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Coincidências

O vento soprou os papéis que escorregaram para fora da pasta, e se nada fosse feito, logo estariam espalhados por toda a rua. Felizmente foram empurrados na direção da morena, que não hesitou em recolhê-los antes que fossem danificados pela umidade da neve.

– Você deixou cair isso – ela disse ao se aproximar da loira e devolver as folhas.

Quando a moça se virou, Cosima ficou momentaneamente impactada. Tinha alguma coisa, ou melhor, tudo naquela jovem distraída havia despertado o seu interesse.

– Ah, muito obrigada! – a desconhecida disse com um sorriso constrangido enquanto recuperava seus pertences. – Não percebi que tinham caído.

Mesmo sem maiores referência, Cosima podia dizer que ela era pelo menos 10 centímetros mais alta do que si. Era dona de um cabelo realmente incrível, sem contar pinta localizada logo abaixo da boca do lado esquerdo, que parecia estar atraindo seu olhar como um imã. Vestia trajes simples, mas sua presença e elegância eram marcantes, a fazendo destoar dos outros transeuntes.

– Tudo bem, sem problemas – a morena retribuiu o sorriso meio sem jeito. – Bom, e-eu acho que já vou – Ela começou a passos para trás, se afastando aos poucos, mas seu corpo estava reticente em dar as costas para aquela mulher. – Tchau.

– Tchau.

Reconhecendo que aquilo era o fim de sua curta, porém impactante interação, Cosima se obrigou a retomar seu caminho. Sua mente, por outro lado, não seria convencida assim tão fácil. Foi inevitável não tentar imaginar quem seria aquela moça e como nunca havia a notado antes. Talvez fosse de alguns dos departamentos com instalações mais afastadas no campus... Se pelo menos tivesse espiado algum dos papéis voadores antes de entregar a ela, agora poderia ter alguma pista.

– Com licença... – O chamado tímido naquela voz tão doce fez Cosima se virar.  – Você estuda aqui, não é?

Pouco mais de cinco metros as separavam, distância essa que a morena não se lamentou em voltar a reduzir.

– Estudo sim. Precisa de ajuda?

– Acho que sim – ela passou a mão pelos cabelos parecendo constrangida. – Você sabe me dizer se existe um guia, um mapa do campus ou algo parecido? É o meu primeiro dia e eu estou meio perdida...

– Não, infelizmente não temos. Quer dizer, alguns pontos têm umas placas que indicam a sua posição em relação aos outros lugares, mas acaba sendo mais decorativo do que útil.

– Entendo. Bom, obrigada de novo.

Dessa vez foi a loira quem se virou para retomar sua rota, dando a conversa por acabada. Cosima se manteve onde estava, observando a novata se afastar e sentia como se um marcador de contagem regressiva se aproximasse mais e mais do zero a cada passo que ela dava. Mordeu a ponta da língua na tentativa de impedir que o impulso nascido em seu estômago agora escapasse de seus lábios.

Nem pense nisso Cosima!

– Eu não tenho aula agora ­– ela imprimiu um pouco mais de potência na voz para se fazer ouvir à pouca distância que as separava. Prontamente a loira retornou a atenção para a morena. – Se quiser, posso te mostrar onde ficam os lugares mais importantes. – Seu alto controle estava falhando e ela se recriminou por isso, mas por fora conseguiu transparecer calma e casualidade.

– Ah, não sei... Isso não vai te atrapalhar?

– Não, impossível!

O que diabos você acha que está fazendo?!

– Como disse, não tenho compromisso essa manhã.

– Nesse caso, acho que vou aceitar sua ajuda. ­– Ela voltou a se aproximar e estendeu a mão sorrindo. – Delphine.

– Cosima ­– a morena retribuiu com um sorriso bobo. O aperto foi delicado, mas ao mesmo tempo carregado de personalidade.

– Enchantée – Delphine proferiu pegando a morena desprevenida para a sensualidade não intencional daquela pronuncia perfeita.

– Enchantée – ela repetiu dando seu melhor para que seu sotaque não estragasse tanto a graciosidade da palavra francesa.

Depois de mais alguns segundos de inércia, a loira começou a olhar Cosima como se tentasse entender se ela estava bem ou apenas perdida em alguma realidade não compartilhada.

– Ok... – Delphine começou tentando retomar a interação. – Por onde vamos começar?

A simples pergunta foi capaz de Cosima de volta para o mundo real. Com os olhos arregalados e as sobrancelhas erguidas, ela deu um leve chacoalhada na cabeça e recobrou a postura.

– Claro. Bom, acho que você já conheceu o setor administrativo – falou apontando para o prédio de onde tinham saído. – É aqui que ficam as secretarias, coordenações e salas dos professores. Se precisar de alguma coisa relacionada à assistência estudantil, está aí dentro também, no último piso.

– Certo.

– Na rua detrás fica a biblioteca, acho que podemos começar por lá.

Dito isso, elas começaram a caminhar. Talvez tivesse sido uma ideia melhor recorrer ao sistema de corredores subterrâneos para fugir do clima hostil, mas o vento frio se mostrou positivo para aliviar o calor que castigavam as maçãs do rosto da morena.

A loira parecia meio deslocada e um silêncio constrangedor começava a se formar entre as duas. Cosima notou que ela não parecia ser de muita conversa, o que a fez se sentir na obrigação de puxar assunto novamente, até porque nem estariam ali se não fosse o fato de que ela não conseguiu controlar a língua.

– Mas então... – iniciou com o "enchantée" proferido pela mais alta ainda reverberando em seus ouvidos. – Você é francesa.

– Sim. Vim pro Canadá para concluir meus estudos.

– Graduação?

– Não, não. Já passei dessa fase a alguns anos – falou soltando uma risada contida. – PhD em Imunologia.

– Caramba, mas que coincidência! – O comentário da morena saiu com mais empolgação do que ela pretendia. – Quero dizer, eu também sou estudante de PhD.

Não acredito que a melhor coisa que consegui pensar pra dizer foi "que coincidência". Francamente Cosima, você já foi melhor nisso...

– É mesmo? – ela falou demonstrando interesse. – Qual sua área?

– EvoDevo.

– Hm? – Delphine pareceu confusa por um instante, mas conseguiu ligar os pontos sem precisar de ajuda. – Ah, Desenvolvimento Evolutivo, não é?

– Sim, isso mesmo. É como chamamos por aqui.

Elas caminharam por mais alguns minutos, a loira parecendo desfrutar da vista de cada prédio pelo qual passavam, até que Cosima freou seus passos de frente a um que ficava afastado dos outros a sua volta. Ao contrário da ala administrativa, aquela construção ostentava uma arquitetura contemporânea com a fachada bastante chamativa.

– Bom, aí está. Essa é a nossa biblioteca.

– Wow! – a francesa exclamou com um brilho nos olhos. – É um prédio realmente muito bonito!

– Não é? Eu adoro as instalações antigas, fazem me sentir como se estivesse estudando em Hogwarts, mas não dá pra negar que as expansões mais recentes também têm seu valor. – Cosima receou ter soado nerd demais, mas se tranquilizou ao ver que a moça pareceu ter gostado do comentário. – Você quer entrar?

– Sim, adoraria!

– Vai precisar do seu crachá para passar pela catraca. Já está com ele?

– Ah, ainda não. – Sua expressão se desmanchou em desapontamento. – Pra falar a verdade eu até me esqueci de que precisaria de um. Todos os lugares aqui precisam do crachá para poder entrar?

– Não, só as áreas comuns, como a biblioteca, academia, salas de estudo em grupo, esse tipo de coisa. – As mãos da Cosima estavam especialmente "falantes" durante aquela conversa. – Os prédios de aulas têm o acesso liberado.

– Certo.

– Bom, nesse caso acho que já temos nossa próxima parada.

Então retomaram seu tour, dobrando a primeira esquina após a biblioteca.

– Todas essas construções fazem parte da universidade? – perguntou Delphine observando os edifícios que as cercavam. – As coisas parecem meio espalhadas por aqui...

– Sim, é um saco né? Basicamente cada departamento, ou melhor, os cursos que tem afinidades entre si, geralmente tem uma infraestrutura própria. Isso inclui coisas como os alojamentos estudantis, as salas de aula, os laboratórios e o R.U.

– R.U? O que é isso?

– Restaurante Universitário.

– Ah, claro. Devia ter imaginado.

A essa altura da conversa, Delphine parecia estar um pouco mais aberta e confortável com a interação.

– A medicina divide espaço com outros cursos?

