Não é Tão Ruim Assim
*** Dias depois ***
Deitada no sofá com o computador apoiado sobre si, Cosima não estava vendo o tempo passar enquanto lia compenetrada alguns artigos científicos. Era o primeiro dia que ela tinha voltado a se sentir razoavelmente bem depois de sua segunda sessão de quimioterapia e ela tinha urgência de recuperar o tempo perdido. Em tempos de globalização e internet, as informações nunca paravam de surgir; e se ficar longe do laboratório fosse algo relativamente aceitável – visto suas condições de saúde – ficar desatualizada quanto aos avanços da ciência, jamais.
Cosima já estava terminando de ler a conclusão de um estudo feito por pesquisadores de Oxford quando começou a ouvir vozes agitadas subindo pelas escadas.
– Ah, Cosima! – Felix disse ao entrar em casa. – Que bom que você ainda está aqui!
Vendo que o amigo estava acompanhado, a morena prontamente fechou o notebook e se sentou.
– Essa é Adele, minha irmã biológica!
Desde que voltou de Nova Iorque, Felix vinha mantendo contato diário com a nova irmã e já tinha até dito que ela viria visitá-lo um dia e se ela poderia ficar no apartamento deles. Obviamente Cosima não viu problemas e estava feliz em saber que o rapaz não tinha se decepcionado com o encontro dos dois, muito pelo contrário, estava mais empolgado do que nunca. O que ela não esperava que essa visita fosse acontecer assim em tão pouco tempo.
– Oi Cosima! – a moça disse vindo em direção a ela. – O Felix já me contou tudo sobre você!
– Ah, oi Adele. – Cosima franziu o cenho, se perguntando o quanto aquele "tudo" dela significava. – Que surpresa...
Adele era alta e esguia. Enquanto vinha em sua direção para cumprimentá-la, Cosima reparou que embora tivesse os cabelos em um tom acobreado, era bastante visível que ela e Felix tinha um grau de parentesco próximo.
– Desculpa, eu devia ter te avisado antes – disse Felix. – Mas é que ela não tinha certeza se ia poder vir mesmo, e você não esteve bem nos últimos dias, então eu não quis te incomodar com esse assunto.
– Não tem problema nenhum, que bom que você veio, Adele – Cosima assegurou. – Eu fico muito feliz que vocês tenham se encontrado e se dado tão bem.
Depois de alguns minutos de conversa, Cosima achou melhor voltar para seu quarto e deixar os dois irmãos desfrutarem melhor da companhia um do outro. Ela estava realmente impressionada com o quanto de intimidade eles já haviam alcançado apesar do curto período desde de que tinham se encontrado pela primeira vez.
Embora tivesse tentado agir com naturalidade, um outro motivo pelo qual a morena decidiu se recolher, era que ela ainda não estava se sentindo assim tão bem e o mais leve cheiro de álcool sendo exalado por Felix e Adele enquanto bebiam mimosas ao seu lado já estava fazendo com que seu estômago voltasse a revirar.
Ela entrou no banheiro, passou um pouco de água gelada no rosto e se encarou no espelho. O tratamento só estava no começo e mesmo assim os sintomas inconvenientes já estavam vindo para ficar. Sua pele estava em uma tonalidade doentia e seus lábios anormalmente ressecados. Então como se para relembrá-la do motivo de precisar estar passando por tudo aquilo, Cosima começou a tossir e imediatamente um gosto ferroso lhe veio na boca.
Achando que seria melhor tomar um banho e ir descansar um pouco, ela começou a prender os dreads em um coque para que não ficassem molhados. Porém conforme começou manuseá-los, os puxando para que ficassem bem presos no topo da cabeça, sentiu que algo não estava certo.
Cosima se debruçou sobre a bancada e aproximou o rosto do espelho. Olhando mais atentamente ela pode perceber que uma parte considerável da raiz de seus cabelos já havia se soltado e alguns dos dreads estavam presos por alguns poucos fios.
Desde que começou a receber as sessões de quimio ela já sabia que mais cedo ou mais tarde aquilo acabaria acontecendo e na medida do possível já foi tentando se preparar psicologicamente para quando o momento chegasse. E agora que havia chagado, não tinha motivos para fazer disso um grande drama.
