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Ainda Não Acabou


Quando voltou a entrar no consultório do Dr. Duncan, Cosima já estava se sentindo bem mais confortável. Delphine seguia ao seu lado, mesmo com a morena insistindo que ela não devia mais ficar adiando seu trabalho e compromissos por conta dela. Mas é claro, foram palavras que a francesa simplesmente deixou entrar por um ouvido e sair pelo outro. Não é porque não estava mais à frente do caso dela que não iria continuar acompanhando todos os passos de seu futuro tratamento.

– Bom, Cosima, acredito que você já esteja bem familiarizada com os resultados dos seus exames mais recentes – disse o médico depois dos devidos cumprimentos e delas já estarem acomodadas em seus lugares.

– Sim – ela respondeu sentindo Delphine buscar por sua mão.

– Não posso mentir para você, com seu quadro evoluindo para uma metástase, a situação fica bem mais complicada do que estava a princípio. Mas você é jovem, e isso sem dúvida nenhuma nos dá uma boa vantagem, principalmente considerando que os tumores ainda estão num estágio bem inicial nos pulmões. – Ethan fez uma breve pausa enquanto folheava alguns dos exames dela. – Por conta disso, acredito que por hora não há motivos para que façamos uma intervenção cirúrgica nessa área; somente a quimioterapia já deve ser suficiente para controlar a situação. No entanto, não vejo o porquê adiar uma histerectomia total* por mais tempo. Tudo indica que as células cancerígenas tenham se espalhado a partir do seu útero e não tem sentido arriscarmos que isso volte a acontecer.

Delphine sentiu Cosima apertando sua mão com um pouco mais de força e retribuiu o gesto. As duas sabiam que aquilo acabaria sendo necessário e naquele momento a francesa se sentiu aliviada em saber que haviam tido tempo de fazer a coleta de alguns dos óvulos de Cosima cerca de um mês antes. Não foram muitos e a intenção era de repetir o procedimento em um futuro próximo, mas com os que tinham certamente já seria possível produzir um embrião viável se assim fosse de sua vontade.

– E pra quando deve ser? – Cosima perguntou.

– Tão breve quanto conseguirmos – o médico garantiu. – Primeiro faremos a primeira sessão de quimioterapia para tentar estabilizar o avanço da doença. Depois seguiremos com alguns exames para verificar as condições para cirurgia, e se tudo estiver favorável, o procedimento deve acontecer dentro de alguns dias.

– E quando ela pode começar a receber o tratamento, doutor? – Delphine questionou.

– Eu consegui reservar um horário para amanhã no período da tarde.

– Período da tarde? – a loira continuou. – Não poderia ser pela manhã?

– Não, durante a semana o hospital administra quimioterapia apenas na parte da tarde. Se isso for um problema posso tentar uma vaga para os sábados, mas já vou adiantando que a agenda nossa está bastante cheia...

Delphine se viu em um impasse; queria poder estar com Cosima naquele momento, especialmente na primeira vez em que fosse receber o tratamento, pois sabia o quão desagradável aquilo poderia ser. Porém as tardes dela eram ocupadas com suas próprias pacientes e ela dificilmente conseguiria remarcar esses compromissos, ainda mais assim tão em cima da hora. Entretanto, não queria que ela adiasse ainda mais o começo da terapia.

– Eu não vou poder acompanhar você – Delphine disse se voltando para Cosima.

– Tudo bem – a morena respondeu. – Eu posso pedir pro Felix vir comigo.

– Então mantemos o horário de amanhã? – Ethan perguntou.

– Sim – Cosima respondeu voltando a olhar para ele. – Vamos acabar de uma vez com isso.

No dia seguinte, Delphine deu início aos atendimentos um pouco mais cedo do que o usual. Havia solicitado que as meninas da recepção tentassem contatar suas pacientes e adiantar seus agendamentos. Embora uma delas não tenha conseguido ser contatada e nem todas tiveram a disponibilidade para serem atendidas antes do horário de costume, o tempo que ficou vago seria o suficiente para que ela conseguisse estar com Cosima pelo menos no fim da sessão.

Pela manhã, Delphine já tinha feito uma série de recomendações a ela tendo em vista que não poderia presenciar o começo da administração da dos medicamentos.

– Del, calma – Cosima disse a ela sorrindo. – Eu vou ficar bem.

Seria cômico se não fosse trágico a cena de uma paciente oncológica ter a necessidade de tranquilizar uma médica oncologista sobre um procedimento que viria a se tornar tão habitual.

De fato, Delphine não entendia porque estava se sentindo tão insegura em relação àquilo. Será que depois dos acontecimentos dos dias anteriores ela tinha se tornado uma pessoa obsessiva e superprotetora? Com todo seu conhecimento e experiência não fazia o menor sentido ela estar preocupada daquela forma; geralmente os problemas decorrentes do tratamento quimioterápico vinham de seus efeitos colaterais desagradáveis e não durante a aplicação dos fármacos em si.

Percebendo seu emocional falando mais alto novamente, mesmo com a ansiedade crescendo dentro de si ela se sentiu grata de não ser mais a pessoa responsável pelas decisões que iriam influenciar diretamente na saúde de Cosima.

– Felix! O lado esquerdo está mais baixo que o direito!

– Mas você acabou de dizer que estava mais alto!

– Você abaixou demais – Alison disse balançando a cabeça como se aquilo fosse bastante óbvio.

A energética proprietária da Bubbles havia subido para o apartamento de Felix e Cosima algum tempo depois de abrir a loja e deixar Donnie cuidando de tudo. Agora, sentada no sofá, Cosima assistia aos dois amigos discutindo enquanto tentavam pregar as cartolinas em uma parte livre da parede da sala.

Segundo Alison, ela tinha assistido um vídeo no YouTube em que uma moça relatava que ter um calendário com todas as sessões de quimioterapia marcadas era algo que havia a ajudado bastante a não perder o foco e ter uma boa visualização do eventual fim do tratamento. Por conta disso, quando abriu a porta algum tempo antes, Cosima se deparou com a amiga trazendo consigo duas cartolinas coloridas e devidamente decoradas, estampando os calendários dos meses seguintes.

Sabia que a amiga tinha as melhores intenções possíveis, no entanto ao olhar para a representação dos próximos dez meses, preenchidos com 20 sessões quinzenais da terapia, ela tinha sérias dúvidas se aquele era de fato um método eficiente. Talvez quando estivesse chegando no fim e visualizasse todo o progresso, a sensação que teria pudesse ser positiva, mas agora isso só lhe parecia um tempo interminável até que pudesse se ver livre daquela doença.

– Pronto! – disse Alison – O que achou, Cosima?

– Ah... Está ótimo. – Cosima se esforçou para sorrir – Obrigada Alison.

Antes que qualquer um pudesse dizer mais alguma coisa, a morena teve sua atenção desviada para o celular que começou a vibrar em cima da mesa de centro. Sem demora ela pegou o aparelho e viu quem era.

– Com licença, eu preciso atender – ela disse já se levantando.

Os amigos continuaram conversando e ela adentrou o espaço da cozinha enquanto atendia a ligação.

Bom dia, filha.

– Oi mãe. Tudo bem?

Sim, eu só liguei para saber como você está.

Cosima sorriu. Desde que havia contado aos pais sobre a doença já tinham se falado mais vezes em poucos dias do que possivelmente no último ano todo.

– Eu mentiria se dissesse que não estou ansiosa, mas fora isso tudo bem.

Eu queria poder ir com você no hospital hoje – Sally disse em um tom preocupado. – Mas acabamos pegando o mar mais agitado do que estávamos esperando e agora tivemos que fazer uma parada em Quebec.

– Aconteceu alguma coisa?

Nada demais. Ficamos com pouco combustível e nossa água potável está quase no fim, então seu pai achou mais seguro pararmos aqui.

Apesar dos muitos anos sem convivência próxima, Cosima sabia que a organização e disciplina dos pais era algo que nunca mudaria. Para eles – especialmente Gene – terem zarpado sem a quantidade de suprimentos necessária para chegarem a seu destino, só podia ser um reflexo do quão desestabilizados estavam

Se não tivermos mais nenhum contratempo – Sally continuou. – Devemos chegar em Toronto de madrugada.

– Vocês se lembram onde eu moro?

Claro que lembramos! Mas nós devemos esperar amanhecer no barco.

Por quê?

Porque você vai precisar ter uma boa noite de sono e eu não quero atrapalhar o seu descanso.

Ok, seriam poucas horas de diferença e em menos de um dia Cosima já estaria novamente reunida com os pais; porém com a expectativa do reencontro, ela estava contando os segundos até o momento em que finalmente poderia abraçá-los mais uma vez.

Poucos minutos depois de Cosima se despedir da mãe e desligar o telefone, foi a vez de Alison ir embora. Então de forma vagarosa, a morena foi fechar a porta e voltou a se sentar de frente as cartolinas.

– Hey, o que foi? – Felix notou o desânimo dela enquanto guardava o rolo de fita adesiva dentro de uma gaveta. – Você não gostou? Nós podemos tirar se você quiser; a Alison não vai ficar chateada.

– Não, não é isso. É só que... Se todos os dias forem passar tão devagar do jeito que hoje está passando, acho que a humanidade vai colonizar Marte antes que eu consiga terminar esse tratamento.

– Ah, não exagera, vai! Olha só... – ele disse conferindo o relógio – ... já está quase na hora do almoço. O que você acha? Improvisamos alguma coisa ou pedimos comida?

– Eu tô de boa. A Delphine disse que eu não preciso ficar de jejum, mas que é melhor eu comer alguma coisa mais leve porque posso ter enjoos quando receber a medicação e situação não ficar muito bonita – Cosima explicou. – Acho que vou ficar só com uma salada de frutas.

– Tudo bem. Se é uma recomendação da Delphine, quem sou eu pra discordar...

Enquanto caminhavam para o hospital, Cosima sentia o coração em um ritmo mais acelerado do que o passo moderado deles exigia.

Ela havia aprendido com Delphine que devido a região em que elas moravam, era possível pegar um bom atalho até a ala oncológica se entrassem no prédio pelo acesso da emergência. Porém assim que passaram pela porta, tanto Cosima quanto Felix se surpreenderam com o tamanho do movimento que encontraram. E o que mais lhes chamou a atenção era o fato que as pessoas que se amontoavam na recepção não pareciam ser doentes, mas familiares nervosos pressionando os funcionários em busca de notícias de seus entes queridos.

Apesar da curiosidade em saber o que estava acontecendo, os dois se desviaram dos transeuntes que estavam ali presentes e entraram no elevador que os levaria até seu andar de destino. Quando a caixa metálica se abriu na ala oncológica, o cenário que encontraram foi bem diferente; os corredores estavam mais vazios do que Cosima costumava ver quando vinha fazer o tratamento com Delphine e isso só contribui para ascender mais uma luz de alerta na cabeça dela.

Sem muita escolha sobre o que fazer, os dois saíram do elevador e Cosima se dirigiu até o balcão de atendimento. Embora a moça não tenha feito nenhum comentário e mantido a postura profissional, a morena notou quando Grace – uma das secretárias encarregadas daquela seção do hospital com que Cosima já havia estabelecido intimidade o suficiente para se tratarem apenas pelo primeiro nome – esboçou uma expressão de surpresa ao ver que o horário dela não estava reservado com a Dra. Cormier, como era de praxe, mas sim na sala de quimio.

Terminada a etapa burocrática, eles foram juntos até a sala onde seria administrado o novo tratamento. Ao caminhar por aquele longo corredor, foi inevitável para Cosima não olhar em direção a sala de Delphine, mesmo que ela ficasse uns bons metros à frente de seu novo destino. Reparou que sentadas nas cadeiras que ficavam dispostas junto à porta, haviam apenas duas mulheres. No fundo ela se sentiria mais segura se fosse a namorada quem a acompanhasse naquele procedimento, então torceu para aquelas serem seus últimos atendimentos do dia, embora isso não fosse muito provável.

Ao passar pelas portas duplas do salão reservado para o tratamento de quimioterapia, Cosima ficou surpresa em notar que apenas duas poltronas em um dos cantos do amplo espaço estavam desocupadas. Ela se sentiu acanhada e sem saber ao muito bem como agir, então apenas deu um sorriso discreto e simpático para as pessoas viraram seus rostos para olhá-la, e sem muita demora, ocupou um dos lugares vagos.

Apesar de se tratar de um hospital público e de estar ciente de como esse sistema funcionava – sabia como Delphine tinha que se desdobrar em muitas para tratar sozinha de uma quantidade enorme de pacientes; e além disso, ela ainda era responsável por todas as etapas, desde a produção das vacinas – Cosima se surpreendeu com a terrível relação funcionário/paciente que encontrou. Naquela sala tinham mais de vinte pessoas – sem contar alguns acompanhantes – e apenas uma enfermeira para dar conta de todas elas.

A moça esguia tinha o cabelo comprido tingido de loiro, embora uns três dedos da raiz já se mostrassem seu castanho natural. Ela se movia de maneira quase frenética entre as poltronas; ajustava o soro de uns, retirava o acesso daqueles que iam terminando a sessão e por vezes saia da sala para buscar o medicamento de outros. Porém, ainda que tenha notado a chegada de Cosima, mesmo depois de vários minutos ainda não tinha dado nenhum indício de que viria atendê-la.

Felix, que havia ocupado uma cadeira ao lado da poltrona da morena, já começava a dar claros sinais de que estava se irritando com o descaso da enfermeira, porém Cosima tentou apaziguá-lo para que não fizesse nada de imprudente; tudo o que ela menos queria naquela situação era ser ver como personagem central de uma discussão causada pelo amigo.

Com isso, enquanto esperava ser atendida ela acabou por começar uma conversa com uma das pacientes que estava recebendo a medicação sentada bem ao seu lado. A mulher, que usava um lenço na cabeça, já devia ter por volta dos seus 55 anos e contou que estava na fase final do tratamento do seu câncer de mama. Ela foi muito simpática e Cosima se sentiu mais aliviada em conversar com ela. Suzanne relatou que também tinha ficado com muito medo antes de começar a fazer as sessões de quimioterapia, porém além da perda do cabelo e de ficar com a pele razoavelmente ressecada, não havia tido maiores sintomas. Ela inclusive não teve os típicos efeitos gastrointestinais tão comuns entre os pacientes oncológicos, chegando até a ter um aumento considerável de seu apetite – O que me fez ganhar alguns quilinhos – ela confidenciou aos cochichos para Cosima.

Mas elas não puderam estender muito mais seu assunto; o medicamento de Suzanne terminou e finalmente a enfermeira se dirigiu até aquela parte da sala. Enquanto retirava a agulha e limpava o cateter da mulher – Cosima levou um sustou ao ver a peça de titânio implantada na altura do coração por onde ela recebia o tratamento ­– Felix teve a oportunidade pela qual estava esperando para dizer o que estava preso em sua garganta.

– Olha só, a minha amiga já está aqui esperando sem atendimento a quase uma hora – ele disse para a enfermeira. – Ela tinha horário marcado, sabia disso?

A moça que certamente não estava em seu melhor humor olhou feio para ele e depois voltou a atenção para o que estava fazendo.

– Um prédio pegou fogo no centro da cidade hoje. Muita gente ficou ferida e a direção do hospital realocou quase toda nossa equipe para a emergência – ela disse entre dentes. – Eu estou sozinha hoje, sua amiga vai ter que esperar.

– E você é debochada desse jeito sempre ou também é só hoje? – ele continuou aumentando um pouco o tom de voz

– Felix! Por favor! – Cosima o repreendeu. – Não tem problema moça, eu espero.

Sem dizer mais nada, a enfermeira recolheu a bolsa de soro vazia e as agulhas usadas e saiu da sala. De forma bastante cordial, Suzanne se levantou de sua poltrona, pegou sua bolsa e se despediu de Cosima.

– Boa sorte, Cosima – ela disse sorrindo. – Tenho certeza que tudo vai correr bem pra você também.

– Obrigada, Suzanne. – Cosima retribuiu o sorriso. – Eu gostei muito de poder te conhecer. Conversar com você me deixou mais tranquila.

Pouco tempo depois a enfermeira retornou para a sala de atendimento, e seja por conta do que Felix havia dito ou não, dessa vez ela veio diretamente até os dois.

– Cosima Niehaus? – ela perguntou olhando para um papel que trazia junto de uma bolsa de medicamento.

– Isso mesmo – Cosima respondeu.

Com isso a enfermeira puxou uma mesa de rodinhas e descansou o os materiais que havia trago. Vestiu um par de luvas de látex limpas e sacou o garrote. Finalmente se voltou para Cosima realmente dedicando sua atenção a ela.

– Você tem preferência de alguns dos braços?

– Geralmente é mais fácil de pegar minha veia no braço direito – Cosima respondeu.

A moça deu a volta na poltrona e prendeu o pedaço de borracha no meio do bíceps direito da morena e começou a apertar delicadamente a dobra interna do cotovelo dela. Apalpou com cuidado aquela região por alguns instantes, até que desistiu e pegou a mão dela.

– Suas veias estão finas... – ela constatou. – Vai ser mais fácil pegar a da mão.

– Tudo bem.

A enfermeira voltou para a mesinha de apoio e embebeu um pedaço de algodão com álcool. Escolheu um acesso venoso estéril e retornou para junto da morena. Higienizou as costas da mão dela e Cosima experimentou a já costumeira ardência ao ter sua veia perfurada.

Por fim a moça pegou a bolsa de soro – que já vinha com o quimioterápico diluído – e a pendurou em um suporte metálico ao lado da poltrona. Tudo nos conformes até então. Porém quando a enfermeira ligou a mangueira no acesso da veia e a primeira gota do remédio atingiu a corrente sanguínea de Cosima, imediatamente ela sentiu sua mão queimar e a sensação rapidamente se espalhou pelo resto de seu braço.

– Ai! – ela reclamou se ajeitando no lugar

– Algum problema? – disse a enfermeira.

– Sim! – Cosima falou enfática. – Tá ardendo muito!

– Ardendo? – a enfermeira perguntou franzindo o cenho.

– É, tá queimando como fogo!

– Essa medicação não devia arder. – A moça prontamente girou a válvula que interrompia o fluxo do remédio. – Espere um instante, eu vou chamar minha supervisora.

Então em movimentos apressados ela se livrou das luvas e saiu da sala.

Sem mais estar recebendo o soro, segundos depois Cosima sentiu a ardência se dissipar para dar lugar um formigamento anestesiante. Se antes ela sentia queimar, agora a sensação deu lugar a um frio congelante que se espalhou por todos seus ossos, contrariando as gotículas de suor tenham começado a brotar em sua fronte.

– Fe... Felix – ela disse percebendo que respirar tinha estava se tornando uma tarefa bem mais difícil. – Eu... não estou... bem.

O rapaz se levantou e olhou para ela com mais atenção. Seus lábios se entreabriram quando ele notou o quão pálida Cosima tinha se tornado e a dificuldade com que suas costelas se abriam tentando puxar o oxigênio.

– Merda – ele disse sem perder mais tempo e indo correndo até o corredor. – SOCORRO!!! ELA PRECISA DE AJUDA!!!

Delphine estava executando seu serviço da forma mais veloz que conseguia sem deixar que houvesse qualquer perda de qualidade. Quando terminou de inocular a injeção em Danielle Fourier – sua compatriota que também havia escolhido o Canadá como novo lar – e a liberou, começou a ficar inquieta quando saiu no corredor do hospital e viu que sua última paciente do dia, Mirian Johnson, ainda não tinha chego.

Merde. Justo hoje...

Contrariada, ela entrou novamente na sala, dessa vez deixando a porta do consultório aberta para que caso a moça chegasse, já pudesse entrar sem que precisasse ser chamada. Delphine voltou a se sentar na frente do computador e no portal da pesquisa acessou os arquivos referentes à paciente 528M32. Realmente não havia erro; Mirian deveria receber a próxima dose da vacina naquele dia e esse era exatamente o seu horário.

Apesar de todos os benefícios que já tinham sido atestados com o uso da imunoterapia, aquele era um tratamento muito delicado que poderia ser fortemente prejudicado caso uma sessão fosse atrasada ou simplesmente perdida. O comprometimento com o as consultas era inclusive uma das cláusulas do termo de compromisso que as pacientes precisaram assinar ao começo da pesquisa.

Depois de esperar dez minutos e nada de Mirian dar as caras, Delphine bloqueou a tela do computador e saiu do consultório. Atrasos como aquele não eram usuais, por isso ela já estava começando a ficar preocupada.

Quando passava em frente a sala de quimioterapia em seu caminho até a recepção, uma enfermeira estava entrando no lugar a passos bastante apressados. A francesa tentou olhar lá para dentro, não conseguiu localizar Cosima nem Felix antes da porta ser fechada. Então ela continuou andando.

– Boa tarde, meninas – ela disse cumprimentando as recepcionistas assim que alcançou o balcão de atendimento.

– Boa tarde, Dra. Cormier – disse Grace. – Posso ajudá-la em alguma coisa?

– Sim – Delphine disse apoiando os cotovelos sobre a superfície de madeira. – Minha paciente, Mirian Johnson está atrasada... Por um acaso ela ligou avisando sobre algum imprevisto?

– Só um instante – Grace pediu enquanto abria a agenda de Delphine no sistema do hospital. – Não, doutora, não tem nada aqui. Na verdade, a Srta. Johnson foi uma das pacientes que nós não conseguimos entrar em contato para fazer o reagendamento. Eu mesma tentei ligar para ela, mas o número que está no nosso cadastro só cai na caixa postal e ela não respondeu ao e-mail.

Enquanto Grace terminava de falar, o foco de Delphine foi repentinamente atraído novamente para o corredor de onde tinha acabado de vir. A enfermeira com que havia cruzado minutos antes agora estava saindo da sala em um ritmo bastante apressado – quase correndo – e com uma expressão preocupada no rosto.

– Eu posso tentar ligar pra ela mais uma vez agora, se a senhora quiser – continuou Grace.

Delphine voltou a olhar para ela, embora sua atenção ainda não tivesse sido recobrada. Tentando se concentrar novamente no que tinha vindo fazer ali, ela abriu a boca para responder, porém as palavras demoraram um instante para sair.

– Bom... eu...

Mas antes que pudesse continuar a dizer qualquer coisa, Delphine foi interrompida pelo estrondo de uma porta sendo escancarada e uma pessoa que saiu gritando pelo corredor.

­– SOCORRO!!! – Ouvir a voz de Felix provocou uma descarga de adrenalina na loira, fazendo com que seu coração disparasse imediatamente. – ELA PRECISA DE AJUDA!!!

Antes que ele pudesse terminar a frase, Delphine já estava correndo em sua direção em uma velocidade surpreendente.

– O que aconteceu??? – ela perguntou adentrando a sala. Seus olhos escanearam o espaço e não demoraram a encontrar Cosima.

– A enfermeira colocou alguma coisa na veia dela que fez ela começar a passar mal!

O lado profissional de Delphine assumiu o controle de seu corpo e ela sem pensar duas vezes arrancou o acesso da veia da morena. A essa altura Cosima já estava começando a adquirir uma coloração azulada e seu coração parecia querer pular para fora de seu peito.

– Ela está tendo um choque anafilático – Delphine disse notando a dificuldade que ela estava tendo para respirar.

– O que está acontecendo? – uma mulher perguntou ao entrar na sala acompanhada da enfermeira que estava cuidando daquele setor.

– Código Azul!!** – Delphine gritou em resposta. – Tragam um carrinho de parada!

As duas mulheres se entreolharam para em seguida voltarem a desaparecer pela porta. A francesa pegou o pulso de Cosima, constatando que seus batimentos apesar de acelerados estavam completamente descompassados e ela enfrentava sérios problemas para respirar.

– Eu... a... acho que... eu tô morrendo – a morena soltou com bastante dificuldade.

– Não você não está! – Delphine respondeu com convicção enquanto verificava se a poltrona dela poderia ser reclinada. – Eu não vou deixar!

Então o que a loira previa finalmente aconteceu. Cosima sentiu sua visão escurecendo e de repente seu coração já não estava mais batendo.

– Felix! Me ajuda! – Delphine pediu segurando o corpo da morena antes que ela tombasse. – Rápido!

Juntos, os dois pegaram Cosima e a colocaram deitada de costas sobre o piso, sem qualquer proteção. Não perdendo um segundo sequer, Delphine se ajoelhou ao lado dela e deu início a manobra de massagem cardíaca.

Felix ficou de pé olhando para elas, completamente estarrecido e sem saber como agir. Quanto as outras pessoas que estavam na sala... Suas reações variavam. Algumas cobriam a boca com a mão em visível espanto, enquanto outra viravam o rosto preferindo não ver. E é claro que tinham alguns acompanhantes curiosos que se levantaram de onde estavam e se aproximaram para ver a cena com maior clareza.

Após três turnos de 30 compressões intercaladas com 2 respirações boca-a-boca, as enfermeiras retornaram com o carrinho de parada que Delphine havia solicitado junto com uma maca para fazer a remoção de Cosima. A francesa parou a massagem apenas durante os segundos que levaram para transferi-la para o corredor onde teriam uma plateia menor para dar prosseguimento aos procedimentos de reanimação.

– 1 mg de epinefrina – Delphine comandou enquanto tirava a cânula de Guedel de dentro de uma das gavetas do carrinho de emergência. – Intramuscular.

À medida que a chefe de enfermagem fazia o que foi pedido, Delphine já foi entubando Cosima e conectando o respirador para que ela não ficasse mais tempo sem ventilação.

– Vamos, Cosima – ela disse enquanto apertava o ambu***. – Reaja!

Enquanto pressionava o balão de silicone, Delphine percebeu uma senhora saindo de uma das salas mais a distância, sendo seguida por um homem vestindo jaleco branco.

– O que está acontecendo aqui? – Ethan disse deixando sua paciente para trás e indo na direção delas.

– Ela voltou, doutora! – a enfermeira anunciou quando sentiu o pulso de Cosima retornando.

Delphine respirou um pouco mais aliviada ao ouvir aquilo, embora não tenha abaixado a guarda.

– Ela teve uma parada cardiorrespiratória – a loira explicou quando o Dr. Duncan as alcançou. – Precisamos levá-la para UTI imediatamente.

Então os três começaram a empurrar a maca enquanto Delphine se encarregava de manter a ventilação de Cosima e Felix vinha ao encalço do grupo.

– Isso aconteceu durante a sessão de quimio? – Ethan perguntou quanto apertou o botão para chamar o elevador; três andares de distância.

– Eu tinha acabado de colocar a medicação quando ela começou a reclamar de queimação – a enfermeira explicou. – Como não é uma reação comum, eu cortei o fluxo e fui procurar orientação.

– E quando eu cheguei, ela já não estava conseguindo respirar direito – Delphine acrescentou.

– Você administrou o fármaco que eu prescrevi? – Dr. Duncan perguntou.

– Sim – a moça respondeu.

– Tem certeza?

– Absoluta, doutor – ela afirmou começando a ficar com medo.

Quando o elevador abriu as portas, eles apenas esperaram as pessoas que estavam lá dentro saírem para empurrar Cosima para dentro da caixa metálica.

– Não – Ethan disse bloqueando a entrada de Delphine e Felix. – Vocês dois ficam.

Prontamente a enfermeira chefe se adiantou e tomou o lugar da francesa no manuseio do ambu.

– Quoi? – Delphine rebateu incrédula. – Non, eu vou com ela!

– Não, o seu vínculo é com a universidade, não com o hospital; não pode atender emergências – Ele praticamente a empurrou para fora. – Agora, por favor, não nos faça perder mais tempo!

Então Delphine deu um passo vacilante para trás, esbarrando em Felix enquanto via as portas do elevador se fechando e Cosima sumir atrás delas.

Com os níveis de adrenalina começando a baixar em seu corpo, ela se sentiu tremer dos pés à cabeça.

De novo não... Esse pesadelo de novo não...

Felix não estava muito melhor do ela... Seu rosto já estava molhado de lágrimas e ele parecia bastante perturbado. Puxou a loira para um forte abraço que foi retribuído na mesma intensidade.

– Eu fiquei medo que ela tivesse morrido – ele confidenciou em prantos.

– Eu também – ela disse em um sussurro abafado.

As pernas de Delphine estavam bambas e ela sentia que se eles não tivessem se apoiando mutuamente, ela provavelmente já teria desabado no chão.

– Temos que manter a calma – ela disse mais para si do que para ele. – O pior já passou.

Começando a recobrar sua racionalidade, Delphine findou o abraço de Felix e foi a passos largos de volta para a sala de quimioterapia com o rapaz lhe seguindo apressado. Ao passar pela porta ela atraiu o olhar de todos os presentes, mas não deu atenção para isso; seu objetivo ali era um só. Foi ávida até o lugar que Cosima havia ocupado e pegou afoita a bolsa do medicamento que havia deixado naquela situação.

Leu o rótulo da bolsa de soro.

Delphine chegou até conferir na prescrição que havia sido deixada em cima da mesa de apoio, mas não havia erro; o remédio estava correto.

Se ela ficou aliviada pelo efeito tão extremo não ter sido causado por um erro da enfermeira, também ficou aflita pela mesma razão. O que poderia ter causado um choque anafilático em Cosima se não uma falha humana?

Bom, ela tinha um palpite. Porém aquilo era tão raro...

– Com licença, doutora – disse um homem de meia idade chamando sua atenção ao se aproximar. – É que minha mãe terminou a medicação e eu já estou atrasado para o meu trabalho...

Delphine olhou ao redor e notou que não tinha nenhum profissional atendendo naquela sala. Não era a função dela – como o próprio Dr. Duncan havia lhe lembrado – e a enfermeira logo deveria estar de volta; mas ela não poderia simplesmente virar as costas para todas aquelas pessoas.

– Ok, eu já estou indo – ela falou se voltando para o rapaz que a acompanhava – Felix...

– Eu vou tentar conseguir alguma notícia dela – ele se adiantou em dizer.

– Obrigada. Por favor, me ligue se ficar sabendo de alguma coisa.

– Claro.

Ao passo que o amigo se virou para sair da sala, Delphine se dirigiu para a poltrona onde havia sido solicitada. A mãe do homem era uma senhorinha franzina, que alinhada em seu lugar como estava, aparentava uma enorme fragilidade.

– Olá – a loira chegou dizendo, dando seu melhor para pensar apenas no momento presente e se concentrar no que estava fazendo. – Posso tirar isso do braço da senhora?

Debilmente a velhinha estendeu o braço para ela, que com as mãos devidamente protegidas por luvas, começou a retirar o acesso venoso.

– A moça vai ficar bem? – a senhora perguntou com sua voz fraquinha.

Delphine perdeu as palavras por um instante. Sentiu a garganta apertar e os olhos ficarem ardidos.

– Sim – ela respondeu segurando firmemente as lágrimas e tentando forçar um sorriso nos lábios. – Ela vai ficar bem.

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