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É isto um sonho?


 – Será que já tá pronto? – Oscar ficou na ponta dos pés para conseguir ver melhor dentro da panela.

– É, eu acho que já está bom sim – Cosima respondeu conferindo a mistura que fervia no fogão. – Agora se afasta um pouco. Isso tá muito quente e você pode se queimar.

Então ela desligou o fogo e despejou o líquido em uma peneira que já havia sido previamente preparada.

– Aqui está! – Cosima comunicou afastando o rosto para evitar que as lentes dos óculos ficassem embaçadas com a fumaça. – Seu chá de repolho está pronto!

– Não acho que isso vai ser muito gostoso... – o garoto comentou olhando para o líquido roxo que escorria do funil para dentro de uma garrafa transparente.

– Nem eu – ela riu achando graça do apontamento dele. – Mas ninguém precisar beber, então acho que isso não vai ser um problema.

Dito isso, ela se livrou dos restos de folhas cozidas, pegou um copo de vidro de dentro do armário e então buscou o frasco de vinagre dentro da geladeira.

– Vamos lá, coloca um pouco de vinagre dentro do copo – Cosima instruiu e assim o menino o fez.

Por ainda estar bastante quente, Cosima achou melhor ela mesma despejar a água de repolho para fazer a mistura. Conforme foi derramando o líquido e a mistura rapidamente mudou de cor, os olhos de Oscar foram ficando cada vez mais arregalados.

– Wow! – o menino expressou com notável empolgação. – Ficou vermelho!

– É isso aí! – Cosima disse sorrindo frente à alegria do garoto. – E você se lembra o que significa a cor vermelha?

– Hmm... – ele fez parando para pensar por um instante. – Ácido?

– Exatamente – ela confirmou levantando a mão em high five para ele. – Você pode usar o que quiser, detergente, açúcar, suco de limão... Vale até pegar algumas coisas lá da Bubbles, mas não conte à sua mãe que eu disse isso.

– Tudo bem. – Oscar riu. – Valeu pela ajuda, tia Cosima!

– Tia? – ela questionou franzindo o cenho. – Pensei que hoje eu fosse sua parceira de laboratório...

– É mesmo – o garoto se corrigiu. – Valeu parceira!

– Assim está melhor. E não há de quê, parceiro!

Depois disso, Cosima deu uma breve ajeitada na bagunça que eles tinham feito.

– Vamos lá pra sala – ela disse apoiando a mão no ombro do menino. – Sua mãe já deve estar vindo buscar vocês.

Tão logo os dois colocaram os pés para fora da cozinha, o que viram surpreendeu Cosima – porém não muito.

Gema estava de pé em cima do sofá, vestindo uma camisa masculina grande o suficiente para lhe cobrir até abaixo dos joelhos enquanto Felix riscava costeletas com um lápis de olho em seu rosto.

– Você sabe que a Alison vai te matar por isso, né? – Cosima alertou o amigo em tom de brincadeira.

– Ela deixou o Oscar pra você ensinar ele como pode... – o rapaz disse com um sorriso sarcástico. – O que a fez pensar que eu também não iria dar a minha pequena contribuição com a Gema?

Antes que Cosima pudesse dizer mais qualquer coisa, a porta de entrada se abriu dando passagem à Alison.

– Meu Deus, Gema! – ela exclamou paralisando por uma fração de segundo.

– Olha mamãe! – a menina soltou orgulhosa. – Eu sou um Drag King!

– Não, você não é! – Alison rebateu caminhando a passos apressados até a filha. – Felix, o que significa isso?

– Isso é arte, querida.

– Ah, com certeza é arte! E uma arte das grandes! – ela disse de forma frustrada tentando retirar a maquiagem esfregando os dedos no rosto da menina, mas só conseguindo fazer uma sujeira ainda maior. – Anda logo, me dá alguma coisa pra limpar isso! O Donnie já está esperando, eles vão se atrasar pra aula de karatê!

Naquele dia mais cedo Alison havia perguntado à Cosima se ela não poderia dar algumas dicas para Oscar de como fazer seu projeto para a feira de ciências da escola que aconteceria dentro de poucos dias. O menino se recusava a repetir o vulcão de bicabornato do ano anterior e a mãe estava encontrando dificuldades em ajudá-lo com aquilo.