– Sim. Lá nós somos biologia, biomedicina e medicina.

– Isso é um combo e tanto. – Cosima riu do comentário dela. – Você tinha razão, afinal.

– Desculpa, acho que não entendi – disse a morena. – Tinha razão com relação a quê?

– Quando disse que era uma coincidência – Delphine falou dando um sorriso inclinado. – Não só nós duas estamos fazendo doutorado, como também vamos estudar no mesmo prédio. Engraçado, você não acha?

A mais baixa conseguiu ficar tão ou mais vermelha do que o casaco que estava vestindo frente aquela observação.

– Sim – ela respondeu com seus lábios voltando a se curvar. – Muito engraçado...

As duas prosseguiram com sua jornada por mais alguns quarteirões, Cosima apontando para as coisas ao seu redor tentando fornecer a maior quantidade de detalhes que conseguia. Quando chegaram ao prédio das biológicas, ambas já estavam se sentindo bem mais confortáveis na presença uma da outra. A loira aos poucos foi deixando a timidez de lado, o que proporcionou um diálogo cada vez mais fluído e com pitadas de humor por parte de sua guia.

Como Delphine havia dito em um momento da conversa que não teria aulas presenciais, partiram direto para o laboratório de microbiologia.

– ... e por fim, é aqui que a mágica acontece. – Cosima disse ao abrir a porta de vidro e adentrar o ambiente.

– Nossa, é maior do que eu esperava!

Naquele momento, seja pelo recente retorno as aulas, seja por conta do horário – que já se aproximava do almoço – as bancadas do laboratório se encontravam completamente vagas, realidade que deveria mudar dentro de poucos dias.

– Sim, é realmente bem completo – Cosima falou apoiando a mão em uma bancada mais próxima. O microscópio a poucos centímetros de distância atraiu seu olhar, fazendo com que um forte desejo de vestir o jaleco e colocar a mão na massa, ou melhor dizendo, na placa de petri, a acometesse. – Aqui você provavelmente vai encontrar tudo o que precisar para sua pesquisa. Nós temos acesso livre aos armários de suprimentos e aos equipamentos.

– Como eu amo esse cheiro! – Delphine inspirou fundo enquanto observava o lugar com os olhos brilhando.  – Me sinto incrivelmente bem no meio de toda essa tralha científica. Entende o que quero dizer?

– Óbvio. ­– Cosima se encantou com o entusiasmo dela, sobretudo por compartilhar daquela mesma visão. – Somos duas.

A loira continuou vagando o olhar pelas paredes impecavelmente limpas, pelas bancadas de granito e pelos armários metálicos, até enfim voltar a focar na morena.

– Eles também dão aulas aqui? – ela questionou.

– Não exatamente. Esse laboratório em particular é dedicado aos alunos das especializações, mestrado e doutorado. O pessoal de graduação costuma ter aula em outro lugar.

– Posso dar uma olhada?

– Claro, sinta-se em casa.

Delphine se afastou para examinava uma das capelas de exaustão há alguns metros dali quando Cosima começou a se sentir zonza. Ela perdeu o equilíbrio por um instante, o que a fez buscar apoio na bancada derrubando uma bisnaga de água destilada no processo.

– Cosima? – a francesa chamou do outro lado da sala ao ouvir o som o recipiente plástico batendo contra o piso. – Tá tudo bem?

– Sim, eu só...

A tontura estava piorando em vez de melhorar, então ela puxou uma banqueta para se sentar enquanto ainda tinha tempo. Não demorou para que Delphine se aproximasse com uma expressão preocupada no rosto.

– Cosima, o que está sentindo?

– Não se preocupe, eu tô bem. Foi só uma tontura.

– Tem certeza? – ela perguntou apoiando uma mão no ombro da morena. – Sua boca tá branca.

– Tenho. Eu só... só preciso de um pouco de água.

– Onde eu encontro um bebedouro por aqui?

– No meio do corredor, virando à direita.

– Ok. Eu já volto.

A francesa saiu a passos apressados deixando a morena apenas com seus pensamentos. O mal estar não perdurou muito mais, dando espaço que para a vergonha e autojulgamento ocupassem seu lugar.

Parabéns! Acabou de conhecer ela e já está passando vexame, ela pensou enquanto tirava os óculos e esfregava as pálpebras. O Felix tem razão, desse jeito eu vou morrer solteira.

Logo o som dos saltos contra o piso epóxi voltou a se fazer ouvir e Delphine adentrou o laboratório trazendo um copo descartável em mãos.

– Aqui está – ela o entregou à Cosima. – Tem certeza de que está bem? Não tenho nada comigo para te examinar, mas posso te acompanhar no hospital se quiser. Ou então pegar alguma coisa emprestada dos outros laboratórios...

– Não, isso é totalmente desnecessário. – A morena negou com a mão livre e bebeu a água. – Já estou me sentindo ótima. Eu não comi direito essa manhã, deve ter sido só uma queda de pressão.

– Bom, você que sabe... – Ela não insistiu, mas ainda parecia estar aflita. – Não devia ficar sem comer por tantas horas. Por que não me mostra o... Como é mesmo o nome? RU? Aí a gente aproveita e almoça.

Espera... Ela está me chamando pra almoçar?! Não, não seja idiota. Ela só está preocupada porque eu desmontei que nem uma tonta.

– Claro! Ótima ideia.

Cosima se levantou e voltou a tomar a frente do seu mais recente trabalho como guia universitária. Desceram dois lances de escadas até o térreo e aos poucos foram parando de conversar; suas vozes sendo abafadas pelo tumulto crescente conforme se aproximavam do restaurante. Era meio dia e o lugar estava quase atingindo sua capacidade máxima. Elas esperaram na longa fila para comprar os tickets, compartilharam um pouco de suas experiências acadêmicas enquanto tentavam desviar dos calouros que recebiam trote de seus veteranos.

Depois de terem se servido, com as bandejas em mão procuraram por uma mesa vazia onde pudessem ficar. Cosima viu Scott acenando para ela de algum lugar no fundo do salão, mas sinceramente, por mais que gostasse do amigo, até aquele momento já tinha se boicotado o suficiente por si só, não precisava de mais ajuda para isso. Portanto achou melhor fingir não tê-lo visto, ainda que sua cabeça de antemão estivesse formulando desculpas que pudesse dar ao amigo caso fosse questionada nesse aspecto. 

Por sorte, uma mesa na lateral do recinto não muito distante de onde elas estavam foi desocupada por um grupo que terminou de comer. A dupla acelerou os passos e conseguiram garantir seus lugares antes que outras pessoas o fizessem.

– Não me surpreende que você tenha passado mal – comentou Delphine reparando no prato da morena. – Você sempre come tão pouco assim?

– Sim – respondeu Cosima corando de leve. – De uns tempos pra cá meu apetite diminuiu bastante. – A outra já tinha se apossado dos talheres e agora dava a primeira garfada graciosamente. – Mas vamos falar de algo mais interessante. O que te motivou a vir pra Toronto?

– Bom... – Delphine terminou mastigar antes de prosseguir. – Eu sempre quis sair da França. Sabe, conhecer outras realidades, outras culturas, só que parecia que sempre tinha alguma coisa me segurando. Os anos foram passando, até que em um momento percebi que se eu não corresse atrás dos meus sonhos, ninguém iria fazer isso por mim. Um dia resolvi me inscrever para o programa de mestrado da U of T, e quando minha aplicação foi aceita, cheguei até a ficar surpresa, mas não pensei duas vezes. Coloquei um fim em algumas questões que estavam me prendendo e vim para cá.

– Caramba, quanta coragem!

– Ah – a moça soltou um riso desconcertado. – Não acho que seja pra tanto.

– É sim. Ir viver sozinha em outro país não é das coisas mais fáceis do mundo.

– Por que diz isso? – Delphine perguntou franzindo o cenho. – Você não é canadense?

– Na verdade não sou. Mas isso é uma longa história, o restaurante fecharia antes que eu terminasse de contar. – Ainda que fosse um pouco de exagero, naquele momento sua prioridade era ouvir o que a mulher a sua frente tinha a dizer, não falar sobre si própria. – De forma resumida, o que posso dizer é que eu sou de São Francisco, mas me mudei aqui para Toronto quando ainda era adolescente.

O silêncio entre as duas voltou a imperar enquanto se alimentavam, até Cosima terminar a porção de seu prato e dar voz a seus pensamentos novamente.

– Sabe, eu sou uma pessoa curiosa e até agora você não me contou quem é o seu orientador...

– C'est vrai. É o Dr. Alan Nealon.

– Wow – disse Cosima erguendo as sobrancelhas.

– O quê? Você o conhece? – Delphine pareceu ficar aflita com a reação da menor. – Não vai me dizer que ele tem uma má reputação por aqui...?

– Não, não é isso. – Cosima gesticulou com as mãos. – Quer dizer, ele certamente não é o docente mais simpático que você vai ter na vida.

– É, eu percebi mesmo. A recepção dele não foi o que se pode chamar de agradável.

– Mas apesar de ser uma pessoa rude, a carreira dele é impecável, todo mundo o respeita. Há anos que ele não orientava mais alunos de mestrado nem de doutorado. Seu histórico deve ser incrível pra ele ter te aceito!

Dessa vez foi Delphine a ruborizar. Sem saber como reagir ao comentário, ela evitou a olhar diretamente enquanto terminava as últimas garfada que lhe restavam.

– Nossa, isso foi muito bom – ela comentou para desviar do assusto que precedeu.

– Sim, acho que temos sorte. Não é raro ver estudantes de outros cursos vindo comer aqui.

Notando que o lugar continuava cheio e que um grupo de pessoas segurando suas bandejas aguardavam por um lugar onde se sentar, as duas decidiram não se demorar mais ali. Se levantaram pegando suas respectivas bolsas e então levaram os pratos e talheres para o balcão onde eram deixadas as louças sujas.

– Sabe algo que é bem francês de se fazer depois de uma refeição como essa? – Delphine indagou enquanto se encaminhavam para a saída.

– Não tenho nem ideia.

– Fumar um bom cigarro. – Um sorriso travesso despontou em seus lábios. – Você me acompanha lá fora?

– Claro.

De volta a rua, perceberam que o vento estava menos intenso e a sensação térmica havia aumentado ligeiramente. Se afastaram alguns metros da porta de entrada para então Delphine abrir a bolsa para pegar os cigarros.

– Aceita um? – Ela ofereceu a carteira à Cosima – Aliás, você fuma?

– Não, obrigada – a morena declinou. – Eu até fumo, mas só maconha.

– Sério? – falou colocando um cigarro entre os lábios.

– Sim. Isso é algo bem californiano de ser fazer, né? – Cosima ficou aliviada quando viu que Delphine estava rindo de seu apontamento. – Sabe, já que você gosta de conhecer outras realidades, devia ficar chapada qualquer dia desses.

A moça inclinou a cabeça para o lado com uma expressão indecifrável no rosto. Talvez estivesse analisando a morena e considerando seu convite.

– Ok – concluiu exalando uma linha de fumaça por entre um sorriso de canto. – Um dia.

Cosima devolveu o sorriso fazendo uma nota mental de ser o agente causador daquela experiência para Delphine, como se seu reencontro e convivência futura já fossem certos. Se lembrando que existia uma vida além das fantasias, ela conferiu as horas e constatou que seu tempo livre estava prestes a se esgotar.

– Ah, merda. Eu vou ter que ir agora. Tenho uma reunião marcada com o meu orientador. Já me atrasei hoje cedo, é melhor não repetir o mesmo erro duas vezes no mesmo dia...

– Tudo bem – Delphine disse batendo no cigarro para derrubar as cinzas que se acumulavam na ponta. – Olha Cosima, eu tenho que te agradecer. O que fez por mim hoje foi muito gentil da sua parte.

– Ah, não se preocupe com isso. – A morena fitou seus próprios pés, incapaz de sustentar o contato visual . – Não foi nada demais...

– Eu falo sério.

Nesse momento Delphine colocou a mão no ombro de Cosima, fazendo com que a morena levantasse timidamente o rosto e reencontrasse aquelas pupilas cor de avelã. Sentiu a pele de sua face fervendo e tempo parecer se arrastar naquele momento.

– É bom poder fazer uma nova amiga nesse "Admirável Mundo Novo".

Amiga?

– Ok. – Um sorriso constrangido surgiu nos lábios da morena. Foi inevitável não se arrepender de ter marcado o primeiro horário com seu orientador. Se soubesse que iria encontrar companhia tão agradável, era certo que teria adiado aquela reunião para o fim da tarde. – Eu sinto muito, mas preciso mesmo ir agora...

