Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

3. Era uma vez uma fada insistente e um humano deveras cético.

Eu dormi no sofá. 

Não sei o que estava pensando quando decidi deixar a Terra das Asas às duas da madrugada, mas certamente não estava pensando em nada. 

Não planejei onde iria passar a noite, de tão animado que estava, e só me dei conta da minha falta de organização quando saí do quarto de Jungkook. Nunca tinha experimentado um sentimento tão grandioso de frustração como senti naquele momento, quando desci a escada e percebi (de novo, só que dessa vez mais conscientemente) que era madrugada. 

Percebi que, se todos estavam dormindo, eu deveria dormir também. No momento, dei de ombros, abandonando a frustração, e segui para o sofá muito serenamente, retraindo minhas asas e deitando ali logo em seguida. Peguei no sono rápido, embalado pela calmaria da noite. 

Quando acordo, essa calmaria já tem ido embora. Sento no sofá muito abruptamente assim que acordo e, depois de alguns segundos ainda muito grogue e inconsciente, escuto barulhos. Alguma porta bate no andar de cima. Eu levanto, sobressaltado. Quando sons de passos começam a soar, configuro as asas. 

Fico olhando para a escada, esperando pelo momento em que alguém vai aparecer. É impossível não desejar que seja Jungkook. Me sinto um pouco ansioso pela sua chegada, já imaginando como irei me apresentar e como ele ficará maravilhado pela minha presença e agradecido por minha vontade de ajudar. Tenho as melhores palavras na ponta da língua, só esperando pelo momento de dizê-las. Os passos se aproximam mais. 

É agora! 

Mas não é Jungkook que vejo. O que vejo é um homem de cabelo arrumado vestido com farda de policial. 

Meu sorriso morre. Não dou a mínima para esse cara, que talvez seja o pai do meu humano, e, graças às minhas asas, ele também não dá atenção para mim. Bufo, meio irritado, e espero ele desaparecer na cozinha para me aproximar da porta e abri-la sem chamar atenção. Seria muito bizarro a visão de uma porta se abrindo sozinha, mas, ao mesmo tempo, ver a cara assustada daquele cara me garantiria ótimas risadas. 

Saio do apartamento (não sem antes ocultar as asas novamente) e depois do prédio, decidido a esperar Jungkook do lado de fora. É uma manhã de segunda-feira; ele deve ter compromissos. 

Sento em um dos degraus da escadaria como se fosse um cidadão comum. Pessoas passam por mim a todo instante, mas não presto atenção nelas; fico encarando a rua com o meu olhar de julgamento. Tem um cara do outro lado da rua conversando com uma garota, e eu tenho quase certeza de que ele está tentando impressioná-la com umas embaixadinhas, que são até legais, mas não legais o bastante. 

Posso fazer ficar melhor. 

Discretamente, aponto o dedo na direção dele e faço a bola acertar o seu rosto. O cara abandona os movimentos e cobre o nariz com a mão, provavelmente resmungando por causa da dor, e eu começo a rir. A garota se aproxima dele, compadecida, e gentilmente toca as mãos do garoto para distanciá-las do rosto e analisar o machucado. Ela parece preocupada; ele, satisfeito com as mãos dela agarradas às suas.

— De nada — eu sussurro. No fim das contas, eu só ajudo as pessoas. 

Algum tempo mais esperando, começo a ficar entediado. Até sentir alguém esbarrar a perna no meu braço. Minha mão que estava sustentando meu queixo escorrega e faz com que eu tombe para o lado. Fico bravo num instante. Estou pronto para castigar o malfeitor com cadarços desamarrados e um tropeço no último degrau quando ele vira a cabeça para mim e diz: 

— Foi mal. 

Não foi um bom pedido de desculpas, considerando que ele nem virou a cabeça direito, mal olhou para mim, e soltou um "foi mal" ao invés de "desculpa" sem nem ao menos parar de caminhar. Por um segundo, olho para a lateral do seu rosto com arrogância, mas essa expressão logo é substituída por um arregalar de olhos de fascínio quando reconheço os traços dele. 

Jungkook! — uma voz na minha cabeça grita, fazendo eu me levantar num pulo de excitação desmedida. 

Não sei por quê, demoro alguns segundos para começar a caminhar atrás dele. 

O meu humano está a alguns bons passos distantes agora, andando sem pressa com uma mochila esquisita cheia de fivelas nas costas. Ele não parece perceber que tem alguém o perseguindo com tanto afinco que chega a ser suspeito. Sorte dele que não tenho más intenções.  

Alcançamos uma praça e estamos caminhando por uma passarela ladeada por árvores — uns passarinhos escondidos nas folhagens cantam e isso é bem legal — quando Jungkook, subitamente, olha para trás. Sou pego de surpresa. Humanos por acaso têm sexto sentido? 

Ele não cessa os passos quando me percebe, mas suas sobrancelhas se franzem em desconfiança enquanto olha para mim, como se ele estivesse cogitando que eu o estou seguindo. Uau. Humanos devem ter mesmo sexto sentido. Mas não devem ser muito inteligentes. 

Porque, quando sorrio para ele, demonstrando todo o meu carisma e afabilidade num só gesto ínfimo e inocente, Jungkook fica mais confuso ainda, até surpreso, mas me ignora, virando novamente a cabeça para frente para continuar sua caminhada imperturbável. Ele me ignora como se não tivesse acabado de receber meu sorriso alegre por finalmente estar conhecendo-o. 

Desfaço o sorriso no mesmo instante, piscando confuso. Hm. Vou ter que me esforçar um pouco mais para conquistar a confiança dele. Ah, vai ser moleza. Jungkook não deve ser tão difícil de conquistar. 

A alegria agora há pouco amortecida volta a reinar dentro de mim, revigorada por causa desse pensamento otimista, e me apresso para chegar ainda mais perto da criatura sem asas à minha frente.  

Ele parece perceber (por causa do sexto sentido, comprovado por mim) e igualmente apressa seus passos. Ele se afasta na mesma medida em que me aproximo, então a consequência dessa equivalência deixa a distância entre nós inalterada. Vendo isso (porque, pelo visto, sou bem mais inteligente que ele), eu dou uma corridinha para avizinhar meu corpo com o seu. 

O resultado? Jungkook olha para trás de novo (dessa vez consigo ver um sentimento diferente em seus olhos, mas não bem o que é) e começa a aumentar a velocidade dos seus passos gradativamente quando se dá conta da minha aproximação sorrateira. Ele praticamente corre. 

Eu praticamente corro também. 

Os pés dele estão mais ligeiros agora... O que há de errado com ele? 

E então, no minuto seguinte, Jungkook está correndo de verdade. 

— Ei, mas- — me interrompo, muito confuso, e me pego correndo também. De quem estamos correndo, afinal? — Jungkook! 

Não era dessa forma que eu me imaginava conhecendo-o. Estou um pouco frustrado. 

Ele nem atende ao meu chamado. 

Essa correria sem sentido já está me deixando sem fôlego quando vejo o humano alcançar um estabelecimento com paredes de vidro. Ele abre a porta muito agilmente e passa para o lado de dentro como se estivesse fugindo da polícia. Paro do outro lado da rua, me sentindo até um pouco agradecido pela parada porque Jungkook corre muito rápido e eu estou cansado. Apoio as mãos nos joelhos, respirando com intensidade e me perguntando o que acabou de acontecer aqui. 

Quando me recupero, ajeito a postura e me atento ao estabelecimento do outro lado da rua. É um café (percebi isso porque tem uma placa acima da instalação que diz COFFEE PARADISE, em letras maiúsculas mesmo). Não é difícil enxergar tudo que acontece lá dentro daqui de onde estou parado. As paredes de vidro me permitem ver Jungkook sentado em um banco alto perto do balcão conversando com um cara de avental branco. Parece contar algo interessante, considerando as diferentes reações dramáticas que seu amigo garçom esboça. 

Jungkook parece tenso. 

Eu deveria ir lá fazê-lo se sentir melhor. Estou aqui para isso. 

Os probleminhas que consomem o bom humor dos humanos devem ser a menor preocupação de um Digno enquanto ele estiver sobre a tutela de uma fada-madrinha, posto que vai estar tão confortado pela nossa magia e carisma, que nem terá tempo de se sentir mal com as coisas que o afeta. E eu quero dar essa experiência a Jungkook, pelo tempo que for preciso para que eu configure seu maior desejo. Enquanto eu estiver aqui, tenho que colocar minha obrigação em prática — fazê-lo feliz. Não estou ganhando salário todo mês a troco de nada e nem vou conseguir um contrato definitivo se fizer um trabalho mal-feito. 

Uma das coisas que aprecio muito nesse trabalho é que meu tempo com os humanos não dura mais que uma semana. Provavelmente estarei em outra daqui a sete dias (caso o pedido dele seja tão fútil e fácil de realizar quanto um sapatinho de cristal) e não precisarei mais me preocupar com a felicidade dele. 

Mas, por agora, é Jeon Jungkook que importa pra mim. 

Eu aproveito o momento em que dois carros e uma moto estão muito longe e atravesso a rua pela faixa de pedestres, a qual percebi que nenhum motorista respeita. Quando alcanço a calçada, penso que minha animação deve estar muito palpável ao ponto de atrair a atenção de Jungkook para mim, porque ele realmente o faz. 

Talvez seja o sexto sentido dele agindo outra vez. 