Sem motivos para declinar o pedido, o que teria sido apenas alguns minutos de conversa com o garoto para dar algumas ideias do que ele poderia fazer, acabou com Cosima e Oscar na cozinha colocando a experiência em prática. Ao contrário do completo desastre que ela era com os bebês, geralmente se dava muito bem com crianças mais velhas, aquelas com quem ela conseguia desenvolver pelo menos algum nível de diálogo.

Talvez por ter despertado as boas lembranças do que tinham sido suas primeiras descobertas científicas na infância, Cosima estava se sentindo supreendentemente bem naquele sábado.

Desde que saiu da casa de Delphine uma semana antes, ela tinha ficado ainda pior do que já estava acostumada; nem tanto no aspecto físico, mas no mental. Simplesmente não conseguia se perdoar pela reação que seu corpo havia tido na presença da namorada e a vergonha pelo que tinha acontecido funcionou apenas para deprimi-la ainda mais.

Desde aquele dia elas pouco tinham se falado, e apesar da loira ainda parecer bastante preocupada e querendo saber o real motivo do afastamento, respeitou o espaço de Cosima e agora naquela mesma madrugada, a francesa havia viajado para enfim encontrar sua mãe em Montreal.

Depois de muito ralhar com Felix sobre o que ele tinha feito com Gema, Alison desceu com as crianças para então retornar sozinha. Donnie os levaria para aula e seguiria para o campo de golfe, onde iria passar o resto da tarde com os amigos. Como a Bubbles já havia sido fechada, ela decidiu esperar com Felix e Cosima até dar o horário de ir buscar os filhos. Entre as muitas características marcantes de Alison, estava o quão dedicada ela era à família e aos amigos, e com Cosima ficando por mais tempo em casa, ela também tinha se tornado mais presente.

Felix e Ali juntos era a fórmula perfeita para uma conversa longa e estimulante, e por mais que geralmente não conseguisse se envolver muito nos assuntos deles, Cosima já se sentia bem só de em ficar em silêncio ouvindo os dois.

Em determinado ponto da conversa, Felix deixou as duas a sós para ir até a cozinha preparar um pouco de chá para eles. Nesse meio tempo, inesperadamente Sarah chegou trazendo Kira consigo. Era impressionante o quanto aquela menininha vinha crescendo, parecia estar maior a cada vez que a via. A essa altura os colos dos adultos já não lhe eram tão bem vindos, ela preferia sempre ir pro chão explorar as imediações engatinhando.

– Quando a Gema chegou pra mim ela tinha mais ou menos essa idade – Alison disse sentada no tapete da sala ao lado de Kira. – Eu tenho tanta saudade dessa fase... Teria até coragem de começar de novo se não soube o tanto que eu já quase fico louca com aqueles dois...

– Ah, valeu por isso – Sarah ironizou. – Realmente muito motivador.

– Mas eu não estou reclamando. O trabalho todo compensa – Alison exclareceu impedindo que Kira alcançasse um copo de vidro que estava sobre a mesa de centro. – E você Cosima?

– O que tem eu? – ela falou ajeitando os óculos no rosto.

– Quando vai entrar pro time das mamães?

– Wow, não! Não, sem chances. Vou ficar de fora dessa – Cosima falou mudando de posição demonstrando bastante incomodo. – Continuar sendo tia dos filhos de vocês já é bom o suficiente pra mim.

– Mas e a Delphine? – Alison insistiu. – Ela não quer ser mãe?

– Bom, eu não sei... Acho que está um pouco cedo pra gente conversar sobre isso.

– E por falar na francesa – Sarah interrompeu mudando de assunto. – Cadê ela?

– Ela viajou – Cosima exclareceu. – Vai passar o final de semana em Montreal.

Hey, já está pronto! – Felix gritou da cozinha. – Mas eu não ou levar aí pra vocês!

No mesmo momento Cosima se levantou. O amigo parecia sempre ter o timming perfeito, e dessa vez serviu para ajudá-la a se livrar do tópico que tanto gostava de evitar.

Finalmente chegou a hora de Alison precisar ir embora para buscar os filhos na aula de karatê, mas Sarah continuou com eles até que Felix precisou ir se arrumar para ir trabalhar.

