⊱ 𝙇𝙞𝙫𝙧𝙤 𝙄; Higanbanas
✣ Capítulo XXIV: Higanbanas ✣
"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente".
- "William Shakespeare."
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Tae Oh não proferiu nenhuma palavra ainda atônito pelo toque macio do gloss de morango contra seus lábios como fogo em chamas ardentes. O formigamento presente naquele simples gesto, à inquietação de seu coração e o incessável pensar por linhas tortas retirava toda a preocupação com o bem-estar da garota que fugira do hospital horas atrás.
Colou seus corpos devolvendo outro beijo, desta vez com mais intensidade. Seus dedos passearam pela cintura protegida pelo grosso casaco verde que pinicava a pele da palma de sua mão. A língua explorou cada canto de sua boca com calma, memorizando o espaço para se aprofundar em um futuro muito próximo.
Mi-so podia identificar a sensação quente do rubor em suas bochechas, com os olhos fechados e braços imóveis devido à surpresa do toque de Tae Oh, agarrou a bainha da blusa do rapaz tomando ciência do que aquele gesto significava para ambos. Muito antes de se interessar por Nam-do, havia um desejo implícito pela compaixão do melhor amigo que a acompanhava durante alguns dos momentos mais difíceis de sua vida.
- A Barraca do Beijo fechou, agora solte minha irmã. - Min Seojun fizera referência a comédia romântica que se tornou febre entre os adolescentes de sua escola para atrair a atenção do casal que mesmo após separar seus lábios, mantinham seus olhos intactos a se fitarem.
- O machucado está melhor? - Tateou a testa dela por baixo da franja recém-cortada com cuidado para não arruinar os falsos pontos dados pela enfermeira na noite passada. "Sim", murmurou a jovem sendo arrastada pelo irmão para a área onde haviam marcado de se reencontrarem com o detetive. - Este é seu irmão? Achei que seus pais daqui não tivessem outro filho.
- É uma longa história porco espinho. - Grunhiu Min Seojun enciumado. - Não temos tempo para um chá com biscoitos.
- Ontem à noite Seojun e o detetive In me resgataram do hospital a tempo. - Comentou a garota a caminhar de mãos dadas com o irmão que lhe parecia irritado. - Para resumir, Min Seojun é um personagem não planejado que tomou vida neste mundo e por alguma razão desconhecida possui aparência e nome idênticos a meu irmão no mundo real.
- Isto significa que Jardim de Sangue está tomando um rumo novo de acordo com os seus passos Mi-so. - Completou In JaeHwa tomando seu espaço entre o grupo de adultos que chegaram a uma área mais reservada da loja de departamentos. - E por esta razão Mi-so lhe beijou há alguns minutos, este foi à dela maneira de lhe trazerm de volta ao enredo do livro.
- Seojun, você poderia soltar minha mão? - Mi-so chacoalhou o braço demonstrando a inquietação que sentia. - Está apertando muito.
- Me desculpe. - Saudou rondando a proximidade que Tae Oh se mantinha. - Já está perto do horário do jantar, está com fome?
- Sim. - Sentia a barriga roncar, não comera nada desde o dia anterior o que lhe dava uma sensação de vazio no estomago que deixava a região dolorosa.
- Vamos comprar algo pelo caminho e comer em minha casa. - Pediu Tae Oh ao grupo que concordou com a ideia. - Park Nam-do está lá, irei mandar uma mensagem para DaEun e seu namorado nos encontrarem, ainda não contamos sobre sua fuga a eles.
- Então por favor não conte, ou aquela promotora irá matar esta garota. - In JaeHwa cortou os demais se dirigindo a saída do local.
- O assassino estava aqui com um casaco preto. – Mi-so rodeou o lugar com os olhos procurando qualquer vestígio que sobrara.
- Tem certeza? - O detetive seguiu a Srta. Lee indagando. - Eu estive de tocaia e não notei nenhuma pessoa com esta descrição.
