capítulo 15: não é como se você estivesse na porta da minha casa
MANCHESTER, 12 de setembro de 2024
— Sua calma me irrita — comentei, observando Noah cortar os pedaços de cebola lentamente.
Meu primo ergueu os olhos, me medindo.
Dou de ombros, ignorando.
— Você sempre foi chata assim?
— Só quando necessário — respondi, dando um empurrão nele com meu ombro. Ele se afastou um pouco, com a mão toda suja da cebola. — Posso não ser muito boa na cozinha, mas nem se eu fosse a pessoa mais tonta do mundo demoraria tanto tempo pra picar uma simples e inofensiva cebola. Deixa comigo!
Noah revirou os olhos e lavou as mãos.
— O que quer cozinhar para Ana?
— Qualquer coisa que não tenha frutos do mar — ele explicou. — Ela é alergia.
— Somos duas — glorifiquei, sorridente. — Já gostei dessa Ana.
Continuei picando a cebola, depois alguns dentes de alho e os reservei em um recipiente. Eram a base de qualquer coisa que decidíssemos cozinhar, adicionando uma pimenta, páprica e curry não poderia dar errado.
Ignorei Noah completamente e repassei algumas possibilidades para preparar no jantar. Optei por fazer um arroz bem temperado, uma salada fresca com tomates, pepino e alface americana, acompanhada de uma costela. Perfeito, não? Costela combina com o primeiro jantar da namorada de Noah aqui em casa, e queremos agradá-la, fazê-la se sentir confortável.
Perguntei ao Noah se sua convidada gostava de legumes, então cozinhei alguns e os temperei com azeite e condimentos. Além disso me empenhei em preparar um suco natural, caso nossa convidada não fosse muito a fim de refrigerante. Não queria deixá-la limitada, então ampliei o máximo possível de opções. Queria que Ana se sentisse bem-vinda, e um jantar bem feito não poderia ser uma forma melhor de recebê-la.
— Até que você fez um bom trabalho — Noah admitiu, assim que terminei de arrumar o jogo de jantar. — Pra quem chegou aqui perdida e nem sabia preparar um miojo, isso aqui surpreendeu.
— Obrigada pela parte que me toca, vou encarar como um elogio — e sorri cinicamente.
Noah deu de ombros, animado.
Conferi todos os detalhes e avisei que tomaria um banho, antes que Ana chegasse. Separei um vestido simples e solto para vestir depois. Procurei uma sandália também, confortável e informal, assim como a ocasião pedia. Optei pelo cabelo solto após o banho, as pontas levemente enroladas. Meu cabelo castanho escuro combinava com a maquiagem simples e discreta.
Estava descendo às escadas quando a campainha tocou.
— Eu atendo!
Abri a porta e dei de cara com Ana.
Sorri, na tentativa de suavizar seu constrangimento e vergonha. O primeiro jantar na casa do namorado com a família inteira te analisando não é a tarefa mais fácil do mundo. Ana se encolheu, assim como previ, acho que esperava que Noah viesse recebê-la.
— Olá, você deve ser a Ana — falei, sorridente.
— Sim, é um prazer te conhecer — ela revirou, avançando uns passos. — Você é a Olívia, certo?
Assenti, me inclinando e a cumprimentado com um beijo.
— Entre, fique a vontade — convidei.
Ouvi uns passos e notei Noah atrás de mim.
Noah depositou um beijo na testa da namorada e a acolheu.
Pouco tempo depois, tio Joel e tia Aura apareceram e juntaram-se a nós na mesa. Assim que os cumprimentos finalizaram, deixei que se servissem.
Tia Aura conduziu o assunto, querendo saber um pouco mais sobre a vida de Ana. Ouvi atentamente às respostas dela, sendo impossível não reparar em sua beleza. A namorado de Noah tinha a pela morena, cabelos crespos e cheios e o nariz levemente arrebitado. Anna nem sequer usava maquiagem, mas estava tão bonita quanto se estivesse usando.
— Você estuda, Ana? — Foi minha primeira pergunta.
— Medicina, estou no quinto período — ela respondeu e seus olhos brilharam. Percebi que se orgulhava do que estava fazendo. — Sempre quis entrar na área da saúde, assim como meus pais.
Sorri, levando uma garfada a boca.
— Seus pais trabalham na área?
— Sim, se conheceram na residência e estão juntos até hoje — Anna contou.
— Que legal.
— Como vocês se conheceram? — Tio Joel perguntou, na sua primeira intromissão a conversa.
Anna olhou para Noah, que a incentivou.