O contraste de voltar a ficar sozinha depois de uma tarde com tanta companhia foi grande, no entanto Cosima não lamentou por isso. Ela ainda estava se sentindo estranhamente bem, embora não conseguisse entender plenamente o motivo disso. Ultimamente ela andava em um estado tão complicado física e emocionalmente que ter uma folga do mal estar chegava a ser algo de se causar estranhamento.

Bom, talvez o melhor a fazer fosse aproveitar o momento e não tentar racionalizar demais.

Disposta não deixar que nenhuma teoria maluca ganhasse espaço em sua mente, Cosima voltou para o quarto, se sentou na frente do computador e começou a fuçar o catálogo de filmes para tentar encontrar algo interessante com que pudesse se distrair e matar um pouco de tempo. Mas o fato é que ela não estava conseguindo se concentrar nem ao menos para ler os títulos, que dirá prestar atenção na trama de qualquer um daqueles longas.

Ela imaginou que o motivo daquilo talvez fosse o quanto já tinha se desabituado a estar sozinha em situações como aquela. A falta que Delphine lhe fazia era gritante. Cosima cogitou ligar para ela, mas ainda se sentia constrangida demais por conta do que havia acontecido. Além disso, não queria atrapalhar a loira, que àquela hora provavelmente estaria se divertindo na companhia da mãe.

Pensar em Manon também não a deixava mais tranquila. Será que Delphine já tinha conseguido falar com ela? Contado sobre o relacionamento delas? Foi então que algo lhe ocorreu... Talvez por conta do afastamento que haviam tido nos últimos dias, a namorada poderia se sentir desmotivada a abrir o jogo pra mãe, especialmente sabendo que ela poderia não reagir de uma maneira muito boa...

Cosima também não queria pensar demais naquilo, não a levaria a lugar algum. Não teria o direito de julgar Delphine por qualquer que fosse a decisão que ela tomaria.

Música, ela pensou de súbito fechando o computador.

Ouvir uma boa música era sempre a saída ideal para quando ela não sabia o que fazer. Então abriu o aplicativo no celular, conectou à caixa de som e deixou que uma faixa aleatória tivesse início.


I saw an angel looking to me / Eu vi um anjo olhando para mim

All she wanted was to go to sea / Tudo o que ela queria era ver o mar


Don't worry, ma' / Não se preocupe, mãe

'Cause I'm not afraid, I'm not afraid / Eu não estou com medo, não estou com medo

Don't worry, ma' / Não se preocupe, mãe

'Cause I'm on my way, I'm on my way / Eu estou no meu caminho, estou no caminho

To the ocean / Para o oceano


Cosima caminhou pelo quarto até parar de pé na frente da janela. Podia até ter sido sugestionada pela letra da música, mas olhando para a neve que caía do lado de fora ela sentiu um desejo muito forte de falar com seus pais. Nada muito específico, mas desejou apenas poder ouvir a voz deles.

Dessa vez, sem nenhum bom motivo para controlar esse impulso, ela simplesmente pegou o telefone e efetuou a ligação.

– Oi mãe.

Oi filha! Como você está? – Sally falou do outro lado da linha com sua típica empolgação. – Engraçado você ligar, eu estava pensando em você agora mesmo.

– Eu estou bem – Cosima respondeu. – E bem bem mesmo dessa vez.

Mas que notícia maravilhosa!

– Sim – disse ela sorrindo e se sentando na beirada da cama. – Onde está o meu pai?

Se você tivesse ligado cinco minutos antes ainda teria encontrado ele – Sally respondeu. – Ele acabou de sair pra ir buscar algumas coisas no mercado.

– Ah, que pena... Eu estou morrendo de saudades dele – Cosima falou, mas no mesmo momento sentiu a necessidade de se autocorrigir. – Quer dizer, estou morrendo de saudades de vocês dois.

Nós também estamos, querida – a mãe retribuiu agora em um tom um pouco mais nostálgico. – Quando é mesmo que vai ser a sua última sessão do tratamento?

– No final da próxima semana.

Eu queria muito poder estar com você nesse dia, mas receio que não vou conseguir chegar a tempo...

– Onde vocês estão?