Como nos momentos anteriores, o rosto de Jungkook vira para trás, e ele me repara. Me surpreendo de novo com sua atenção súbita sobre minha existência e me encho de deleite por causa dela, erguendo meu braço coberto por manga longa para lhe mandar um aceno eufórico. O sorriso que acompanha o gesto é involuntário. 

O que ganho em retorno é uma careta irritada. Logo depois, o menosprezo. 

Não acredito que ele me ignorou de novo. O que estou fazendo de errado? 

Vejo o amigo de avental oferecer um copo comprido e cheio de alguma bebida para Jungkook, que prontamente o pega e começa a bebericar. Meu rosto se ilumina em compreensão depois disso. 

Jungkook está aborrecido porque está com fome. É óbvio. 

Talvez seja melhor abordá-lo em outro momento. Mais tarde. Quando ele não estiver com fome. 

— Aliás, eu também preciso comer. — No timing perfeito, meu estômago ronca; eu meio que rosno e viro de costas para o Café. — E escovar os dentes. Ainda bem que não falei com Jungkook. Imagina se ele sentisse meu mau-hálito matinal! Seria horrível! Ele não iria gostar de mim... 

E, com esse pensamento, caminho para um lugar mais reservado (um beco cheio de lixo, para ser mais específico) e retorno à Terra das Asas. 

🦋

Me vejo envolto por uma sala quase vazia quando volto para casa. A minha casa. 

A última vez que estive nesse lugar silencioso foi ontem de manhã, quando saí para ir ao trabalho, e... Nossa. A percepção do tempo me faz lembrar que preciso urgentemente de um banho. 

Tentado a verificar, eu levanto o braço e dou uma fungada na minha própria axila. E concluo: estou fedendo. Não acredito, penso, desconcertado. Deve ter sido por isso que Jungkook correu de mim. 

Corro para o banheiro no mesmo instante e demoro muito tempo no banho, cuidando da minha higiene pessoal para causar uma boa primeira impressão em Jungkook. Os minutos passam ligeiros enquanto me arrumo e cuido da minha aparência; quando saio da frente do espelho e olho as horas, percebo que gastei duas horas e mais alguns acréscimos desde que saí da dimensão humana. 
 
Mas agora eu preciso voltar. 

Preparo minha própria comida — porque moro sozinho em uma casa pequena e não em um hotel; portanto, não tenho serviço de quarto aqui — e como tudo na velocidade da luz. 

Volto ao quarto para escovar os dentes (se eu gastei um quarto do vidro de enxaguante bucal ninguém precisa saber) e, antes de sair novamente, borrifo só mais um pouquinho de preparado aromático — o meu tem cheiro de camomila — em mim. Agora sim. Estou definitivamente pronto. 

Paro do lado da cama. 

— Jeon Jungkook, da rua Que- — me interrompo, subitamente me dando conta de um detalhe. Eu bato meu dedo indicador no bico formado por meus lábios, com minha melhor expressão reflexiva. — Não. Ele deve estar na faculdade agora. — E então lembro que encontrei o nome da Universidade onde Jungkook estuda quando pesquisei sobre ele. Meu rosto se ilumina com a lembrança, porque, com o nome do lugar onde ele está agora, posso ir diretamente para lá e encontrá-lo em poucos minutos. 

Como eu disse, ser uma fada tem seus privilégios, mas esses privilégios, por sua vez, têm suas limitações. Precisamos ter o conhecimento de onde o nosso humano se encontra se quisermos encontrá-los mais facilmente. 

Substituo o nome da sua rua pelo nome da Universidade e estalo o dedo, bastando só esse click para me fazer desaparecer do meu quarto. 

Um segundo depois, me percebo em outro lugar.

Giro sobre meus calcanhares, estranhando o ambiente estreito onde vim parar. É uma biblioteca, concluo em mente, alternando meu olhar curioso entre as duas estantes recheadas de livros que me cercam. Me aproximo de uma delas e passo a ponta do dedo sobre a lombada de um livro (seu título soa tão erudito e intelectual para uma pessoa leiga como eu, que me provoca um contrair de sobrancelhas de incompreensão). 

Acho interessante como os humanos podem ser incrivelmente inteligentes e ignorantes na mesma medida. 

Me afasto da estante quando me dou conta da minha distração e retraio minha asas, pronto para procurar Jungkook. Mas, antes de sair do corredor, eu freio meus passos de súbito e passo as mãos nos cabelos para deixá-los mais comportados, colocando-os sobre as orelhas, aliso minha blusa e... OK. Estou OK. Coloco um sorriso no rosto e só depois começo a caminhar com minha postura confiante. 

Perambulo sem direção pela biblioteca, que só agora percebi ser enorme (eu não faço a mínima ideia de onde fica a saída), e espio os corredores com expectativa toda vez que um aparece no caminho, mas quem eu quero achar nunca está onde procuro. Aceno e digo oi para qualquer um que olhe para mim e sou respondido com caretas confusas.  

