oneshot
" Meu coração está partido, dói, e não consigo tirar de mim a tristeza. Durante o dia insisto em adiar os pensamentos sobre nós dois, em vão, por que todas as dores dentro de mim despertam quando a noite chega.
Abaixo das nuvens nada me machuca, e mesmo que o fizesse, você me curaria com sua voz.
Com uma camisa xadrez, eu ando por Istambul, minha mente aberta mas me sinto solitária. E por mais que minha mente insista em dizer que entre nós nunca haverá amor; meu coração confia que, em algum dia, encontrarei a sua silhueta. "
–
Inspirado na canção Силуэт ( silhueta ) de JONY e Erika Lundmoen.
Uma sequência de desastres de níveis catastróficos acontecidos hoje foi o que me levou a estar aqui, nesse bar estranho que tem cheiro do cachimbo da minha vó. Mas a música é boa pelo menos.
A que o cantor está cantando agora fala sobre um homem apaixonado, diferente de mim o cara da música teve um final amorosamente feliz.
Me sentindo humilhada — ainda que indiretamente — Eu me levanto, ainda sem jeito, da banqueta, e saio do bar. O vento frio de Istambul me atinge e eu tenho vontade de correr para dentro de novo, mas me recuso. Preferia andar sob o gelo do que ter que ouvir por mais tempo algo envolvendo relacionamentos felizes.
Isso por que o meu não foi feliz. Foi horrível. Tenebroso. Humilhante.
Abracei meu próprio corpo e comecei a andar. As memórias do ocorrido horas atrás me sobrevieram. Deti o passo a recordar como fui tola.
Sophie gostava dele, mas eu não sabia disso. Claro, se eu soubesse que minha irmã estava apaixonada pelo cara que eu secretamente era completamente apaixonada eu ia fazer questão de o desgostar.
Eu ajudei minha irmã a conseguir um encontro com Boran. Eu não queria ser egoísta a negando a oportunidade de se aproximar de um cara tão incrível como ele.
Eles sempre foram próximos, isso é verdade, mas eu também era próxima dele. E... eu cheguei a pensar que ele sentia algo por mim também.
Talvez eu tenha confundo com amor todo o carinho e cuidado que ele demonstrava por mim. E eu me iludi. Sozinha.
Dei um suspiro e uma nuvem branca escapou da minha boca. Céus, eu ia congelar todos os meus neurônios! No caso, os neurônios que toda aquela bebida não tinha matado.
"Boran, Boran..." Minha cabeça doía e meu corpo tremia com o frio.
Coloquei ambas as mãos sobre a grade da ponte por onde passava, abaixo de mim um rio seguia por longos e longos metros, mas eu não era capaz de saber o quanto exatamente, muito menos seu nome. Eu não sabia nome de nada. Eu sequer me lembrava do meu próprio nome.
Ao notar aquilo dei um giro de 180° graus.
Onde eu estava? Onde estava aquele buteco-fétido‐meia boca de agora a pouco?
"Ótimo." Uma risada escapou da minha boca. "Eu estou perdida."
Eu tinha perdido tudo. O amor da minha vida, minha atual localização e cerca de 40% da minha capacidade cognitiva.
"Eu estou perdida?" Um casal passando do meu lado me olhou de cara estranha. Acho que pensei alto de mais.
"Ela precisa se recompor" a moça jovem e extremamente delicada disse ao seu companheiro, enquanto me olhava de soslaio.
"Esperem aí!" Ambos deteram o passo. "Como eu deveria me recompor depois de ter feito a pior coisa da minha vida inteira?" Eles se encararam, provavelmente pensando se deveriam me ignorar e continuar a caminhar.
Afinal era tarde da noite e eu estava fedendo a cerveja ruim.
"Eu fiz a pior coisa que podia ter feito, minha senhora. Sabe o que foi? Eu dei de mão beijada a minha oportunidade de ser feliz para outra pessoa."
"Você não parece bem" O homem respondeu.
"Eu sei, eu sei! Eu tô me sentindo horrível! Como se um enxame de pombos mutantes tivessem cagado na minha cabeça."
"Você quis dizer bando não é?"
"Que seja!" Bufei e passei as mãos pelos cabelos, o qual, adivinhe? Eu não penteei.
Um cara no bar me chamou de Merida loira. Eu achei criativo. Eu quase agradeci o elogio mas então ele simplesmente vomitou no balcão.
Esses pinguços nojentos.
"O que você vai fazer agora?" A moça me questionou, a ventania levantando seus cabelos escuros e extremamente compridos.
"Vou fazer o que mais sei fazer. Chorar. E depois vou fingir que nada aconteceu."
"Vai desistir desse jeito?"
"O que mais eu poderia fazer?"
O homem - que usava um longo sobretudo preto - balançou a cabeça.
"Se o ama tanto assim não deveria deixá-lo ir tão fácil"
"Exato." A moça concordou. "Me diga, ele vale a pena?"
Ele valia. Valia muito.
Quando iniciamos no mundo artístico Boran foi o primeiro a nos dar boas vindas. Ele nos ajudou com tudo o que precisamos, me treinou quando eu estava com dificuldades e me encorajou na minha primeira apresentação.
Enquanto eu ia pro teatro focando em peças e musicais, minha irmã focou no Balé clássico. Era engraçada a situação. Enquanto eu andava por aí fantasiada e cheia de maquiagem parecendo a Rainha de Copas da Alice no país das maravilhas, lá estava Sophie, deslumbrante e perfeita, a Rainha dos Cisnes.
"Diana?"
"Como você..."
"Diana?"
Meu corpo automaticamente se virou para o lado esquerdo da rua. Uma figura alta surgia em meio a escuridão. Eu sabia a quem pertencia aquela voz e acho que jamais serei capaz de esquecer.
Ao se aproximar de onde a luz do poste iluminava, pude ver sua figura. E mesmo tendo o visto inúmeras vezes - sendo pessoalmente quanto em fotos ou vídeos - não pude conter um suspiro ao ver, mais uma vez, o dono daqueles olhos brilhantes, sorriso meigo e voz aveludada.
"Diana?" Boran me chamou mais uma vez. Eu pisquei demoradamente, absorvendo as informações.
"Oi..."
"Com quem estava conversando?" Me virei para frente com o dedo apontado para mostrar o casal que... Opa.
No lugar daquele homem de sobretudo e da moça de roupas brancas havia apenas duas latas de lixo. Uma tingida de preto, e a outra cheia de sacolas brancas.
Um sorriso contido começou a surgir no rosto do homem ao meu lado. Ótimo.
"Eu passei os últimos 5 minutos conversando com duas latas de lixo?" Inacreditável.
"Foi uma conversa boa pelo menos?"
"Não sei. Eu falei mais do que eles."
"Naturalmente." Ele se aproximou mais um pouco e seu cheiro tomou conta dos meus sentidos, me fazendo fechar os olhos e inspirar fundo. "O que aconteceu com você?"
Eu odiava aquele tom de voz, e me odiava ainda mais por não conseguir resistir à ele.
"Nada..."
"Você sabe que não consegue mentir, Diana. Isso não combina com você." E eu também odiava mentir. Mas eu não sabia se era capaz de revelar meus sentimentos por ele.
"Por favor, não me faça falar." Boran deu um suspiro.
"Sabe que não gosto de te ver assim. Mas, já que é a sua decisão, vou te deixar quieta. Por enquanto."
Ele era insistente as vezes, mas de um jeito fofo.
"Sua irmã te ligou várias vezes."
"Ah, Sophie" Mordi o interior da bochecha. "Eu deixei o celular em casa."
"Uma hora dessa da noite e você está andando sem celular?"
"Eu não queria ser pertubada." Boran tombou levemente a cabeça para o lado.
"Fiquei preocupado com você."
"Desculpa."
"Não peça desculpas, ok? Você não fez nada pra estar se desculpando."
Respirei fundo, minha cabeça ainda latejava de dor. Fechei os olhos e balancei a cabeça.
"Quer ir embora?"
"Não quero ir pra casa. Não agora, pelo menos. Além disso estou enjoada."
"Podemos ir apé para algum outro lugar."
"Já está tarde. Duvido que há algum lugar aberto. Talvez algum bar..."
"Não, não, nada de bar. Você já bebeu o suficiente por hoje." Ele olhou para o céu por alguns segundos. "Quer ir pra minha casa?"
"Pra-pra sua casa?" Gaguejo surpresa com o convite.
"Sabe, até o efeito de todo esse álcool passar..." Ele gesticulou um pouco e depois, desistindo, retornou sua mão ao bolso da blusa de frio.
Por um momento lembrei de Sophie e meu peito apertou.
"Não sei se seria uma boa ideia."
"Não confia em mim?" Levantei as mãos e balancei-as freneticamente.
"Não, não é isso! Eu sei que posso confiar em você... Eu sempre soube..." Resmunguei a última parte como uma covarde. Se bem que eu era uma covarde.
"E então?"
Suspirei.
"Sophie"
Sua boca abriu, mas nenhum som saiu dela. Boran deu uma olhada para fora da ponte enquanto mordiscava de leve o lábio inferior. Era uma mania dele, ele sempre a fazia quando estava prestes a falar ou fazer algo sério. Parecia uma forma de aliviar a tensão de si. Observei por tempo de mais o movimento, por isso tive um susto leve quando sua voz voltou a surgir.
"Sei que você é a caçula e talvez por isso sua irmã tenha tanta preocupação, mas você é adulta Diana, pode tomar suas próprias decisões. Não estou dizendo para ignorar os concelhos da sua irmã, mas acho... Eu tenho certeza de que Sophie pode dar uma relaxa de vez em quando. Ela age como se você não fosse... você"
"E quem sou eu?"
"Você..." Ele piscou, respirou fundo e lançou seu olhar ao céu por um momento. "É uma mulher inteligente, corajosa e independente. Você sabe se cuidar, cuidar dos outros e sempre toma boas decisões. Essa é você."
Minha garganta deu um nó e acabo dando uma risada sem graça.
"No momento atual eu não pareço ser tudo isso."
"Você só está passando por um dia difícil, é normal procurar conforto."
Levantei uma sobrancelha.
"Você daria um ótimo psicólogo."
"Eu sei." Colocou as mãos na cintura e involuntariamente dei uma risadinha. Era tão bom estar com ele. "Gostaria de utilizar meus serviços? É de graça por enquanto"
Por mais que eu esteja mal em relação à Boran, eu não conseguia ignorá-lo e nem ficar com raiva dele. Acho que jamais serei capaz de ficar.
Concordei com um movimento de cabeça.
"Bom... já que agora sou seu psicólogo, a primeira coisa que vou te receitar é uma caminhada até minha casa"
Espertinho.
[...]
Boran se certificou de me entregar um cobertor antes de disparar para a cozinha. Ele cismou que minhas mãos estavam "mais geladas que a de um cadáver", e decidiu me esquentar internamente e externamente.
Apesar de ter muitos anos que moro na Turquia, meu apego com a comida americana nunca desapareceu. Era nesse tipo de comida que eu buscava um pouco de conforto quando ansiosa, e Boran sabia disso.
Boran sabia de tudo sobre mim. Eu me surpreenderia se ele não soubesse.
Fechei meus olhos e encolhi minhas pernas debaixo do cobertor, o cheiro que vinha da cozinha estava me enfeitiçado. O enjoo tinha passado e no lugar dele comecei a sentir fome.
Boran retorna segurando uma bandeja com um prato fundo cheio de sopa de algo que não identifiquei, mas parecia delicioso, e duas canecas com algo que eu conhecia muito bem.
"Erva doce." Ele me estendeu a caneca.
"Obrigada."
Fiquei um tempinho assoprando o chá até que finalmente o bebi. Olhei devagar na direção do homem no outro sofá e percebi que ele já estava me encarando. Sinto minhas bochechas ruborizarem por um momento.
"Obrigada por não desistir de me trazer pra cá..."
"Não sou o tipo de homem que desiste fácil."
"Eu sei." Nos encaramos por um momento até que ele desvia o olhar para sua própria caneca. "Então... Você não vai comer?"
"Estou cheio do jantar, mais tarde talvez." Oh, eu tinha me esquecido do detalhe que ele tinha jantado com minha irmã.
Meu rosto esquenta mais uma vez, mas não de vergonha.
"Como você tá?"
"Melhor."
"Diana... Como você está?"
Em silêncio sustentei o olhar por mais tempo que o normal. Os olhos do homem vagaram por mim, antes de se levantar e se sentar ao meu lado. Coloquei a caneca já vazia na mesinha ao lado do sofá, junto à sopa que eu sequer toquei.
"Di..."
"Por que continua querendo que eu fale?" Questionei.
"Eu estou preocupado com você."
"E por que se preocupa tanto comigo?" Eu senti as lágrimas se formando, mas não queria chorar na frente dele.
Boran franze o cenho.
"Eu gosto de você Diana."
"Gosta? Gosta mesmo?" Minha voz embargou, eu não ia conseguir lutar contra aquele sentimento.
"Diana..." Ele estende sua mão e seca uma lágrima solitária do meu rosto.
"Eu não posso." Sussurrei. "Eu não consigo."
Ele morde o lábio com força desta vez, e eu consigo ver em seus olhos a sua agitação.
"Eu não aguento te ver assim."
Neguei com a cabeça, mas era em vão. Nada do que eu fizesse ia deixá-lo menos preocupado comigo.
Ele segura meu rosto e gentilmente me faz encará-lo.
"Por favor."
Sua voz não era nada mais que um sussurro sofrego, e meu corpo a recebeu como se fosse uma corrente elétrica, percorrendo rapidamente por todo meu corpo, me causando sensações que não consigo descrever.
Seu olhar fixou na minha boca, e naquele instante eu percebi que tanto eu quanto ele queríamos a mesma coisa.
Coloquei minhas mãos sobre as suas; aquele era o sinal que ele precisava. Antes que eu pudesse raciocinar, Boran me puxa para um beijo. Naquele primeiro momento foi um encontro desajeitado de nossos lábios, que foi se acalmando e se tornando algo intenso conforme eu o dava abertura.
Eu não consegui mais segurar as lágrimas, meu coração estava a mil, mas eu não podia deixar com que a preocupação estragasse aquilo.
Eu sonhei com esse momento por tanto tempo, nunca acreditando que realmente aquilo poderia se tornar real, e agora... Se tornou real. Tão real que eu ainda não sabia o que exatamente fazer. Minhas mãos escorregaram das suas e caíram sobre meu colo, e por um momento eu apenas aproveitei.
Boran estava no controle.
Ele parecia ter conhecimento de tudo o que eu estava sentindo e o que significava cada um dos meus suspiros.
Suas mãos vagaram cuidadosamente por meu corpo, descendo nas minhas costas, parando um pouco em minha cintura e subindo mais uma vez.
Ele parou nosso beijo, mas nossas testas continuaram juntas e Boran estava tão ofegante quanto eu. Seus olhar no meu foi como um abraço ao meu coração, eu me senti acolhida e tive vontade de me aninhar em seus braços.
"Acha que fui imprudente?" Sussurou, e eu neguei.
"Nem um pouco."
"Você..." Ele engoliu em seco. "Você queria isso também, não é?"
Olhei para minhas mãos e ele as segura, tentando ter minha atenção novamente.
"Eu sempre quis." Deixei escapar. Um longo suspiro vem de Boran e quando ergo os olhos ele está de cabeça baixa.
"O motivo de você ter chorado... eu entendo agora. Era por isso que você não queria que eu ou Sophie entrassemos em contato."
"Era." Levantei a cabeça e decidi encarar a situação. "Eu sempre fui apaixonada por você."
"Eu não sabia..."
"Não te culpo por não notar, eu sou boa em esconder as coisas. Por outro lado, Sophie sempre foi bem expressiva em relação aos seus interesses amorosos."
"Por que não me contou?"
"Achei que estava claro o suficiente..."
"Não isso Diana." Sua voz estava contida, o nervosismo começava a ser revelado pelo rubor de suas bochechas. "Por que não me contou que estava apaixonada por mim?"
"Eu não podia."
"Como assim?"
"Sophie..."
"Por que continua trazendo sua irmã no meio da conversa? O que ela falou pra você..."
"Ela não me falou nada Boran. Eu só achei que seria injusto com ela e com o que ela sentia."
"Injusto com o que ela sentia? E quanto ao que você sente? E quanto ao que eu sinto?"
Por um momento acho que parei de respirar. Boran pega minha mão e a põe sobre seu peito, eu consegui sentir seu coração disparado.
"Não me diga que você nunca percebeu"
"Eu... eu cheguei a suspeitar, mas..."
"Mas você achou que era coisa da sua cabeça?"
"Exatamente"
"Mas e agora? Você sabe como me sinto, sabe como se sente... Não há nada que pode nos impedir, Diana. Por favor, me dê uma resposta."
Eu me odiei tanto naquele momento. Minha voz ficou entalada, mesmo sabendo o que responder. Eu queria aquilo. Eu queria ficar com Boran, e ele queria isso também.
Mas eu estava com medo das consequências dos meus atos, medo de ser assombrada pelo ódio da minha irmã.
Devagar Boran soltou a minha mão. Pisquei algumas vezes, notando sua mudança de expressão para algo frio.
"Pelo visto você já fez sua escolha."
"Boran..." Ele se levantou do sofá, passou uma mão no rosto e caminhou na direção da cozinha.
Sabe aquela sensação ruim que temos logo após tomar uma decisão? Eu consegui sentir o gosto dela. Era amargo, queimava e parecia estar esmurrando meu peito com força bruta.
Era o gosto do arrependimento. Eu tinha uma chance de mudar aquilo e transformar aquele gosto em algo doce, calmo e que, finalmente, me faria ficar em paz comigo mesma.
Eu sempre abri mão dos meus desejos para satisfazer o de Sophie, digamos que ela era a filha mimada dos meus pais. Nunca fui maltratada, longe disso. Meus pais sempre me trataram com todo o carinho do mundo, mas Sophie era pirracenta, rebelde, e gostava de ser o centro das atenções. Eu nunca me importei com o "aceitar as exigências" da minha irmã, mas agora... Eu não podia abrir mão da minha felicidade por causa dela.
Me levantei do sofá e andei em passos rápidos atrás de Boran. O puxei pelo braço até que ele se virou para mim. Me joguei conta seu corpo, apoiando minhas mãos em seus ombros e ficando na ponta dos pés, para assim conseguir alcançar seus lábios.
Suas mãos rodearam minha cintura e sem muito esforço ele me levanta. Com passos desengonçados ele nos leva até o sofá, se sentando comigo em seu colo.
Seu celular toca algumas vezes, mas ele sequer demonstra interesse em atender. Quando finalmente a pessoa desiste de ligar, a campainha toca.
"Melhor ir atender" Digo à ele.
"Uma hora dessa?"
"E se for sua mãe? Não seria a primeira vez que ela chega aqui de madrugada, afinal ela é sua vizinha" Boran se levanta contra sua vontade e vai até a porta. Eu sorrio ao analisar como eu havia o deixado, com as bochechas vermelhas e os cabelos ondulados bem bagunçados.
"Sophie?" Dou um pulo do sofá. Sequer deu tempo de arrumar meus cabelos e a figura de minha irmã surge.
"Diana?" Ela passa por Boran e adentra sem mais nem menos a sala dele. "O que você faz aqui?"
Ela olha de mim para ele, notando a situação em que nos encontrávamos.
"O que você tá fazendo aqui?" Boran pergunta antes que Sophie fosse capaz de falar.
Nunca vi minha irmã com a face tão amedrontadora como naquele momento.
"Eu?" Ela dá uma risada forçada e notei que ela estava prestes a perder o controle. "Eu te liguei por que estava preocupada com minha irmã, só temos uma a outra nessa cidade enorme e ao ver que tão tarde ela não tinha voltado pra casa, comecei a ficar muito preocupada. Ela não me avisou onde ia e nem levou o celular. Então eu ligo para o homem que há algumas horas jantou romanticamente comigo, afim de conseguir algum consolo e ajuda para ir atrás dela, e olha que coisa, eu não consigo falar com ele também. E tudo por quê? E para quê? Se no final das contas os dois estavam juntos fazendo sabe-se lá o quê pelas minhas costas!" Ela gritou e não deixei de ficar nervosa com aquilo. Eu queria falar alguma coisa, mas meus lábios tremiam.
"Aconselho que se acalme, Sophie. Somos adultos decentes, não há necessidade de arrumarmos uma confusão."
"Como quer que eu me acalme, Boran?" Sophie faz contato visual comigo. "Se minha irmã aproveitando minha ausência resolve seduzir o homem por quem eu era interessado."
"Não foi assim..." Consegui dizer, apesar de ter sido baixo.
"Como ainda pode negar a verdade olhando nos meus olhos?!" Sophie tentou vir em minha direção, eu fechei os olhos e Boran entrou no meio de nós duas.
"Ela está certa, não foi assim." Ele dá alguns passos para trás até sentir que eu estava encostada em seu corpo. "Eu que fui atrás dela."
"Você quer proteger ela. " Sophie ignora as palavras de Boran. "Você não é desses, ela é."
"Como pode falar tal coisa da sua própria irmã?" A voz daquele homem enorme entre nós ficou mais dura. "Tanto eu como você, Sophie, sabemos que Diana é uma mulher de princípios. Ela é simplesmente uma das pessoas mais puras que eu conheci em toda a minha vida."
A forma como dava a perceber que o corpo de Boran estava tenso, eu já imaginava o que estava por vir.
"E me deixe dizer a você mais algumas coisas. Sua irmã não é uma dessas que você pensa. Diana teve a coragem e capacidade de fingir em todo esse tempo que não tinha interesse em mim e fingia não ver o interesse que eu tinha nela por sua causa. Sim, por que ela ainda colocava a felicidade e o bem estar da irmã mais velha em primeiro lugar. Sabe quantas pessoas abririam mão da pessoa que ama para entregá-la de mão beijada para outro? Zero! Ninguém faz isso!"
A mão de Boran encontra a minha e ele a acaricia. Sua voz começa a estabilizar para a calma.
"Quando gostamos de alguém nos tornamos pessoas egoístas. Mas é só quando amamos de verdade que colocamos o felicidade do outro acima da nossa. Eu e você, Sophie, estando juntos ou não, Diana estava decidida em manter distância de mim para não machucar você. Por que ela achava que você merecia ser feliz com que você ama... Mas a verdadeira felicidade só ocorre em um relacionamento onde os dois amam... E eu sempre, sempre amei a sua irmã."
Sophie piscou e me olhou de onde eu estava. Ela me encarou por alguns segundos sem falar nada, apenas balançando a cabeça, como se tivesse entendido, apesar de seu rosto estar carregado de amargura. Ainda em silêncio ela pega a bolsa, que havia jogado no chão, e nos deixa sozinhos naquela casa.
Boran secou minhas lágrimas e beijou o topo da minha cabeça, antes de me dar um abraço apertado.
"Desculpa." Ele murmurou algumas vezes enquanto eu estava aninhada em seu corpo.
Ninguém nunca me defendeu daquele jeito, ninguém nunca passou por cima das vontades de Sophie para fazer a minha vontade.
Ninguém nunca me deu atenção como Boran estava fazendo. E depois daquela noite que passamos juntos eu tive a certeza.
Eu jamais voltaria atrás.
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