Cap. 43: Sentimento de revanche e sentimento de proteção - Parte II
Enquanto Shinpachi, Kagura, Sacchan e as mulheres da Hyakka lutavam contra os integrantes do Kurohari, Tsukuyo enfrentava Aomame. Loira e morena se digladiavam em uma luta de tirar o fôlego, em que duas kunoichis usavam e abusavam da velocidade. A Cortesã da Morte estava disposta a corrigir o grave erro que cometera ao deixar viva aquela mulher. Deveria tê-la eliminado quando teve a oportunidade, mas naquela época estava abalada demais para pensar em algo do tipo e cria que, se a deixasse viva, seria punição suficiente.
Ela se enganara, mas iria remediar aquele equívoco.
Aomame arremessou contra ela várias kunais, das quais se esquivou sem muita dificuldade. Tsukuyo revidou na mesma moeda, mas sua adversária também não teve dificuldades em escapar do ataque. Seus olhos violetas não perdiam qualquer movimento da ex-membro da Hyakka, pois queria acertá-la com o máximo de precisão possível.
Conhecia bem o estilo de luta de Aomame, pois ela a treinara quando de sua admissão para a Hyakka, cerca de cinco anos atrás. A primeira cicatriz em sua face, abaixo do olho esquerdo, fora feita na época, pois todas as integrantes tinham uma marca do tipo no rosto, sinalizando que elas não mais eram mulheres para se tornarem cortesãs, e sim protetoras do Distrito de Yoshiwara, tal como ela possuía suas cicatrizes.
Todas as integrantes, até mesmo a novata Miwa, renunciavam às suas vidas anteiores, tal como ela fizera. Entretanto, renunciar ser mulher não era de todo possível e ela era prova disso. Podia não ser uma cortesã como Hinowa fora, ou outras daquele distrito, mas nunca deixara de ter seus anseios femininos.
E Aomame conseguira renunciar de todo, se tornara uma máquina de luta, tal como Sakuya, que também entrara na mesma época. Porém, Sakuya era uma pessoa que, por trás de um semblante sisudo, exercia como ninguém o ideal de sororidade para com as companheiras, e até mesmo para com sua líder. Já Aomame não era assim. Despia-se de qualquer sentimento do tipo, buscando apenas exercer seu papel como então membro da Hyakka, desprezando qualquer prática semelhante à que as demais faziam.
A verdade é que desde sempre aquela mulher queria o seu lugar como líder da Hyakka. Essa era a sua única aspiração.
As duas kunoichis começaram a lutar corpo a corpo. Embora temesse um pouco essa parte devido à sua atual condição, a loira buscava não temer que se repetisse o que ocorrera no duelo anterior. Com uma kunai em cada mão, Tsukuyo buscava uma abertura da defesa de Aomame, que chocava as kunais dela contra as suas com tanta força, que cada golpe fazia soltar faíscas do choque entre as armas metálicas. A morena tinha um alvo perfeitamente definido: seu ventre.
Ela sabia que Tsukuyo estava novamente grávida e tentava repetir o que fizera anteriormente, para em seguida matá-la. Porém, a Cortesã da Morte estudava seus movimentos a cada ataque executado e a cada bloqueio feito. Não permitiria que aquele pesadelo voltasse a ocorrer.
E iria vingar o que fizeram com Gintoki!
Após uma acertar um soco no rosto da outra, as duas mulheres se afastaram para tomar um ar. O duelo estava intenso e ambas estavam com um ou outro ferimento pelo corpo, por atingirem uma à outra com kunais. Tsukuyo limpou um filete de sangue que escorria do canto de sua boca, consequência do soco recebido.
― Parece estar gostando da luta, não é, Tsukuyo? – Aomame sorriu para sua ex-líder.
Tsukuyo sorria, pois estava realmente gostando da luta. E estava gostando do rumo que esse duelo estava tomando. Só faltava mais um detalhe para ser perfeito.
― Estou adorando! – fez aparecer mais três kunais em cada mão. – Por que não vem me atacar com mais força, Aomame? Você parece cansada... Não quer me eliminar logo?
― Vontade de acabar com isso não me falta!
Aomame avançou em velocidade contra Tsukuyo e deu um salto, para desferir contra ela um poderoso chute contra seu ventre. Entretanto, a Cortesã da Morte foi mais esperta e cravou uma kunai no pé de sua adversária e, em seguida, desferiu-lhe um poderoso chute em sua face.
A morena caiu no chão, mas a loira sabia que isso não significava que o combate terminara. Esperou calmamente que ela se livrasse da kunai cravada no pé e levantasse. Estava esperando pelo ataque e observava friamente cada movimento. Estava pronta para o que viesse, o que não demorou a ocorrer.
Uma saraivada de kunais veio em sua direção, obrigando-a a se esforçar para se esquivar o máximo que podia. Mesmo tendo sido atingida por algumas nos braços, em cheio ou de raspão até no rosto, não se abalara. Os frios olhos violetas da Cortesã da Morte só observavam a aproximação de Aomame para conseguir o momento perfeito para seu intento.
― MORRA, TSUKUYO!!
Aomame se lançou num salto, com uma kunai em cada mão, visando cravá-la em algum ponto vital. Tsukuyo viu o momento perfeito para contra-atacar e atirou, com todas as suas forças uma kunai no peito da morena, transpassando seu coração e saindo pelas costas. Com esse golpe final, o corpo de sua ex-comandada caiu sem vida no chão.
Exausta, olhou para os demais que vieram com ela. Todos feridos, mas vivos. Shinpachi largou a katana no chão, não necessitava mais dela e estava com a bokutou de Gintoki na cintura. Kagura tentava tirar das costas uma kunai que estava espetada em um local fora do alcance de suas mãos e recebia ajuda de Sacchan. Suas comandadas da Hyakka ajudavam e amparavam umas às outras, aliviadas com o fim daquela luta.
O grupo Kurohari fora totalmente abatido.
Tsukuyo informou às suas comandadas que iria regressar ao Distrito Kabuki com Shinpachi e Kagura, pois de certa forma se sentia responsável pelos dois, mesmo eles tendo a acompanhado por vontade própria.
*
A noite já caía quando Otose viu que Tsukuyo chegava para visitar Gintoki. Percebeu que tanto ela quanto Shinpachi e Kagura apresentavam curativos e uma ou outra bandagem pelo rosto e pelo corpo. Já tinha uma noção do que ocorrera, e que tinha a ver com a atual situação do albino.
― Como o Gintoki está? – Tsukuyo perguntou após cumprimentar Otose.
A velha senhora sorriu:
― Ele ainda não acordou, mas não se preocupe... Vaso ruim não quebra.
Shinpachi e Kagura sorriram, assim como a loira. Conhecendo o mínimo de como era a relação entre o Yorozuya e sua senhoria, não era difícil deduzir que ela estava otimista, e com razão. Os três adentraram o quarto e o viram adormecido, respirando espontaneamente. Aos poucos a cor voltava ao seu rosto, outro sinal bem claro de que ele estava começando a progredir em sua recuperação.
― Gintoki – Tsukuyo sussurrou para ele, enquanto segurava sua mão. – Nós voltamos para te ver. Shinpachi, Kagura e eu.
Sentiu que a mão dele começava a reagir, procurando fraca e desajeitadamente entrelaçar seus dedos aos dela. Seus olhos se abriram lenta e preguiçosamente, revelando sua cor avermelhada. Sua boca se curvou num sorriso aliviado.
― Tsuki... – sua voz saiu rouca e meio pastosa. – Que bom te ver...
Para ele, não havia melhor forma de acordar de um pesadelo do que vendo o rosto dela. Aqueles olhos violetas o encarando faziam com que se sentisse hipnotizado e não conseguisse falar mais nada além do "Que bom te ver...". Tudo o que queria naquele momento era mergulhar naquele olhar e gravar em sua memória o quanto era gostoso sentir os dedos dela entrelaçados aos seus.
Como era bom ser um bobão apaixonado...!
Mas seus pensamentos mais doces e apaixonantes foram interrompidos tão logo seus olhos rubros perceberam mais detalhes, como o rosto de Tsukuyo com curativos. Atrás dela, percebeu Shinpachi (com uma bokutou) e Kagura também com curativos e bandagens.
Intrigado, perguntou:
― Ei, o que perdi? O que aconteceu com vocês?
― Fomos enfrentar o Kurohari.
― Kurohari?
― Foram eles que nos atacaram naquele dia.
A memória de Gintoki voltou para aquele momento em que sentiu várias agulhas o atingirem e seu corpo se paralisar em questão de segundos. E, logo em seguida, uma katana o transpassando, fazendo-o mergulhar na escuridão da inconsciência, da qual só agora conseguira emergir. Instintivamente, levou a mão esquerda ao local do ferimento, sentindo a dor imediata e deixando escapar um gemido.
― E o que é esse tal Kurohari?
― Era um grupo formado por Aomame e suas aliadas, que tentaram me tirar da Hyakka daquela vez.
― Sim, eu me lembro. Quando cheguei a Yoshiwara, vocês duas se enfrentavam e aquilo aconteceu e... – ele arregalou os olhos. – Vocês duas se enfrentaram de novo...?
― Aomame e eu nos enfrentamos. Não foi apenas por aquele dia que lutamos. Shinpachi, Kagura e até Sarutobi foram me ajudar, junto com parte da Hyakka. Yoshiwara e Kabuki corriam o risco de caírem nas mãos do Harusame, que deu a Aomame condições para eliminar os obstáculos e ela dominaria os dois distritos. Precisei enfrenta-la, mas estou bem... – pegou a mão do albino e a colocou em seu ventre. – Melhor dizendo, nós estamos bem.
― Nós ajudamos a proteger a Tsukky! – Kagura disse com um amplo sorriso.
― E o Distrito Kabuki, Gin-san. – Shinpachi deixou a bokutou ao lado da cama do Yorozuya. – Aí precisei pegar sua bokutou emprestada.
Normalmente, Gintoki daria bronca nos dois por terem corrido tamanho risco, mas com que moral ele faria isso? Muitas vezes ele mesmo botava Shinpachi e Kagura em situações de perigo, querendo ou não. E os dois nunca o abandonavam, sempre lhe estendiam a mão.
Eles eram sua família. E família é o mesmo que "nunca abandonar". Shinpachi e Kagura nunca o abandonavam.
Protegeram o Distrito Kabuki mais uma vez, e protegeram Tsukuyo.
Por ele.
Cara, como amava esses pirralhos!
Quando percebeu, estava olhando para aqueles dois com um largo sorriso de gratidão. Sabia que estava parecendo um idiota retardado, mas um idiota retardado muito feliz e grato por aqueles dois aparecerem em sua vida.
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