e fez um movimento com a cabeça para que Delphine o seguisse.

O quarto de Cosima era um dos últimos, e assim que ela a reconheceu através do vidro impecavelmente limpo, imediatamente levou a mão até a maçaneta para abrir a porta.

– Dra. Cormier – Ethan disse a segurando pelo ombro. – Sua licença já foi validada pelo conselho médico canadense?

– Non – ela respondeu um instante depois se sentindo derrotada.

– Então acredito que a senhorita não vai querer ser pega em exercício ilegal da profissão – ele acrescentou. – Sinto muito, mas é uma regra do hospital. Vamos ficar pelo lado de fora.

À merde les rules, Delphine pensou suspirando frustrada.

Do outro lado da parede, Cosima estava deitada em seu leito ligada a toda uma sorte de fios e ainda recebendo ventilação mecanizada. Mas o que mais a interessava naquele momento era o monitor de sinais virais. Aproximando o rosto do vidro e forçando um pouco os olhos, Delphine conseguiu atestar que o coração da morena já estava funcionando normalmente.

– Ela está estável – Dr. Duncan informou. – Decidimos mantê-la entubada por mais algumas horas, para nos assegurarmos de que ela realmente não corre mais nenhum risco. As amostras de sangue já foram enviadas para análise

– Eu conferi o medicamento que foi administrada nela, não foi erro da enfermeira – Delphine comentou sem desgrudar os olhos de Cosima. – Ela é alérgica a ele, não é?

– Provavelmente. Embora não seja algo comum, é a hipótese que faz mais sentido pra mim no momento.

A francesa sempre admirou o fato de Cosima ser uma pessoa excepcional e única; diferente de todos que ela já havia conhecido. Esse foi um dos motivos que a fizeram ficar completamente apaixonada meses atrás. Porém nas circunstâncias atuais, tudo o que ela mais desejava era que a morena fosse só mais um ser humano ordinário; que não tivesse um tipo raro de câncer antes dos trinta e especialmente que não fosse alérgica a única coisa que poderia salvar sua vida.

– Isso vai complicar as coisas – ela comentou.

– Sem dúvidas vamos ter que mudar nossa estratégia – Ethan  admitiu. – O tratamento vai ser atrasado em alguns meses, mas não é impossível.

– Dessensibilização?

– Exatamente – ele disse apoiando a mão no ombro dela e dando uma leve pressionada. – Vamos, Dra. Cormier, você poderá vê-la mais tarde.

Mesmo com o coração apertando, não querendo deixa-la sozinha, Delphine preferia não abusar da boa vontade do Dr. Duncan. Além disso, agora não havia muito mais o que ela pudesse fazer pela namorada; só restava esperar. Com isso em mente, seguiu o médico até a saída e tão logo passaram pela porta, Felix veio afoito em seu encontro.

– Delphine! Como ela está?

– Bem – ela o tranquilizou.  – Pode-se dizer que o pior já passou.

– Eu posso vê-la?

– Agora não – o médico respondeu. – Os dois poderão, mas só no horário de visitas do hospital.

– É, ele tem razão – Delphine concordou. – É melhor a gente ir pra casa e voltar mais tarde.

– Eu também vou indo – disse Dr. Duncan. – Já me atrasei o suficiente para minhas próximas consultas.

– Claro. E muito obrigada, doutor.

– Estou à disposição. Qualquer coisa que precisarem, podem me procurar.

Quando Delphine e Felix retornaram às oito horas da noite, ambos já estavam com os nervos um pouco mais controlados, embora ainda ansiosos para rever Cosima. A morena por sua vez, tinha sido tirada da intubação e recobrado a consciência.

Ver Cosima deitada naquela cama, com os olhos abertos, respirando normalmente e visivelmente entediada, fez com que Delphine deixasse de vez seu lado Dra. Cormier de escanteio e se entregasse a emoção.

Quando viu os dois entrando no recinto, Cosima abriu um sorriso no rosto e se virou na cama tentando se sentar.