Não querendo mais adiar o que seria inadiável, Cosima voltou para o quarto e abriu uma das gavetas da escrivaninha tirando uma tesoura de lá dentro. De volta no banheiro, ela parou de uma forma que pudesse ter um bom reflexo no espelho para o que estava a fazer.
Segurou um dos dreads que ficavam um pouco acima da orelha esquerda com uma mão e com a outra, aproximou a tesoura cortando o mais próximo que conseguiu do couro cabeludo. A mecha de cabelo se soltou entre seus dedos e ela a depositou delicadamente sobre a bancada ao lado da pia.
Então ela ficou ali por alguns instantes, parada encarando aqueles fios emaranhados castanho escuro contrastando com o tom claro da bancada. Por incrível que pudesse parecer, ela não estava se sentindo nem um décimo tão mal em relação àquilo quanto havia previsto que estaria meses atrás.
De repente, depois de tudo que já havia passado, Cosima percebeu que aquilo realmente não tinha importância nenhuma. Um sorriso sereno tomou seus lábios e ela deu prosseguimento ao que tinha começado.
Dread a dread; fio a fio ela foi cortando todo o cabelo e dispondo as mechas de forma organizada sobre a bancada. E sinceramente, em pouco tempo ela ficou surpresa com o volume que eles ocuparam. Há anos que não cortava o cabelo e ver tudo aquilo desgrudado de seu corpo foi no mínimo surpreendente.
Quando já estava quase terminando seu serviço, Cosima ouviu alguém entrando em seu quarto.
– Cosima?
– Eu estou aqui! – ela respondeu de onde estava.
Instantes depois, Delphine apareceu na porta do banheiro e frente a cena com que se deparou, não conseguiu deixar de ficar espantada. Obviamente Cosima percebeu, mas não poderia culpá-la. Talvez como forma de dar a ela um pouco mais de tempo para processar, decidiu lhe fazer um pedido.
– Del, você por ir pedir ao Felix o barbeador dele emprestado para que eu possa terminar isso, por favor?
Delphine pareceu hesitar por um segundo.
– Claro – a loira disse por fim. – Eu já volto.
Então Cosima prosseguiu cortando os dreads, e quando a francesa retornou, todo o cabelo já estava devidamente preso por um elástico e ajeitado sobre o balcão.
– Você está bem? – Delphine perguntou parando ao lado dela.
– Sim – a morena garantiu se virando para a namorada. – Quer dizer, é só cabelo. Certo?
– Exatamente – a loira confirmou. – Só cabelo.
– Você me ajuda a terminar com isso? – Cosima falou olhando para o barbeador elétrico na mão dela.
Delphine deu uma boa olhada no aparelho antes de apertar o botão e ligar o motor que espalhou seu barulho pelo banheiro.
– Acho melhor você se inclinar um pouco – ela pediu voltando a olhar para morena.
Cosima se debruçou, apoiando os cotovelos sobre bancada e deixando a face bem por cima da pia, para que então Delphine desse início ao processo de deixar a pele da cabeça dela ainda mais despida e lisa.
Não foi algo muito demorado, e quando terminou, elas fizeram seu melhor para tentar espanar aqueles cabelinhos chatos que ficam grudados na gente quando são cortados.
– E então? – Delphine falou deixando a maquininha de lado. – O que me diz?
– Bom...
Virando o rosto em todas direções e testando os mais diversos ângulos, Cosima tentou se acostumar com a imagem que via refletida de frente a si.
– Cara... – ela expressou depois de alguns segundos. – Agora eu tô ainda mais parecida com o meu pai...
– E isso é um problema? – Delphine perguntou não conseguindo conter o riso frente a expressão frustrada da morena.
– É brochante!
Agora rindo ainda mais, a loira abraçou Cosima por trás e ligou seus olhares através do reflexo no espelho.
– Olha só... com todo respeito ao seu pai, mas... – disse Delphine. – Eu não acho que você está nem um pouco brochante.
Apesar da reação um tanto exageradamente positiva de Felix e Adele – que visivelmente já não estavam mais sóbrios – Cosima não se chateou com o excesso de atenção que recebeu dos dois reforçando sobre o quão bem ela tinha ficado com aquele novo corte de cabelo. Ou mais precisamente, com a ausência do cabelo.
O que mais a deixou para baixo foi o momento em que se reuniram ao redor da mesa para o jantar. Enquanto todos faziam seus pratos e comiam com vontade, ela só fazia ficar mexendo a comida de um lado para outro com o garfo, praticamente não conseguindo colocar nada para dentro.
