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Não Tenha Pena Dos Mortos


Olá pessoas. Acho que  ainda não aprendi a usar o Wattpad direito e sinceramente não sei se existe uma maneira melhor de deixar avisos, então hoje tive que invadir o texto...

Como o final do capítulo passado e o título deste sugerem, esse começo não vai ser exatamente leve – mas vai terminar bem, prometo. Enfim, terá uma passagem com descrição de sintomas compatíveis a crise de ansiedade, então se você não se sentir confortável para ler isso, recomendo que pare de ler na marca ***Aviso de gatilho***, e retome em ***Fim do aviso de gatilho***.

No mais, era só isso mesmo. Boa leitura!


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– Até que enfim! – Cosima disse aliviada assim que Delphine passou pela porta. – Eu já estava quase indo atrás de você. O que houve?

Mas olhando com um pouco mais de atenção ela nem precisou esperar para ouvir a resposta. Delphine estava claramente abalada, com os olhos avermelhados e os ombros caídos, então era bastante óbvio.

– Ah, meu Deus, não acredito... – Cosima cobriu a boca com as mãos ao entender do que se tratava. – Como o Scott está?

– Mal – Delphine respondeu relaxando no sofá. – Eu me ofereci para acompanhá-lo na funerária, mas ele não aceitou.

– Já dá pra saber o que aconteceu? – Cosima perguntou se sentando ao lado dela.

– Com certeza, só depois da necrópsia; aparentemente ela estava dormindo – a loira relatou. – Meses atrás o Scott me disse que ela estava tenho problemas para controlar a pressão, pode ter sido um infarte fulminante. Talvez um AVC hemorrágico, o rosto dela estava bastante escuro.

– Que horror, não consigo nem imaginar como deve estar sendo para o Scott... – a morena comentou. – Acho que eu vou ligar pra ele.

E ela realmente tentou, mas a linha estava continuamente ocupada. Também pudera; a essa altura o rapaz devia estar ocupado dando a notícia para os amigos mais próximos da Sra. Smith. Mas mesmo não conseguindo falar diretamente com ele Cosima deixou uma mensagem de texto se colocando à disposição para qualquer coisa que ele precisasse.

Apesar de ainda não ser tão tarde, as duas decidiram ir deitar mais cedo naquela noite. Cosima estava tentando não transparecer, mas o pouco de movimentação extra que havia tido em comparação com os dias anteriores, havia a deixado bastante exaurida e uma vez na cama, ela não demorou nada para pegar no sono. Delphine, por outro lado, não conseguia nem ao menos fechar os olhos.

Ela ficou lá, deitada encarando o teto no escuro por um período aparentemente infinito, tentando convencer seus pensamentos agitados a darem uma trégua e permitirem que ela descansasse pelo menos um pouco. Mas não era isso o que estava acontecendo; parecia que quanto mais ela lutava para aquietar sua cabeça, tudo o que conseguia era o exato efeito oposto. Por fim, aceitando a batalha perdida, Delphine achou melhor se levantar e sair do quarto. Não queria acabar acordando Cosima por ficar se virando de um lado para o outro na cama.

Porém, mesmo depois de alguns minutos perambulando pelo apartamento sem rumo, o sentimento de angústia em seu peito só fazia aumentar. Em busca de algo que pudesse ajudar, loira foi até a cozinha e começou a abrir as portas dos armários tentando encontrar uma garrafa com um resto de uísque que devia estar esquecida em algum lugar. Quando a encontrou, despejou uma dose em copo e virou a bebida em um só gole. O líquido desceu queimando, mas a sensação que vinha no instante seguinte era boa, então ela repetiu o gesto.

Primeiro foi Mirian, depois Aisha e agora a Sra. Smith. Parecia que a morte estava fazendo hora extra nas últimas semanas e sendo bastante fugaz em sua ação. Parecia estar chegando cada vez mais perto.

Apesar de suas pacientes terem sido diagnosticadas com doenças bastantes graves, com a boa evolução de seus casos era difícil para Delphine entender seus óbitos tão súbitos.

