The date
Charlotte abriu os olhos com dificuldade, a claridade a incomodava e sentia sua cabeça pesar. Se mexeu desconfortável e sentiu uma mão suave em sua testa, seguida de uma voz desconhecida.
- Você não está com febre, não sei se deveria ter ou não, mas febre nunca é um bom sinal.
- Você por acaso é médico? - perguntou com a voz rouca, estava com um gosto horrível na boca.
Escutou a pessoa desconhecida rir, pelo timbre provavelmente era um homem, mas porque ela estaria deitada em uma cama com um homem desconhecido ao seu lado? Abriu os olhos de supetão, o que a fez fecha-los de novo quando a luz forte fez sua cabeça doer. Levou a mão à parte de trás onde sentiu um imenso galo.
- Você bateu a cabeça quando caiu, então por causa do desmaio te trouxeram para o hospital.
Escutou a explicação dele e sua memória voltou forte.
- Fui atropelada por um idiota. - falou desgostosa, tentando novamente abrir os olhos, desta vez devagar e com um certo sucesso.
Piscou tentando se acostumar com a claridade, conseguiu enxergar melhor, estava em um quarto de hospital, a porta estava parcialmente fechada e ao seu lado se encontrava sentado em uma poltrona um homem magro, consideravelmente bonito e altamente constrangido. O que ele estava fazendo ali?
- Quem é você? - perguntou confusa, mas arregalou os olhos assustada quando ele ficou calado e desviou o olhar dela. - Eu perdi a memória? Esse é um daqueles casos em que eu entrei em coma e não lembro de dez anos da minha vida? Eu não acredito que perdi dez anos da minha vida! O que eu faço agora? Por acaso eu me casei com você? Oh não, eu sinto-
- Se acalme, por favor. - ele pediu apressado, se levantando para sentar a beira da cama dela. Pelo visto estava tão agitado quanto ela.
- Como vou me acalmar se acabei de acordar de um coma?! - indagou impaciente.
- Você não estava em coma, no máximo perdeu duas horas da sua vida. - tentou tranquiliza-la.
- Por que você não me disse antes? Eu estava surtando. - afirmou ríspida, o encarando descrente.
- Percebi, mas você não me dou oportunidade. - rebateu ainda nervoso.
- Como eu daria se estava surtando?! - para aquele argumento ele não teve resposta, somente a encanrou cansado.
- Desculpa, tá legal? Desculpa. - pediu novamente e Charlotte se sentiu sem jeito pelo olhar intenso que ele a lançava.
- Não, me desculpa também. - pediu pela forma como o tratou. - Não sei quem é você, mas obrigado por ter me trazido.
- Ah, bem, eu meio que sou o culpado por você estar aqui, então. - se levantou apressado e caminhou alguns passos para longe dela.
- Você é o idiota que me atropelou. - acusou, percebendo que ele não havia negado. - Isso tudo é culpa sua!
- Em minha defesa eu gritei, mas você não escutou. - falou, gesticulando nervoso.
Aparentemente ele se encontrava uma pilha de nervos, o que não a comoveu.
- Como eu ia adivinhar que você ia querer andar pela calçada?
- Eu não fiz de propósito. Tinha muitos carros e um ônibus enorme que gritava morte!
- O quê? - perguntou confusa pelo rumo que a conversa estava tomando.
- Olha, desculpa mesmo. - pediu, a sinceridade em seu olhar a fez se desarmar um pouco. - Foi uma manhã louca e eu não queria te machucar, vou te compensar, sério.
- Também tive uma manhã péssima, talvez não te processe. - informou, notando o quão pálido ele ficou.
- Você ia me processar? - perguntou, com uma certa dificuldade para assimilar o que ela havia acabado de falar.
- Você não acha que merece? - resolveu alfineta-lo.
O homem logo se abaixou ao lado da poltrona que estava sentado e levantou um grande ramalhete de flores roxas.
- Vamos recomeçar, né? - propôs, sorrindo nervoso enquanto entregrava as flores para ela.
- Flores não me farão mudar de ideia. - disse, mas aproximou o rosto para sentir o cheiro suavemente doce que saía delas. Era quase terapêutico. - Mas acho que você não fez de propósito. - externou seus pensamentos. Não conseguia ver alguém como aquele cara atropelando uma pessoa por livre e espontânea vontade.
- Definitivamente não fiz. - garantiu, voltando à sentar em sua cama.
- Ok, mas por que está aqui? - não via motivos para ele permanecer.
- Não podia te deixar sozinha depois de ter sido o culpado por você estar aqui. - disse, como se fosse a atitude mais óbvia que ele deveria ter tomado.
Nem todo mundo faria isso e era até uma loucura se sentir confortável na presença de um desconhecido que ficou ao seu lado enquanto você estava inconsciente, mas Charlotte não sabia o porque, porém não o via como uma ameaça.
- Ninguém mais veio? - indagou, após perceber que a festa ainda deveria estar acontecendo.
- Não, devo ligar para alguém? - ele perguntou prestativo, mas ela logo negou.
- Não. Meu melhor amigo está aproveitando seu casamento, não quero estragar o resto do dia dele. - e suas mães estavam em um spa na Costa Rica, de novo.
Iria retomar a conversa, mas a porta foi aberta por uma enfermeira, ela possuía um rosto simpático e se animou ao vê-la.
- Charlotte Page? Oh, que bom que está acordada.
- Minha cabeça está doendo. - informou, enquanto ela se aproximava com seu prontuário em mãos.