Em Savannah – disse Sally. – Já estamos terminando nosso trabalho por aqui, e assim que tudo estiver pronto, vamos direto para Toronto. Conseguimos fechar um contrato com a universidade, então devemos ficar por aí durante alguns meses.

Sério?

Sério.

– Isso é incrível! – Cosima reagiu com o sorriso alargando ainda mais no rosto. – Dessa vez eu espero conseguir recebê-los de uma forma melhor do que da última.

Bobagem, você foi uma anfitriã incrível. A propósito, vocês duas foram – Sally pontuou. – Como está a Delphine?

– Tudo bem – Cosima respondeu um pouco incerta, mas a mãe pareceu não ter notado.

Ela está aí com você?

– Estou sozinha em casa – ela falou passando a mão automaticamente pela cabeça. – A mãe dela veio pra Montreal à negócios e a Delphine viajou para encontrá-la.

E ela vai ficar fora por muito tempo?

– Não, já vai estar de volta na segunda.

Ainda bem, eu fico mais tranquila assim – Sally confessou. – Eu sei que toda mãe quer aproveitar o tempo que tem com os filhos ao máximo, ainda mais quando estão morando assim tão distantes, mas eu fico bem menos preocupada sabendo que vocês estão juntas. Acho que nem eu conseguiria cuidar tão bem de você quanto aquela moça.

As palavras que ouviu reverberaram no âmago de Cosima. No fundo ela sabia que aquilo era verdade.

As duas continuaram conversaram por mais alguns minutos até que por algum motivo o sinal começou a ficar ruim e Cosima temeu que a ligação acabasse caindo.

– Eu acho que já vou desligar, mãe.

Tudo bem.

– Você sabe que eu te amo muito, não sabe?

Eu sei – Sally respondeu com a voz denunciando o sorriso em seus lábios. – E eu te amo muito mais.

– Diga ao meu pai que eu também amo ele.

Vou dizer, querida. Mas ele também sabe disso, pode ter certeza.

– Que bom – Cosima falou hesitando um pouco para terminar de se despedir.

Tchau Cosima.

– Tchau mãe.

Depois de desligar a ligação, ela continuou olhando para a tela do celular por alguns instantes e um estranho sentimento de dever cumprido se apossou dela, mesmo que ela não tenha se dado conta disso completamente.

Então ela abandonou o celular sobre o colchão, tirou os óculos e os deixou em cima da mesa de cabeceira para depois se acomodar na cama. Ficou deitada encarando o teto do quarto e se permitiu desfrutar o enorme conforto e paz que lhe preencheram.

Se sentindo completamente relaxada, ela fechou os olhos começou a se concentrar em sua própria respiração. Observando o movimento do ar entrando e saindo de seus pulmões, a temperatura, a intensidade; aos poucos ela foi percebendo o corpo ficar cada vez mais leve e a música que ainda tocava no quarto foi diminuindo em volume, perdendo sua importância até deixar de ser ouvida totalmente.

Cosima flagrou um sorriso sutil se formando por livre iniciativa de seus lábios.

Nunca havia se sentido daquela maneira antes, ainda que já tivesse tentado meditar em algumas outras ocasiões. Ela cogitou que pudesse ter caído no sono e o que estava vivenciando não passaria de um sonho lúcido. Sua teoria foi corroborada quando teve a sensação do ambiente ter se tornado um pouco mais claro através de suas pupilas. Mas mesmo assim permaneceu imóvel; a forma com que se sentia era boa demais pra ela arriscar pôr um fim nisso caso abrindo os olhos sem necessidade.

Foi então que um outro de seus sentidos começou a ser estimulado. Suas narinas foram invadidas por um perfume que ela não reconheceu imediatamente; um perfume que ela já não sentia há mais de uma década.

– Você vai ficar aí dormindo até que hora? – a voz falou em um tom provocativo.

Cosima se sobressaltou com o que ouviu, e ao abrir os olhos, não acreditou no que eles viram.

De pé, bem ao lado de sua cama se erguia uma simpática senhorinha; ela tinha os cabelos cinzentos presos em um coque e nos lábios trazia o característico sorriso travesso que Cosima nunca havia apagado da memória.

– Vó? – ela disse soltou se colocando sentada na cama.