E o que dizer da Sra. Smith? Ela foi se deitar e simplesmente não se levantou mais. Teria ela sentido alguma coisa ou simplesmente continuado a dormir e se perdido no vazio? Sim, porque era nisso que Delphine acreditava: A morte não era nada mais do que a literal ausência de vida; aquelas histórias de existência eterna, reencarnação ou qualquer coisa desse gênero, nada mais eram do que contos mantidos pelas religiões como uma forma de controlar e tentar convencer as massas a serem pessoas melhores – ou pelo menos o conceito que essas mesmas religiões tinham do que é ser uma pessoa boa.

Bom, então o que restava da morte?

A dor, a solidão, a saudade... Um espaço vazio na vida daqueles que ficavam. E esse vazio não podia ser tão simplesmente reocupado. Ela havia passado por isso há mais de um ano atrás e viu Scott vivenciando isso naquele mesmo dia. Na verdade, a situação do rapaz era bem mais dramática do que o dela.

Quando Delphine perdeu mamie Apoline ainda lhe restava todo o resto de sua família. Mas Scott... Tudo o que ele tinha para além de laços de amizade naquela cidade, naquele país... Agora já não existia mais.

O sofá não parecia adequado; Delphine se sentou no chão trazendo a garrafa com um resto de bebida junto de si. Seja por efeito do álcool ou não, as lágrimas começaram a descer sem que ela tivesse qualquer controle sobre elas.

Se a causa da morte da Sra. Smith fosse de fato decorrente de um AVC, ela poderia ter sido socorrida. Se ela não estivesse sozinha poderia ter sido levada para o hospital a tempo daquela condição não ser fatal, quem sabe deixando no máximo algumas sequelas.

Esse tipo reflexão não podia ter nada de positivo em uma situação como aquela e uma vozinha no fundo de sua cabeça insistia que aquilo nem era de todo verdade. Era uma armadilha. Porém uma outra voz – uma mais alta e persuasiva – era quem tomava conta naquele momento.

Por duas vezes Cosima havia se encontrado em situações críticas. Na primeira ela poderia ter ficado com graves sequelas irreversíveis se o socorro não tivesse sido efetivo e da segunda... Da segunda vez o coração dela literalmente parou de bater.


***Aviso de gatilho***


Delphine sentiu a pressão em seu peito aumentar ainda mais. Suas mãos tremiam e ela começou a suar frio e hiperventilar.

Naquelas duas situações ela pode estar presente. E não só estar presente, mas conseguiu agir de forma ativa e determinante para que o caso fosse estabilizado sem nenhum dano permanente para Cosima.

Mas e se houvesse uma próxima vez e ela não estivesse lá?

Se dar conta da fragilidade da vida e se lembrar da sensação de ter Cosima diante de sim inconsciente e sem pulsação, estavam fazendo Delphine sentir um medo que ela nunca havia sentido antes; com o coração disparado e a respiração descontrolada ela começou a se sentir tonta.

Delphine?

Ela ouviu Cosima chamando ainda do quarto, mas não teve condições de responder.

– Hey – a morena disse surpresa ao despontar na sala e encontrar a namorada naquele estado. – O que houve?

Cosima colocou a garrafa de uísque em cima da mesa de centro para evitar algum acidente e se ajoelhou no tapete de frente para Delphine.

– Delphine, hey, me escuta – ela chamou amparando o rosto da loira com as mãos. – Fica calma, ok? Respira devagar. Vamos lá, inspira fundo... E depois expira devagar...

Então a francesa olhou fundo nos olhos dela e tentou seguir os comandos de Cosima.

Ela estava ali... bem diante de si; viva e bem. Não havia motivos para tanto desespero. Mas de alguma confiar apenas no sentido da visão não era o suficiente. Precisava senti-la.

Delphine apertou os pulsos da morena que ainda segurava seu rosto, de forma tal que conseguia sentir o coração dela pulsando sob suas digitais; a constatação da vida.

E assim aos poucos, seguindo o ritmo compassado da pulsação de Cosima, ela foi conseguindo voltar ao normal.


***Fim do aviso de gatilho***


– Está melhor? – a morena perguntou depois de alguns minutos ainda não entendendo ao certo o que tinha acontecido.