– Tudo bem.

Então a loira se aproximou mais, se inclinou um pouco por conta da diferença de altura entre as duas, e deixou um beijo em cada uma das bochechas da Cosima, que congelou de imediato. Por um segundo pensou que o alvo fosse sua boca, e ficou feliz em não ter tido uma reação de desviar, caso contrário uma situação bastante constrangedora poderia ter sucedido.

– Ciao – disse a loira.

– Ok – Cosima murmurou. Com as pernas bambas, começou a se afastar dando passos para trás. Sentiu que precisa dizer mais alguma coisa, mas tudo o que conseguiu foi repetir o que tinha acabado de ouvir:

– Ciao.

Delphine levantou a mão para acenar em despedida enquanto sorria com o cigarro na boca. A morena se virou e tomou seu caminho a passos rápidos. Não que suas pernas estivessem ajudando muito nessa tarefa, embora ela só quisesse sair dali o mais rápido possível, de preferência sem tropeçar e cair de cara no chão. Sua face ainda queimava onde a loira lhe tocou. Se não muito antes daquilo havia tido uma queda de pressão, nesse instante definitivamente não corria mais esse risco.

Porra Cosima! Vê se te controla! Foi só um... quer dizer, dois beijos no rosto. Não é grande coisa.

Mas seu corpo não estava de acordo com sua mente.

Surpreendeu-se quando se viu mais uma vez em frente ao setor administrativo, pois não se lembrava de detalhe nenhum do percurso que fez para chegar até ali. Felizmente ainda faltavam cinco minutos para o início de seu compromisso, então ela teve tempo de se recompor, respirar fundo e tomar outro copo d'água antes de bater na porta do seu orientador.

– Pode entrar – disse a voz de dentro da sala.

– Boa tarde Dr. Leekie. – Ela adentrou o recinto deixando os momentos agradáveis que acabara de viver do lado de fora.

– Boa tarde Srta. Niehaus.

O homem estava sentado, com os dedos entrelaçados e os cotovelos apoiados na mesa. Ela se adiantou, e antes mesmo de ser convidada, se acomodou na cadeira vazia à frente da mesa.

– Eu quero me desculpar pelo ocorrido dessa manhã. – Ele levantou as sobrancelhas perante a fala dela. – Tive uma pequena questão de... saúde. Mas garanto que não irei me atrasar novamente.

– Você não me deve explicações, senhorita, já tem idade o suficiente para não precisar mais de professores pegando no seu pé. Isso diz respeito a sua formação, você ser pontual não interessa a mim. – Leekie relaxou um pouco a postura e encostou-se em sua luxuosa cadeira de couro. – Cosima, você é uma cientista excelente, mas até os maiores gênios precisam de responsabilidade e disciplina.

Ela estava parcialmente encolhida sobre a bolsa em seu colo, desejando poder desaparecer daquela sala.

– Mas eu não estou aqui pra ficar te dando sermões, então vamos logo ao que interessa. Você já escolheu qual vai ser o tema da sua tese?

Os olhos dela voltaram a brilhar nesse momento e sua linguagem corporal adquiriu um caráter mais confiante.

– Sim, acho que consegui me decidir.

Ela explicou o que tinha em mente e ele passou todos os detalhes de como a pesquisa seria realizada. Um relatório preliminar deveria ser entregue no final da semana, mas ela poderia começar a fazer o experimento e a revisão bibliográfica assim que desejasse. A conversa terminou no limite do tempo que havia sido reservado, sem que nada ficasse sem ser discutido.

Apesar de precisar fazer algumas retiradas na biblioteca e de não ter sido uma manhã tão exigente em termos de energia mental, a morena preferiu deixar para fazer aquilo no dia seguinte. Se sentia indisposta e saturada pelos recentes acontecimentos, então decidiu que voltar para casa era a decisão mais acertada.

Quando passou pela porta de entrada, Cosima flagrou Felix trabalhando em uma tela bem no meio da sala. Suas mãos estavam manchadas de tinta e ele não vestia nada além de seu típico avental de pintura.

– Felix! – ela repreendeu atraindo o olhar do amigo. – Nós combinamos que você não ia mais sujar a sala!

– Isso não é sujeira, queridinha! É arte! – Ele se virou pousando a mão esquerda sobre o peito, como se tive sido ofendido, enquanto o pincel que segurava na direita pingava tinta roxa sobre o tapete. – E você sabe que não posso controlar a musa. Tenho que ir onde ela me chama.

– Sei. – A morena tirou o casaco e o pendurando em um dos ganchos do cabideiro do hall.

– Além de que, se você não tivesse chegado tão cedo eu já teria voltado para o meu quarto – o rapaz pontuou ao retomar sua pintura. – Ainda está com dor?

– Um pouco, mas estou melhor. Você já foi no supermercado?

– Ainda não, quero terminar essa tela antes – ele deixou o pincel dentro de um copo com água e parou com as mãos na cintura olhando para ela. – Espera aí... O que é isso nos seus olhos?

– Isso o quê? – ela recorreu ao espelho sobre o aparador para conferir se estava com o delineador borrado ou coisa parecida, mas não encontrou nada. – O que tem neles?

– Estão brilhando!

– Ah, Felix... não começa.

– Você não me engana! Viu um passarinho verde, foi?

– Não foi nada demais. É só a minha reunião com o Leekie que foi boa e vai dar certo de fazer o que eu estava pensando.

Ela fez menção de ir para o quarto, na intenção de fugir do inquérito do amigo, mas ele se adiantou e a puxou para sofá.

– Anda logo, Cosima. Eu não nasci ontem e nessa casa só eu tenho o direito de fazer cu doce. Pode ir abrindo o bico.

– Ok... – Ela revirou os olhos e se jogou contra o encosto do sofá. De fato, não conseguiria enganar o amigo. – Talvez o passarinho verde seja, na verdade, uma passarinha loira.

– Tá brincando?! – ele falou ficando boquiaberto. – Conheceu alguém?

– Sim. Quer dizer, não. – A morena fechou os olhos e chacoalhou a cabeça. – Conhecer é uma palavra muito precipitada. Não sei muito bem o que aconteceu, deve ser só viagem minha.

– Mas que inferno! – Ansioso para saber a história completa, ele empurrou o ombro dela. – Me conta de uma vez!

E assim Cosima fez. Contou todos os detalhes, desde o momento em que viu os papéis da francesa caindo, passando pelo tour que fizeram pela universidade, até o momento da despedida.

– Deixa eu ver se entendi. – Ele cruzou as pernas em um movimento exagerado. – Primeiro a francesa gostosa veio com aquele papo furado de coincidência...

– Bom, – Cosima o cortou – na verdade, fui eu quem começou com isso.

– Tanto faz. E não me interrompa moça, seus pais não te deram educação não? – Ela cruzou os braços e acenou com a cabeça para que ele prosseguisse. – Continuando... Aí ela ficou te lançando olhares sedutores... – Cosima abriu a boca para fazer outra objeção, mas ele impediu a impediu de falar colocando o dedo indicador sobre os lábios dela – ... e cuidou de você quando passou mal, se oferecendo inclusive para te levar no hospital, e se já não fosse o bastante, ainda te chamou pra almoçar?

– Você tá fazendo as coisas parecerem maiores do que realmente foram...

– Cara, ela tá tão na sua! – Felix sorriu de orelha a orelha.

– Não. – A morena se levantou e foi em direção ao quarto com ele em seu encalço. – Eu vi coisa onde não tinha, só pode. Ela estava sendo simpática, é isso.

– Simpática... Sei... Simpática igual você foi?

Ela se sentou na cama e começou a tirar as botas enquanto ele a assistia encostado no batente da porta.

– Além disso, ela se referiu a mim como "uma nova amiga", Felix.

– Isso não quer dizer nada. Vocês tinham acabado de se conhecer, queria que ela já saísse te chamando de crush, assim de cara? Além disso, você tá cansada de saber que mesmo alguns casais gays que estão juntos há anos continuam se chamando de "amigos" em público.

– Mas é aí que tá, Fee. Eu nem sei se ela é gay!

– Pelo amor de Deus, Cosima – ele soltou se aproximando dela e tomando um lugar ao seu lado. – Ninguém continua hétero depois de algumas doses de vodca.

Cosima não conseguiu segurar a risada com aquele comentário. Não queria nutrir muitas expectativas e acabar se decepcionando, mas lá no fundo seu desejo era que aquelas palavras tivessem seu fundo de verdade e que no fim das contas estivessem certas.

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