– Estou vendo que você não se esqueceu de mim – Anne falou indo ocupar um espaço no colchão a pouco centímetros de distância da neta.

– Você está igualzinha... – Cosima divagou olhando para a mulher à sua frente.

– O mesmo não pode se dizer de você, querida – A senhora soltou uma risada gostosa. – Está bem mais crescida desde a última vez que nos vimos. E naquela época você também não tinha essa argola presa no seu nariz.

Cosima riu encantada. Aquele era exatamente o tipo de coisa que sua avó diria.

– Como isso pode estar acontecendo? Você está morta... – ela ponderou confusa. – Eu estou sonhando?

A senhora preferiu não responder verbalmente de imediato. Apenas deslizou a mão pela cama, e inclinando um pouco o corpo, delicadamente correu a ponta dos dedos do peito do pé da neta até o tornozelo. O toque despertou um intenso calafrio em Cosima que imediatamente sentiu os olhos ficando marejados.

– Isso parece um sonho pra você? – Anne perguntou.

Puxando a perna apenas para que conseguisse se colocar ajoelhada, com movimentos cautelosos e até mesmo temerosos, Cosima esticou a mão e tocou o rosto da avó.

Seu lado racional lhe alertaram que seus dedos iriam se perder no vazio e a imagem que estava estampada em suas retinas se dissiparia no ar. Mas ao contrário disso, o que ela encontrou foi uma pele macia, quente, um tanto quanto flácida, mas acima de tudo, bastante sólida.

– Vó! – Cosima soltou se jogando nos braços da senhora.

Amparada por aqueles braços tão queridos, ela se entregou à emoção e chorou. Chorou todas as lágrimas de uma saudade aguda que havia se estendido por vários anos até que finalmente chegasse aquele momento. E Anne pacientemente a amparou com todo cuidado e ternura, bem como fazia quando a neta não passava de apenas uma garotinha. Sabe-se lá por quanto tempo passaram daquele jeito.

Quando finalmente conseguiu ficar um pouco mais calma, Cosima enxugou o rosto e se afastou apenas o suficiente para que conseguisse ter uma visão um pouco mais clara da avó.

– Por que você nunca veio me ver antes? – ela perguntou depois de uma breve reflexão.

– Porque você ainda não estava pronta; ainda não era a hora – Anne respondeu. – Mas agora você já passou por tudo o que precisava aqui. Sua missão já está cumprida, então eu vim te buscar.

– Me buscar?

– Sim. Te acompanhar para uma vida um pouco diferente daquela que você já está acostumada.

Cosima arregalou os olhos surpresa, de repente entendendo o que aquele encontro devia significar.

– Você não precisa ter medo – a avó garantiu com um sorriso caloroso. – Você ainda confia em mim, não confia?

– Claro...

– Então encare isso apenas como mais uma das nossas aventuras.

Percebendo a neta ainda hesitante, Anne se levantou de onde estava e estendeu a mão a ela.

– E então? Você me deixa te mostrar o caminho?

Sentindo segurança nas palavras da avó, Cosima segurou a mão dela e se levantou da cama. Seu corpo estava leve; não sentia dor, náuseas ou qualquer outro tipo de desconforto. Não se sentia cansada e sua mente estava em paz. Naquele momento ela sequer se lembrava dos problemas que cercavam sua vida. Nem ao menos de outras pessoas que não fossem sua amada vó parada bem à sua frente.

De mãos dadas, Anne guiou Cosima em direção à porta de saída do quarto. Uma névoa brilhante preenchia o espaço exterior, de forma que não era possível ver nem ao menos a porta do quarto de Felix, que deveria estar bem do outro lado do corredor.

Porém, antes que alcançassem seu objetivo, a atenção de Cosima foi desviada pelo ruído de vozes indistinguíveis que vinham de algum lugar atrás de si. Com sua curiosidade sendo aguçada, ela não teve outra escolha senão deter sua caminhada.

– Que barulho é esse? – ela perguntou.

– Me parece que você não se despediu de todo mundo como devia – Anne comentou.

Cosima se virou e percebeu que o som estava vindo de dentro de seu banheiro, cuja porta se encontrava entreaberta.

– Você pode ir até lá se quiser – a avó sugeriu.

– Você não vem comigo?