– Sim.

– Então vem, vamos levantar desse chão – falou ajudando a loira a se colocar de pé. – Tem certeza de que está bem?

– Sim, eu só... – Delphine murmurou se dando conta do estado deplorável que tinha ficado; a blusa colando no corpo, encharcada de lágrimas e suor. – Acho que preciso de um banho.

Enquanto Cosima preparava a água com os sais de banho, Delphine começou a se despir. Se duvidas ter o corpo submerso por aquele líquido morno e perfumado lhe ajudaria a relaxar um pouco mais.

– Por favor, não me deixe sozinha – a francesa pediu vendo a morena se afastar um pouco para guardar o frasco dentro do gabinete em baixo da pia.

– Eu não estou indo a lugar nenhum – Cosima garantiu ao voltar e se sentar na borda da banheira.

Elas se mantiveram em silêncio por alguns minutos. Agora Delphine já estava se sentindo mais calma e conseguindo controlar seus pensamentos um pouco melhor.

– Sabe... – a menor começou depois de alguns minutos. – Um senhor muito sábio certa vez disse a um menino que nós não devemos ter pena dos mortos.

– Mas não é dos mortos que eu tenho pena – Delphine falou olhando para baixo. – É dos vivos. Especialmente daqueles que são obrigados a viver sem o amor.

Embora ela não tenha dito com todas as letras, agora Cosima conseguiu entender; aquela crise não havia sido desencadeada apenas pela mistura destrutiva de luto com álcool. Tinha algo a bem maior por trás do descontrole de Delphine e ela tinha uma hipótese do que poderia ser.

– Ele também dizia que a felicidade pode ser encontrada até nas horas mais sombrias, se você se lembrar de ascender a luz – a morena completou sentindo o peso em suas palavras.

– O problema é que quando você se sente sozinho, é difícil até de se lembrar que existe uma luz.

– Então você vai precisar se esforçar para lembrar de que aqueles que nos amam nunca nos deixam de verdade.

Delphine era uma pessoa muito reservada, quanto a isso não havia dúvida. E quando pouco é dito com palavras, o que resta é tirar suas próprias conclusões e se atentar para aquilo que fica nas estrelinhas.

Mesmo antes de terem aquela conversa quando foram fazer o passeio na ilha, Cosima já desconfiava que os problemas familiares da francesa podiam ser um pouco mais complicados do que um mero desentendimento recorrente entre os pais, como ela mesma havia chegado a comentar logo que se conheceram. E de certa forma suas suspeitas se confirmaram.

Mas agora ouvindo ela falar daquele jeito... Com certeza Delphine já devia ter passado momentos muito sombrios em sua vida. Embora Cosima nunca tenha tido coragem de perguntar ou mesmo encontrado uma oportunidade propícia para abordar esse assunto, sabia que aquelas cicatrizes nos pulsos da loira – riscos retos praticamente apagados pelo que deviam já ser muitos anos – eram um indicativo disso.

Logo quando começaram a se relacionar, apesar de achar um pouco estranho, Cosima não deu muita bola para a ausência de Delphine nas redes sociais. Sim, ela tinha contas nos principais site, mas de certa forma elas eram impessoais demais, se é que isso faz algum sentido.

As fotos dela se resumiam a de perfil e mais uma ou outra relacionada a eventos de trabalho. Nada de festas em família ou ainda em momentos de lazer com os amigos. Até aí tudo bem, com o tempo ficou claro que a francesa não era do tipo que gosta de aparecer. Mas em todos esses meses, em ocasião nenhuma Cosima havia presenciado ela conversando, mandando mensagem ou mesmo comentando algum fato engraçado que tinha passado com algum amigo na França. E ali no Canadá, o círculo de convivência de Delphine era basicamente as pessoas que ela mesma havia apresentado; além da Sra. Smith, é claro...

A solidão é algo que ser humano nenhum gosta ou deseja, mas a francesa parecia ter um temor extra quanto a isso. Cosima gostaria de poder ter a certeza de que não iria permitir que Delphine se sentisse só no futuro.

