Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

13. Era uma vez em um festival.

Helooooooo

Aqui estou eu após 5 meses 💀 Me desculpem pela demora; eu também sou leitora de fanfics e sei o quanto isso é frustrante, mas eu tenho uma boa desculpa pra isso!

Contando uma pouco da minha vida pra vocês, eu sou professora (e esse é um trabalho MUITO cansativo) e ainda estou na faculdade, então no fim do dia acabo ficando exausta demais pra escrever, e não só fisicamente. Ainda assim, gosto o bastante desse passatempo pra deixá-lo de mão, então, mesmo que demore, vou me preocupar em atualizar. Aprecio muito os leitores que ficam ansiosos por uma atualização, saber disso me motiva muito.

Ok, sem mais delongas, boa leitura! Espero que gostem.

|||


— Ai! 

A lamúria sussurrada me faz virar a cabeça para o lado, da onde ela veio, e vejo Taehyung com o dedo na boca. Ele acabou de espetá-lo com a agulha, imagino, uma vez que não é tão bom nessa coisa de costura. Falando sério, nem eu sou, mas pelo menos não fico tentando fazer algo que não sei. Ele até tentou me convencer a acompanhá-lo em sua nova aventura, mas eu não estava a fim de sacrificar a limpidez dos meus dedos. Meu amigo recebeu minha recusa com um biquinho chateado. 

Porém, ao contrário dele, preferi fazer algo em que sou realmente bom... Cozinhar! Eu sou mesmo um expert nisso, obrigado. 

Então, enquanto ele se reclama das alfinetadas da agulha, eu estou preparando um delicioso bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Taehyung e eu planejamos fazer um piquenique na beira do rio, que se encontra depois da floresta, e por isso me encarreguei de preparar a comida. Ontem mesmo preparei outros docinhos para a ocasião — estava tão animado que fiquei até tarde cozinhando. Sim, cozinhando de verdade. Nada de magia! — É claro que Taehyung deixou que eu ficasse com essa função de bom gosto e agora mesmo não está me ajudando em nada. 

Argh! Isso é difícil! — ouço Taehyung reclamar pela milésima vez. — Como Vitória consegue fazer cardigãs tão bonitos com a ajuda das próprias mãos, uma agulha e linhas!? 

Vitória, a Digna da vez dele. 

Não tiro a atenção das cenouras que estou cortando para replicá-lo: 

— Você quer dizer que ela faz crochê? — Ele murmura um som de concordância. — Você sabe que não é com esse tipo de agulha que faz crochê, né? — Ergo uma sobrancelha, já querendo rir. 

Taehyung solta o bufo mais bufástico de todos com isso e se deixa cair na mesa com um baque dramático. 

Eu deixo a risada escapar, e o som preenche toda a cozinha. 

— Fala sério! — Taehyung ergue o próprio trabalho, um trapo com linhas horrivelmente entrelaçadas, e seu lábio inferior salta para fora numa expressão chorosa. — Fui tapeado. 

— O quê? — eu questiono entre a risada. 

— Tapeado, do verbo tapear, o mesmo que mentido, iludido, enganado, embromado. — Referência bibliográfica: dicionário. 

— Então tá. Você não quer me ajudar a preparar o bolo? — Pego uma rodela de cenoura e coloco na boca. 

— Não, obrigado. Eu prefiro apenas ficar com a parte de comer — diz, indiferentemente, ignorando a forma como minha expressão murcha. — Eu acho que vou passar no ateliê das fadas artesãs para pedir agulhas de crochê emprestado enquanto você fica fazendo todo o trabalho sozinho. 

Faço uma cenoura saltar da cesta de vegetais em cima da prateleira e ela vai direto na direção da cabeça de Taehyung. Ele dá um grito e se abaixa quando antecipa o que vai acontecer. A cenoura passa reto por ele e cai no chão. Meu amigo me olha em choque, e eu lhe ofereço um sorrisinho inocente. 

— Sabe o que aprendi esses dias nas terras humanas? — ele arregala os olhos e aponta o dedo para mim. — Psicopatia! 

— Tá bom. — E eu sou sonso desde sempre. — Você vai ficar aqui me ajudando com os doces e nós vamos conversar enquanto isso. Você sabe que fico deprimido sempre que me negam uma boa interação social! — lembro-o, indo até ele para puxá-lo para o meu lado na mesa. 

Taehyung murmura um "eu sei" e começa a fazer tudo de mau gosto. Não sei o que tem de errado com ele. Todas as fadas amam cozinhar, mas meu amigo deve ter nascido ao contrário. Que nem eu. Só que os danos foram diferentes para ambos: eu não consigo voar, e ele não gosta de cozinhar. 

Taehyung faz uma meladeira na hora de colocar a massa na fôrma — porque pelo visto ele também tem uma péssima coordenação motora —, mas fica muito contente quando a quantidade de massa na fôrma é maior que a derramada na mesa. Depois do desastre que fica minha cozinha, dispenso sua ajuda — ele se regozija disso também — e começo a preparar a calda de chocolate sozinho. 

Enquanto faço isso, me lembro de algo. 

— Como vai a Operação Conquistar Rosé? — acabei de inventar esse nome. Maneiro, né? — Indo bem? 

— Quem me dera. — Taehyung suspira. — Decidi seguir seu conselho, o de ser mais direto, e convidei ela pra sair semana passada. Mas, quando chegou a hora, ela tinha trazido a Faye junto. Achou que era um encontro entre amigos e ficou confusa quando viu que você não estava. 

— Ah, pobrezinho — lamento. — Você deveria mandar a real, sabe? Como os seres sem asas dizem. Qual a pior coisas que pode acontecer além de ela te rejeitar? 

Taehyung pondera. 