Percebendo que Delphine já estava ficando desconfortável com aquela situação, Cosima deu uma desculpa qualquer sobre estar se sentido cansada e foi mais cedo para o quarto.
A francesa insistia que ela precisa comer para que sua saúde não ficasse ainda mais fragilizada, se oferecia para cozinhar seja lá o que fosse que ela tivesse vontade. Mas nada disso adiantava. Além de deixar seu estômago embrulhado, qualquer comida que fossem sempre tinha um gosto horrível e a deixava com a sensação de ter comigo uma inteira caixa de pregos depois das refeições. Esperava que os suplementos vitamínicos que a nutricionista lhe havia prescrito fossem o suficiente para não deixá-la com deficiência de nenhum nutriente importante.
Cosima se deitou na cama de costas para a porta e só notou a chegada de Delphine quando sentiu o colchão cedendo um pouco sob o peso dela. Ao se virar para olhá-la, a encontrou sentada segurando um copo de suco nas mãos.
– Tenta tomar isso pelo menos – a loira disse lhe entregando a bebida. – Eu acabei de fazer, é de laranja com gengibre. Está bem gelado.
Os líquidos não tinham o gosto muito mais agradável que os alimentos sólidos, mas pelo menos ela não tinha a árdua tarefa de precisar mastigar. Uma outra vantagem era que a sensação gelada ajudava a aliviar um pouco o ressecado de sua boca e o desconforto em seu estômago, mesmo que isso durasse por pouco tempo.
Com o preço de um dia exaustivo de trabalho começando a ser cobrado, Delphine se deitou de lado na cama enquanto a observava. Assim que terminou de beber, Cosima deixou o copo vazio sobre a mesa de cabeceira e também voltou a se aninhar no colchão, dessa vez com o rosto voltado para a namorada.
E dessa forma elas ficaram por um longo tempo. Eventualmente a mais baixa puxou a mão da francesa e começou a brincar enlaçando seus dedos. O silêncio há muito já não era um problema entre elas; de certa forma pareciam estar sempre conectadas, mesmo na ausência de palavras.
Porém Delphine sabia que apesar das brincadeiras, o que havia acontecido horas antes fora um marco importante no tratamento de Cosima, e pela forma com que ela parecia perdida em devaneios, teve vontade de verificar se realmente estava tudo bem.
– Hey – a loira chamou a atenção para si. – No que você está pensando?
– Bom... Em como nossos sentidos não são muito confiáveis.
Percebendo que Delphine não tinha entendido ao que ela se referia, Cosima se deu conta de que precisaria se explicar melhor.
– Eu estou vendo você, te tocando e os meus olhos e minha pele me dizem que é tudo matéria sólida e nesse momento por exemplo, está estática – ela explicou ainda brincando com suas mãos. – Mas na verdade você, e todo o resto do mundo também, é composto em sua maior parte por espaços vazios. Somos feitos de átomos e a maior parte desses átomos, a eletrosfera, é um grande espaço vazio com alguns elétrons constantemente em movimento e agitados orbitando um pequeno núcleo mais maciço. Tenho a impressão de estar encostando em você, mas as partículas que me compõe nem sequer tocam as suas realmente; o campo eletromagnético delas se repelem.
Delphine ficou a admirando enquanto ela falava. Cosima não cansava de surpreendê-la. Reflexões sobre mecânica quântica não era bem o que ela teria previsto para uma situação como aquela.
– É bem contraintuitivo – Cosima continuou. – E até um pouco cruel por parte da natureza, se você for ver...
– Casa comigo – Delphine disse espontaneamente.
– O quê?? – Cosima perguntou rindo como se não acreditasse no que tinha escutado.
– Casa comigo – a loira repetiu.
– Você tá falando sério?
– Nunca falei tão sério.
– Não posso – ela respondeu mantendo o tom espirituoso. – Você é bonita demais e jovem demais pra ficar viúva.
– Cosima... Eu entendo que as coisas não estão fáceis. Mas o tratamento vai funcionar dessa vez, eu sei disso – Delphine falou segurando o rosto dela. – Além disso, nós já estamos praticamente morando juntas de qualquer forma.