- Infelizmente você ainda vai sentir ela dolorida por algumas horas, sorte que você não bateu no meio fio ou estaríamos em uma situação pior. - disse, fazendo uma leve careta. - Mas já fizemos todos os exames e não há nenhuma alteração, porém você deverá ficar aqui por mais algumas horas até que esteja estabilizada.
- Certo, obrigada. - agradeceu aliviada.
- Vejo que seu namorado trouxe flores. - disse, sorrindo ao apontar para os braços dela.
Charlotte nem havia percebido que ainda segurava as flores e, espera, ela tinha dito namorado?
- Oh, ele-
- Ele quase enlouquece a todos pensando que algo mais grave tinha acontecido com você. - a interrompeu, começando a narrar animada algo que pelo visto deixava o homem envergonhado. - Não saiu do seu lado por nada, fico feliz em ver tanto carinho em um casal tão jovem. - soltou um suspiro apaixonado e virou-se para sair. - Vou deixá-los em paz.
Charlotte esperou até que ela fechasse a porta para se virar desconfiada para o desconhecido que já havia se levantando novamente.
- Como assim namorado?
- Eles meio que só me deixariam ficar se eu fosse algo seu. - explicou, coçando a nunca sem jeito e com o pescoço vermelho de vergonha. - Só não queria que você ficasse sozinha.
Foi algo bem atencioso da parte dele, não tinha como negar.
- Obrigada. - agradeceu sincera.
Ele assentiu e sentou-se na poltrona.
- Aliás, meu nome é Henry, Henry Hart. - se apresentou, esticando a mão para ela que a apertou.
Ele tem mãos macias.
Se concentra, Page!
- Charlotte Page, como você já sabe. - disse, tentando ter um certo controle o vendo abrir um pequeno sorriso.
O silêncio caiu sobre eles, ela começou a analisar as flores enquanto Henry olhava para todos os lados do quarto. Depois de algum instantes ele falou:
- Então, Charlotte.
- Você já pode ir embora, Henry, posso pegar um táxi quando sair. - o deu uma saída, até porque não fazia sentido ele ainda permanecer ali.
- Prometi que ficaria ao seu lado até você sair daqui. - afirmou decidido.
- Mas já estou acordada e bem, pode ir. - pediu novamente.
- Então, Charlotte, não está cansada?
Teimoso. Pensou, revirando discretamente os olhos.
- Não estou querendo dormir se é o que você está perguntando. - garantiu de forma quase irritada.
- Ok. Que tal jogarmos algo? - propôs animado.
- Não quero me sentar.
- Não precisa, é um jogo verbal.
- Tem cálculo? - indagou com um sorriso que aumentou diante da cara de indignação dele.
- Céus, não! Quem joga algo com matemática por diversão?! - seu tom expressava claramente sua aversão por números.
- Muitas pessoas, acredite.
- Devem ser jogos extremamente chatos. - disse, estreitando os olhos desconfiado diante do tom condescendente dela.
- Alguns não, tive um ex namorado que inventou um jogo no qual calculavamos a raiz quadrada de um número mentalmente e a cada acerto. - parou de falar, sentindo o rosto esquentar ao lembrar dos prêmios para cada acerto. Limpou a garganta sem jeito e se mexeu desconfortável na cama para se sentar. - Hum, bem, era um bom jogo.
- Sei. - disse simplesmente, os lábios se esticando em um sorriso malicioso.
- Calado. - mandou irritada.
- Não falei nada. - rebateu, levantando as mãos em rendição, mas sem diminuir o sorriso.
- Nem precisou, Hart, sua cara dissimulada disse tudo. - acusou, gesticulando para o rosto dele, o que o fez gargalhar.
- Eu realmente não quis dizer nada.
- Idiota.
Cruzou os braços impaciente, Henry resolveu tentar controlar o riso e distraí-la.
- Quer escutar algo sobre um jogo estranho? - perguntou, tendo a atenção dela novamente. - Minha ex teve a brilhante ideia de jogar cartas em uma casa abandonada, nos meio que nos perdemos em uma cidade estranha uma vez. O ponto é que estávamos entediados e ela disse que ia ser ótimo pra distrair, só que o jogo meio que virou um striper poker e- você já está rindo.
- Desculpa. - não sabia o porque, mas a forma como ele se levantou para narrar e dramatizar a história era a mesma coisa que fazer cócegas nela.
- Então estávamos só de roupa íntima quando um velho apareceu do nada no meio da sala, parece que lá era um ponto de encontro de algum clube estranho pois várias outras pessoas começaram a aparecer. O pior nem foi eles terem tomado nossas roupas e nossas cartas, mas-
- Espera, vocês saíram pelados no meio do nada? - o interrompeu curiosa.
- Sim. E tem mais. - continuou animado.
Charlotte soltava altas gargalhadas pela história de Henry, e por todas as outras que ele a contou durante a tarde. Talvez não tenha sido tão ruim assim ter o deixado ficar, e quando finalmente pôde sair do hospital e o Hart ter feito questão de acompanhá-la até em casa, Charlotte não pensou duas vezes ao trocar o número de telefone com ele. Não iria criar expectativas, mas não podia negar o quanto se sentia leve ao lado dele. O que era um grande presente do destino considerando todo o dia que havia passado.
Ao se despedir de Charlotte e voltar caminhando à procurar de um ponto de ônibus, o Hart também mal podia acreditar que o dia que havia começado tão conturbado pudesse ter tido uma reviravolta tão grande. Guardando no bolso o pedaço de papel que continha o número de Charlotte, Henry se preparou para chegar em casa e escutar os gritos de Piper, mas com o coração leve por ter encontrado alguém como a Page.
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