Não sei o que há de errado com esses estudantes, mas eles não parecem nada animados nessa linda manhã de segunda-feira — talvez seja justamente porque essa é uma manhã de segunda-feira; linda, sim, mas ainda é segunda-feira —, e vê-los pra baixo mexe um pouco com o meu entusiasmo. Mas só um pouco mesmo, porque não ter encontrado Jungkook até agora mexe ainda mais. 

É frustrante, sabe? Faz um pontada incômoda e indesejada de insegurança manchar minha tão imaculada autoconfiança. Não gosto desses sentimentos negativos; eles são naturais aos seres humanos, e não às criaturas fantásticas como eu. O nosso natural é esbanjar plenitude por aí. Portanto, repilo esses maus sentimentos para fora do meu corpo como se estivesse expulsando um demônio. 

Não funciona. Eu bufo. 

A essa altura, o sorriso largo de antes já se desfez e agora o que estampo em meio rosto é a expressão de um garoto ao qual acabou de ser negado um pirulito. Vou em direção à uma mesa vazia, puxo uma cadeira e o ato faz barulho (lembro-me bem de uma placa avisando que é proibido fazer barulho aqui dentro. Felizmente, ninguém aparece pra me dar um sermão) e enfim me sento, apoiando meu queixo na palma da mão. Começo a tamborilar os dedos na mesa. Minha perna começa a balançar. Minha mente trabalha como uma máquina de movimento automático e ininterrupto. 

Cansei de ficar sentado. 

Levanto. 

E, como antes, passo o dedo pela lombada de um livro. Não me limito a um só. Começo a passar o dedo pelos demais na estante, lendo os títulos — minhas sobrancelhas estão franzidas como se eu estivesse trabalhando em algo minucioso. 

É quando pego um livro muito grosso — foquem no "muito" —, que percebo que estou em sincronia com alguém do outro lado. 

A ausência do livro deixa uma vaga na estante, e é por este espaço vazio que meus olhos encontram os de Jungkook no mesmo instante em que os dele encontram os meus. 

Nós dois somos surpreendidos. 

Ele pisca freneticamente, e quase consigo adivinhar o que ele está pensando agora — provavelmente se questionando o que estou fazendo aqui —, mas não me atento a isso. Porque aquela euforia de antes voltou com tudo agora. 

Eu largo o livro de qualquer jeito na mesa e me apresso para atravessar a barreira que me impede de ver Jungkook pessoalmente, de ficar cara a cara com ele. E é como se ele tivesse previsto a minha intenção, porque, quando apareço do seu lado do corredor, seu corpo já está virado na minha direção. O rosto de Jungkook é uma máscara de aborrecimento enquanto espera eu chegar mais perto. 

Mas ele é impaciente e dá seus próprios passos para encurtar a distância que ainda nos separa.  

—  Oi! — eu o cumprimento assim que ele para diante de mim. 

Mas que porra é essa? 

Hã? 

Meu sorriso vacila um pouco, mas não deixo que vacile totalmente. Ergo uma sobrancelha. 

— Você é o Jungkook, né? — Impossível não ser. Ele é tão bonito pessoalmente quanto na foto da ficha e tem o mesmo nariz grande. 

Ele hesita por alguns instantes. 

— E daí? 

Tão desconfiado... 

— Eu sou Jimin — digo, mesmo que ele não tenha mostrado interesse em saber, e estendo a mão, exibindo um sorriso largo e honesto que alcança meus olhos. — Estou profundamente exultante por finalmente conhecê-lo, Jungkook. 

A carranca confusa de Jungkook se intensifica. Ele olha para a minha mão estendida, depois para o meu rosto, volta a olhar para a minha mão estendida e em seguida configura o olhar para o meu rosto novamente. Os segundos se estendem, e ele não parece chegar a conclusão alguma. 

Continuo inabalado. Bom, até ele estender a própria mão e me fazer acreditar que vai finalmente corresponder à saudação, mas o que faz é empurrar a minha mão para dispensá-la. É incrível como meu sorriso morre na mesma hora. 

Ele dá mais um passo e inclina a cabeça para frente, mas não recuo. 

— Não quero saber como se chama. Não quero apertar sua mão — e lança. Doeu. — E que papo esquisito é esse de estar exultante em finalmente me conhecer? Não era você que tava me seguindo hoje cedo? Aliás, por que você estava me seguindo? E veio me perseguir até aqui? — As sobrancelhas se comprimem ainda mais, deixando seu rosto parecer mais zangado. — Isso é tão... 

Ele se afasta enquanto diz a última frase, como se estivesse desistindo de se estressar com isso, mas seu distanciamento não me deixa menos sufocado. Acho que fico paralisado. E chocado. Meu Deus. Nenhum outro humano me deixou paralisado e chocado antes. 