– É melhor fazer isso sozinha – Anne explicou. – Não se preocupe, nada pode te ferir. E eu vou estar aqui esperando você voltar.

Aquilo podia até não ser a coisa mais lógica a se fazer, no entanto nada do que havia vivenciado nos últimos minutos poderia ser chamado de lógico. Seguindo seus instintos, Cosima soltou da mão da avó e caminhou em direção à origem da agitação.

Porém quando adentrou no espaço que deveria ser seu banheiro, não foi com uma pia e um vaso sanitário que ela se deparou. Cosima se viu em meio a um salão bastante amplo com pé direito duplo; boa parte do espaço era ocupada por poltronas e assentos confortáveis ao redor de pequenas mesas, mas à sua esquerda ela via um extenso balcão de bar.

Uma melodia deprimente preenchia o ambiente, se misturando a um murmurar disforme proferido por algumas das pessoas que ali estavam presentes. Cosima nunca havia estado naquele lugar e tampouco reconhecia qualquer um daqueles indivíduos, cujos rostos estavam bem desfocados inclusive. Belos lustres desciam pendurados do teto, mas pareciam não trazer a iluminação ideal, já que tudo parecia ser encoberto por sombras.

Exceto por um ponto.

Mais para o fim do salão, ocupando uma das banquetas perto da extremidade do balcão, uma silhueta se destacava iluminada por uma aura arroxeada. Sentindo uma enorme força atrativa, Cosima começou a caminhar naquela direção. A cada passo que dava, uma tristeza e angústia crescentes foram tomando conta dela, porém como se verdadeiramente hipnotizada, ela não poderia parar de andar nem se quisesse. E não demorou muito para entender de quem se tratava.

– Delphine.

A loira estava debruçada sobre o balcão, de cabeça baixa passando a ponta do indicador pela borda de um copo que ainda continha uma dose de bebida praticamente intocada. Cosima estranhou vê-la com o cabelo alisado ao invés de seus característicos cachos largos. Além disso, o olhar dela parecia perdido e seu semblante era pura tristeza.

– Delphine? – Cosima chamou chegando mais perto.

Embora estivessem bastante próximas, a loira não parecia ter notado a presença dela ali.

A essa altura, Cosima já não estava mais dominada pela paz que sentia ao lado de sua avó. Naquele momento ela se lembrou de todas as questões que ainda estavam em aberto em sua vida e de todas as angústias e incertezas que vinham junto com elas. Mas acima disso, ela se lembrou do amor que sentia pela mulher que estava bem à sua frente e especialmente o quão grande era esse amor.

Delphine passou as mãos pelos cabelos bem como ela fazia quando precisava se acalmar. Cosima viu uma lágrima cair de seu olho antes que ela pegasse o copo e terminasse com a bebida nele contida. Quando voltou a descansar ambas as mãos sobre o balcão, a loira proferiu algumas palavras que a atingiram em cheio.

Sentindo a necessidade de consolá-la, Cosima se adiantou e a tocou levemente no ombro. A reação de Delphine foi imediata; também levou uma de suas mãos aonde havia sido tocada e se virou para olhar em sua direção. No entanto, para a surpresa de Cosima, não apenas seus dedos foram transpassados, como a loira visivelmente não estava conseguindo enxergá-la bem ali ao seu lado.

Parecendo bastante confusa com o que havia acontecido, Delphine apressadamente tirou um par de notas de dentro da carteira, as prendeu por debaixo do copo agora vazio antes de se levantar para deixar o salão.

Cosima tentou segui-la, mas a cada passo que dava seu corpo parecia estar ficando mais pesado e lento, até que finalmente a francesa acabou sumindo de sua vista. Se vendo sozinha em um lugar completamente desconhecido, foi inevitável que uma sensação de desespero começasse a crescer dentro dela.

Foi então que uma porta na lateral do salão se destacou, como se para indicar por qual era o caminho que deveria ser seguido por ela. Talvez tivesse sido por ali que ela havia chegado naquele estabelecimento para começo de conversa.

Passando pelo portal, Cosima novamente se viu dentro de seu quarto, e como prometido, sua avó ainda estava lá esperando por ela.

– E então? – Anne inqueriu.– Já podemos ir?

De volta a seu ambiente familiar, Cosima se sentiu um pouco mais calma, mas não se comparava com a tranquilidade que a preenchia antes de sair daquele quarto. Era como se agora ela estivesse conseguido recobrar sua consciência.

– Vó eu... – ela disse se aproximando da senhora. – Eu não posso ir...

– Sim, você pode – a avó afirmou. – Você já passou em todas as provas de que precisava.

– Não. Eu não posso deixá-la – Cosima insistiu com voz embargada. – Não agora. Nós ainda temos muita coisa pra viver.

Sabendo muito bem de quem a neta se referia, Anne lhe sorriu. Já estava esperando que aquilo fosse acontecer.

– Você tem certeza? – a senhora questionou. – Seu sofrimento não precisa continuar, minha querida.

– Tenho certeza – Cosima disse com convicção.

– Tudo bem. Se é o que deseja, que assim seja feito.

Dito isso, a avó deu um passo à frente e a envolveu em um abraço caloroso.

– Eu sinto muito a sua falta – Cosima confidenciou.

– Não precisa sentir. Eu estou sempre com você... – Anne falou se afastando um pouco e colocando a mão sobre o lado esquerdo do peito da neta – ... bem aqui.

– Nós vamos voltar a nos ver um dia?

– Um dia – a senhora confirmou. – Mas se você realmente está certa da sua decisão, sugiro que volte logo para o seu corpo. Ele não vai aguentar muito mais tempo sem você.

Cosima não entendeu de imediato muito bem o que ela queria dizer com aquilo, e qual não foi sua surpresa ao virar o rosto e se deparar com sua própria imagem, completamente imóvel, de olhos fechados e ainda deitada na cama.

Ela olhou mais uma vez para a avó, que apenas acenou com a cabeça, como se a incentivasse a seguir em frente.

Então a passos um tanto quanto incertos, ela caminhou até a beirada da cama. Não tinha ideia do que estava fazendo ou do que deveria fazer, simplesmente se deixou levar. A última memória que viria a ter sobre aquilo, era a de estar tocando sua própria mão inerte.

Quando abriu os olhos novamente, Cosima já não foi mais capaz de encontrar sua avó presente no quarto. A música havia mudado na caixa de som e ela não conseguia mexer nenhum único músculo de seu corpo.


It's taken me a while to say / Eu demorei um pouco pra dizer

Everything I wanna do here / Tudo o que eu quero fazer aqui

'Cause lately I've felt a change / Porque ultimamente eu senti uma mudança

Maybe there's a truth to fear / Talvez haja uma verdade a temer


And it's all because of you / E é tudo por você

And I'll fight it 'cause you ask me to / Eu vou lutar contra isso porque você me pediu

And I'm losing something good / Eu estou perdendo algo bom

And I'm doing this for you / E estou fazendo isso por você

More than you could ever know / Mais do que você jamais poderia saber

More than you could ever know / Mais do que você jamais poderia saber


Aos poucos, Cosima foi sentindo o corpo formigar e junto disso, a sensibilidade retornando aos seus membros. Refletindo sobre tudo o que havia acabado de vivenciar, lágrimas começaram a brotar em seus olhos, porém agora elas não eram de saudade ou tristeza. Não, foram um resultado de todas as emoções que vieram à tona de uma só vez.

Mas esse estado de vulnerabilidade não se instalou muito tempo. Tinha algo que ela precisava fazer, e fazer com a maior urgência possível.

Cosima não teve muito trabalho para encontrar seu celular, que ainda estava bem ao seu lado sobre o colchão. Rapidamente ela abriu o aplicativo de mensagens se selecionou o contato "Eskimo Pie" que já estava fixado como o primeiro da lista. Sem pensar muito a respeito disso, deixou que seus dedos deslizassem pelo teclado.


COSIMA: Je te quitterais jamais.


Eu nunca vou te deixar.


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Olá novamente pessoas! E aí, me digam, o que acharam? Devo dizer que este e o próximo foram os capítulos que eu estava mais ansiando em escrever, e é claro, postar. Espero não ter decepcionado.
E por falar em próximo capítulo, já vou avisando que ele vai ser de longe o maior postado até então. Mas infelizmente só vou conseguir postá-lo daqui a duas semanas de novo. Até lá!

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