Então o sorriso foi aos poucos se esvaindo dos lábios de Cosima. Ela puxou a mão da francesa e a beijou de olhos fechados, para então abri-los novamente e focar naquelas grandes íris âmbar.
O momento exigia que ela falasse sério.
– Del... Eu não posso te responder isso agora – ela disse com dificuldade vendo a loira desviar o olhar. – Hey, escuta. Delphine, olha pra mim.
Ela fez o que lhe foi pedido, porém agora lágrimas começavam a embaçar sua visão.
– Isso não é um "não" definitivo – Cosima prosseguiu. – Só eu sei o tanto de vezes que eu já me peguei sonhando com isso. E esse é justamente o motivo pelo qual eu quero que seja tudo perfeito; quero poder participar de cada uma das etapas e planejar tudo junto com você. Mas agora não consigo nem passar o dia lendo deitada no sofá sem me sentir exausta por isso. No dia em que eu estiver livre dessa merda de câncer... No dia em que eu estiver oficialmente curada nós voltamos a falar sobre isso. Pode ser assim?
Delphine demorou um instante, mas por fim acabou anuindo com a cabeça.
– Você consegue me entender? – Cosima questionou sentindo o coração apertado.
– Oui. – A francesa enxugou os olhos – Eu entendo.
– Obrigada.
Como se para ajudá-las a deixar aquela conversa realmente de lado, o celular de Delphine começou a tocar e ela precisou se levantar para atendê-lo. Ao olhar para a tela e ver quem estava ligando não pode deixar de se preocupar.
– Colin?
– Oi Delphine – o rapaz respondeu com a voz preocupada. – Você tá podendo falar?
– Claro. – Ela passou a mão na cabeça ficando aflita. – Aconteceu alguma coisa?
– É, aconteceu sim. Você tinha me pedido para te avisar caso uma das suas pacientes chegasse aqui. E, bom...
Enquanto ele falava, a francesa despertou para a única coisa que aquilo podia significar. Então rapidamente ela se adiantou para ligar o computador de Cosima com o telefone preso entre a orelha e o ombro.
– Jennifer Fitzsimmons deu estrada essa tarde – continuou Colin. – A causa da morte: Falência múltipla dos órgãos causada por complicações de um Adenocarcinoma.
Só pode ser brincadeira, ela pensou consigo mesma.
Delphine desconectou do notebook do carregador e levou até a cama para que Cosima entrasse com a senha. Com o bloqueio liberado, ela colocou a chamada no viva-voz e rapidamente tentou acessar o portal da pesquisa.
– Olha só, Delphine... Você pode confiar em mim, ok? Eu sei que tem alguma coisa bem errada nessa história.
– E o que te faz pensar assim? – ela falou mais para ganhar algum tempo do que qualquer outra coisa.
– Ah, por favor, não insulte minha inteligência. – Apesar das palavras, ele estava mais consternado do que realmente bravo. – Duas pacientes que vieram a óbito pelo mesmo motivo, e motivo esse que não é usual para o tipo de diagnóstico prévio que elas tinham? Sem contar que elas foram apagadas do sistema, o que vai contra os procedimentos oficiais...
– A Srta. Fitzsimmons também foi retirada dos arquivos digitais?
– Sim.
E não só dos arquivos do necrotério. Ela não ficou nem um pouco surpresa ao entrar no sistema do Dyad e não encontrar nenhum vestígio de Jennifer.
– Você tem razão Colin – ela desabafou encarando a tela. – Tem algo muito errado nessa história, mas eu não sei muito mais sobre isso do que você.
– Do quê vocês estão falando? – Cosima perguntou intrigada.
Delphine apenas levantou a mão pedindo silêncio e continuou a conversa com o rapaz.
– Você foi o responsável pela autópsia dessa vez?
– Não – ele respondeu. – Eu deveria, só que o outro legista que reveza os turnos comigo chegou junto com o corpo e tomou a frente dos procedimentos. Nós quase chegamos a discutir por conta disso, mas o meu supervisor ligou minutos depois, me disse meia dúzia de coisas que não fazem sentido nenhum e no final a mensagem era de que eu não devia me intrometer.
– O corpo já foi levado? – Delphine questionou. – Se me lembro bem ela era americana...
– Não, pelo que eu entendi a família dela vai chegar pela manhã para cuidar dos trâmites legais.
– O seu colega ainda está aí?
– Também não; foi embora assim que terminou a autópsia. Eu estou sozinho.
A francesa parou por um instante e prendeu o lábio inferior entre os dentes. Olhou para Cosima e percebeu que ela estava completamente perdida na conversa dos dois.
– Colin, eu sei que já te pedi coisa demais, mas... Será que você pode me conseguir algumas amostras de sangue da Jennifer?
– Claro, eu estava pensando inclusive em refazer a avaliação do corpo dela...
– Não – Delphine o interrompeu. – Não acho que seja uma boa ideia. Você poderia acabar sendo pego no flagra e se complicando por causa disso. É melhor não se arriscar tanto.
– Ok. Então eu faço as amostras e te entrego amanhã cedo quando terminar meu expediente. Onde posso te encontrar?
– Vou passar a noite na casa do Felix e da Cosima. Mas posso ir até você se preferir...
– Não precisa, pode deixar que eu passo aí – disse ele. – Aproveito e já vejo o Fee também.
– Certo.
– Bom, até amanhã então.
– Até amanhã – a loira retribuiu. – E obrigada pela ajuda.
Desligando o celular, Delphine voltou a se deitar na cama e esfregou o rosto com as mãos.
– Será que agora você pode me explicar o que está acontecendo? – Cosima pediu.
– Oui – ela disse se virando para a namorada. – Eu preferi não te contar antes porque tudo começou justamente na época em que você não estava indo muito bem e eu não quis te trazer mais um problema.
A francesa parou por um segundo tentando pensar na melhor forma de resumir a história.
– Eu comentei com você que duas das minhas pacientes já tinham falecido. Uma delas a garotinha, Aisha.
– Sim – Cosima disse ajeitando os óculos.
– Acontece que as circunstâncias foram muito suspeitas – prosseguiu Delphine. – Eu não recebi nenhum comunicado oficial do Dyad, mesmo que eles soubessem do que havia acontecido, porque elas foram simplesmente apagadas do sistema.
– Ok...
– Eu tentei conseguir maiores informações sobre o caso da Mirian, mas fui literalmente censurada. Por isso quando desconfie que algo pudesse ter acontecido com a Aisha, procurei o Colin para tentar saber de alguma. Foi então que a coisa ficou ainda mais estranha; até mesmo no necrotério houve uma espécie de queima de arquivo – Delphine suspirou e, inquieta, se sentou. – Agora isso! Outra morte, com um relatório praticamente igual ao da Aisha, o que não faz o menor sentido clínico. Para um câncer causar falência múltipla dos órgãos ele precisa estar em um estágio terminal, o que definitivamente não era o caso de nenhuma delas.
– Certo, então você acha que o Dyad pode ser o culpado pela morte delas?
– Eu tenho certeza disso! – a loira afirmou. – Só não tenho como provar ainda. A Aisha me contou que ia até a sede do instituto receber o que ela chamou de "água mágica". Obviamente foi um ato falho dela e eu não deveria ter ficado sabendo desse detalhe.
– Estava nas cláusulas do contrato que as pacientes não deveriam ficar saber da relação da pesquisa com o Dyad.
– Exatamente.
– E você não teria como pressioná-los por mais informações? – sugeriu Cosima. – Sei lá, ameaçá-los ou algo do tipo?
– O contrato me deixa de mãos atadas – Delphine explicou. – Da minha parte da pesquisa não há nada de errado e como eu disse, até agora eu não tenho nenhuma prova para incriminá-los. Essa gente é desumana, Cosima. Você precisava ter visto como eles reagiram quando eu demandei que você fosse retirada do experimento.
– Tem razão, não tem como legalmente fazer nada contra eles por enquanto – ela concluiu. – Até porque eles poderiam tentar contra atacar com aquela história de você e seu irmão invadirem as contas pessoais do Dr. Nealon.
– Ah, nem me lembre disso... – a loira falou passando as mãos sobre os olhos fechados.
– Então acho que nós vamos ter que investigar isso por conta própria.
– Só não sei muito bem como fazer isso – Delphine confessou. – Quer dizer, o Colin vai conseguir as amostras da Jennifer pra mim, mas muita coisa é perdida poucas horas depois do falecimento, ainda mais em condições não ideais de conservação. Se eu não encontrar nada...
– Não pensa nisso agora, ok? – Cosima falou colocando a mão sobre a perna dela. – Nós vamos dar um jeito de descobrir.
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