— No campus — respondeu, mantendo o olhar preso no namorado. — Os fins de semestres costumam ter festas e comemorações, então foi em uma delas que conheci Noah. Começamos a conversar logo depois.
— Ela não admite que eu a ganhei na primeira conversa.
Ana revirou os olhos.
Tio Joel riu, mas tia Aura estreitou os olhos.
— Não seja inconveniente — me intrometi, cortando meu primo. — Agradeça por Ana ter notado você. Com a beleza dela, você deveria ser insignificante.
— Eu odeio você — Noah brincou.
— Problema seu — e dei de ombros, piscando para Ana.
Todos deram risada. Até tia Aura.
Ouso dizer que tia Aura estava incomodada. Na verdade, estava com ciúmes. Já havia percebido seu incômodo com Ana desde o começo, mas achei que fosse besteira. No entanto, ela se mantinha desgostosa com a namorada de Noah e a presença de Ana na nossa casa. Tio Joel, em contrapartida, tentava quebrar o gelo, deixar o ambiente mais agradável.
Jamais ajudaria tia Aura a constranger Ana. Isso não é algo legal, ninguém merece ser maltratado, ainda mais fora da sua zona de conforto. Queria que essa noite fosse divertida, que Noah tivesse todo o apoio possível. Conhecer alguém que tem as mesmas ideias que você está se tornando mais difícil. Nicole encontrou Eliot, Noah parece ter encontrando Ana, não dá pra ignorar a vida batendo na sua porta. Ate eu encontrei Sam, que por um período de tempo parecia ser a minha alma gêmea.
Meu celular vibrou e isso me desconectou dos pensamentos. Olhei a tela, conferindo uma mensagem de Aiden.
"O que tá fazendo agora?" — ele enviou.
"Jantando e você?" — enviei e guardei o celular discretamente.
Enquanto isso, Noah se gabava de ter preparado o jantar.
— Deixa de ser mentiroso — me intrometi, recebendo olhares curiosos, principalmente de Ana. — Você parecia uma barata perdida, não sabia nem por onde começar. Os agradecimentos você deve a mim por esse menu, se dependesse de você seria miojo que estaríamos comendo agora.
Ana riu.
— Eu ajudei com a cebola — Noah se defendeu.
— Caramba, Noah! Acredita que a sua participação fez toda a diferença? — Falei, me divertindo e cruzando os braços na altura dos meus seios.
Tio Joel deu um tapinha nas costas do filho, gargalhando.
— Não há como te defender — tia Aura anunciou.
Ri e desviei o olhar para meu celular quando o assunto voltou a Ana.
"Esperando você" — li e reli sua mensagem.
Fiquei mais confusa.
"O que quer dizer com isso? Não é como se você estivesse na porta da minha casa" — brinquei, inocentemente.
"Olha pela janela" — Aiden pediu.
Minha boca se abriu, desacreditada. Desconfiei que fosse verdade, mas ouvi uma buzina distante na frente de casa. Aiden não estava mentindo, ele estava lá. O que esse cara tá fazendo? Não pude deixar de evidenciar minha animação e supresa, tanto que tia Aura pareceu notar minha mudança de humor e o silêncio repentino.
— Você está bem, Olívia?
Engoli em seco e confirmei:
— Uhum, tudo bem.
Só que era mentira.
Não estava bem, não conseguia decidir se deveria abandonar o jantar e levantar suspeitas ou simplesmente ignorar a consequência das minhas ações e ir até o encontro de Aiden.
Não pensei muito nos detalhes, porque seria capaz de rejeitar seu convite, então me levantei da mesa e avisei que precisava de uns minutos. Menti, na verdade. Ao invés de virar o corredor até o banheiro, segui até a porta principal. Assim que a abri, vi de longe o rapaz de olhos azuis encostado no próprio carro, com as pernas cruzadas. Quando Aiden me vê, ajeita a postura e me lança um sorriso esperançoso. Um sorriso que me balança. Que me enche de medo e insegurança. No entanto, eu não o censuro, porque pela segunda vez em muito tempo sinto vontade de viver novamente.
Desci os degraus e me aproximei.
— O que você tá fazendo aqui?
Aiden sorriu.
— Queria te ver — ele admitiu, esperançoso: — e te fazer um convite. Não aceito não como resposta.
— Que convite?
— Quero te levar para jantar. — Franzo as sobrancelhas, surpresa com sua vinda até aqui e a maneira como olhava pra mim com tanto brilho. — O que me diz, Olívia? Aceita sair comigo?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro