⊱ 𝙇𝙞𝙫𝙧𝙤 𝙄; Tulipas
✣ Capítulo III: Tulipas ✣
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Anos depois...
Tudo ainda era uma incógnita para Park Nam-do que fingia estar feliz ao escutar as piadas dos investidores japoneses em mais uma das intermináveis reuniões de sua empresa. Desta vez a conversa estava rolando em meio a um evento beneficente de gala que a TK Entertainment organizou para que pudesse apresentar seus novos talentos a todos.
- Boa noite senhores, me permitem levar meu irmão por um segundo? – DaeHoon apareceu com a pontada de esperança que Nam-do precisava para sair daquela conversa entediante.
Ambos se aproximaram do bar pedindo seus copos de uísque enquanto observavam dezenas de pessoas transitarem por entre os espaços vagos das mesas onde os convidados conversavam animadamente sobre negócios.
- Onde está Choi DaEun? Não convidou sua namorada para a festa? - Indagou virando o líquido do copo contra a garganta.
- Ela teve de resolver alguns assuntos importantes na promotoria, por isso virá nos buscar mais tarde. - Sorriu gentilmente como sempre costumava fazer. - Isso significa beber até cair.
- Faça isso e ela irá te espancar novamente. - Varreu o olhar sobre o local. Seus olhos se prenderam em uma das garçonetes, diferente das demais esta possuía o cabelo preso no cós do boné, seu boné escondia boa parte da face como um segredo a ser revelado.
Por mais que lutasse contra seus instintos, suas memórias o levaram novamente a aquela noite vinte anos atrás, pela porta entreaberta de seu quarto via as longas madeixas escuras escondidas por um chapéu, o fervor com o qual a moça lutava por sua vida. Seus lençóis estavam molhados já que devido ao medo que sentira não conseguiu segurar a urina, o que o impediu de fazer qualquer coisa a não ser observar a cena.
Anos após o evento e ninguém jamais acreditou em suas palavras ao relatar que havia visto uma garota, já que sem um rosto do qual pudesse descrever a polícia julgou como a imaginação fértil de uma criança traumatizada.
Lutou por longos anos até que conseguisse viver com a dor e já adulto reerguer o império de seu pai que agora utilizava uma cadeira de rodas para se locomover. A sua empresa era tudo que tinha e por ela lutaria até seus últimos dias. Embora seu irmão insistisse que ele se casasse e constituísse uma família para não ser o único solteirão da família, mas isto constava em último lugar nos seus planos. Seus devaneios se desprenderam ao avistar o rosto da jovem que lhe devolveu o olhar fixamente antes de voltar a seu serviço o ignorando.
- Se estiver interessado, vai lá falar com ela. - DaeHoon comentou pedindo outra dose que foi retirada de sua mão por seu irmão que virou o copo em um gole seco. – O máximo que pode ocorrer é você levar um belo fora.
- Preciso voltar à reunião. Fique de olho no Wonsang por mim. - Pediu devido ao histórico do amigo com as bebedeiras sem fim.
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Ainda curioso pela jovem garçonete que rondava as mesas do fundo evitando a do empresário, Nam-do ergueu-se circulando por alguns acionistas rumo ao bar outra vez, acreditava que se fosse sortudo o suficiente poderia vê-la novamente ao retornar para encher sua bandeja.
Não tinha o costume de se interessar por garotas, raramente prendia sua atenção em uma moçoila qualquer filha de um de seus companheiros de trabalho, entretanto jamais fora o tipo de homem que gostava de misturar trabalho com prazer.
Com a chegada da moça no balcão, o jovem executivo pode observar com mais atenção os detalhes de seu rosto. A franja cobria boa parte se seus olhos enquanto os cabelos caíam como cascatas pelos ombros até a cintura em um rabo de cavalo apertado. A blusa branca estava abotoada até o pescoço e a saia bege caqui destacava suas curvas por cima da meia calça escura.
Após desviar o olhar para as mãos da garota na procura de uma aliança, a cicatriz que residia entre a palma da mão cercando a área do polegar ao dedo médio. Um lapso passou por sua mente lhe lembrando de uma memória que esquecerá ainda jovem.
Em seu quarto, afugentado pelos recentes gritos de seus pais ele esgueirava seu olhar pela fresta do cobertor. Uma jovem se aproximava da porta verificando seu irmão que dormia profundamente. Entretanto antes que chegasse à cama dos garotos, alguém a puxou para fora do quarto, assustada tentou se segurar na porta com todas suas forças emitindo um grunhido de dor quando o metal da fechadura cortara a palma de sua mão.
Vagou por este momento em seus pensamentos até que um estrondo ocorresse no salão segurando a atenção de todos que ali estavam. O homem olhou na direção vendo seu amigo Wonsang ao lado de uma mulher irritadiça com seu vestido branco sujo de vinho, a acionista parecia gritar com ele enquanto uma das garçonetes se desculpava. Soltou sua taça indo em direção aos dois tentando apaziguar a situação.
- Licença senhorita, posso ajudar? – Se curvou diante da moça.
- Esse idiota derrubou vinho no meu vestido. – Olhou ferozmente para a menina. – Quero que o demitam.
- Idiota? Aish. – Wonsang ponderou sobre as próximas palavras, uma cena pública em um evento cercado por repórteres era o último de seus desejos. – Essa velha esbarrou em mim ao levantar.
- Velha? - Balbuciou a garçonete recolhendo os cacos de vidro. – Eu assumo a responsabilidade.
- Você? - A mulher virou em sua direção. – Como um serviçal vai compensar o custo de um vestido caro desse? O que vai fazer, vender sua casa?
- Me desculpe. – Abaixou-se no chão ajoelhando em frente à moça que lhe jogava o preço do vestido com hostilidade na voz. – Eu posso mandá-lo para a lavanderia e devolvê-lo. – Sentiu a mão da mulher contra seu rosto lhe causando desequilíbrio.
- Acha mesmo que um vestido desse pode ir para uma lavanderia podre? – A mulher apanhou a garrafa de vinho de sua mesa.
- Sinto muito senhorita, isso foi apenas um erro. – Wonsang pronunciou tentando conter a ira da mulher.
- Me diga o que fazer e eu farei. – A jovem corrigiu a postura desculpando-se novamente.
A essa altura boa parte do salão estava envolta a confusão. Outro barulho soou e cochichos soaram pelo local "Ela bateu de novo na menina". Wonsang ao lado dela tentava impedir as agressões da mulher que insistia dizendo que o culpado deveria realizar a tarefa. Mas nada os havia preparado para o que iria acontecer, o vinho tinto escorria pelo cabelo da garçonete manchando sua pele, grudando em suas roupas e escorrendo pelo chão até os pés de outros convidados que tiravam fotos do acontecimento sem fazer nada para evitar.
- Limpe. – A mulher ordenou sentando-se novamente na mesa.
- Eu deveria? – Questionou fitando o chão, incerta do que estava prestes a fazer. – "Quem sujou deve assumir a responsabilidade", foi o que nos disse agora a pouco. A senhora muda de opinião rápido demais.
Esboçou um sorriso amarrando o resto do cabelo para dentro do boné e voltando a limpar o chão. A acionista bufou erguendo a mão novamente.
- Já chega Kim Bok Joo. – Nam-do sentiu seu estômago revirar segurando a mão da moça retirando sua atenção da garçonete.
- O que pensa que está fazendo? – A mulher olhou na direção da voz. – Quem pensa que é?
- Ao menos que queira pagar uma indenização de milhões de wons por direitos morais, sugiro que pare. – Retrucou a mulher.
- Que seja, saia e me traga outra garrafa de vinho – Ordenou para a garota.
A garçonete olhou a sua volta vendo todas as câmeras apontadas para si, levantou-se indo em direção a cozinha, parou contra uma parede ouvindo os milhares de pedidos de desculpa de outros funcionários, ela tentava dizer que era a culpada de tudo isso acontecer, não deveria ter esbarrado no homem, e suplicava a todos para que não cuspissem nos pratos dos convidados e se importasse apenas com seus empregos, já que vinho não a mataria.
Min Seo se disfarçara para entrar naquele evento e quase pusera seu plano em risco por um momento de raiva. Engoliu o choro voltando a seu personagem sorridente para os membros da cozinha, fizera até uma piada dizendo que era o banho mais caro que tivera em anos.
Após secar a abundância de vinho de suas roupas, ela esboçou novamente seu sorriso pegando outra garrafa de vinho e alguns panos. Voltou ao salão em meio às fofocas entregando a garrafa ao limpar o chão grudento. Algumas das socialites a ignoravam enquanto outras riam em sua direção.
O jovem executivo pediu um favor a um de seus secretários, para que descobrissem mais sobre a garçonete a fim de recompensa-la por esta ocorrência desastrosa. Sentia-se culpado por algo deste calão ocorrer em um de seus eventos, a mídia não perdoaria a TK Entertainment e acima de tudo sua consciência não o deixaria em paz enquanto não desse um jeito de reparar o que havia acontecido.
Já era meia noite e não havia avistado mais a garota a andar pelo salão. Do lado de fora do prédio quando notou uma moto estacionada próxima a entrada do fundo do prédio. Reconheceria de longe a mesma pintura amarela com detalhes em tribal pertencente ao seu melhor amigo.
Ko Wonsang era a estrela de mais renome de sua empresa, famoso por papéis caracterizados por bad-boys. Por isso entendia facilmente o motivo do rapaz gostar tanto de motocicletas. Observou ele sair do prédio com os braços sobre o ombro da moça que parecia tremer ao subir na moto, colocou seu capacete subindo na moto em seguida.
- O que aconteceu? Parece que viu um fantasma. - Choi DaEun chegara a pouco para buscar os rapazes.
- Wonsang está namorando? - Questionou a seu irmão que apenas respondeu um singelo "não".
- Se quiser depois posso investigar mais sobre. Já terei que lidar com o caso da socialite sociopata, posso emendar um caso no outro. - DaEun ligou o carro saindo com o par de garotos para casa.
Afim de quebrar o clima pesado que estivesse no carro, DaeHoon ligou o rádio em uma estação qualquer. A música calma durou alguns minutos antes de ser interrompida pelo plantão local que supostamente anunciava a descoberta de um cadáver na capital.
Os detalhes do crime chamaram a atenção da promotora que dirigia calmamente pelas ruas movimentadas do centro, mesmo sua memória sendo falha, era capaz de ter breves recortes temporais sobre casos antigos que analisou na faculdade de direito. Quando o jornalista mencionou as flores deixadas por toda a cena do crime, seu telefone tocou insistentemente. A sede de polícia suplicava que para que voltasse a sala da promotoria e sem recusar a moça deixou seu namorado e o cunhado em casa antes de voltar à direção.
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