O velório foi aconteceu durante a manhã seguinte. Tradicionalmente ela teria sido enterrada no final da tarde, mas Scott só queria colocar um fim àquilo tudo o quanto antes.

Cosima havia ficado ao lado dele praticamente todo o tempo, dando o apoio de que o amigo necessitava. Mesmo tudo tendo acontecido de forma tão repentina, ficou claro que a Sra. Smith era uma pessoa muito querida, pois foi grande a quantidade de amigos que apareceram para prestar suas condolências.

Apesar de já não estar se sentindo tão mal quanto na noite anterior, Delphine achou melhor se separar do cortejo quando a urna começou a ser preparada para a descida no jazigo. Sem que Cosima notasse – já que estava amparando Scott que havia voltado a chorar – a loira resolveu voltar para o carro enquanto o corpo era sepultado.

Uma caixa de madeira dentro de uma caixa de cimento...

Delphine não entendia como essa podia ainda ser a forma mais amplamente adotada para lidar com o que restava daqueles que morriam. A cremação, além de melhor para o planeta, era uma destinação bem digna ao ver dela. Além disso, manter os ossos de alguém guardados, lhe parecia uma forma bastante negacionista de encarar a vida. Por que não permitir que a matéria se transforme e retorne para a natureza?

Ainda se sentindo um pouco cansada da pela noite mal dormida, Delphine apoiou os braços dobrados sobre o volante e deitou a cabeça sobre eles. Apesar de não ser das posições mais confortáveis, por estar em um lugar tão calmo e silencioso sob a sombra de uma grande árvore, ela sentia que poderia ter pego no sono se não fosse pelo ruído de batidas na janela do lado do passageiro não muito tempo depois.

Reconhecendo Cosima com o corpo inclinado olhando para ela através do vidro, Delphine prontamente destravou as portas.

– Hey, você está bem? – a morena perguntou parecendo preocupada ao adentrar o carro. – Você sumiu de repente, eu pensei que talvez...

– Eu estou bem – Delphine se apressou em dizer. – Eu só não gosto muito de enterros. Pensei em avisar que estava vindo para o carro, mas não quis te incomodar.

– Ok – ela disse parecendo não muito convencida.

– Nós já podemos ir? O Scott não vem com a gente?

– Não, ele diz que vai ficar um pouco mais – Cosima informou. – Del, tem certeza que está tudo bem? Talvez seja melhor eu voltar dirigindo...

– Você dirigindo? – Delphine disse com um sorriso provocativo. – Não, acho que não...

– Meu pai só estava brincando, ok? A prova é que eu consegui minha carteira de motorista sem trapaça nenhuma – a morena se defendeu. – Além do mais o seu carro é automático...

– Eu acredito em você – Delphine falou pegando na mão dela. – Mas eu realmente estou bem.

– De verdade?

– Oui. Aquilo não vai acontecer de novo.

– Certo.

Nas últimas semanas ela haviam passado quase todo o tempo no apartamento de Delphine, e a pedido dela, concordaram em ir para a casa de Cosima dessa vez. Aquele lugar certamente era bem mais cheio de vida com suas paredes cobertas de grafite e decorações alternativas por todos os lados, embora que com Felix viajando ele ficasse bastante incompleto.

Buscando por um pouco de distração e divertimento, Delphine foi diretamente para a cozinha. Uma boa dose de açúcar sempre ajudava em dias como aquele e uma fornada de cupcakes já devia ser o suficiente.

A loira gostava de companhia em muitas circunstâncias, mas depois de algumas tentativas de ajudá-la saindo bastante frustradas, Cosima já havia percebido que quando ela estava cozinhando, talvez fosse melhor não ficar por perto. Com isso, ela achou melhor esperar na sala. Tentou achar algo para fazer e matar um pouco de tempo, mas nada parecia bom o suficiente.

Foi então que ela notou seu antigo violão esquecido em um canto. Se levantou e foi caminhando em direção ao instrumento. Uma fina camada de poeira o cobria, indicando que mais uma vez Felix havia conseguido burlar com sucesso sua parte na divisão das tarefas domésticas. Ela espantou um pouco do pó o assoprando, coisa que acabou lhe provocando uma crise de tosse.

