capítulo 2: uma vida (quase) perfeita
BOSTON, 17 de março de 2024
Meu corpo está tão relaxado que não tenho vontade de abrir os olhos e me levantar. Facilmente passaria aquele dia frio deitada e aquecida. Mas abri os olhos e dei de cara com os músculos expostos e definidos de Sam, meu noivo e futuro marido. Fiquei hipnotizada e repassei o quão sortuda eu era. Sam era o homem dos meus sonhos, não podia ser mais agradecida por isso.
— Você consegue ser ainda mais linda quando acorda, Oli — Sua voz me desperta do transe. Aquela voz rouca e embargada, confirmando que ele de fato acabou de acordar. Ele se mexe na cama, se aproximando de mim. Seus braços me contornando. — E cheirosa —, Sam completou, afundando o rosto na curva do meu pescoço.
Um sorriso bobo está estampado no meu rosto.
— Eu não escovei os dentes ainda.
Ele resmungou e respondeu:
— Ótimo, eu também não.
E me beija, realocando seu corpo para cima do meu. Seu corpo está quente, mais do que o de costume. Sam está pegando fogo. Sinto seu membro prensado na minha perna, seus beijos passeando pelo meu pescoço e colo desnudo. Não sou capaz de resistir ao seu toque, ao desejo absurdo que ele sente por mim. Ele me quer agora, então deixo que ele me possua por completo.
Sinto seus beijos na altura do meu estômago, me devorando. Pequenos e baixos gemidos escapam dos meus lábios, e por mais que eu tenha vontade de gritar, me contenho. Sam nunca gostou de escândalo, ele gosta da discrição até mesmo quanto estamos transando, então eu respeito isso. Admito que por vezes me sinta presa, como se algo fosse me consumir por me conter, mas não quero aborrecê-lo e transformar esse momento gostoso em conflito.
Sam não se dá ao trabalhar de nos despir, apenas abaixa a calça do moletom e coloca minha calcinha de lado. Quando dou conta, ele está dentro de mim, forçando movimentos contínuos. A sensação é boa, mas não tenho muito tempo para pontuar os pontos positivos e negativos. Cerca de uns dois minutos depois, Sam goza e se joga ao meu lado, ofegante. Quando sua respiração se estabiliza, ele deposita um beijo no meu ombro.
— Como se sente?
Engulo em seco, sorrindo:
— Maravilhosa. — Sam gosta da resposta, e me beija rapidamente, pulando da cama. Normal. Essa era a resposta que gostaria de dar. Sam era bom em muitas coisas: um excelente cozinheiro, um namorado extremamente fofo e carinhoso, um ótimo advogado; mas sem sombras de dúvidas era péssimo na cama. O sexo era sem vida, desengonçado e sem emoção. Não importa. Sam era um bom homem, me respeitava e me proporcionava uma vida de princesa. Isso bastava.
Soltei um longo suspiro e me levantei da cama, jogando os lençóis para cima. Assim que saí do quarto, Alda apressou-se em organizá-la. Passei alguns minutos observando a maneira como ela arrumava, a facilidade que ela tinha. Nunca fui muito dona de casa, mas dava conta de uma responsabilidade aqui e outra lá. Cozinhar não era meu forte, mas gostava de dedicar tempo ao meu hobby.
Escrever era minha válvula de escape.
— Eu te ligo mais tarde — Sam prometeu, terminando de vestir o terno muito bem passado. Alda, claro. Faço que sim, perdida em pensamentos. — Amo você, Oli.
— Também te amo.
Sam depositou um beijo na minha testa, pegou sua maleta e sumiu. Nem me dei conta do momento exato em que ele saiu do apartamento.
Sam e eu estávamos juntos há pouco mais de dois anos. Nos conhecemos em uma exposição de obras de artes, ao qual eu e meus pais fomos convidados. Sam Carlson estava lá, com um sorriso torto e convidativo e seu dom de convencimento. Me encantei por Sam no minuto em que o conheci e sabia que o queria no minuto seguinte. Pouco tempo depois, estávamos namorando. O casal perfeito.
