⊱ 𝙇𝙞𝙫𝙧𝙤 𝙄; Rosas
✣ Capítulo XIII: Rosas ✣
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Min Seojun comemorava feliz com seus amigos na lanchonete local a vitória de seu time de baseball, o torneio iniciara há poucos dias, porém já levavam consigo no currículo três vitórias consecutivas. O pôr-do-sol se tornara uma lembrança distante quando a mãe do garoto ligou ordenando para que retornasse para casa.
O rapaz dono de madeixas castanhas possuía um porte que apesar de magro era forte o suficiente para efetuar diversas tacadas dignas de um jogar profissional da liga. Seus dias eram resumidos aos treinos, a faculdade e aos estudos. O pouco tempo vago que usufruía desperdiçava com a irmã mais nova.
Os irmãos Min eram conhecidos pelas constantes brigas e demonstrações de afeto repentinas. Tinham uma forte ligação desde que se mudaram para a casa dos avós no subúrbio da cidade. Reclamou ao telefone pelas broncas que recebia da irmã por ter saído de casa ao invés de ajudá-la com o trabalho escolar como prometido.
Desligou a videochamada navegando por suas redes sociais a procura de qualquer coisa que lhe fornecesse entretenimento até o ponto de parada. Andava pelas ruas estreitas do distrito rumo à avenida principal onde poderia pegar o ônibus para sua casa.
O celular caiu no chão trincando a tela de vidro frágil, o corpo do garoto desnorteado se juntou ao aparelho em um baque surdo e pesado, a mancha de sangue escorreu pela nuca em direção à orelha se espalhando pelo chão. Lamentou imensamente não ter estado ao lado da irmã mais nova naquela fatídica noite.
- Promessas não foram feitas para serem descumpridas. - A voz se tornou presente, a visão turva do garoto devido ao golpe que recebera lhe permitiu ver apenas as botas escuras como madeira de pinheiro.
Sentiu seu corpo ser arrastado pelo chão de concreto das vielas pela qual transitava a sensação do asfalto contra seu rosto era gelado deixando seus músculos dormentes e sua roupa com sinais de desgaste pelo atrito contra as pequenas pedras que encontrava pelo caminho.
Fora jogado contra o macio couro do banco traseiro do carro, estava escuro, a chuva que começou a cair cobria qualquer rastro que deixara pelo caminho. Seu medo naquele momento baseava-se na ideia de que aquela pessoa lhe privasse de todos os momentos de vida que lhe restavam ao lado de sua família.
As lágrimas escorriam pelo rosto do castanho que mesmo após ser amarrado recusava-se a morrer nas mãos de alguém desconhecido. Reuniu suas últimas forças para chutar a porta do carro, por mais que tentasse era incapaz de escapar, todas as circunstâncias estavam contra ele. Inspirou fundo exausto, o odor doce adentrou suas narinas causando o pavor ao recordar o cheiro característico das rosas.
Como um flash as cenas do jornal matutino repercutiram em sua mente, embaralhadas como um jogo cruel de pôquer do qual apostara todas suas fichas e perdera. Sabia que iria morrer, estava nas mãos de um dos assassinos mais procurados. A sensação de terror enrijeceu seu corpo à medida que o medo tomava conta de suas articulações uma a uma.
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O vidro fume impedia sua visão do mundo exterior ao carro, as gotas de chuva que escorriam pela porta levavam consigo as esperanças e crenças do rapaz que rezava sem parar implorando para que Deus tivesse piedade de sua vida. A risada oca anasalada do condutor do veículo era a chave final para que tudo se tornasse a cena macabra da qual Min Seojun apenas via em filmes.
Do rádio uma melodia francesa, calma e romântica ressonava como um louvor à morte. Queria estar ao lado de sua irmã novamente, poder abraçá-la, ler histórias de ninar durante a noite, levá-la para a escola e competir nos jogos de fliperama. Tudo aquilo estava prestes a ser retirado dele como uma rosa a ser podada de seu lar por um jardineiro experiente.
- Você já ouviu a história do Vale Secreto? - Questionou o homem que conduzia pelas rodovias.
Seojun grunhiu em negação, queria ganhar tempo o suficiente para que pudesse se desfazer das amarras. Planejava se jogar do carro na primeira oportunidade que tivesse, um braço quebrado ou uma perna era a menor de suas preocupações desde que saísse com vida.
- Existia um coelho que passeava pelas cidades em busca de crianças perdidas, as reunia e levava para um lugar além da floresta, um vale encantado onde elas poderiam ser felizes. - Olhou o rapaz pelo retrovisor do carro, podia ver as mãos se mexerem escondidas pelo tronco. - Mas ele levava somente crianças humildes, que sofriam em seus lares ou aquelas que ninguém jamais sentiria falta, isso porque estes pequenos seres eram capazes de fazer tudo para serem livres.
O universitário parou para ouvir a história que estava tomando um rumo diferente daquela que lia nos livros infantis de sua irmã. Não era capaz de entender o motivo de sua repentina curiosidade, mas encarou como uma chance de obter respostas sobre o assassino, qualquer coisa que o ajudasse a repassar para a polícia, detalhes que os fizessem identificar o culpado.
- Crianças como a Ahn. - Seus reflexos congelaram quando o nome da garota saiu dos lábios da figura que tomava o assento da frente. - Uma vez um garoto rico acordou durante a noite quando ouviu passos estranhos do lado de fora da janela de casa, espreitou-se no parapeito da sacada olhando curioso o coelho levar as crianças que sonâmbulas o seguiam sem vacilar.
O nome de sua irmã fez com que as lágrimas retornassem a cair, temia pela segurança de sua família. Independente das matérias que insistiam em dizer que todos os assassinatos eram casos isolados em lugares distintos, rezava mais uma vez, para que desta vez, aquele homem não mudasse seus métodos.
- Então ela pegou seu tapa-olho e pulou a sacada descendo pelos canos de água até a fachada da casa onde seguiu as crianças e o coelho até o Vale Secreto. - Riu imaginando a cena. - Como aquele coelho poderia ser tão cego a ponto de não ver uma criança fingir? Quando chegaram ao vale todas elas passaram a viver seus dias alegremente dividindo as tarefas e tudo mais que possuíam, menos o garoto rico que estava acostumado com tudo dado de mão beijada.
Estacionou o carro frente a uma loja de conveniências, não havia nada próximo além de um posto de gasolina já fechado. Abriu a janela acendendo um cigarro entre os dedos, o levou a uma boa em uma longa tragada soltando a fumaça quente e esbranquiçada no carro. Seojun relaxou no banco ao notar o brilho do papel que iluminado pela luz se tornava visível atrás do banco do passageiro.
Sua foto pairava ao lado da de uma garota de longos cabelos castanhos, algumas linhas eram traçadas de vermelho indicando a ligação entre os dois. Nunca havia a visto antes, entretanto entre as duas fotos possuíam rabiscados os dizeres "irmãos". Guardou o rosto da garota em sua memória tentando entender se tudo aquilo não passava de um mal-entendido.
- Insatisfeito reclamava todos os dias levando as outras crianças a quererem sempre mais e brigarem entre si, num piscar de olhos tudo que o coelho havia construído durante anos desabou como um castelo de cartas levado pelo vento. - Outra longa tragada, a voz irritadiça do homem tomou um tom ameno, melancólico. - O seu castelo de cartas também está sendo levado agora, não?
Despejou uma pequena parcela do líquido transparente no rosto do jogador que lutava contra a sensação inebriante do clorofórmio atrelada ao pedaço de flanela. As pálpebras cansadas pesavam, seu coração diminuía as batidas para um ritmo lento e calmo, o sono era uma parte vital dos efeitos do agente químico.
- Bons sonhos. - Voltou a ligar o motor do carro partindo.
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Recobrou a consciência em meio às árvores de um parque florestal. Seu corpo ainda estava pesado, suas pernas bambas dificultavam que se levantasse sem o equilíbrio de suas mãos que estavam amarradas a corrente. O gosto metálico tomou conta de sua boca evidenciando que havia outra corrente lhe prendendo pela face como a focinheira de um animal silvestre, dificultando sua respiração. Estava seminu e o clima frio do local não contribuía para que recuperasse a força necessária para tentar livrar-se das amarras.
Apoiou-se nos joelhos para erguer o tronco, atado a alguém que um pouco longe de si descansava em uma cadeira, trajava preto, seu rosto coberto pelo boné, óculos escuros e a máscara que cobria a boca. A pessoa parecia rir da situação em que estavam, prostrou-se de pé se aproximando do garoto a passos lentos, o som da grama sendo amassada contrastava com o fraco efeito sonoro das folhas nas copas das árvores batendo umas nas outras pela corrente de vento que as atravessava.
Seu rosto alvo e arranhado foi tocado pelas mãos do assassino que desenhou suas feições com o polegar traçando um caminho do lóbulo até os lábios arroxeados. Sua aparência era linda, lhe doía ter de se desfazer de tamanha beleza. Soltou as correntes desistindo por um momento de seu plano, Seojun era a réplica perfeita do garoto que não conseguira alcançar em seu mundo.
Ordenou para que ele corresse o mais rápido possível para longe daquele lugar, dando-lhe a esperança de que seria possível sobreviver em meio a todo aquele caos. Deixou que o garoto se distanciasse alguns metros antes de pisar nas correntes fazendo com que o corpo retrocedesse violentamente contra o chão.
Tomou em mãos as dobradiças de metal e as enrolou entre os dedos se aproximando do garoto ao se abaixar para socar seu rosto quebrando-lhe o nariz. A força do ataque fez com que o universitário virasse o rosto, suas pernas foram em direção ao homem lhe acertando, o derrubando.
Ajoelhou-se unindo as mãos acorrentadas contra o rosto do assassino desferindo um golpe rápido, seu treinador de baseball exigia a todos os jogadores agilidade durante as partidas, utilizando todos os recursos que tinha, tomou as correntes da mão do outro levantando para correr o mais rápido que pôde antes de voltar a ser perseguido.
Os raios de sol indicavam o seu nascimento no leste, ignorando todo o seu falho senso de direção o jovem correu em direção a ele evitando o impacto contra as árvores. O soar da arma ecoou pelas árvores, entretanto nada lhe atingira. A rodovia próxima lhe permitia ouvir o som das rodas dos caminhões rasgando contra o asfalto, se jogou no primeiro vão que viu por entre a densa mata evitando ser visto pelo assassino que lhe rondava.
A sombra do assassino surgiu próxima o fazendo se esconder entre um tronco repartido no chão. Os passos na grama se tornaram distantes o bastante para que Min Seojun voltasse a correr em direção à rodovia se jogando contra o asfalto.
Outro tiro ecoou, mas desta vez a dor preencheu a região de sua perna, o derrubou próximo a um ônibus que freou vendo o corpo desnudo do jovem cair contra o chão. Alguns dos passageiros desceram às pressas para ajudar enquanto outros assustados apenas observavam da janela.
Irritado pela fuga, frustrado pela falha em seu plano, retornou pela trilha curvada em desgosto. Queria ir atrás da família daquele rapaz e se vingar pelo mau comportamento dele, mas agora com a polícia acionada estaria em uma mira acirrada. Por sorte o golpe que sofrera não havia quebrado seus óculos a ponto de revelar sua identidade.
Recolheu tudo que deixara para a grande cena teatral macabra que havia preparado na confecção do corpo e seguiu seu caminho para o carro que estacionara do lado oposto da mata.
Insatisfeito com tudo que lhe rondava, precisava decidir sua próxima vítima, tinha sede de sangue e o desejo pela beleza de concluir o seu enredo. Estes momentos lhe assombrariam pelo rasto de sua jornada, estava decidido, mataria o próximo de sua lista..., mas não deixaria que o rapaz continuasse vivo por muito mais tempo. Ele serviria como um aviso a Lee Mi-so de que sabia como e onde machucá-la, mesmo sem tocá-la.
Seu maior objetivo era tê-la e acabar com os contratempos que tivera ao longo dos meses, mas antes precisava pegar o manuscrito do livro que a autora escondera em algum lugar do mundo em que estavam.
A seguiu por dias, mas nada foi capaz de revelar ou lhe dar uma pista próxima de onde estaria a obra, se pudesse ao menos ler o final e saber como tudo aquilo terminaria, ele seria capaz de alterar o destino reescrevendo "Jardim de Sangue" da maneira correta.
Entretanto possuía apenas uma pequena parcela de páginas que destacavam o meio do livro, com os recentes acontecimentos, notara que as palavras descritas ali mudavam conforme o enredo tomava caminhos e bifurcações que antes não estavam planejados.
Sabia como mudar o que queria, prever alguns pontos da história, porém sem todas as páginas isso não lhe valia de nada. Ligou o carro dirigindo pelo caminho a frente pensando nos próximos atos que precisaria exercer para corrigir o fracasso de hoje.
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