⊱ 𝙇𝙞𝙫𝙧𝙤 𝙄; Lavanda
✣ Capítulo XXXVI: Lavanda ✣
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"- Precisamos fazer com que parem de procurar pelo Assassino de Lótus, somente assim poderemos ser mais flexíveis. – A Rainha Vermelha traçara um plano perigoso para retirar o homem da mira dos policiais, como uma aranha a tecer a mais fina das teias. – Devemos te matar.
- E após isto? – Ponderou Song Kang sob a perspectiva arriscada daquela mulher, de fato seria perigoso expor a si mesmo, entretanto precisavam dar um fim ao primeiro ciclo antes de abrir as portas para o desconhecido.
- Ela será sua a partir do momento em que me entregar o que eu quero. – Proferiu sem mais delongas, não era segredo algum para ele que a mulher repudiava a existência de Mi-so naquele universo. – Assim que vocês retornarem para o seu mundo, este lugar será meu novamente.
- Como devemos fazer isto? - Apanhou a arma na mesa ao lado afastando a vontade de matar aquela mulher naquele momento.
- Cause uma pequena comoção, como se estivesse fora de controle. - Descreveu lentamente a fitar as orbes escuras com fervor. - De um motivo para que atirem em você como se fosse a única alternativa para detê-lo. Depois deixe que eu cuide do resto.
- Vai me deixar morrer de verdade? - Questionou sem desviar da mira ardilosa.
- Não desta vez. - Sorriu para ele em resposta. - Mas não conte com a sorte."
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Durante as férias escolares de inverno era comum que muitos estudantes se reunissem em cafeterias populares ou redes de fast-food, aproveitar o tempo livre sempre foi um dos passatempos preferidos da juventude coreana.
Com os grandes avanços da tecnologia, alguns ousavam passar as noites em cyber cafés com os amigos para desfrutar de jogos virtuais, como no caso de alguns adolescentes.
A neve fina que caía ao lado cobra boa parte da rua, o aquecedor estava ligado na potência máxima mantendo todos aquecidos, não tardou muito para que um coral de garotos comemorasse outra vitória de seu time em um torneio online.
A mesma neve trazia consigo a presença de um homem, este por sua vez era carrancudo e fedia a cigarro. Detalhe que foi ignorado para balconista que lhe entregou o passe para um dos computadores.
A madrugada chegou com um presságio dos gritos, diferente da salva de palmas que utilizaram para comemorar anteriormente, os adolescentes se escondiam abaixo das mesas evitando serem vistos pelo atirador.
Nenhum deles ousaria ser o herói a salvar a balconista de mais um tiro disparado sob seu peito. Song Kang deixará de lado todas as cordialidades de seus assassinatos ao revelar seu rosto para as câmeras que exibiam as gravações em tempo real num servidor online.
A porta dos fundos foi destravada pelos policiais que invadiram o espaço como formigas a se espalhar em busca de açúcar, pouco a pouco os gritos dos estudantes iam se tornando distantes conforme a multidão se esvaia, restando somente o assassino na mira das duas pistolas.
Por baixo de todas aquelas tatuagens, Song Kang ainda mantinha guardado a doce criança que possuía medo da morte. Encantado pelas promessas da vida eterna ao lado de Mi-so, permitiu que seu abdômen fosse baleado pelo oficial e num baque surdo o corpo caíra no chão esparramando-se pelo piso de cimento queimado, os olhos piscavam continuamente descarrilhando as lágrimas de alegria que ousaram traçar o rumo volátil de suas bochechas até o chão. Como em um frenesi, sua mente se apagou em um breu amedrontador ao abraçar a morte.
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O gélido metal da bandeja em que seu corpo repousava no necrotério causava calafrios por toda extensão da espinha, inalou forte o ar ao preencher seus pulmões novamente com aquilo que lhe pareceu ser tirado a força.
Chutou a porta da gaveta algumas vezes antes de romper o trinco de uma vez por todas, estava completamente nu e o clima frio da sala não contribuía para que parasse de tremer. Alcançou um dos jalecos no aparador ao lado da porta cobrindo o peito, as cicatrizes das balas já não residiam ali.
Na gaveta ao lado outro corpo idêntico ao seu repousava num sono eterno, como uma marionete a ser controlada pelo destino. A aparência daquele homem fora modificada através da caligrafia caprichosa da Rainha Vermelha ao narrar a série de eventos que daria fim a vida de Song Kang nas páginas do manuscrito.
Tateou as tatuagens da panturrilha do desconhecido catalogando cada detalhe para certificasse de que estava diante da cópia perfeita, a etiqueta em seu dedão fora posta no dele ao pôr o corpo sob a maca. Vestiu o punhado de roupas deixadas pelo necropsista no início da noite, arrastou a maca pelos corredores até o crematório evitando adentrar as portas pela qual passara em frente.
O forte odor de amônia preenchia todo o espaço até o andar inferior do prédio onde as câmaras de cremação jaziam em seu espaço habitual. Se apossou da ala abrindo o compartimento em que o corpo foi depositado para cremação, pela primeira vez na noite pode se olhar no espelho conferindo a nova face que contemplava.
Das pálpebras caídas até a curva dos lábios carnudos, um novo rosto para se decorar, agora assumira a vida de um homem que jamais tivera envolvimento em sua vida. Estava livre de todas as amarras que lhe prendiam a escuridão, poderia recomeçar e desta vez concluir seu propósito.
Observou as chamas consumirem pouco a pouco cada pedaço do antigo Song Kang, a carne derretida que se incendiava antes de chegar a seu fim entre as cinzas. Um breve adeus que pareceu despertador um lado adormecido por muito tempo, o mesmo lado que fora capaz de deixar o melhor amigo para morrer na chuva, o maldito traço que o fizera assassinar o noivo de Mi-so sem hesitação.
O desejo incandescente da ambição.
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- O assassino foi morto pela polícia! – DaEun adentrou o quarto de Mi-so as pressas constatando as pilhas de fotos que pareciam soterrar as paredes. – Puta merda!
A autora mantinha-se vidrada em cada pedaço de papel que compusera a visão pitoresca do cômodo, os passos rondavam cada canto atrás de uma fotografia em especifico, aquela que dera início ao seu tormento. Escondida logo abaixo das letras marcadas por tinta em spray vermelho, um par de amigos segurava uma criança no colo com um sorriso que esboçava felicidade.
Amassou o papel antes de picota-lo em diversos pedaços, como fez com outras fotografias antes de ser barrada pela amiga que lhe puxou para fora do quarto aos berros. Na televisão o rosto de In JaeHwa estampava o fim do caso que levara meses para ser decifrado.
"- Segundo relatos das testemunhas, o tumulto se iniciou quando uma jovem solicitou ao homem que se retirasse do estabelecimento após uma série de condutas inadequadas... – A jornalista pairava ao lado das imagens borradas da câmera de segurança. – A sede da delegacia da décima divisão de Incheon revelou a identidade do assassino graças a uma faca que fora encontrada no bolso interno do casaco do indivíduo, segundo o depoimento do detetive responsável pelo caso, nesta lamina fora encontrada sangue de uma das vítimas anteriores do caso Lótus de Incheon. Sendo assim, foi confirmado que a identidade do homem se tratava do serial killer que causou meses de terror na cidade. "
- Filho da puta! Ele arranjou um jeito de escapar da mídia. – Park Nam-do xingou deixando de lado seu autocontrole.
- Foi ele! – Respondeu Seojun chegando às pressas na sala de estar do apartamento. – Aquele homem está tentando nos deixar loucos. – Suas falas foram cortadas pela dolorosa vibração sonora que a televisão emitiu.
Todos precisaram tampar os ouvidos com as mãos para conseguirem se concentrar no que estavam diante de seus olhos, na tela de LCD as letras eram riscadas por uma força invisível que distorcia as imagens como obras surrealistas. Mi-so precisou pressionar os tímpanos com os dedos antes de poder ler a frase ali descrita, o ruído alto somente cessou quando o aparelho foi de encontro ao chão ao ser derrubado pelo adolescente.
"Quem será o próximo? "
- Que porra foi essa? E toda aquela merda no quarto? – Indagou DaEun buscando alguma resposta para os atuais eventos.
- Song Kang não morreria tão fácil. – Mi-so pareceu recobrar a consciência pela primeira vez desde o momento em que acordara, caminhando até o quarto da promotora ela retirou a parte que tinham do manuscrito de seu esconderijo. – Seja quem for a pessoa que está por trás disto, ela só pode interferir na realidade através do manuscrito.
- A única saída é deixa-lo obsoleto. – Proferiu Tae Oh erguendo as páginas entre todos os demais. – Acha que é capaz de escrever mais um trecho para a história?
- Algo que invalide a outra parte, como se fosse necessário que ele estivesse completo para que algo fosse alterado. – Pediu Nam-do evitando olhar nos olhos da autora, sabia que ia contra todos seus princípios descrever mais alguma cena naquele amontoado de papel.
Entretanto a jovem apenas tateou a escrivaninha atrás de uma caneta, riscando alguns parágrafos ela os substituiu por uma versão alternativa, rezou para que aquela mínima intervenção fosse o suficiente para que o final de Jardim de Sangue só fosse possível com a junção das duas partes do manuscrito.
Restara apenas poucas palavras que pudessem descrever o atual estado de desespero do grupo por zelar a segurança de todos, aos poucos cada palavra preenchia o espaço em branco dando fim ao tormento de serem manipulados por alguém através daquele amontado de folhas.
Num piscar todas as fotografias desapareçam do quarto ao lado deixando o papel de parede lilás a decorar o ambiente, a dor de cabeça causada pelo ruído desaparecera em questão de segundos deixando apenas um vazio silencioso no lugar. Todos estavam seguros naquele apartamento, pelo menos naquele momento.
A porta da frente fora escancarada pelo detetive que chegara com Wonsang em seu encalço, o ator demonstrava preocupação com todos ao narrar o ataque que sofreram através do rádio do carro. Aparentemente a pessoa por trás do evento buscara afetar a todos que rondavam a autora sem exceções.
Para alivio da garota o pequeno Dong-hee dormia calmamente no cômodo ao lado sem imaginar a situação caótica em que estava vivendo, sem mais delongas ela guardou o manuscrito dentre as roupas para doação novamente selando a caixa com a fita adesiva.
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