O que devo fazer agora? O treinamento de fadas-madrinhas não conjecturou uma situação como essa. 

Tenho que me virar. Não posso me deixar abalar só porque alguém está muito nervosinho. Recupere-se e faça seu trabalho direito, Jimin. 

É só dessa voz motivacional da minha cabeça que eu preciso para me reestabelecer e revigorar a vitalidade e a serenidade que existem dentro de mim e que me permitem ser um bom profissional. Endireito a postura (porque em algum momento ela perdeu um pouco da essência confiante) e estampo um sorriso de canto. 

Olho para Jungkook. Ele está tentando ignorar minha presença enquanto analisa alguns livros dispostos na prateleira. 

— Jungkook — chamo, todo afável. 

Nada. 

Chego mais perto. 

— Jungkook. 

Ele expira, demonstrando estar me escutando muito bem mesmo que tente fingir que não. 

Junto as mãos em frente ao corpo e me inclino na direção dele, que está com o olhar abaixado para um livro que segura, e, dessa forma, coloco-me em seu campo de visão e sorrio mais. 

 — Psiu. — Arrisco tocar a ponta de seu nariz, o que só depois de ver sua reação percebo não ter sido uma ideia muito inteligente. 

O toque de meu dedo em sua pele parece despertá-lo de um jeito negativo — ou talvez só o tenha surpreendido demais —, e ele bruscamente agarra o meu pulso ao mesmo tempo em que afasta o rosto da minha mão. Não consigo evitar arregalar os olhos para ele. 

— O que pensa que está fazendo? — e pergunta, baixinho, porque é proibido fazer barulho na biblioteca. 

Tenho certeza de que se essa regra não existisse, Jungkook estaria gritando. 

— Perdão. — Eu junto as sobrancelhas, incomodado. 

Ele solta meu pulso de forma nada delicada, mas também não chega a ser muito grosseiro. 

— Você não pode sair tocando os outros assim, sabia? — Jungkook me repreende, e a intensidade de seus olhos negros sobre mim me faz piscar desconcertado. 

Ninguém nunca me falou sobre limite nos toques, mas me lembrarei disso. Balanço a cabeça para cima e para baixo, demonstrando que entendi.

— Foi só para chamar sua atenção, Jungkook — explico e inclino a cabeça para o lado. — É feio ignorar os outros, sabia?

Jungkook me lança uma olhadinha de canto.

— Sabia — e responde, sucinto. — E inclusive não me importo nem um pouco. 

O humano me dá as costas e volta a atenção para os livros novamente. Estanco no lugar, observando-o. Não consigo acreditar no que estou presenciando. 

OK, então. Não estou com vontade de desistir dele. É só um cara difícil. Coisas fáceis não valem a pena. 

Me aproximo e espio o livro que ele está segurando por cima do seu ombro. É óbvio que tenho que ficar na ponta dos pés, uma vez que Jungkook é alguns centímetros mais alto. 

— O que está fazendo? 

— Segurando um livro — ele debocha. 

— Estou vendo — eu replico. 

— Ótimo. 

Ele se afasta para pegar outro e começa a folheá-lo. Me aproximo novamente. 

— Jungkook, precisamos conversar — eu tento ganhar sua atenção. 

Eu adoro a parte do meu trabalho em que explico ao humano o motivo de estar aqui, de onde eu vim e o que eu sou, então o sentimento de expectativa é inevitável, e nem a personalidade impenetrável de Jungkook consegue me deixar menos entusiasmado. 

— Você não está curioso sobre mim? Eu estou muito curioso sobre você! 

— Ah, eu percebi. Tão curioso que me seguiu até aqui, não é? Eu definitivamente estou muito interessado no que um estranho quer conversar comigo — pelo visto, ele gosta de usar e abusar da pobre da ironia. 

Eu hesito, procurando as palavras certas para dizer.  

Jungkook parece desistir do que está procurando, porque solta uma lufada alta de ar impaciente e caminha até uma mesa redonda, de onde pega uma mochila. E é claro que eu fico em seu encalço o tempo todo. 

— Ei, eu estou falando sério — insisto. — Nós dois temos algo a tratar, e isso é de extrema relevância. 

— No momento, estou muito ocupado, como pode ver. Mas se o assunto for assim tão importante, você pode marcar um horário com a minha secretária, que tal? — Jungkook me oferece um sorriso falso e dissimulado e desvia do meu ombro quando passa por mim. Que alfinetada previsível.  

— Espera! — Me precipito para acompanhá-lo. 

Jungkook caminha de costas para mim, sem fazer menção alguma de que vai me esperar. Ele sabe que estou bem aqui, a apenas alguns passos de alcançá-lo, mas não dá a mínima para isso. 

OK... Tudo bem. 

Acho que esse foi o dia em que mais tentei me consolar. Mas, em contrapartida, a complexidade de Jungkook pode ser uma ótima desculpa para pedir um aumento ao sr. Kim (esse foi o melhor consolo em que consegui pensar até agora). 

Saímos da biblioteca. Quase sou atingido pela porta quando Jungkook a empurra para fechá-la no momento em que vou passando, mas, graças ao meu invejável reflexo, sou capaz de segurá-la antes que atinja meu rosto. Observo as costas de Jungkook enquanto ele continua caminhando como se nada tivesse acontecido. Ele sabia que eu estava atrás dele. 

— Ah, claro que ele não fez de propósito — deduzo, passando pela porta e começando a segui-lo. Estamos agora ao ar livre, provavelmente seguindo para outra parte do campus. 

Apresso os passos até ficar lado a lado com ele. Jungkook me olha de canto e faz uma careta. 

— Ainda está aqui? 

— E vou ficar até você falar comigo. 

— Eu estou falando, mas pelo visto você é tão inconveniente que tacou o foda-se pra tudo que eu disse. 

— Você, por acaso, tem aula agora? Poderíamos usar seu tempo livre para bater um papo — tento soar mais amigável usando um termo comum entre eles. — Mas, caso tenha, posso te esperar até estar em liberdade novamente. 

— Estar em liberdade — Jungkook zomba, dando uma breve risada. Não entendo o porquê dessa reação às minhas palavras, mas prefiro deixar para lá. 

Ele ainda esboça um sorriso que parece estampar "EU ESTOU CAÇOANDO DE VOCÊ, MANÉ" em letras garrafais quando ganha velocidade e me deixa para trás. 

Não é o bastante para assassinar minha plenitude. Continuo andando serenamente. 

Jungkook atravessa uma porta de vidro quando finalmente alcança o seu destino, uma construção grande e alta em cuja entrada há uma placa contendo as palavras "Centro de Artes e Comunicação". Eu não sei o que é isso nem que lugar é esse, mas abro a porta e entro mesmo assim. 

Sigo meu humano ignorante por alguns corredores até ele entrar em outro espaço. Mas antes de entrar, Jungkook olha brevemente para trás — para mim, e fico curioso por causa disso. 

Entro logo após ele. 

Sou recepcionado por paredes brancas, espelhos, pias, mictórios e uma sequência de portas brancas do lado direito do recinto. Isso claramente é um banheiro. 

Jungkook põe a mochila em cima da pia e vira para mim com uma expressão questionadora. Pondo as mãos na cintura, ele ergue uma sobrancelha antes de perguntar: 

— Vai ficar aqui me olhando mijar? 

Minha integridade se descuida um pouco com o toque de sarcasmo na voz dele. 

Eu o encaro e dou de ombros, sorrindo. 

— Não me importo. Fique à vontade. Não quero que se sinta constrangido por minha presença. 

Jungkook faz um som engraçado com a língua. 

— Você me segue e agora quer me ver mijando... — reflete; não parece achar os fatos citados engraçados. Ele esquadrinha meu rosto com um olhar que emana curiosidade. — Quem é você? 

— Achei que não quisesse saber — minha pergunta não soa rude, apenas risonha. 

— Eu posso decidir quando quero e quando não quero algo. E agora eu quero saber — ele, pelo visto, não se importa em soar rude, como eu. 

— OK. Acho que preciso agradecer a você; estava mesmo esperando que me desse uma brecha para falar tudo que quero falar desde que te encontrei. — Prefiro não citar que o encontrei pela primeira vez enquanto ele estava dormindo e que entrei em seu quarto sem sua permissão. Sem falar que passei a noite no sofá da sua casa. — Enquanto isso, você pode fazer suas necessidades à vontade. — Assinalo para a fileira de mictórios na parede à frente. — Se quiser, posso ficar de costas. 

Jungkook está me olhando de um jeito estranho, intrigado. Alguma coisa que eu disse deve tê-lo surpreendido (negativa ou positivamente), mas ele logo se livra desse semblante e se vira para ir em direção à um dos mictórios. 

Ele não respondeu à minha sugestão, mas viro de costas mesmo assim. 

— Jungkook. — Ele resmunga alguma coisa de volta. — Você acredita em fadas? 

Há um instante de silêncio. 

— Já acreditei — ele responde. — Quando tinha sete anos. 

Por que ele usa esse tom pra tudo? 

— Acho que devia voltar a acreditar — eu faço suspense. — Talvez elas apareçam do nada enquanto você está dormindo. 

— Aí se elas tocarem meu nariz eu vou ter bons sonhos? — Jungkook ironiza. — Acho que alguma me tocou essa noite, então. 

Sei que ele está debochando do que eu disse, mas não deixo de ficar animado com sua fala inocentemente verdadeira. 