Depois de tanto tempo, Cosima até estranhou um pouco a sensação de ter o instrumento em mãos. Sinceramente ela nem se lembrava exatamente qual era o motivo que a fez parar de tocar. Provavelmente deviam ter sido as semanas com provas impossíveis seguidas de entregas de trabalhos ainda mais desgastantes que a fizeram ir se afastando aos poucos do que já tinha sido um de seus hobbies favoritos.

Era engraçado e cruel ao mesmo tempo como a correria do dia-a-dia pode fazer com que a gente esqueça de pequenos detalhes que tem o poder de nos fazer sentir melhor. Cosima arriscou uma nota, mas o som que conseguiu não foi nada agradável aos ouvidos. Fez o melhor que conseguiu para afinar o instrumento sem auxílio de nenhum equipamento e ficou relativamente contente com o resultado que obteve.

Assim, de forma instintiva, começou a dedilhar uma melodia que por acaso ela ainda não tinha se esquecido.


A fire burns / Uma fogueira queima

Water comes / A água vem

You cool me down / Você me acalma

When I'm cold inside / Quando estou fria por dentro

You are warm and bright / Você é quente e brilhante

You know you are so good for me / Você sabe o quanto é boa para mim

With your child eyes / Com seus olhos de criança

You are more than you seem / Você é mais do que parece

You see into space / Você vê no espaço

I see in your face / Eu vejo no seu rosto

The places you're been / Os lugares por onde você já passou

The things you have learned / As coisas que você aprendeu

They sit with you so beautifully / Elas se encaixam em você lindamente


Com o canto dos olhos, Cosima viu Delphine se aproximar, mas mesmo assim continuou concentrada na canção.


You know there's no need to hide away / Você sabe que não precisa se esconder

You know I tell the truth / Você sabe que eu falo sério

We are just the same / Nós somos iguais

I can feel everthing you do / Eu posso sentir tudo o que você sente

Hear everthing you say / Ouvir tudo o que diz

Even when you're milles away / Mesmo quando está a milhas de distância

'Coz I am me, the universe and you / Porque eu sou eu, o universo e você


Just like stars burning bright / Assim com as estrelas brilhantes

Making holes in the night / Fazendo buracos na noite

We are building bridges / Nós estamos construindo pontes


When you're on your own / Quando você estiver totalmente sozinha

I'll send you a sign / Eu te enviarei um sinal

Just so you know / Para que você saiba

I am me, the universe and you / Eu sou eu, o universo e você


– Acho que não era exagero da sua mãe – Delphine constatou depois da morena finalizar o último acorde. – Parece que não é só pra música eletrônica que você leva jeito.

– Eu tô enferrujada – Cosima admitiu sorrindo constrangida. – Você já terminou?

– A cobertura já está esfriando, agora é só esperar a massa terminar de assar.

Delphine já estava com a aparência bem mais relaxada do que quando chegaram do velório; sua blusa inclusive, estava ligeiramente suja de farinha, que ela só bateu a mão para espantar o pó quando percebeu. Cosima fez menção de se levantar, mas então a loira a impediu pousando a mão sobre sua perna.

– Non, toca mais uma – Delphine pediu. – Eu gosto da sua voz. Sabe, da última vez eu não consegui aproveitar como devia...

Cosima riu, se lembrando do fatídico dia em que elas tinham cantado no karaokê organizado pela igreja de Alison.

Definitivamente um dia inesquecível.

– Você tem alguma sugestão? – a morena inqueriu.

– Hmm – Delphine fez pensando por um instante. – Você conhece a "Home", da Gabrielle Aplin?

– Claro – Cosima respondeu. – Só não tenho certeza se ainda me lembro exatamente como se toca, mas eu posso tentar.

A morena já tinha arriscado as primeiras notas quando foi interrompida por alguém batendo na porta. Então ela parou de tocar e trocou olhares com a namorada.

– Você está esperando alguém? – Delphine perguntou.

– Não – a menor respondeu dando os ombros. – Deve ser a Alison.