– Hey! – ela soltou com a voz um pouco rouca.

Felix foi apressado até ela e colocou a morena dentro de um abraço apertado.

– Como você está? – ele perguntou.

– Sinceramente? – ela disse dando uma risada despretensiosa enquanto soltava o amigo. – Tirando o fato de que a minha boca tá com gosto de merda e meu peito está um pouco dolorido, eu estou ótima.

Delphine até então estava assistindo a cena de pé, com as mãos cruzadas cobrindo a boca e se esforçando para conter as lágrimas que tentavam escapar de seus olhos. Quando o rapaz se ergueu e deu um passo para longe do leito, ela caminhou timidamente até Cosima, segurou carinhosamente o rosto dela olhando fundo em suas íris esverdeadas, para então finalmente se inclinar e deixar um beijo em sua fronte.

– Por que você está chorando? – A morena sorriu enquanto enxugava com o polegar uma lágrima que escorreu pela bochecha da loira. – Eu estou bem.

É de alívio, Delphine pensou, embora não tenha conseguido verbalizar.

– Cosima, já te contaram o que aconteceu? – Felix perguntou.

– Não, o último enfermeiro que veio aqui falou que meu médico vinha conversar comigo mais tarde – ela respondeu estreitando os olhos e procurando por seus óculos em cima da mesa da cabeceira. – Eu lembro de estar sufocando e depois de tudo ter ficado escuro. Acho que devo ser desmaiado de novo. Apesar que não entendo o porquê eles me trouxeram pra UTI dessa vez...

– Cosima... – Felix disse incerto. – O seu coração... Ele chegou a parar...

– O... o quê?

Delphine abaixou a cabeça e terminou de enxugar as lágrimas que ainda molhavam seu rosto.

– Se a Delphine não estivesse lá... – Felix continuou.

– Com licença – Ethan disse ao aparecer na porta. – Eu atrapalho?

– Não, de forma alguma, doutor – Delphine apressou-se em dizer. – Cosima, foi o Dr. Duncan quem te trouxe pra cá.

– Como se sente? – o médico perguntou.

– Sinto que preciso que alguém tem que me explicar exatamente o que aconteceu! – ela respondeu impaciente. – Que história é essa de que o meu coração parou? – Cosima disse mudando o olhar entre os presentes no quarto.

– Bom, os resultados dos seus exames acabaram de chegar, confirmando nossas suspeitas – Ethan disse lançando um olhar breve para Delphine. – Você é alérgica aos quimioterápicos, por isso teve aquela reação quando o medicamento entrou na sua circulação sanguínea. Apesar ter sido uma quantidade muito pequena, você teve um choque anafilático que evoluiu para uma parada cardiorrespiratória.

– Meu Deus... – Cosima relaxou no encosto da cama, a ponta do indicador deslizando por debaixo das lentes dos óculos para esfregar os olhos. – Então é isso? Eu morri, voltei, e ainda tenho alergia ao único remédio que pode me curar?

– Sim, mas não é tão terrível quanto pode parecer – ele exclareceu. – Em casos como o seu é preciso fazer o que nós chamamos de "dessensibilização". É uma técnica que consiste em administrarmos o medicamento em doses homeopáticas e bem diluído. Falando de forma simplista, funciona mais ou menos da forma contrária que uma vacina. Precisamos que o seu corpo pare de encarar a medicação como algo hostil que deve ser combatido.

– Ok... – Cosima pontuou franzindo o cenho.

– O lado negativo é que nós não temos como saber previamente quantas sessões serão necessárias até que o seu organismo se acostume e que nenhuma delas, por serem em doses realmente muito baixas, irão contar como tratamento realmente.

– Então enquanto eu estiver fazendo essa dessensibilização, o câncer pode continuar se desenvolvendo livremente...?

– Não exatamente livremente, mas sim, não vai estar sendo tratado. Por isso nós vamos ter que adiantar a sua histerectomia.

– Maravilha... – ela disse bufando de forma irônica.

Ninguém falou nada por alguns instantes até que o médico voltou a quebrar o silêncio.

– Alguém tem mais alguma pergunta? – Ethan falou olhando especialmente para Cosima e Felix. Como ambos negaram com a cabeça, ele prosseguiu. – Tudo bem. Cosima, vou pedir para te transferirem para um quarto, não faz sentido você continuar aqui.

– Eu não posso ir para casa?

– Não, vamos dar início a dessensibilização amanhã mesmo e já começar a fazer os exames para a cirurgia.

Após ser realocada em um quarto comum, Cosima tentou insistentemente ligar para os pais sem obter sucesso. Eles provavelmente estavam passando por alguma área deserta sem sinal de telefonia. Por conta disso, ela pediu para que Felix voltasse para casa e os recepcionasse, caso eles fossem direto para lá quando chegassem em Toronto.

Delphine obviamente permaneceu com ela, deixando o quarto apenas para que pudesse comprar algo para comer. Quando voltou, as duas desfrutaram de seus deliciosos sanduiches de queijo vegetal em silêncio. Cosima terminou antes, tendo em vista que estava morta de fome, já que mal havia se alimentado naquele dia. Então enquanto a loira terminava de mastigar, ela ficou a olhando fixamente.

– Quê foi? – Delphine perguntou recolhendo as embalagens de isopor agora vazias. – Minha boca tá suja?

Cosima negou com a cabeça observando-a deixar o lixo dentro de uma sacola ao lado da mesa de cabeceira para ser retirado posteriormente.

– Você está pensando no procedimento de amanhã? – Delphine disse indo se sentar ao lado dela na cama. – Não precisa se preocupar, a probabilidade de complicação é ainda menor do que a de alguém ser alérgico ao medicamento, então isso é praticamente um zero – ela completou com bom humor.

– Não é isso – Cosima respondeu sorrindo de lado.. – É só que... eu não sei nem por onde começar. Del, acho que eu nunca vou conseguir encontrar um jeito de te agradecer pelo que você fez por mim hoje...

– Shh. – Delphine segurou a mão dela. – Não diga mais nada.

– Não, eu estou falando sério. Aquele setor estava largado às moscas... Se você não estivesse lá, eu...

– Cosima, me escuta. Eu fui treinada pra isso; é a minha profissão – a loira disse em um tom mais sério olhando para ela. – Logo depois que você me contou que estava doente, me pediu que nós continuássemos agindo da mesma que agíamos antes. Você não poderia estar mais certa nesse ponto. Sim, eu sou médica, e sim, agora você está ocupando uma posição de paciente no momento, mas o nosso relacionamento nunca vai funcionar se não conseguirmos manter uma relação horizontal. Nós perdemos esse equilíbrio por um breve período e vimos para onde isso quase nos levou. – Delphine faz uma breve pausa. – Então agora sou eu quem está te pedindo; por favor, esqueça o que aconteceu hoje, porque eu juro que já estou fazendo o meu melhor para esquecer também.

Sentindo o coração quase explodir dentro do peito, Cosima se inclinou sobre Delphine, a abraçando enquanto escondia o rosto no pescoço dela.

– Eu te amo.

– Je t'aime aussi.

Na manhã seguinte, Delphine abriu os olhos antes de Cosima. Ela havia passado a noite da forma relativamente confortável na poltrona reclinável ao lado da cama; a morena insistiu para que elas dividissem o leito, mas a francesa achou que poderia ser constrangedor se alguém entrasse no quarto e as flagrasse daquela forma.

Olhando para ela dormindo como estava, tão serena e imóvel, foi inevitável para Delphine não se pegar checando se Cosima estava respirando normalmente. Tentando se controlar e sem a intenção de acabar a despertando, ela pegou sua bolsa e silenciosamente saiu do quarto.

A francesa fez uma parada rápida no banheiro para aliviar sua bexiga e escovar os dentes antes de ir até a cantina do hospital. Ainda não eram nem 6 horas da manhã e naquele horário o lugar estava praticamente deserto. Inclusive ela quase precisou acordar o jovem atendente do estabelecimento, que estava cochilando debruçado sobre o balcão.

Com um copo café em mãos, ela sentia que agora sim estava pronta para começar o dia. Enquanto desfrutava da bebida fumegante que entrava revigorando seus sentidos, Delphine se permitiu parar um instante em frente a uma grande janela e apreciar os primeiros raios de sol que já iluminavam o céu. Porém, por não querer deixar Cosima sozinha por muito tempo, esse momento de contemplação durou apenas alguns poucos minutos.

Voltando para o quarto onde a morena estava internada, Delphine acabou se detendo vários metros antes de chegar ao seu destino. Na direção oposta, um casal com as feições preocupadas vinha caminhando apressado pelo corredor.

A mulher era baixinha, não devia ter muito mais que 1,50m, e seu cabelo era repicado na altura dos ombros. A pele era bastante bronzeada e mesmo à distância, Delphine conseguiu notar que ela tinha uma tatuagem cobrindo o colo. No todo, pode-se dizer que tinha um estilo bem despojado para os seus provavelmente 50 e alguns anos de idade. O homem não trazia um fio de cabelo sequer na cabeça e certamente também não era dos mais altos; Delphine julgou que ele não devia ter além do que poucos centímetros a mais do que ela própria. Mas se a feição dele já não dessem indícios o suficiente, ver Felix caminhando junto com eles não permitia que a loira tivesse mais dúvidas a respeito de quem aqueles dois eram.

O casal entrou no quarto de Cosima, porém o rapaz deteve-se na porta quando notou a presença dela. Só quando Felix acenou para que ela se aproximasse foi que Delphine percebeu que havia empacado literalmente no meio do corredor. Quando forçou seus pés a continuarem a se mover, ela se deu conta que seu coração estava consideravelmente mais acelerado, embora não conseguisse encontrar razões lógicas para isso.

– Como ela passou a noite? – Felix perguntou logo que a francesa chegou mais perto.

Quando passou na frente da porta, Delphine teve um breve vislumbre do interior do quarto. Cosima não só estava acordada, como também já havia se sentado na cama. A loira percebeu lágrimas escorrendo dos olhos dela enquanto o pai lhe abraçava fortemente e a mãe afagava sua cabeça com carinho.

– Bem – Delphine respondeu. – Dormiu tranquila a noite toda.

– Que bom – disse Felix. – Você precisava ver como eles ficaram quando eu disse que ela estava internada no hospital... Isso porque eu nem contei a história toda.

Conforme ouvia as vozes vindo de dentro do quarto, Delphine foi ficando cada vez mais nervosa. Só naquele momento que ela se deu conta que nunca havia passado por aquela situação de "ser apresentada para os pais" de alguém antes. As famílias dela e de Marc-Antoine já se conheciam a muitos anos antes deles começarem a namorar e os casos que ela teve antes disso nunca evoluíram o suficiente para chegar nesse ponto. De repente ela se sentiu tão insegura como já não se sentia a muito tempo.

– Delphine, você está aí fora? – Cosima chamou.

Felix deve ter notado a expressão temerosa dela, pois pousou a mão em seu braço de modo a incentivá-la.

– Relaxa – ele a acalmou. – A Sally e o Gene são pessoas muito legais, você vai gostar deles.

– Ok.

Mas e se eles não gostarem de mim?

Com isso Delphine jogou o copo vazio de café que ainda estava em sua mão em uma lixeira ali perto e de forma automática tentou ajeitar o cabelo antes de passar pela porta do quarto, parando logo na entrada. Agora os dois Niehaus mais velhos estavam de pé abraçados ao lado do leito da filha.

– Bonjour – Delphine disse sorrindo tímida.

Então os três se viraram para olhá-la. Cosima se levantou da cama sorrindo e foi até a loira prontamente pegando na mão dela.

– Mãe, pai... Essa é a Delphine – ela apresentou alargando ainda mais o sorriso. – O amor da minha vida.

Sentindo o coração aquecer assim como sua face, Delphine inclinou ligeiramente a cabeça para baixo sem deixar de olhá-los.

– Enchanté.

– Bom... Muito prazer, Delphine – Sally disse indo até ela. – Você é ainda mais bonita pessoalmente do que nas fotos que a Cosima tinha nos mostrado.

A francesa soltou uma risadinha sem jeito e se sentiu estranhamente desajeita com o tanto que precisou se encurvar para conseguir abraçar a sogra.

– É que bom gosto é herança de família, querida – Gene também se aproxou e estendeu a mão a ela. – Prazer em conhecê-la, Delphine.

Se ela estava inibida, Cosima era o completo oposto disso; seu ser parecia ter dobrado de tamanho, tamanha sua felicidade e aparente orgulho.

Apresentações terminadas, Felix concluiu que já tinha cumprido seu dever, então se despediu de todos e foi embora. A conversa que os quatro desenvolveram na sequência, em circunstâncias diferentes, poderia muito bem ter composto um agradável jantar em família. Apesar de ter ficado tímida nos primeiros minutos, não demorou muito para que Delphine começasse a se sentir bastante à vontade na presença de Sally e Gene.

Embora Cosima fosse a cara do pai, a loira reparou que ela também tinha muito em comum com a mãe, ainda que fosse difícil especificar exatamente o que. Era alguma coisa na presença, na energia que elas transmitiam. Sem dúvidas agora Delphine conseguia entender um pouco melhor de onde as influências do estilo da morena tinha vindo.

Tudo estava indo bem, mas o conto de fadas não poderia durar para sempre. Afinal, não podiam se esquecer de onde estavam e porquê estavam. Cerca de quarenta minutos depois, eles foram puxados de volta para a realidade quando uma enfermeira entrou no quarto trazendo a medicação de Cosima.

Como era de se esperar, dessa vez ela nada sentiu de desconforto. Algum tempo mais tarde, com a garantia de que tudo iria correr nos conformes e de que agora Cosima estava muito bem acompanhada, Delphine decidiu que já era hora de ir.

– Bom, acho que eu vou indo – ela disse. – Vocês devem estar querendo matar as saudades.

– Que isso, nós estamos adorando te conhecer – Sally pontuou.

– Eu também, mas eu tenho alguns assuntos que preciso resolver ainda essa manhã – Delphine disse se virando para Cosima. – Tudo bem?

– Claro, você já perdeu tempo demais – a morena disse com confiança. – Nos vemos à noite?

– Bien sûr – ela disse voltando a atenção para os sogros na sequência. – Vocês vieram para ficar, imagino...

– Sim – respondeu Gene. – Nós estamos livre nos próximos dias.

– Nesse caso – Delphine continuou. – Eu ficaria muito feliz em poder recebê-los em minha casa.

Ao ouvir isso, Sally arqueou as sobrancelhas e lançou um olhar confidente para Cosima, que respondeu sorrindo e dando os ombros.

– É muito gentil da sua parte, Delphine – a mais velha reconheceu. – Mas uma das vantagens de se morar em um barco é que você não precisa se distanciar das suas manias e da sua casa, não importa onde esteja.

– Claro, eu entendo – a francesa disse se levantando da cama de Cosima. – Bom, então eu já vou. Até mais tarde.

Logo que Delphine saiu do quarto, Sally se adiantou e ocupou o lugar de onde ela estava.

– Me diz uma coisa... – ela disse em um tom baixo enquanto se inclinava na direção da filha. – Quando é que você vai pedir ela em casamento?

– Mãe!

– Não, estou falando sério – Sally afirmou. – Porque se você não for, eu vou!

– Era só o que me faltava... – Gene comentou. – Acho que agora eu estou em uma grande desvantagem aqui... Cos, o que você acha? Será que se eu comprar uma peruca loira tenho alguma chance de não perder sua mãe de vez?

Com uma imagem bizarra se formando em suas mentes as duas acabaram caindo na risada.

– Não se preocupa, pai – Cosima respondeu. – Eu não estou disposta a dividir a Delphine ninguém. Nem com a minha mãe.

Andando pelos corredores do hospital direção a sua sala, Delphine se sentia contente e satisfeita. Conhecer os pais de Cosima aconteceu de uma forma muito mais positiva do que ela poderia ter imaginado. Como poucos minutos de conversa, a sensação era de que eles já se conheciam a muitos anos; exatamente como havia sido com a filha deles meses antes.

Sua vontade era poder continuar na companhia dos três, mas o fato é que ela tinha muito trabalho a ser a feito.

– Bom dia! – ela disse ao chegar na recepção do andar oncológico. – Grace, alguma novidade sobre a Mirian Johnson?

– Não, Dra. Cormier – a ruiva replicou. – Até agora não conseguimos nada.

– Ok. Continue tentando, por favor.

– Pode deixar.

Entrando em seu consultório, Delphine acho por bem não demorar mais tempo para relatar a falta daquela paciente. Talvez o Dyad encontrasse algum meio mais efetivo de contatá-la.

Como havia feito no dia anterior, ela ligou o computador e abriu o portal da pesquisa, porém dessa vez quando procurou pela tag de identificação de Mirian, não encontrou nada nos registros sobre aquela pessoa. Assim como Cosima, ela havia sido completamente apagada do sistema.

Aquilo não fez nenhum sentido na cabeça de Delphine. Ao contrário da morena, a Srta. Johnson vinha apresentando uma melhora crescente em seu caso, até mesmo mais rápido do que a maioria das outras pacientes. E durante as consultas para administração das injeções, ela sempre pareceu muito satisfeita com o tratamento, não dando indício nenhum de que pretendia desistir. Sabendo que seus superiores não gostavam da ideia de retirar "cobaias" do experimento, ela não entendia o que poderia estar acontecendo.

Ainda desgostosa demais com seu orientador, Delphine preferiu pular a etapa de falar com o Dr. Nealon e começou a escrever um e-mail diretamente para o Dyad. Nele, ela relatou a falta de Mirian, ressaltando a urgência em encontrá-la, assim como o desaparecimento de seus arquivos no banco de dados. Pelo que já havia conhecido daquela instituição, a francesa duvidava muito que aquilo pudesse ser uma mera coincidência, mas depois do que já tinha passado com o Dr. Nealon, achou melhor adotar uma postura neutra e fingir ignorância a respeito do modus operandi da empresa.

Tendo em vista que as respostas do Instituto nunca vinham de forma imediata e que ela ainda estava com muitas de suas tarefas atrasadas, Delphine bloqueou a tela do computador e entrou no laboratório para dar início aos seus afazeres. Entretida nos procedimentos técnicos como ficava, ela nem sequer reparou quando a tela de seu celular piscou exibindo uma notificação do recebimento de um novo e-mail.

Horas mais tarde, quando finalmente voltou a pegar o telefone, a francesa se surpreendeu ao ver que o remetente de sua resposta não era o Sr. Frontenac como já era de costume, mas sim vinha diretamente do Sr. Westmorland.

Com sua personalidade galanteadora se fazendo presente mesmo nas palavras escritas, ele foi enfático em dizer que a paciente 528M32 não voltaria mais a seu consultório, pois - lamentavelmente – havia falecido quatro dias antes.

Delphine ficou chocada com aquela informação. Apesar de seu lado racional lhe alertar de que ela deveria evitar de se evolver ainda mais com aquelas pessoas, em seu íntimo sabia que não teria sossego se simplesmente ignorasse aquela história. Afinal de contas, era com de um ser humano que eles estavam falando, não de um mero número.

Mas quando perguntou a causa da morte e pediu para ter acesso ao relatório da autópsia, mesmo deixando claro que seus interesses eram estritamente acadêmicos e importantes para o desenvolvimento de sua dissertação de doutorado, tudo que recebeu em resposta foi um curto: "Essas informações são de caráter estritamente confidencial"

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