Porém, prefiro não me estender nesse assunto e foco no que é mais relevante. 

— O que eu estou querendo dizer é que fadas realmente existem e que elas moram em outra dimensão chamada Terra das Asas. Não é muito diferente daqui, mas é um lugar mágico. É realmente muito esplêndido, e todos que vivem lá são seres agradáveis — e aqui estou eu descrevendo minha terra com uma entonação deveras sonhadora. 

— Você está escrevendo um livro infantil e quer que eu te dê meu feedback

Ouço seu caminhar e rapidamente giro para observá-lo. Vejo-o se aproximar da pia para lavar as mãos e vou para perto dele. 

— Continuando... — decido ignorar sua implicância. — Na Terra das Asas, há uma grande empresa chamada Fairying, com sessenta andares, onde fadas trabalham a favor dos seres humanos. — Jungkook coloca um pouco de sabão na palma e começa a esfregar as mãos juntas; ele não dá nenhum indício de que está me escutando. — As fadas-do-dente apenas dão moedas às criancinhas em troca de um dente de leite, todo mundo sabe; mas as fadas-madrinhas entram em contanto direto com os seres humanos, mas isso só acontece quando eles precisam delas. Quando as chamam. — Faço uma pausa ansiosa antes de completar: — E eu estou aqui porque você me chamou. 

Jungkook leva o olhar para mim no mesmo instante em que as palavras deixam a minha boca. Ele não expressa surpresa nem ceticismo nem nada; ele apenas olha para mim. 

Em seguida, fazendo-me levar o olhar até a sua boca, ele projeta um sorrisinho torto cheio de charme. 

— Eu nunca ouvi tanta bobeira na minha vida. — Surpreso, eu instantaneamente levanto o olhar para ele e meu sorriso murcha. Jungkook puxa um lenço para enxugar as mãos. — Você foi ótimo, hein. Meus parabéns. 

— Eu não estou brincando, Jungkook. Juro juradinho! — até beijo meus dedos cruzados.

Ele não diz nada; eu também não digo. Ficamos em um silêncio ansioso enquanto observo-o terminar de enxugar as mãos, amassar o lenço e em seguida lançá-lo num cesto de lixo. Jungkook vem para perto de mim, sem me entregar nenhuma olhadela enquanto o faz, encosta o quadril na pia e cruza os braços sobre o peito. Quando se encontra nessa posição, seus olhos negros viajam até os meus. 

— Então — corrija-me se eu estiver errado — você está me dizendo que existe uma outra dimensão chamada Terras das Asas, que tem uma empresa lá chamada... deixa eu ver se me lembro. — Ele forja uma expressão pensativa. — Ah, lembrei. Chamada Fairying, onde fadas trabalham em prol de nós, pobres seres que precisam de ajuda; que você é uma fada-madrinha e que, não sei como, e já deixo claro que isso é apenas uma situação hipotética — Jungkook pontua —, eu te chamei até aqui, e você ainda espera que eu acredite nisso? 

— Exatamente! 

— Como diabos eu poderia ter te chamado pra alguma coisa, em primeiro lugar? 

— Você fez o código. — Ele parece confuso. — Você disse "Eu preciso de ajuda" e tocou o dedo indicador na ponta do nariz — eu enceno o ato ao falar, todo sorrisos. 

— Como voc-

— E agora eu estou aqui pra te ajudar! Isso não é maravilhoso? — Entrelaço minhas mãos abaixo do queixo e abro um sorriso enorme que faz meus olhos se fecharem. Impossível Jungkook não se sentir tocado pela minha alegria. 

Mas, pelo visto, me enganei de novo; o rosto dele não entrega nenhum sorriso de volta. 

Diminuo um pouco o sorriso enquanto sou alvo desse olhar intrigante dele. Os mirantes de Jungkook passeiam pelo meu rosto, esquadrinhando-o sem discrição, mas não há nenhuma evidência de fascínio no modo como me olha. Essa sua repentina atenção direcionada a mim me deixa agitado. Quero que acredite em mim. 

Eu bato os cílios devagar para ele e dou um sorriso pequeno, de um jeito inocente, esperando parecer simpático, mas instantes depois tenho a impressão de que meu gesto só pareceu, de alguma forma, um flerte barato. 

Se Jungkook também pensou assim, não demonstrou. Ele balança a cabeça, e vejo a sombra de um sorriso em seus lábios quando estica o braço para fisgar a mochila, que está um pouco atrás de mim, não intencionalmente aproximando seu corpo do meu no ato de alcançá-la. 

Eu não recuo, então sou capaz de sentir o perfume impregnado em seu pescoço. 

— Com licença — ele começa, colocando a mochila nas costas —, mas tenho que voltar para a cela agora. Quem sabe a gente não se encontre quando eu estiver em liberdade novamente. 

Geralmente, sou uma criatura com muito bom-humor, mas neste momento não consigo apreciar o dele. Porque o bom-humor de Jungkook significa a mesma coisa que estar zombando de mim.  

Ele repete a mesma cena da biblioteca quando passa por mim para ir embora, mas dessa vez não se importa em esbarrar no meu ombro ao fazê-lo. Eu corro e o ultrapasso antes que alcance a porta, fazendo-o cessar os passos quando pouso minha mão em seu peito. 

— Jungkook. — Não me intimido pela seriedade estampada em seu rosto. 

— Não quero nem saber como você sabe meu nome. 

— Sei muito mais do que imagina. — Dizer isso só piora. — Eu sou sua fada-madrinha, já disse, e estou disposto a ajudá-lo no que for preciso. 

— Pensei que fadas tivessem asas — mas uma vez, aquele tom. 

Eu apenas sorrio, despreocupado, e faço minhas asas revelarem-se às minhas costas. O sentimento de vitória que me embala ao ver Jungkook abandonar a postura prepotente é a coisa mais satisfatória que já me aconteceu, irrefutavelmente. 

Seus olhos se arregalam e ele pisca tanto, que parece querer expulsar um cisco indesejado. 

— Como você fez isso? — a surpresa é exteriorizada pelo tom de sua voz. 

Eu quase me animo por isso, por sua reação, mas então sou nocauteado pela percepção que obtenho a seguir. 

Jungkook não está surpreso porque acredita em mim agora, mas porque acha que a aparição repentina de asas às minhas costas é algum tipo de truque muito bom. 

Eu disparo uma explicação: 

— É uma ação natural do nosso corpo; controlamos nossas asas como vocês humanos controlam seus braços e pernas. 

Jungkook junta as sobrancelhas, e eu sinto que está prestes a retrucar ou a jogar suas falas irônicas na minha cara, o que já se tornou deveras previsível vindo dele, mas não deixo que suas intenções se realizem; eu o interrompo quando faz menção de abrir a boca. 

— Por serem mágicas, as asas das fadas produzem um encanto sobre os seres humanos: quando as retraímos e ganhamos uma aparência mais humana, todos vocês são capazes de nos enxergar; mas se nós a manifestarmos, retomando, assim, à nossa aparência natural, outros seres não são capazes de nos ver. Exceto aquele humano que vamos tutelar. É por isso que você é o único humano que pode me ver como realmente sou. Ninguém mais. Você é o único digno disso. Eu serei sua fada-madrinha, Jungkook, pelo tempo que precisar de mim. 

Minhas palavras parecem surtir efeito, uma vez que o vinco entre as sobrancelhas dele relaxam e seu semblante ganha traços suaves. Neste instante, Jungkook aparenta estar levemente convencido. 

Eu gosto disso. Eu adoro isso, na verdade. 

Um sorriso satisfeito começa a reivindicar espaço em meu rosto, quando repentinamente somos surpreendidos pela porta sendo aberta. Eu tiro a mão do peito de Jungkook, e ele rapidamente desvia os olhos dos meus para ver quem chegou. 

É só um carinha qualquer. Ele lança um olhar cheio de desconfiança para Jungkook ao se deparar com ele ali parado no meio do banheiro e depois se afasta sem dizer nada. 

Jungkook olha para mim — eu sorrio para ele — e depois começa a alternar a atenção entre o carinha — que está mijando, de costas para nós — e eu. Algum dilema está embaralhando as ideias em sua cabeça. 

Até que ele lança a pergunta, como quem não quer nada: 

— Hm, você está vendo mais alguém aqui? 

O garoto o olha por cima do ombro, mais desconfiado que antes. 

— Não tô vendo, não, cara. Algum problema? 

— Sério que não está? 

— Não — ele responde, impaciente. 

A confirmação aparentemente deixa Jungkook desconcertado. 

Ele pousa as vistas em mim de novo e seus olhos se arregalam num impulso que não dura muito tempo. O choque expresso em suas feições faz eu me sentir vitorioso, como se tivessem acabado de me entregar um troféu banhado em ouro. 

— Preciso de ar — é a última coisa que ele diz antes de abrir a porta e desaparecer por trás dela. 

"Eu, hein", eu ouço o garoto murmurar e faço uma careta de nojo quando ele sai sem lavar as mãos. 

Quando estou sozinho, permaneço aqui, pensando no que fazer a seguir no quesito Conquistar A Confiança De Jeon Jungkook. Me pego pensando em nossa interação, que foi um tanto fracassada, mas cujo desfecho me deixou com esperanças. 

De duas coisas eu estou certo: (1) eu tenho que fazer isso funcionar ou perderei minha credibilidade e (2) eu definitivamente vou pedir um aumento. 

|||

Obrigada por estar lendo ❤

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro