⊱ 𝙇𝙞𝙫𝙧𝙤 𝙄; Rosas-do-Deserto
✣ Capítulo X: Rosas-do-Deserto ✣
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Kang Tae Oh ainda possuía todas as lembranças de sua adolescência tão vividas quanto às flores que banhavam a sala do comitê de boas-vindas do encontro de seu antigo colégio em diversas tonalidades alegres e elegantes. Desperdiçara muito tempo odiando todas aquelas pessoas com as quais convivia durante os dias de estudante e sabia exatamente o porquê.
Por conta de seu pai ser dono da maior rede de hotelaria de Incheon, Tae Oh era arduamente cobrado para participar dos eventos sociais e estabelecer conexões com os diversos filhos mimados dos acionistas mais nojentos que conhecera.
"Apenas um sorriso, uma breve saudação", este mantra era eficaz contra a incômoda sensação de permanecer mais do que dez minutos naquela reunião e consequentemente por alguma razão desconhecida, todos pareciam se alegrar com um cumprimento vindo dele.
Aquelas pessoas sofriam tanto para lhe chamar a atenção que eram capazes de se contentarem só com isto? Alpinistas sociais eram como abutres que rondavam a sua carne atrás de qualquer chance de devorá-lo enquanto exalavam o pior dos perfumes importados trajando as grifes mais caras que o dinheiro poderia comprar.
Seu terno preto estava impecável no esbelto corpo esguio, o homem sentado em uma mesa no centro do salão brincava com a taça entre os dedos aproveitando-se da primeira deixa de seu secretário para fugir daquele local, como se fosse o mesmo adolescente isolado de anos atrás, correu por entre os corredores saindo pela quadra de basquete.
O telefone tocava insistentemente no bolso da calça, mas ele não estava nem um pouco a fim de atendê-lo. Tomou as chaves do carro saindo rumo ao antigo estabelecimento em que costumava matar as aulas onde uma amiga de seus tempos de escola sempre lhe atendia com mais chantili que o permitido em seu copo.
"É para compensar pelo seu destino", frase dita por ela que nunca possuiu qualquer sentido para o rapaz.
Estacionou na porta da frente da cafeteria que agora possuía um letreiro de LED moderno no lugar da placa de madeira de anos atrás, fora isso muitas outras modificações haviam sido feitas, o piso agora era composto por tijolinhos vermelhos e as paredes possuíam mensagens de giz que deixadas pelos clientes coloriam toda a atmosfera junto a pequenas lâmpadas que iluminavam as mesas.
Do outro lado do balcão uma jovem usava costumeiro rabo de cavalo com o laço de cetim negro que escondia boa parte de seu rosto completando o uniforme de maid café, a máscara que cobria sua boca possuía o logo da loja. O aroma era preenchido por baunilha unido ao doce cheiro de biscoitos recém assados.
- Você ainda os assa neste horário? Não estou mais no colégio, pode parar de esperar que eu venha após a saída. - Murmurou sentando-se próximo ao balcão fitando o relógio em formato de gato. - Eles vão ficar ali até o dia seguinte agora.
- Não temos só você de cliente nesta loja Sr. Kang. - Retrucou preparando o habitual café gelado que Tae Oh pedia todas às vezes. - Esta hora as crianças saem do dojô ao lado e sempre compram os biscoitos em formato de urso.
- Mi-so, te conheço desde o colégio, então não pode ser menos formal comigo? - A garota apenas negou com a cabeça servindo um prato das delícias açucaradas ainda quentes. - Hey, eu não pedi isso.
- São por conta da casa, assei especialmente para você. - Limpou o balcão o vendo bebericar sua bebida.
- Então admite que são para mim. - Tocou o próprio peito fingindo espanto. - Colocou um rastreador em mim igual, meu secretário?
- Eu apenas pressenti que algo bom aconteceria hoje, então fiz mais biscoitos do que o normal para comemorar. - Sentou-se na cadeira a sua frente pegando um dos doces o levando a boca. - Como foi a reunião? Vi alguns dos meninos que costumavam estudar em sua escola passarem por esta rua em seus carros chiques.
- Sim, está tendo uma reunião. - Descansou o copo no metal negro da mesa. - Mas eu fugi porque estava pior que a festa de formatura.
- Você faltava às aulas porque eram chatas. - Comentou largando o biscoito no prato de porcelana branca. - E agora quando tudo que precisa fazer é comer comidas gostosas e acenar, também foge às pressas como um coelho assustado.
- Não é bem assim, você saberia disso se tivesse continuado a estudar. - Se arrependeu amargamente do que dissera no momento em que a garota saiu da mesa voltando para o balcão.
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Flashback on.
Anos atrás ele conhecera Mi-so durante uma das intermináveis aulas de literatura coreana, a garota recém-transferida nunca chegara a trocar uma palavra sequer com qualquer outro aluno e consequentemente isso incluía Tae Oh. Era costume ignorara-lo quando eventualmente costumavam se cruzar no corredor.
Pouco tempo depois a moça havia virado alvo de chacota pelas salas de toda a instituição, não sabia ao certo o motivo pelo qual todos pegavam tão pesado e naquela época possuía muito mais problemas para se preocupar do que uma colega de sala.
Durante o pior período de sua vida, não foi uma surpresa para ninguém quando a pequena garota de madeixas achocolatadas e bochechas rosadas assinou a desistência da escola se isolando ainda mais de todos. Ninguém a via nas ruas ou nos lugares em que costumava frequentar após as aulas, não tardou para que houvesse boatos maldosos insinuando que havia cometido suicídio.
Porém o rumor mal-intencionado se tornou verdade quando forçado por seu pai, Kang Tae Oh visitou seu enterro. O clima estava muito pior do que poderia imaginar, as pessoas se mantinham caladas enquanto comiam evitando os pais da garota que se recusavam a sair da entrada do saguão parecendo estarem sendo forçados a permanecer naquele local.
Durante a cerimônia não era permitida a entrada de nenhum tipo de flor, muitos dos convidados eram obrigados a responder perguntas inconvenientes de dois policiais que tentavam descobrir a causa da morte da garota que constava como indefinida no laudo da autópsia, apesar de ser submetida ao processo duas vezes. Não houve a caminhada com o caixão até o carro que a levaria para a área do enterro e todos tiveram que ir embora antes da finalização da homenagem.
Tae Oh passou o resto do dia em completo silêncio recordando-se apenas de um momento breve em que ela se sentara ao seu lado durante a aula para um trabalho. Na época o bullying já havia começado, mesmo assim o sorriso em seu rosto não evidenciava o que passava em sua cabeça.
Lee Mi-So parecia ser uma mulher forte demais para escolher tirar a própria vida.
O tempo se desprendeu facilmente como a linha de um tear que se desenroscava das agulhas do destino até que estivesse no último semestre do ensino médio. Naquele dia jamais poderia imaginar que reencontraria a garota trabalhando no quiosque de um museu, todos os alunos que frequentaram aquele passeio pareciam assustados com a repentina aparição pós-morte de Mi-so e muitas garotas de sua turma causaram uma confusão atordoadas a ponto de pararem em uma delegacia no final da excursão.
Durante as três horas que se sucederam na delegacia Tae Oh se viu na necessidade pela primeira vez de ter a amizade alguém, talvez tenha sido naquela noite que seu destino mudara para sempre.
- Lee Mi-so, você esteve se sentindo só por todo este tempo? - Ditou contra as barras de ferro da grade que o distanciava da garota recebendo apenas um aceno de cabeça como resposta.
Flashback off.
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- Terra para Tae Oh! - Voltou sua atenção para o ambiente da cafeteria onde presenciava a amiga acenar com um pano próximo a seu rosto. - Você esteve parado olhando para o nada por muito tempo, o que aconteceu? O café estava ruim?
- Nada, eu só me peguei pensando em como foram estranhas às circunstâncias em que nos conhecemos.
- Naquela época eu fugi de casa por umas semanas e vocês organizaram até um funeral. - Comeu outro biscoito fazendo careta desta vez. - Eca, canela.
- Você odeia mesmo canela né? - Pegou o doce em sua mão dando outro em troca. - Semanas? Demorou nove meses para seus pais descobrirem que estava viva do outro lado da cidade.
- Viva. - Riu fraco. - Não é a melhor palavra para se usar considerando como eu estava naquele dia.
A autora de Jardim de Sangue podia encarar facilmente aquele menino e se perder no sorriso que se destacava em seus lábios. Quando criou Tae Oh fez de tudo para que se tornasse um homem frio que concorreria com o protagonista no mundo econômico do enredo de seu livro.
Entretanto desde que ele a encontrara perdida após o seu terceiro pulo de capítulo no livro quando ainda estava se adaptando a viver dentro da obra após salvar Nam-do de ser morto em sua própria casa, a personalidade daquele rapaz mudara drasticamente para melhor.
Raramente o via triste ou com raiva, pelo contrário, um sorriso brilhante seguido do olhar sincero que era redigido a ela todas as vezes que se encontravam tornou-se a única imagem que preenchia sua mente ao pensar nele. No fim desta imagem estava a amarga sensação de tê-lo feito o assassino da obra original, por mais que desejasse, nenhum pingo de chantili a mais seria o suficiente para lhe prover o perdão que precisava dele.
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