— Acho que não existe hipótese pior que essa. 

Eu tomo um tempo para refletir sobre também. Nunca me ocorreu ser rejeitado, até porque nunca pedi nada a ninguém — e quem conseguiria dizer não a uma criatura tão encantadora quanto eu? —, mas, considerando o que já ouvi de humanos, levar um fora de alguém que você gosta deve ser desagradável. 

— Bem, acho que sim — depois de um tempo, concordo com ele. — Acho que eu me sentiria mal também se o Jungkookie me rejeitasse. 

Silêncio. 

— Como assim, Jimin? 

— O quê? — Continuo mexendo a calda, sem me preocupar em olhar para o meu amigo. Mas ainda assim fico surpreso com a seriedade repentina no tom de sua voz. 

Taehyung ainda demora um tempo para responder. 

— Você... Você meio que ainda o odeia, né? — Dessa vez tive que olhar para ele, mais incrédulo impossível. — Tipo, você costumava dizer que ele era um chato. 

Por algum motivo, Taehyung parece nervoso. Porém, eu estou confuso demais com o que acabei de ouvir para me atentar mais ao seu comportamento esquisito. Pisco avidamente, esperando que isso clarei as ideias embaralhadas na minha cabeça. 

— Eu não odeio o Jungkook. — Por que essa implicação me deixa com raiva e na defensiva? Taehyung parece perceber exatamente isso. — E ele não é chato; ele é uma pessoa incrível. Se você o conhecesse como eu o conheço, saberia. 

Taehyung ergue uma sobrancelha. 

Continuo: 

— Ele é engraçado sem se esforçar para ser e ele é tão verdadeiro com seus amigos... Ele continua sendo uma boa pessoa até com aqueles que não o merecem — falo, lembrando do que Jungkook me disse sobre seu pai. — E ele não se importa, sabe? Não se importa que eu tenha nascido defeituoso; ele disse que sou perfeito mesmo assim. — Sorrio. — Então como? Como eu poderia odiá-lo? 

Quando volto o olhar para Taehyung, ele está perplexo, me encarando como se tivesse crescido mais duas cabeça em mim. Não aguento seu escrutínio por muito tempo e desvio a atenção para o preparo da calda novamente. 

Com choque, percebo as coisas que acabei de falar e me sinto envergonhado. Talvez tenha sido um pouco de mais... Ninguém precisa saber como me sinto em relação a Jungkook. A não ser o próprio. 

— Ah — é só o que meu amigo diz. — Você está corando. 

Isso não ajuda. 

— Está quente. 

— Sim. — Taehyung inclina a cabeça, me observando com afinco. Ele meio que está me intimidando muito agora. — Falar de Jungkook te deixa mesmo muito quente. 

Dou as costas para ele para ir até o forno. 

— O que quer dizer? 

— Que você gosta dele. 

Franzo as sobrancelhas e me viro na direção de Taehyung, já com a fôrma do bolo pronto em minhas mãos enluvadas. 

— Claro que sim. N-Nós somos amigos. 

— Amigos... — Ele cruza os braços e dispara, num tom acusatório: — Só isso? Você não está se sentindo atraído por ele nem nada? Ele não cria um enxame de abelhas no seu estômago, ou um friozinho na barriga? 

Olho bem para a cara do meu amigo. E começo a gargalhar. 

Não é possível. 

Me aproximo dele para deixar a forma em cima da mesa e depois me apresso para achar um recipiente espaçoso o suficiente para o bolo em uma das prateleiras. Quando volto à mesa, Taehyung está me encarando à espera de uma resposta. 

O riso já se desmanchou em minha boca e tudo o que consigo sentir é um incômodo infundado pelas suas suposições. 

— Não é enxame de abelhas que se diz, Taehyung, é borboletas — é o que escolho dizer para quebrar o silêncio e reviro os olhos numa tentativa de parecer relaxado. 

— Ah, é verdade, borboletas... Mas você não respondeu à minha pergunta. 

— Qual delas? 

— Você gosta de Jungkook do jeito que gosta de mim ou do jeito que o Darcy gosta da Elizabeth em Orgulho e Preconceito? 

— Quem é o Darcy e quem é a Elizabeth nesse caso? — pergunto, desconfiado, e dou palminhas quando o bolo sai perfeito da fôrma. 

— Isso não importa. Reformulando a pergunta: você gosta dele como nós dois nos gostamos ou como o Romeu gosta da Julieta? 

— Hm. Não sei se ele morreria por mim... 

— Jack e Rose? 

— Eu nunca o deixaria congelar na água! 

— Percy e Annabeth? 

— Quem são esses? 

— Bentinho e Capitu? 

— Credo, Taehyung! 

Ele suspira em derrota e fica em silêncio. 

Aproveito a oportunidade de paz para continuar meus afazeres e só depois de ter derramado a calda de chocolate em toda a extensão do bolo que finalmente respondo: 

— Não gosto do Jungkook desse jeito, Tae, pelo amor de Deus. — Passo o dedo na panela e levo o dedo melado de chocolate à boca. 

— Você jura? — meu amigo parece preocupado. Eu assinto. — Porque, você sabe, né? A Fairying tem uma política rigorosa contra isso, e eu não quero nada de ruim acontecendo com você. Aliás, os homens humanos são especialistas em quebrar corações. 

Dou uma risadinha com isso. 

— Fica tranquilo, Taetae, eu sei me cuidar, e meu coração é resistente o bastante pra cair no charme de um homem. — Mesmo que esse homem em questão seja Jungkook, completo em mente. 

— Hm — meu amigo ainda duvida. 

— É tudo amizade, irmandade, sacou? As relações não-românticas dos humanos pode confundir às vezes, mas é que a cultura deles é assim mesmo! 

— Tá bom, então, eu confio em você. — Os olhos de Taehyung se direcionam à vasilha que estou segurando, e eu antecipo o momento em que ele vai tentar tirá-la das minhas mãos, o que me faz dar um passo para trás. 

É assim que começamos uma corrida de pega-pega ao redor da mesa: ele tentando pegar a vasilha melada de chocolate, e eu fugindo dele enquanto dou risada. 

🦋 

Nas semanas que se sucedem à minha ida ao piquenique com Taehyung, passo muito tempo com Jungkook. E quando digo muito tempo, quero dizer muito tempo mesmo. Em algum desses dias até sou chamado na sala de Seokjin para levar um sermão sobre minhas ausências na empresa — dessa vez ele me levou para jogar tênis de mesa (fui massacrado) — e ele me contou sobre a possibilidade de eu pegar um novo Digno para mim, porque já estou há bastante tempo com Jungkook (quase três meses!). 

Sei que os humanos têm um ditado entre eles que diz "a voz do seu chefe é a voz da razão", ou alguma coisa assim, mas no momento em que Seokjin sugeriu que eu abandonasse Jungkook, soltei um "Nem a pau, Juvenal" sem pensar. Tinha escutado isso em algum lugar e achado muito engraçado; escapou sem querer.  

O Sr. Kim olhou pra mim e riu. Foi a primeira vez que vi meu chefe rindo. E que risada estranha! 

Enfim. Ele falou que respeitava meu compromisso com Jungkook e o meu trabalho e que eu deveria deixá-lo ir quando sentisse que já tinha feito tudo o que podia, e eu me senti grato. Não mencionei o quanto isso me deixa aflito também. 

Depois disso, voltei para Jungkook, para o quarto o qual eu já conhecia tão bem, e nós passamos a noite inteira juntos em sua cama e embaixo de seu lençol, assistindo filmes em seu computador. A casualidade e a intimidade que compartilhamos nesses momentos me fizeram esquecer da conversa de mais cedo com Seokjin, e era exatamente disso, de sua companhia reconfortante, que eu estava precisando. 

Jungkook riu muito esse dia. Não sei se devia dar todo o crédito para o filme de comédia — cujo nome não lembro —, porque não me parece justo, uma vez que eu estava lá também para fazê-lo rir tanto. Vê-lo jogar a cabeça para trás e soltar uma gargalhada alta é tão fascinante quanto o desabrochar das flores ou a aurora boreal; ele fica tão bonito quando sorrir... E o que me deixa mais feliz é o fato de que Jungkook está sorrindo cada vez mais, sem se retrair como fazia antes, mesmo quando me percebe encarando. 

Em uma dessas noites de filmes, eu choro por causa da morte de um cachorro, e Jungkook sai do quarto com a promessa de trazer algo para acalmar meu choro. Minutos depois, ele volta com um pote de sorvete para nós dois. Fico tão feliz, que quase lhe dou um beijo como agradecimento. Mas ele só olha para mim, para o meu rosto molhado, vermelho e inchado, e dá um sorriso singelo. Não como se me ver chorar fosse divertido, mas como se, apesar do rosto choroso, ainda me achasse bonito. Ele conseguiu me deixar melhor apenas com esse olhar. 

Dois dias depois, Jungkook me leva para tomar café da manhã na Coffee Paradise, antes de ele ter que ir pra faculdade, e aí uma coisa esquisita acontece. 

— Jungkook?

Estamos sentados nos bancos perto do balcão quando ela aparece, uma moça alta, sorridente, e com os cabelos mais sedosos que eu já vi. Quase tão bonita quando uma fada. 

— Ah, oi — Jungkook parece surpreso. 

— Eu acabei de chegar, te vi aqui e achei que deveria vir dar um oi. — A menina sorri de um jeito nervoso. Aliás, a forma toda como ela se comporta é um pouco desengonçada. Me lembra Taehyung quando está perto de Rosé. — Você tá sozinho? Eu posso te fazer companhia, se quiser. 

Observo como os lábios de Jungkook se contraem; ele coça a nuca num movimento de óbvia hesitação, e seus olhos se direcionam a mim pela primeira vez desde que ela chegou. 

— Não tô só. 

E então a garota me percebe, pela primeira vez também. 

Eu deixo a taça do milkshake do qual estava bebericando em cima da mesa e me apresso para cumprimentá-la: 

— Olá!  

— Olá! Minha nossa, desculpa, eu não tinha prestado atenção... 

— Sem problema. — Ofereço o meu melhor sorriso tranquilizador, e os ombros da garota relaxam. — Eu me chamo Jimin. 

— Valentina. 

Ah. Ah mil vezes. 

Eu já escutei esse nome muitas vezes para saber de quem se trata. Sinto meu sorriso falhar e me apresso para rodear os lábios envolta no canudo de metal do milkshake quando prevejo minha expressão jovial se transformando em uma carranca. 

Conhecer novos humanos sempre me deixou animado, mas por algum motivo não consigo me sentir assim com Valentina. De qualquer forma, nem ela parece a fim de conversar comigo também, porque não demora muito para que volte toda sua atenção para Jungkook. Eles começam a conversar — Jungkook não exatamente conversa, mas eu sei que ele é educado o bastante para não deixar a garota falando sozinha —, e eu fico num silêncio de uma terceira pessoa que não foi convidada a participar da conversa, apenas a assistir. 

Semicerro os olhos quando a vejo rir para Jungkook e colocar uma mecha de cabelo liso atrás da orelha. Aliás, ela precisa rir tanto? O que tem de tão engraçado no que Jungkook fala? Tudo isso me incomoda. Não faz sentido. Mas me incomoda.   

Quando sinto que já tive o bastante desse sentimento, desço do banco sem dizer nada e sem direcionar o olhar a nenhum dos dois. Eu não me atreveria a interromper essa conversa tão boa, sabe. Ela está se divertindo tanto... 

Como se para contrariar o pensamento que acabei de ter, ele me percebe em pé e também desce do banco. 

— Já acabou? — e pergunta. 

— Sim. 

Ele franze o cenho para o meu tom de voz. 

— Você vai pra faculdade agora? Podemos ir juntos! Eu só vou pedir meu café. Um instante... 

Minutos depois, estamos saindo da Coffee Paradise, Valentina com sua bebida em mãos. Quando estamos os três na calçada, Jungkook se coloca na minha frente, toca em meu braço e me empurra para que nos afastemos um pouco dela. 

Ele parece um pouco hesitante em se despedir, sem saber como fazê-lo, e eu acho que tem algo de muito encantador nisso. O sentimento desagradável de antes é esquecido no mesmo instante, e eu sorrio para ele quando seu silêncio sem jeito se prolonga.  

Uma ideia se forma em minha cabeça.  

Dou uma olhada furtiva em Valentina, só para confirmar que ela está olhando, e me coloco na ponta dos pés para dar um beijo na bochecha de Jungkook, buscando apoio em seus braços. É um beijo rápido, um toque roubado, mas pressiono os lábios na bochecha de Jungkook como se quisesse minha boca carimbada em sua pele. Bem ali. Para todos verem. 

Sinto-o paralisar. Quando me afasto, Jungkook me olha como se tivesse me vendo pela primeira vez. 

Quase dou risada. É sempre assim: eu beijo sua bochecha quase sempre agora, e ele continua agindo como se isso fosse novidade. 

— Agora sim você pode ir. Nos vemos mais tarde. — Sorrio largo e dou um empurrãozinho em seu ombro para incentivá-lo a ir. 

Ele me encara em silêncio por mais tempo. Então suspira e diz, como quem carrega uma cruz muito pesada nas costas: 

— Você ainda vai me matar, eu juro. 

— Não fiz nada — estou certo de que minha expressão risonha não faz outra coisa além de me contrariar. 

Irresistível — ouço seu murmuro. 

— O quê? 

Jungkook pisca, quase como se estivesse acordando de um transe, e me lança um último olhar divertido antes de se virar. 

— Tchau, Sininho

Consigo escutar o sorriso em sua voz, mas lamento que não consiga enxergá-lo. Aliás... 

— Do que ele me chamou? 

🦋

Jungkook me chama para sair em uma tarde de sábado. Estou quase dormindo em cima da minha mesa na Fayring — sim, esta é uma das raras visitas em que faço à empresa, para marcar presença. O sr. Kim disse que eu cresci uns 2 centímetros desde a última vez que ele me viu (é claro que era brincadeira!, mas ele não riu nem um pouco enquanto disse isso, o que me deixou bem confuso) — quando sinto algo tocar minha bochecha. Abro os olhos, apenas uma frechinha, e vejo a ponta de um papel dobrado. A percepção do que isso deve ser me faz resfolegar e despertar no mesmo instante, e pego o papel pousado em minha bochecha enquanto me levanto para lê-lo. 

Uma carta. A visão dela me faz soltar um risinho. É óbvio que Jungkook tomaria gosto por isso. 

"Hoje à noite, você e eu, festival. Esteja pronto às 8h.

Esquadrinho minha mesa em busca de uma caneta. Quando não encontro, crio uma com um estalar de dedos e um feitiço rítmico apressado e escrevo uma resposta para Jungkook: "Por que isso soou tão autoritário, senhor Jeon? 🙄

É claro que o desenho no final não representa muito bem a forma como eu reajo, porque na verdade estou sorrindo. Contudo, Jungkook não precisa saber disso.  

Mando a carta de volta. O receio de estar sendo observado me faz olhar ao redor, mas felizmente ninguém parece perceber. Exceto que cruzo olhares com uma Rosè me lançando espiadas muito suspeitas. Hm. Ela sorri quando lhe estreito a vista e desvia a atenção para o computador. 

A minha, no entanto, é levada de volta para a mesa. A carta que enviei alguns minutos atrás está de volta e, nela, uma nova mensagem. 

"Mudei de ideia, Sininho. Esteja aqui às 7h (socilitação de Hoseok). 😉

De novo essa palavra — Sininho. Sinto o rubor em meu rosto e a ameça de um sorriso em meus lábios enquanto encaro a palavra gravada no papel. Palavra esta cujo significado desconheço, mas cuja intenção me parece clara demais. Um apelido carinhoso. Jungkook gosta de mim o bastante para me dar um desses. As maçãs de meu rosto borbulham de calor com a conclusão a qual chego. Largo a carta no tampo da mesa e uso minhas mãos para escondê-las. 

Como é possível uma simples palavra — uma simples pessoa — me fazer sentir tanto com tão pouco? Às vezes tenho a sensação de que estou prestes a explodir só por estar perto dele, ou por causa de um simples pensamento que envolve ele. Que coisa estranha. Essa coisa nova e inominável me deixa inseguro. Não sou corajoso o bastante para gostar do desconhecido, percebo agora. 

Suspiro, deixo minhas mãos caírem em meu colo e meu olhar recai sobre a carta novamente. 

Jungkook citou algo como festival. Eu nunca fui a um desses na vida, então não sei bem o que esperar de um, muito menos o que vestir. Por causa dessa preocupação, vou para casa assim que o relógio bate às seis horas da tarde. Vejo Rosè levantar o olhar das fichas que estava analisando para me olhar passar e ela troca alguns cochichos com Faye, que está preguiçosamente encostada em sua mesa, antes de acenar pra mim. Faye não acena, apenas ergue uma sobrancelha, desconfiada, e pergunta: 

— Já vai? 

— Tenho compromisso — respondo, muito sério. 

Ela sorri e não faz mais perguntas. Vou embora, não entendendo o porquê do sorriso sarcástico de Faye. 

Como eu disse, não sei nada sobre festivais, mas estou curioso e animado o bastante para chegar à casa de Jungkook antes do horário combinado. São mais ou menos cinco e meia da tarde, e o sol ainda é visto acima da linha do horizonte, a luz laranja entra pela janela aberta da sala quando passo para o quarto. Paro no corredor e minha mão voa para a maçaneta. Uma lembrança vem num ímpeto antes que eu a gire. É que a última vez em que inventei de ser tão intrometido não acabou muito certo... (Ou deu certo demais, depende do ponto de vista.) 

Na ocasião, entrei no quarto de Jungkook sem bater na porta e ele estava só de cueca. Tinha acabado de vesti-la, na verdade; algumas gotas de água escorriam por seu torso em direção à barra, e ele estava enxugando o cabelo com a toalha, como sempre faz, evidenciando o fato de que havia acabado de sair do banho. Foi constrangedor. Talvez um pouco interessante. A reação de Jungkook foi olhar para mim, estoico, e, ciente de que eu estava ali, voltou a enxugar o cabelo como se algo assim acontecesse todo dia com ele.  

Ele nunca tocou no assunto, nem pra me dar um sermão sobre privacidade. E tudo bem, sabe. Eu não estou reclamando disso. O que me impertiga é não saber qual interpretação tirar de seu silêncio: ou Jungkook simplesmente não liga mesmo, ou ele finge que não. 

Quanto a mim, saber que quase o vi pelado — do jeitinho que veio a mundo! — me deixa muito ligado. Assunto seríssimo. 

Percebo que estou tagarelando mentalmente quando a porta se abre em minha frente e eu lembro onde estou e por que vim.  

— O que tava esperando? — Jungkook ergue uma sobrancelha. Ele encosta um lado do corpo no batente da porta, do seu típico jeito desleixado, e estica o outro braço para tocar no outro lado do batente.  

Humanos têm sexto sentido? Essa questão me assombra desde aquele primeiro dia. O dia da perseguição no parque. 

— Como sabia que eu estava aqui? 

— Vi seus tênis pela porta. 

— Posso entrar? 

A expressão dele se ilumina, e Jungkook sorri. 

— Agora você pede permissão? 

Eu aprendi que há vários tipos de sorrisos, uma multiplicidade de intenções por trás deles e que a interpretação das coisas é sempre subjetiva, paralelamente variável. Porém, agora, quando Jungkook me lança esse sorriso ladino e sacana, eu sei qual a única verdadeira interpretação fazer dele: ele está relembrando daquele episódio da cueca. 

Naquele bendito dia, sim, eu deveria ter pedido permissão para entrar, e não o fiz. Acho que aprendi minha lição. 

Tento pensar em uma resposta à altura, algo que não deixe claro que estou envergonhado. Quando não a encontro, prefiro não dizer nada e apenas passo por baixo do braço esticado de Jungkook. Giro os calcanhares ao mesmo tempo que escuto a porta sendo fechada. Ele também se vira e nossos olhos se encontram. 

Já citei como os olhos de Jungkook são enormes? Não enormes, enormes... mas verdadeiramente grandes, círculos imperfeitos desenhados com esmero, bonitos demais para ficarem de fora dos meus fluxos de consciência. (Se eu fosse descrever os olhos de Jungkook com palavras escritas, eles mereceriam o luxo de um parágrafo inteiro, com metáforas e analogias inteligentes. Não um simples período. Talvez eu escrevesse um monólogo). É assim: os olhos dele estão mim e então eu estou consciente demais do meu próprio corpo. Meu cabelo bagunçado, meu nariz, minha boca. É esquisito. É esquisito o fato de outra pessoa que não você mesmo te fazer lembrar de que você existe. 

Bem... Há uma grande possibilidade de isso ser uma grande baboseira e não fazer sentido nenhum. 

Sou eu quem dá os primeiros passos para findar a distância entre nós. Jungkook permance parado enquanto me aproximo, e mesmo quando já estou aqui, bem à sua frente, ele não se move. Exceto que sua cabeça se abaixa um pouco, para continuar olhando para mim. 

— Como foi o seu dia? — eu pergunto. 

— Ensolarado. 

Quase sorrio. 

— Algo mais? 

Ele balança a cabeça como se estivesse pensando. 

— E quente. 

— O que fez durante o dia inteiro?  

— Hm — Jungkook cantarola. Algo sobre sua expressão me diz que ele não está levando nenhuma de minhas perguntas a sério. — Suei bastante. 

Não consigo conter a risada. Jungkook me olha e morde o lábio. 

— E você? — Os seus olhos ainda estão quase sorridentes quando ele pergunta. — Como foi o seu dia, Sininho? — Como um toque final, ele me cutuca na cintura, roubando de mim mais uma risada frouxa. 

— Muito bom, obrigado. Fiquei pensando nesse tal de festival desde que vi a palavra em sua carta. Não sei muito bem do que se trata, mas parece ser uma coisa legal. 

Jungkook sorri diante do meu entusiasmo, e isso por algum motivo me deixa muito contente. 

— Sim. Tem muita coisa legal lá. 

— Tipo o quê? 

— Tipo algodão-doce — ele anuncia isso como se fosse algo incrível.

E é algo incrível mesmo. Olha só meus olhos crescendo e adquirindo um brilho novo. 

— Já podemos ir? 

— Hoseok quer ver você primeiro. 

Franzo o cenho. 

— Ele disse pra quê? 

— Pra algo muito importante. 

🦋

Alguns minutos depois, descubro que esse algo muito importante que Hoseok quer comigo é na verdade fazer minha maquiagem. "Você tem um tipo de rosto perfeito pra isso", diz ele, radiante, sem perceber minha careta confusa. 

O que é um rosto perfeito pra maquiagem? Por mais que essa pergunta ronde minha cabeça durante todo o tempo em que Hoseok manuseia minha cabeça e pinta meu rosto, não deixo que ela passe da ponta da minha língua. Sentamos no chão de sua sala, Hoseok à minha frente e Jungkook ao meu lado entretido em um jogo. Se não me falha a memória, isso se chama video game. Ele parece bom nisso. 

Às vezes ele fica estranhamente calado e tenso, a língua na bochecha, e Hoseok e eu trocamos olhares antes de dar risada. 

— Pega. Vê o que você acha. — Hoseok me entrega um espelho. 

Minhas pálpebras estão pintadas em um gradiente de tons de azul, nada extravagante, a margem do olho com uma tonalidade mais escura, indo de uma extremidade a outra até se findar como um delineado. Na ponta, Hoseok pintou metade de uma margarida, como se a flor estivesse se pondo ou emergindo no horizonte azul. Ele fez a mesma coisa do outro lado do olho. Ademais, eu adoro as pinceladas brancas e amarelas imitando estrelas. 

Uau. 

— Uau — eu digo, porque não consigo controlar a surpresa. — Eu estou... 

— Fofo. 

— Sexy — dizemos ao mesmo tempo. 

Levanto o olhar do espelho para encará-lo, pego de surpresa pelo seu comentário. Sexy? A palavra me deixa intrigado. Eu nunca pensei em mim dessa forma. A novidade, no entanto, não me deixa desconfortável; me deixa curioso sobre como as outras pessoas me vêem. O que mais posso ser além daquilo que já conheço? 

Recebo a nova descoberta com entusiasmo. 

Abro um sorriso para Hoseok, e ele retribui. Enquanto o meu é tímido, o dele é malicioso. 

— O que você acha, Jungkook — e diz, do nada. Ele agarra meus ombros e me gira na direção de Jungkook. — Fofo ou sexy? 

O que...? Não entendo qual a sua intenção com essa pergunta. Até entender. E quando o faço, fico ansioso. Quero saber e não quero saber a resposta, as duas coisas ao mesmo tempo. 

Jungkook aperta um botão do controle, o jogo pausa, e ele vira a cabeça para olhar para mim. Minha condição cardíaca piora quando isso acontece — a pulmonar também (não sei qual o problema do meu corpo) — e eu ouço os batimentos do meu coração como se ele tivesse migrado para o ouvido. Mordo o lábio para descontar o nervosismo e espero pela reação de Jungkook. 

Fofo ou sexy? Qual das duas opções eu quero escutar? 

Jungkook esquadrinha meu rosto assim que o sinto esquentar. Eu sei muito bem qual resposta eu quero que ele diga. 

De repente, Jungkook limpa a garganta com uma tosse e desvia o olhar para Hoseok. 

— Jimin consegue ser ambos. 

 Ah. 

Solto um riso sem graça, internamente muito satisfeito, e ficamos num silêncio suspeito. Até Hoseok balançar meus ombros e gritar que precisamos ir. Ele praticamente nos expulsa de sua casa, dando tapinhas em nossas costas pra nos empurrar até a porta, e, enquanto Jungkook fica franzindo o cenho de irritação e soltando xingamentos que não podem ser mencionados, eu dou risada. 

Pegamos uma carona com Hoseok até o lugar do festival. A corrida dura quinze minutos apenas, momento o qual uso para fazer muitas perguntas sobre o evento. Hoseok é quem responde a todas; Jungkook ignora nossa tagarelice para mexer no celular. 

— Chegamos. — Hoseok desacelera o carro até parar totalmente. 

— Ah, finalmente! — Eu me apresso para desafivelar o cinto de segurança. — Muito obrigado pela maquiagem e pela carona, Hoseok! Você é alguém muito hospitaleiro. 

Ele ri. 

— Ninguém nunca tinha me dito isso. Valeu, Jimin. E me chame de Hobi, por favor. Hoseok soa muito sério. 

Isso engendra uma nova questão na minha cabeça. Eu a obsorvo um pouco. 

— Hobi, seu apelido? — Nesse momento, ouço Jungkook sair do carro. Hoseok confirma. — Hm. Quando duas pessoas se gostam, elas chamam umas às outras por apelido, né? 

Hoseok não parece compreender o porquê da pergunta, mas responde: 

— Quando elas já têm uma certa intimidade, sim. Por quê? 

Intimidade. O que significa ter intimidade com outra pessoa? 

Ouço duas batidas no vidro do carro e, quando me viro para investigar, vejo Jungkook parado do outro lado. Com um sorriso cheio de mistério, viro novamente na direção de Hoseok.  

— Por nada. Tenha uma boa noite, Hobi. 

Ouço sua risada enquanto saio do carro. Jungkook está me esperando no meio-fio, as mãos dentro dos bolsos frontais da calça jeans, o celular não mais em algum lugar em que possa ser visto. Me coloco na frente dele, prestes a falar alguma coisa, mas algo às suas costas me impede. 

É que finalmente percebo que estamos aqui. O parque é enorme, muito além do que minhas vistas conseguem alcançar, e, mesmo se elas pudessem, não seria possível com tanta gente circulando pelo caminho. Há um palco enorme bem mais pra frente, algumas centenas de pessoas aglomeradas na platéia enquanto assistem à alguma apresentação — só consigo ouvir um homem cantando, mas de onde estou não dá pra enxergá-lo muito bem —, e algumas tendas montadas em um espaço afastado. Minha atenção recai sobre as projeções de luzes e as bandeirolas coloridas, mas meu fascínio é interrompido quando Jungkook passa o braço pelos meus ombros e me incita a caminhar. 

— Você tá de boca aberta. 

Eu a fecho, muito consciente, e deixo que Jungkook me leve para onde ele quiser. 

🦋

Primeiro, Jungkook me leva até o palco. Há uma cerca de proteção à frente dele que concluo ser o limite de até onde devemos ir, as pessoas que estavam aqui quando chegamos estão começando a se dispersar — porque a banda anterior já saiu —, e nós dois nos encostamos nela até Jungkook decidir que a próxima apresentação não vai começar tão cedo e que devemos comprar algo pra comer. 

Já que não tenho dinheiro — moeda não é importante na Terra das Asas —, é Jungkook quem paga tudo. Ele compra um algodão-doce para mim em uma das barraquinha de comida — depois de termos enfrentado uma fila enorme com a maioria criança (a minoria de adultos eram os pais deles, Jungkook e eu) —, depois ele me coage a experimentar algo chamado crepe, que vem em um espeto. (Muito bom, aliás.) Em meu entusiasmo para experimentar o máximo de coisa possível, puxo Jungkook até um food truck, pelo qual passamos minutos antes, e ele compra hambúrguer para nós dois. 

Só depois de escutar a voz da vocalista da nova banda cumprimentar o público que nós percebemos que perdemos nosso lugar na linha de frente. Eu reclamo com um gemido, mas não fico chateado com isso de verdade; quando olho para Jungkook e vejo sua expressão serena, percebo que ele também não se importa e me sinto bem. 

Porque talvez ele não tenha vindo aqui pelo evento em si, mas pela possibilidade de passarmos um tempo divertido juntos. Foi por isso que eu vim. 

Dou um sorriso. E ouço um click

Olho para o lado de supetão e dou de cara com Jungkook erguendo o celular. Arqueio uma sobrancelha. 

— O que você fez? 

Ele fica envergonhado de repente, mas não hesita: 

— Tirei uma foto sua. Tudo bem? 

— Uma foto? — fico curioso. — Deixa eu ver. 

Nós ficamos ombro a ombro, as cabeças quase se tocando, e Jungkook me mostra a tela de seu celular. Eu apareço lá, de perfil, sorrindo para o nada. 

Sou tomado pelo desespero. É com essa cara que fico quando penso nele?! 

— Apaga — minha voz sai como um muxoxo. 

Jungkook se afasta levemente para me olhar nos olhos. 

— Por que eu faria isso? — Reparo em seus olhos caindo para minha boca. Devo estar fazendo bico. 

— Eu... — Eu acabei de perceber que sou patético. Ao invés disso, digo a coisa mais estúpida de todas: — Fiquei feio. 

A expressão de Jungkook se fecha, como se eu tivesse dito algo muito, muito errado. 

Sinto um pouco de vontade de desviar o olhar. 

— Você não acabou de dizer isso, Jimin. 

Eu gelo. 

— Não vou apagar — ele continua, meio aborrecido. Mesmo assim, se certifica: — Tudo bem? 

Ainda estou pensando no porquê de ele ter ficado tão irritado com minha fala, mas consigo acenar. Também não sei por que estou tão desconcertado com a forma como ele olhou pra mim, e a forma como soou. 

Sinto a garganta seca. Preciso de água urgentemente. 

— Na verdade... — Sou pego de surpresa quando sua mão encontra minha cintura e seu braço me contorna antes de ele me puxar para mais perto ainda. Um som resfolegado sai por entre meus lábios entreabertos, e eu arregalo os olhos. — Vamos tirar uma foto juntos. 

Isso também é surpreendente: Jungkook dando a ideia de tirar uma foto comigo. 

Me recupero do susto e me ajeito em seu abraço. É confortável. 

Jungkook ergue o braço com o celular e vejo nós dois espelhados na tela. Estou bem perto, a lateral do meu corpo toca a dele, sua mão em minha cintura, mas ainda assim pareço muito longe. E tenso. Tento relaxar e passo o braço pelos ombros dele; depois, inclino a cabeça na direção da sua. Por último, dou um sorriso. 

Ouço um click novamente. Mas Jungkook não afrouxa o abraço nem se afasta; ele casualmente verifica a foto que acabamos de tirar como se nada de mais estivesse acontecendo, como se ficar entrelaçado assim com outra pessoa — comigo — fosse tão ordinário quanto respirar. E não é nada de mais mesmo, certo? Taehyung sempre me abraça assim também, e eu gosto de Jungkook como gosto de Taehyung... 

— Quer tirar mais uma? — Não tenho certeza do que respondo, porque não consigo focar em mais nada, mas acho que foi um sim. 

Bem, é que Taehyung nunca espreitou os dedos por sob minha camisa para tocar minha pele diretamente, como Jungkook está fazendo agora. 

Sinto o calor de seus dedos quando ele me toca; contraditoriamente, uma sensação gelada toma conta do meu estômago; coincidentemente, uma quentura se apodera de minhas bochechas. 

É uma sensação nada legal. Me deixa sem ar. 

Viro o rosto para ele, tentando enxergar algumas dessas minhas reações em seu semblante, mas Jungkook parece estar bem. Será que ele não percebe que está massageando a cintura de alguém nesse momento, ou só está fingindo que não está fazendo de propósito? 

Eu espero que ele esteja bem ciente disso, assim como eu estou. 

— A câmera tá na nossa frente, Jimin. — Ele ri na maior malandragem do mundo. 

Eu viro a cabeça, constrangido. Jungkook acha mais graça ainda. Como pode um homem ser tão perverso? 

Eu perco a conta de quantas fotos tiramos depois dessa. Jungkook me leva para conhecer outros lugares, como as feiras de artesanato, e ele me compra um chapéu de crochê de cores vibrantes, com o qual me pede para posar para mais uma foto. Ele diz que agora não preciso mais ficar usando sua boina para cobrir minhas orelhas (apesar de eu não precisar fazer isso há algum tempo, porque descobri que elas se adaptam à minha forma humana), e eu rio de sua tentativa de parecer bravo por eu usar suas coisas.  

— Você é um péssimo mentiroso, Jungkookie. — Eu rio e empurro seu ombro com o meu apenas pelo prazer de irritá-lo. 

Jungkook para. Um grupo de amigos passa por nós e o ombro de um deles esbarra no de Jungkook, que não reage. 

— O que aconteceu? — eu questiono, sem entender por que estamos parados. 

— Jungkookie? — Seus lábios se curvam um pouco para cima num sorriso presunçoso. 

É a minha vez de arregalar os olhos. Não falei nada de errado, né? Se bem que... se ele está sorrindo, então não deve ser isso. Tento interpretar sua reação, mas o banco de dados do meu cérebro — como carinhosamente chamo o conjunto de informações que absorvi sobre humanos ao longo do tempo — não consegue achar nenhuma resposta coerente. 

— Você me chama de Sininho, e eu nem sei o que isso significa — rebato. 

De alguma forma, o sorriso dele fica ainda mais convencido. 

— Isso porque você me chama de Zangado. 

— Combina com você. — Dou de ombros. 

— Sininho também combina com você. 

Franzo o cenho. 

— Mas não sei o que significa. 

Ele parece estar se divertindo com essa conversa. Não me importo, só estou curioso. Jungkook se aproxima e meio que me engaiola com sua presença imponente, seus ombros largos e esses poucos centímetros a mais de altura. Quando ele inclina a cabeça para igualar nossos olhares, percebo que seus olhos também o fazem, esse encarceramento abstrato que parece muito real. 

Prendo a respiração. 

— É uma personagem de uma animação. Ela é uma fada. — Uma pausa pequena, um sorriso maior. — E pequena. 

Ah, sim. Legal. 

Espera. 

— Que piada mais idiota. — Reviro os olhos, aborrecido. — Igual a você. 

— Uau. — Jungkook arqueia as sobrancelhas e cai na gargalhada. — Você acabou de me chamar de idiota? 

Eu bufo, porque não estava esperando por essa risada.  

— Você precisa de uma confirmação? 

Seu sorriso não falta, e há um fascínio em seus lumes que não harmoniza com o momento.  

Ele balança a cabeça como quem diz não à pergunta. 

— Você pode me chamar do que quiser, Sininho — sua voz abaixa algumas oitavas, apesar do barulho. E apesar do barulho, eu consigo ouvi-lo. Como não conseguiria ouvir alguém de tão perto? Tomo consciência disso agora que penso sobre e dou um passo para trás. Jungkook percebe e dá outro para frente, mantendo a mesma proximidade. — E desculpa pela piada idiota. — Ele toca meu queixo com as pontas dos dedos e começa uma carícia inocente com o polegar, o pedido se manifestando na forma de um toque. Meu pulso acelera tal como na primeira vez que ele fez isso. 

Eu reviro os olhos de novo, dessa vez tendo que evitar um sorriso. Isso foi tão fácil... 

Em vez de responder, pego a sua mão que toca meu rosto e recomeço a caminhar, puxando-o comigo.  

Quando chegamos ao lugar do show, há gente demais para conseguir enxergar bem entre as cabeças e alguns braços levantados. À primeiro momento, não sei bem o que fazer. Minha cabeça tenta me convencer do óbvio — se divertir, duh —, mas meu corpo de repente parece estranho, como se eu o tivesse pegado emprestado de alguém muito desengonçado e acanhado. Olho para Jungkook, constrangido, e ele se dá conta de que nunca fiz isso. Isso, que se refere a se divertir. 

Obviamente, já me diverti outras vezes. Tenho vinte e uma primaveras de vida, já sorri, brinquei, dancei em muitas delas — e em muitos invernos, verões e outonos também. Esse inverno, no entanto, trouxe uma experiência nova.    

Jungkook e eu trocamos um sorriso, e de repente estou pulando nas costas dele — imaginem um bebê coala agarrado à mãe (eu sou o bebê coala) —, rindo ao pé do seu ouvido. Me agarro em seus ombros, e ele segura na parte de baixo das minhas coxas. Que delícia... O perfume dele, eu quero dizer.  

Levanto a cabeça e olho para o palco. Estou feliz. Estou grato. Não pelo show, não pelo festival, não por essa noite, mas por estar experienciando tudo isso com Jungkook. Ele me faz feliz. Ele faz eu me sentir grato. 

Abraço-o mais forte e deixo escapar um suspiro, lembrando da minha conversa com Taehyung. É tudo companheirismo, irmandade. Bro e bro. Certo? Certo. 

Amizade foi tudo que sempre desejei ter com Jungkook, desde o começo, e só isso era o suficiente. 

Então por que ainda não me sinto satisfeito agora que a tenho? 

|||

Obrigada pela leitura, por cada comentário e por seu voto!

O próximo capítulo vai sair mais cedo do que de costume porque vai ser mais curto que este. 💜 Não costumo falar muito da minha fanfic no meu perfil do twitter, mas pra quem quiser interagir comigo lá meu @ é SUGAVINCI.

Vejo vocês em breve!

STREAM EM RPWP

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro