Capítulo 4: Algum Pedro de Tóquio
Os dias passaram rápido. Agora eu já estava no aeroporto, segurando minhas malas esperando o avião junto com Jane e Dodô.
-- É verão no Japão. -- Jane falou. -- Será que ainda tem alguma cerejeira com flores por lá?
-- Espero que sim. As fotos na cerejeira vão ficar bonitas. -- Dodô afirmou.
-- Vai ter uma super vibe de anime.
-- Sim, só vamos precisar de uma música abertura, porque afinal, já vamos estar vestidos dos nossos personagens favoritos. -- Elas riram.
-- E você, Jou? -- Jane me perguntou. -- O que mais quer fazer lá no Japão?
-- Ah, eu? -- Pensei um pouco. -- Talvez ver alguns ninjas... -- Eu sorri para ela. Ela devolveu o sorriso. -- Um hambúrguer de camarão. -- Eu e Jane soltamos um suspiro de satisfação.
-- Acho que tem isso no Brasil. -- Dodô comentou.
-- Mas no Japão é diferente. -- Jane respondeu. -- Imagina, com toda a atmosfera japonesa vai ser muito mais legal.
-- Sim! Além do mais, vai ser feito por ninjas! -- Eu acrescentei.
Nós rimos mais um pouco e depois de meia hora estávamos dentro do avião.
-- Nós vamos sentar juntos, Jane? -- Eu perguntei.
-- Não! Eu quero sentar com ela! -- Dodô protestou.
-- Ah... Ela pode escolher certo?
-- Eu? Hahaha... -- Ela evitou olhar para nós. -- Ah! Vocês podem sentar juntos!
Jane começou a nós empurrar para o mesmo assento, porém Dodô se desviou e fugiu das mãos dela. Ela se virou para puxar Dodô de volta mas então eu a segurei pela cintura e a puxei para o banco ao lado do meu.
-- Agora vamos nós dois juntos! -- Eu ri, principalmente, da cara da Dodô
Em alguns minutos o avião estava decolando.
-- É minha primeira vez viajando de avião... -- Jane disse baixinho.
-- Sério?
Ela balança a cabeça positivamente.
-- Eu só viajava de trem e ônibus antes.
-- Se estiver nervosa eu posso segurar sua mão.
-- Pff! -- Ela riu. -- Não estou em uma montanha russa, é só uma avião. Estou tranquila. -- O veículo começa a tremer na mesma hora, alçando o vôo.
-- Que cara de bunda é essa, Jane? Você parece muito nervosa.
-- Cala a boca.
Algum tempo depois tudo se acalmou. Eu olhava pela janela e via aquelas nuvens brancas e, mais abaixo, a cidade cheia de prédios que agora estava bem pequena. Olhei para trás e vi Dodô dormindo, parecia bem cansada. Olhei para o outro lado e vi Jane, com aqueles olhos arregalados observando tudo.
-- A última vez que te vi foi na colação.
-- Ah, sim.
-- Você não foi na festa, Jane.
-- A festa foi em um sítio no meio do nada, e iria ser bem tarde. Obviamente, meus pais não deixaram.
-- Você não iria fazer nada de errado!
-- Não, eu também acho que não. -- Houve um silêncio. -- Mas a colação até foi legal, nós pedimos uma pizza e comemos lá na escola mesmo, você lembra?
-- Sim. -- Eu sorri. -- Hmm... com quem você entrou?
-- Você diz meu par na formatura? Bernardo e Pepi. Tinham mais meninos do que meninas então fui com os dois. Eu vi Bernardo há um tempo em um evento de autores.
-- Ah, é! Ele me contou algumas horas antes de você me ligar!
-- Hahaha!
-- Na formatura... -- Eu falei. -- era para nós dois irmos juntos.
-- Ah, sim! Lembro que você me pediu... Mas acabou indo com outra pessoa.
-- Sim, ela já tinha uma dupla mas insistiu em ir comigo. Você acabou indo com quem sobrou, desculpa.
-- Quê? Está se desculpando? -- Ela riu. -- Bernardo e Pepi são legais.
-- "Queria ter iso com você, Janete Braga. Devíamos ter combinado antes!" Foi o que eu disse na época.
-- É, eu lembro. -- Ela vira o rosto e encara a aeromoça trazendo algumas lanches.
--Eu queria mesmo ter ido com você , Jane. -- Voltei-me a janela e as nuvens brancas. Disse aquilo consideravelmente baixo, mas acho que ela tenha ouvido, mas não queria olhar nos seus olhos ainda.
***
Eu acabei dormindo e quando acordei já estava de madrugada. Agora eu via apenas o mar pela janela e as nuvens escuras. Dado uns cinco minutos, minha barriga roncou.
-- Eita.
-- Ehh! -- Assustei-me com o comentário repentino. -- Jane, está acordada?!
-- Duh, óbvio que ela tá, né? -- Dodô deu um cascudo em minha cabeça e eu me assustei mais ainda.
-- O que fazem acordadas a essa hora?
-- Eu não consigo dormir em viagens. -- Disse Jane abrindo um pacote de batatas e me entregando.
-- Eu custumo ficar acordada até umas 2 horas, mas como Jane estava acordada acabei conversando com ela e agora já são 4 da manhã.
-- Passou rápido até... -- Jane comentou.
-- Vocês vão morrer de sono depois.
-- Talvez. -- Dodô falou.
-- Faltam seis horas para chegarmos em Tóquio. Ahh, mal posso esperar!
-- Eu dormi tanto tempo assim?
-- Yep. Eu vou comprar tanta coisa para fazer cosplay. Jane, você vai ser que personagem?
-- Eu seria aquele Tsukishima se tivesse 1,80 de altura. Mas, não sei se quero fazer cosplay de anime.
-- Oh, vocês fazem cosplay?
-- Eu não. -- Negou Jane. -- É a Dodô que é fera nisso.
-- Sério que não vai fazer, Jane?
-- Hmm... se bem que estou no Japão agora... Com atmosfera japonesa acho que faço. Você vai querer fazer, Jou?
-- Haha, talvez...
-- Podemos ir em algum evento com nossas fantasias especiais. Podemos fazer um trio bem legal! -- Dodô falou.
-- Tipo o Harry, o Rony e a Hermione? -- Sugeri.
-- Não! Tem que ser anime!
-- Então o Tanjiro...
-- Quero ser o Zenitsu! -- Jane interrompeu. -- Dodô vai ser a Nezuko, é pequenininha que nem ela!
-- Ei!
Continuamos nossa pequena discussão sobre os personagens e no final cada um escolheu seu próprio personagem. Dodô quis ser o L, eu quis ser o Naruto e Jane ficou entre ser um alien e o Vegeta. No final nossa conversa havia rendido tanto que já era manhã. Tomamos café, assistimos à um filme e quando eram 9 horas o avião pousou.
-- Gente! -- Dodô levantou em um pulo. -- Estamos em Tóquio!
-- Caramba... inacreditável... -- Jane afundou na cadeira até estar deitada no chão. -- Estou no Japão. Isso é felicidade demais, só pode ser um sonho.
-- Ah, saia daí! Quero ir lá para fora! -- Comecei a implicar com ela. -- Saia daí!
Jane se levantou e então, nos três começamos a andar em direção à saída.
-- Dodô parece tão tranquila... -- Comentei.
-- Ela é rica. -- Jane sussurrou para mim. -- Está acostumada com viagens internacionais. Mas para mim parece estar em câmera lenta...
-- Idem.
Nós então descemos a escada do avião. Vimos o céu azul e brilhante lá fora, as nuvens brancas assim como os aviões por lá. Então me deparei com um humano de cabelos escuros e olhos puxados, e só então me dei conta de que estava no Japão, com minha ex-colega de escola e a melhor amiga dela. Surreal.
Entramos no prédio. Fomos a lanchonete comer algo antes que ir para a casa em que ficaríamos.
-- Ahn... Oni-Onigiri g-ga... como é mesmo?
-- Não precisa falar sm japonês, Jane. Eles falam inglês aqui. -- Dodô a avisou.
-- Não! Quero falar japonês no Japão! -- Ela se voltou para a atendente. -- Onigiri ga hoshī! -- Ela disse animada.
-- Hai. -- Disse a atendente com uma risada, provavelmente a pronúncia foi errada.
Alguns minutos depois foram tragos os bolinhos de arroz. Eu pedi um sanduíche e um refrigerante, Dodô não quis comer nada. Sentamo-nos em uma mesa para lanchar. Foi difícil achar a mesa, com o lugar cheio.
-- Quero chegar no hotel, tomar um banho e descansar dessas 30 horas dentro de um avião.
-- Não vamos ficar em um hotel, Joseph. -- Dodô informou.
-- Ah, não!?
-- Seria muito caro pagar por um mês. Vamos ficar na casa de um amigo da Jane.
-- Tem um amigo que vive no Japão?!
-- Não, não! Ele é amigo de uma amiga minha. -- Ela explicou. -- Foi ela quem pediu o favor para mim. Ela é boa em convencer as pessoas, logo estava me passando o endereço.
-- Como ele chama?
-- Pedro Hirose. Nasceu foi no Brasil mesmo.
-- Espero que ele seja legal. -- Dodô comentou. -- Para poder aguentar nós três.
-- Talvez ele pode se juntar a nós três. -- Jane sorri.
-- Haha!
Depois de terminamos nossos lanches pedimos um táxi e, com ajuda do tradutor e da determinação de Jane, conseguimos explicar o endereço de Pedro Hirose ao motorista. Demorou um pouco até chegar.
Primeiro, passamos pelo centro cheio de prédios enormes e com seus telões. Havia muitas pessoas nas ruas. Depois do Centro começamos a passar por bairros residenciais, com muitos parques por perto. Ao final de tudo o motorista parou em frente a uma casa de dois andares, com um muro consideravelmente alto e um portão de madeira. Era bonito. Então nós pagamos o táxi e fomos até a casa.
-- Na plaquinha fica escrito o nome da família. -- Jane informou. -- Você consegue ler, Dodô?
-- Ah, acho que sim. -- Ela vai até a placa e fica alguns segundos raciocinando. -- Hiro...se. Hirose.
-- Então deve ser ele mesmo! Toque a campainha.
-- Não estou vendo a campainha, Jane!
-- O quê?! -- Jane vai até o portão e elas ficam procurando a campainha por dez minutos. -- Ah, vamos chamar então.
-- Ô DE CASA! PEDROO! Ô PEDRO! HIROSEE!
Dodô começou gritando e aos poucos Jane foi acompanhando com palmas. Eu já estava pronto para fazer alguma ação quando ouço uma risada atrás de mim. Quando me viro vejo um homem, aparentemente da mesma idade que eu. Ele fica apenas observando a situação. Então eu percebi que ele era Pedro e tentei conter minhas risadas naquela situação.
-- Eh, parem com isso. Parecem duas galinhas.
Jane se vira abruptamente com uma expressão de ironia mas logo vê a pessoas que nos assistia. Ela arregala os olhos e dá um sorriso sem graça. Logo Dodô vira e o vê também.
-- Você é o Pedro Hirose? -- Ela pergunta.
-- Sim, o próprio. Vocês deveriam parar de gritar. Algum vizinho poderia achar estranho. -- Então ele volta a rir.
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