Deixando o violão no chão apoiado no sofá ela se levantou e foi ver quem era. Chegando mais próxima da porta ela conseguiu ouvir um choro de bebê do lado de fora.

– Sarah? – Cosima diz ao atender a porta.

– Essa criança me odeia, não é possível.

Sem nenhuma cerimônia, Sarah entrou no apartamento e deixo uma Kira que ainda chorava nos braços de Cosima sem que ela nem ao menos estivesse esperando por isso.

– O que aconteceu? – Cosima perguntou tentando encontrar uma forma adequada para segurar o bebê.

– Eu não estou entendendo... Ela é sempre tão calminha! – Sarah disse enquanto deixava a bolsa da criança em um lugar qualquer e se jogava em uma poltrona. – Têm mais de uma semana que a S precisou ir pra Londres resolver uns problemas com o pessoal dela e de uns dias pra cá a Kira simplesmente não para de chorar!

A essa altura Delphine também já tinha se levantado e se aproximado da namorada.

– Del, pega ela... – Cosima disse entregando o bebê para a loira. – Você é muito fofa Kira, mas eu não quero te machucar.

– Cadê o Fe? – Sarah perguntou.

– O Felix também não está na cidade... – Cosima respondeu. – Ele não te contou?

– Ah, maravilha! Minha família inteira me abandonou – Sarah resmungou se afundando ainda mais no assento e parecendo bastante cansada. – Eu não sei mais o que eu faço... Troco frauda, dou de mamar, faço ela dormir... Mas é só acordar que ela abre o berreiro de novo!

Delphine havia voltado a se sentar no sofá, aconchegando a menina no colo, que agora já parecia estar um pouco mais calma.

– Ela pode ainda estar sentindo cólicas – Cosima sugeriu. – Ou então estar com saudades da vó...

– Não acho que seja o caso – Delphine disse olhando para criança. – Sarah, você já viu isso?

– O quê? – Sarah falou indo até a francesa que delicadamente puxou o lábio inferior de Kira para baixou, deixando sua boquinha um pouco mais exposta. – Isso aí é um dente!?

Olhando com mais de perto, era possível ver um fino tracinho branco cavando espaço na gengiva da criança.

– É sim – Delphine respondeu.

– Mas como pode isso? Ela só tem 4 meses!

– Na verdade, Sarah, – Cosima começou – não é tão absurdo assim. É comum que a dentição primaria comece nessa idade mesmo. Além disso, alguns bebês até já nascem com dentes.

– Exatamente – Delphine confirmou. – E isso explica o porquê dela tem ficado tão chorona. Quando os dentes começam a crescer é normal que o bebê fique mais irritado e desconfortável. Pode até ter um pouco de febre.

– Droga, eu sou uma péssima mãe – Sarah disse voltando para a poltrona. – Os dentes da minha filha começaram a nascer e eu nem percebi...

– Você não é uma péssima mãe e eu tenho certeza que a Kira não te odeia – Cosima disse a encorajando. – Pelo que eu já ouvi falar, não é raro que os pais não sejam os primeiros a notar o começo do crescimento dos dentes dos filhos. E você também não tem muita experiência com crianças ainda, mas isso se resolve com o tempo.

Sarah olhou bem pra ela tentando processar o que Cosima tinha dito. Mas sinceramente, vendo a mudança de comportamento de Kira, era até difícil de acreditar nas palavras dela. Elas mal haviam chegado e a criança não só tinha parado de chorar, como também mordia tranquilamente os dedinhos enquanto era embalada pelos braços de Delphine. A francesa, até onde ela sabia, também não tinha experiência cuidado de bebês e mesmo assim parecia perfeita naquela posição.

– Cosima, você pode olhar os cupcakes pra mim? – Delphine pediu sem desgrudar os olhos de Kira e enquanto fazia caretas para distrair a criança, que agora já ria relaxada. – Eles devem estar no ponto certo.

– Claro.

– A cobertura está na panela em cima do fogão.

A morena vacilou por um instante antes de ir para a cozinha.

Delphine, que era sempre tão sistemática – e porque não dizer dominante – com suas produções gastronómicas, realmente estava lhe pedindo para terminar sua receita?

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