Bebo mais um gole de café.
Alda prepara minhas panquecas enquanto eu fingia prestar atenção no computador.
— Alda, será que você pode colocar gotas de chocolate nas minhas panquecas? — Ela me olhou surpresa. Eu nunca como panquecas de chocolate. Sam odeia panquecas de chocolate, prefere às de mirtilo. Sem mel. E mel é tão delicioso. — E deixa o mel aqui que eu mesma coloco.
— Quem é você e o que aconteceu com a Olívia?
Forço um sorriso.
— Me deu vontade.
Ela assente, sorrindo.
Estou quase terminando o café quando meu celular vibra. Olho o ecrã e vejo o nome "mãe" piscando na tela. Checo as horas. Pontual. Minha mãe me liga quase todos os dias no mesmo horário, conversamos cerca de alguns minutos e ela volta para sua rotina de esposa de executivo.
— Oi, mãe!
Ela atende, despejando várias informações.
— Querida, seu pai está me deixando extremamente ansiosa! — Elis admitiu, em alguma altura da conversa. Sei que está se referindo a mudança de casa, que meu pai se negou em deixá-la escolher alguma coisa referente. Ele aprontou tudo. Os Jones tem esse dom. — Não me deixou olhar nem o quarto que eu vou dormir! Como eu vou morar em uma casa que eu não escolhi absolutamente nada?
— Mãe, meu pai conhece a senhora melhor do que você mesma.
Elis resmungou do outro lado da linha.
— Independente. Quero fazer parte dessa fase — ela insistiu, teimosa.
— Elis, preciso separar algumas roupas... Você viu minha camiseta listrada? Aquela que a Olívia me deu de presente de aniversário — meu pai disse, de longe. Sua voz está calma, como sempre. Sinto tanta falta deles. — É a Olívia?
— É sim, quer falar com ela?
Um barulho de alumínio soa e meus pais trocam de lugar.
— Como estão as coisas por aí, pai?
— Estão ótimas —, ele admitiu, mas temo que seja mentira. Minha mãe é terrível. — Quer dizer, sua mãe disse que vai pedir o divórcio se eu não contar nada sobre a mudança, mas sei que é só drama.
Dou risada.
— E a viagem? Quando vocês vão?
— Em algumas horas, mas não achei minha camiseta listrada.
Penso, já sabendo onde ela possa estar.
— Já olhou na secadora? Ela costumava ficar presa no fundo dela — respondi. Ele fica em silêncio, provavelmente está indo até a secadora. — Achou?
— Achei!
Um prêmio para Olívia.
— Obrigada, filha. Você é incrível. É como se estivesse aqui — Des agradeceu. — Está vendo só, Elis? Até a Olívia sabe onde as coisas estão e você não!
Minha mãe reclama do outro lado da linha. Eles são uma confusão.
— É melhor desligar, vocês tem uma viagem e eu preciso terminar umas coisas aqui — confessei, cortando a breve discussão deles.
— Está certo, filha. Se cuida.
— Vocês também. Me liguem quando chegarem lá, por favor. Não esqueçam. Amo vocês!
E desligo a ligação.
Meus pais são incríveis.
Enquanto Alda continua limpando e organizando a bagunça da cozinha, mantemos uma conversa. É a pessoa mais próxima depois de Nicole, uma amiga muito querida. Estaríamos juntas agora se ela não estivesse viajando. Ela é a aventureira e eu sou a caseira, nessa respectiva ordem. Nicole gosta de diversão, curtir, e o namorado a mesma coisa. Diferente de Sam, eu gostava disso, mas depois que começamos a namorar algumas coisas mudaram. Quer dizer, eu mudei. Mudei por Sam.
Mas não posso reclamar. Eu tenho tudo. Minha vida é perfeita.
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