- Eu posso ter imaginado? - Murmurou um pouco desapontada consigo mesma.
- Você está passando por momentos muito estressantes durante toda essa semana, precisa descansar um pouco. Talvez tenha sido apenas alguém que lhe chamou a atenção. - Concluiu depositando a mão sobre o ombro de Mi-so a consolando.
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Choi DaEun reclamava constantemente de quanto preferia estar comendo frango frito com soju ao invés da cerveja cara que seu namorado insistiu em comprar. Ao lado da amiga tratava de servi-la com um novo pedaço toda vez que o prato esvaziava. Sobre a mesa cinco caixas do empanado e delicioso frango frito sujavam o vidro negro na sala de jantar da casa de Kang Tae Oh.
Do outro lado dela, seu cunhado tentava disfarçar os olhares curiosos para com a escritora que parecia se concentrar apenas em mergulhar o pedaço crocante da carne branca em um dos potes de molho agridoce ou picante. Tae Oh a conhecia tão bem a ponto de retirar os pequenos pedaços de cebolinha fatiadas com a ajuda do hashi em sua mão direita.
- O plano de vocês é tornar o rosto dela popular? - DaEun buscou retirar a tensão instalada na mesa com o comentário.
- Se a Noona for reconhecida nas ruas pelas pessoas, pode ser mais difícil para que o assassino não se aproxime dela em público. - Min Seojun interferiu pegando uma garrafa de cerveja que foi retirada por Nam-do evitando que o menor de idade bebesse. - Hey, eu faço aniversário em dois meses.
- Até lá você ainda não possui idade para beber. - DaEun mostrou a lingue em uma careta enquanto abria uma das latas de refrigerante o entregando.
- Mas o que nos garante que o assassino não estará entre estas pessoas? - Nam-do recostou o talher no prato movendo seu tom em direção ao detetive. - Já é uma surpresa para todos que vocês dois tenham aparecido do nada e a levado, como podemos acreditar que um de vocês não é ele?
- A voz. - Mi-so proferiu pela primeira vez naquela noite trazendo a preocupação de todos. - Ele pode alterar o físico, mas nunca a voz. Pode forçá-la, oscilar ou até gritar, mas ainda é a mesma voz grossa, perturbadora.
- Você a reconheceu. - Enunciou a promotora simpatizando com a dor da garota.
- Aquele tom soa como a morte lhe chamando para cometer suicídio. Tentadora, capaz de manipular uma garota acreditar que a morte do noivo foi um acidente apesar das circunstâncias serem as mais estranhas possíveis. - O ódio crescia em seu peito apertando as costelas como um órgão que se expandia causando pressão em seus pulmões, a impossibilitando de respirar. - Foi o mesmo homem que tentou me impedir de publicar Jardim de Sangue, que meu irmão considerou melhor amigo durante toda sua vida, o mesmo ominoso rapaz que se aproximou do meu noivo como um lobo em pele de cordeiro. Song Kang.
A esta altura nenhum dos demais era capaz de proferir nenhuma palavra diante da cena, a escritora serrava os punhos com força ao segurar a faca que alguns segundos antes usaram para desprender a carne suculenta do osso. DaEun possuía os lábios trêmulos ao tentar imaginar o que se passava pela cabeça da amiga naquele ocioso e mudo momento. Entretanto, Mi-so exibiu um sorriso alegre ao pegar outro pedaço de carne de frango o mergulhando no molho avermelhado o devorando em seguida.
- Agora que sei quem é o diabo, o caminho para o inferno parece fácil; apenas uma ladeira para o fogo perverso. - Comentou aliviada.
- Por um momento achei que fosse explodir Noona. - Confessou Seojun assustado. - Você realmente tem a alma de uma escritora, senti o drama sem nem precisar olhar para você. - Por mais que a revelação da identidade do assassino pegasse todos de surpresa, nenhum deles foi capaz de prender o riso com a declaração do estudante.
- Como esse homem se parece naturalmente? - Questionou DaeHoon retirando o celular do centro da mesa baixando um aplicativo. - Podemos tentar montar o rosto e ficarmos cada um com uma foto para caso vejamos ele por aí, o senhor também pode procurar nos arquivos da delegacia, certo? - Se dirigiu ao detetive.
- Sim, DaEun também tem acesso aos arquivos da promotoria. Este rosto já deve ter sido registrado em algum momento, se não ele seria incapaz de viver silenciosamente todos esses meses.
- Eu tenho uma fotografia dele, quando vim para este mundo o meu celular estava no bolso. – Mi-so destravou o aparelho mostrando a todos que circulavam o objeto pela mesa. - A campainha soou interrompendo a conversa.
- Deve ser o Wonsang. - Comentou Nam-do. - Detetive In, poderia atender?
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Ko Wonsang terminara as gravações do último drama para qual fora escalado durante aquela tarde quando recebeu o convite de seus amigos para a reunião. Desajeitado reuniu seus pertences no camarim se despedindo do agente e tomando o primeiro táxi que encontrara na movimentada avenida ao lado do set de filmagem. O clima frio agraciava suas orelhas o levando a esfregá-las com as bordas macias do cachecol rosado que roubara de um dos figurinistas.
Duas horas depois tocara a campainha do apartamento de um dos amigos, se deparou com um homem um pouco mais velho com as feições do rosto destacadas por sua beleza. "Lindo", pensou consigo ao divagar pelos detalhes angelicais de seus olhos até a linha da mandíbula que era desenhada como um elegante quadro de algum artista famoso.
- Boa noite. - Não pôde evitar sorrir na presença daquele que o encarava curioso pela atitude repentina de Wonsang.
- Não vai entrar? O frango vai esfriar. - Abriu passagem para ele que correu para o interior da casa praguejando contra os amigos que começaram a comer sem ele.
In JaeHwa por outro lado riu com a personalidade ambígua do rapaz dono do cachecol extravagante. Retornando a mesa, não pôde deixar de notar os comentários direcionados a ele pelo rapaz que buscava saber alguns detalhes sobre o investigador, sentado junto a eles mantinha-se calado ao saborear os goles de sua cerveja.
Ko Wonsang não sabia dizer de onde provinha o interesse repentino no detetive, embora fosse tarde para querer achar uma razão que o justificasse. Estava interessado nele desde que pusera seus olhos algumas horas atrás, a relevância que dava a cada frase dita pelo homem somada aos sorrisos bobos durante as brincadeiras do grupo fisgara pouco a pouco o centro de gravidade do ator, aproveitou o momento que o grupo se dissipou pela casa para estreitar seus laços com o homem.
- Há quanto tempo é detetive? - Inquiriu abrindo outra garrafa de cerveja para o ruivo, recostado no pilar da porta mantinha-se entretido a observar a cidade pelas janelas longas de vidro que cobriam do chão ao teto dando uma vista panorâmica das casas, prédios e comércios que rondavam o bairro.
- Uns sete anos, entrei após me formar na universidade. - Tomou a garrafa em mãos digerindo um gole do amargo líquido.
- Então você deve ter uns trinta anos agora, né? - Murmurou recebendo a confirmação do ruivo que não parecia interessado em conversar. - Já teve algo que te deixou sem dormir?
- Sim, um garoto que não sabia a hora de parar de ser inconveniente. - Comentou fazendo Ko Wonsang rir baixo.
- Então estou te irritando? - Deu alguns passos curtos diminuindo a distância entre eles, o aroma de pinho da colônia de In JaeHwa era forte o suficiente para que sentisse sem precisar aproximar ainda mais seu rosto. Estendeu o braço afagando o colarinho do casaco de camurça marrom do detetive enquanto um sorriso maroto brotava em seus lábios. - Estranho, por alguma razão sinto que você está até mais relaxado do que eu neste momento Sr. In.
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- Para quem estava disposto a cuidar de você por toda a noite até que seu irmão dorme relativamente rápido. - Tae Oh seguia a amiga e Nam-do pelas ruas que rondavam o edifício atrás de alguma loja de conveniência aberta.
- Já é quase meia noite, alguém da idade dele deveria estar dormindo agora. - Pulou as rachaduras da calçada como uma criança contemplando sua imagem refletida na lataria dos carros, distorcida pelos padrões irregulares. - Como pôde deixar faltar doces?
- Uma mulher adulta se preocupa com a falta de sobremesa, mas não com o fato da cerveja ter acabado. - Comenta Nam-do rindo baixo.
- Parece que nossa querida Mi-so tem seus princípios. - Tae Oh avançou ficando à frente da dupla caminhando de costas conversando pacientemente. - Aliás, Nam-do você não iria renunciar a alguns princípios quando nós três nos reencontrássemos novamente?
- Como assim? - A curiosidade da garota se aguçou.
- Lhe devo desculpas por explodir naquele dia, a raiva me impediu de ver que você também estava na mesma situação que todos nós, talvez a sua seja até pior devida as circunstâncias. - Parou de caminhar para fitar Lee Mi-so que enfiava as mãos no bolso do casaco tentando se proteger do frio que vinha com o orvalho da noite. - Eu fui um babaca.
- Se aborrecer-se por descobrir que sua vida foi uma mentira é ser babaca, então eu fui um monstro por esconder a verdade todo este tempo. - Encarou os orbes escuras do homem sustentando o tom de voz firme. - No início pensei que era capaz de suportar tudo sozinha e proteger a todos, mas conforme me envolvi em suas vidas percebi que nunca daria conta. Então uma parte de mim sabia que a melhor opção era lhes contar a verdade, mas fui fraca e não tinha coragem. Temia que pudessem me odiar, então eu voltaria a estar sozinha.
- Minha vida não foi uma mentira, desde pequeno tive pessoas que se importaram comigo e cuidaram de mim. – Constatou o homem relembrando momentos da juventude. – Tive grandes momentos que me transformaram em quem eu sou hoje. Por isso Mi-so, você nunca estará sozinha. - Concluiu Nam-do.
- Pode confiar em nós. - Tae Oh sorriu em sua direção, a primeira neve começara a cair lentamente colorindo a imensidão da cidade do mais puro e pacífico branco trazendo a calmaria. - Olhe, até os céus acreditam que conseguiremos sair dessas juntos.
- Esta foi uma péssima frase motivacional. – Tae Oh estendeu o seu casaco para cobrir o pequeno corpo da garota em uma camada reforçada por conta da neve. - Nós três iremos fazer um juramento agora, que jamais esconderemos nada um do outro e sempre que um precisar, o outro estará lá para ajudar.
Todos assentiram concordando com a proposta incomum de Nam-do, alguns passos se deram até que chegassem à loja comprando o necessário para voltar. Distante dos amigos, o CEO da TK' observava a relação intima de Tae Oh e Mi-so que conversavam animadamente sobre alguma aleatoriedade.
A garota que algumas semanas atrás lhe parecia solitária, agora sorria com facilidade demonstrando que não possuía mais aquele vazio interior, guiando Nam-do a uma série de questionamentos. Se quando jovem ele possuísse a mesma coragem que Mi-so, agora sua vida seria muito mais descomplicada como uma arvore que esperava a estação certa para florescer, sabendo ter paciência e força para aguentar todas as estações do ano por mais frias e longas que fossem.
- Hey, Nam-do! Venha rápido antes que congele! - Mi-so voltou alguns passos para resgatar o empresário, laçou seu braço o puxando pela rua durante a queda da neve arrancando um sorriso discreto de Tae Oh que fitava a cena.
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