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10. Era uma vez em Lagoinas, parte 2

— Arranjou um namorado, maninho?

Eu não sabia que minha irmã estaria em casa. Se soubesse, não teria vindo direto para a piscina com Jimin, e não o teria agarrado desse jeito se tivesse previsto que ela apareceria de repente pra presenciar essa cena. Filipa é o tipo de irmã implicante (existe irmão que não seja implicante?) e com certeza vai encher meu saco o dia todo por causa disso.

Namorado.

A palavra me assusta mais do que a aparição surpresa dela, e eu largo Jimin de uma vez na água como se a gente tivesse sido pego fazendo algo errado. Não que eu ache que isso seja grande coisa. Eu só achei que estivéssemos sozinhos; é mais fácil ser espontâneo com ele quando estamos sozinhos.

Olho para Filipa, de braços cruzados na beira da piscina exibindo um sorriso dissimulado pra mim, e fico envergonhado. Odeio essa merda de sentimento.

Fecho a cara, contrariado por causa do que estou sentindo, e fujo do olhar da minha irmã ao ver que Jimin emergiu e está tossindo.

— Assustei vocês? — ela pergunta.

Jimin para de tossir e fixa o olhar nela. Parece que é a primeira vez que a percebe ali, porque sua expressão se enche de surpresa e ele fica sem jeito enquanto tira os cabelos azuis molhados dos olhos. Mesmo que esteja acanhado, ainda consigo perceber o brilho de encanto na forma como olha para a minha irmã, como alguém descobrindo algo novo. Jimin gosta de conhecer pessoas, lembro, e Filipa é uma novidade para ele.

Suas bochechas se expandem em um sorrisinho gracioso.

— Oh — minha irmã ofega. — Você é lindo.

Não me surpreende que essa seja a primeira coisa que diz ao vê-lo. Eu também pensei nisso, só não sou muito de dizer o que estou pensando.

Jimin abre o sorriso em resposta ao elogio, o que só faz a minha irmã ficar ainda mais hipnotizada.

Entendo. Mas preciso interromper.

— Não sabia que estava em casa, achei que estivesse no treino — tentando mudar de assunto.

Lili, como costumo chamá-la, vira para mim, fazendo os cachos do cabelo longo balançarem com o movimento.

— O treinador inventou de ficar doente logo hoje, então o treino foi cancelado. — Ela dá de ombros de um jeito desdenhoso, senta no chão e apoia o queixo na palma da mão. — Soube que estava aqui porque ouvi seus passos no corredor, mas não sabia que tinha trazido alguém. — Seu olhar muda para Jimin. — Não que isso seja um problema, sabe. Você parece legal. O Jungkook nunca traz ninguém que não seja os únicos três amigos dele, então isso é muito esquisito. — Reviro os olhos. Ela é esquisita. — Você não vai me apresentar, não, Narigudo?

Fico irritado quando Jimin falha em conter um riso.

— Você pode fazer isso sozinha — eu revido.

— Mal-educado — Lili resmunga, mas está sorrindo. Ela olha de novo para Jimin, que está estranhamente quieto. — Oi. Meu nome é Filipa, irmã postiça do Jungkook. Todo mundo me chama de Lili, eu gosto mais desse. Você pode me chamar assim também, se quiser. Qual é o seu nome?

— Jimin — ele responde, com uma animação que não compreendo; seu sorriso toma conta do rosto todo. — Hm. Eu não tenho nenhum apelido. Todo mundo me chama de Jimin mesmo. Mas gostei de Lili. E de Filipa. Na verdade — Começou —, você tem um lindo nome, soa como o de uma guerreira, o que certamente é uma coisa boa. Lili também é bonito, mas acho que prefiro te chamar de Filipa.

Lili me lança um olhar atordoado, mas eu dou de ombros, querendo sorrir.

— Estou muito feliz por conhecê-la. — Dá pra perceber. Jimin gira o corpo para mim e estende as sobrancelhas. — Jungkook, você nunca me contou que tem uma irmã.

— Você nunca contou pra ele que tem uma irmã? — agora é Lili quem parece indignada. Ela cruza os braços e me fuzila com o olhar. — Poxa. Todas as minhas amigas sabem que você existe, elas até te chamam de… você sabe. Elas te acham muito bonito. Eca.

Jimin mais uma vez dá risada, levando os dedos aos lábios como se quisesse se reprimir.

— Vocês estão se conhecendo agora, não estão? — Começo a me arrastar para sair da piscina, entediado com essa conversa. Não precisa de muito tempo para que eu perceba Jimin me seguindo.

— Tá vendo como ele é chato, Jimin? — Ela retruca. — Não sei como aguenta.

— Jungkook é legal — ouço sua voz tímida atrás de mim.

Tento não demonstrar que gostei de tê-lo meio que me defendendo, mesmo que tenha exagerado um pouquinho.

Que besteira — quase me entrego a uma risada. "Legal" nem é um elogio de verdade.

Quando já estamos fora d'água, Jimin parece ainda mais nervoso, se balançando sobre os próprios pés e mordendo os lábios desse jeito que me faz querer ficar olhando para sua boca.

— Me desculpe por ter invadido sua piscina; Jungkook me obrigou.

Ele acabou de usar a palavra "invadido"?

Lili alterna o olhar entre nós e abre um sorriso que não é nem um pouco recatado. Franzo as sobrancelhas para ela antes mesmo que comece a falar.

— Não ligo. Vocês pareciam estar se divertindo quando cheguei. Nunca tinha visto Jungkook tão animado — ela ergue uma sobrancelha pra mim, e eu sinto vontade de arrastá-la de volta para o quarto e deixá-la trancada lá dentro com uma fita colada na boca.

Quando dou um passo ameaçador em sua direção, Lili rapidamente se coloca de pé e dispara:

— Vou pegar uma toalha pra vocês! — Consigo ver um sorriso provocativo em seu rosto antes que se vire e comece a correr até outro cômodo.

Irmãos mais novos implicantes.

Passo as mãos no cabelo molhado e giro até encarar Jimin. Ele consegue ficar ainda mais bonito com os cabelos puxados para trás e água escorrendo pela testa. Desvio os olhos por um instante, apenas para me recuperar, e depois volto a olhá-lo. Jimin também mantém sua atenção firme em mim, sem demonstrar o mesmo alvoroço que eu, mas ainda assim está mais acanhado que o normal.

O silêncio fica esquisito de repente.

— Eu não sabia que ela estava em casa — digo, incoerentemente, e pressiono os lábios juntos. — Você não queria nadar mais?

— Não, tudo bem. — Estranho o fato de ele estar muito focado em meu rosto. Suas íris percorrem minhas sobrancelhas, testa, cabelo e até meu queixo, mas nunca mais embaixo. Ele levanta as vistas muito rápido uma vez que se distrai. — Gostei dela. Da sua irmã.

— Uhum. — O que é isso?

— O que significa "irmã postiça"? — ele pergunta, confuso, abraçando os próprios braços. — Ela não é sua irmã de verdade?

— Não, Lili é filha da minha madrasta. — Começo a passar os dedos por entre meu cabelo, agitando-o para expulsar a água. — Mas passei a gostar dela como se fosse uma irmã de verdade.

E estou sendo sincero.

Há seis meses, quando nossas mães nos juntaram em um almoço em família — mas sem nossos respectivos pais, porque pelo visto nenhum dos dois sabe lidar com essa situação —, eu conheci Lili. Ela se mostrou reservada à primeiro momento, não falou muito comigo além do que a educação permitia e aparentava estar detestando tudo aquilo tanto quanto eu. Mesmo assim, mesmo sem conhecê-la, eu sabia que ela era uma boa pessoa.

Sua mãe havia contado que Filipa era do time de futebol da escola e que era a única menina. Aparentemente, Lili havia feito uma revolução para conseguir entrar numa equipe que só aceitava garotos. Ela gostava de futebol, era boa nisso, e não achava justo só haver um time de futebol para os meninos. Filipa não é só uma adolescente de quinze anos totalmente fora do padrão; à medida que passávamos mais tempos juntos nas minhas vindas à Lagoinas, ela se mostrava cada vez mais uma irmã de que eu precisava.

Não que Lili seja legal. Ela é chata pra caralho. Irmãos não foram feitos para serem elogiados.

— Estou vendo. — Os lábios de Jimin formam um sorriso radiante. — Vocês até brigam! — ele fala de brigar como se fosse algo maravilhoso. Solto uma fungada porque acho graça disso. — Eu nunca tive um irmão com quem brigar. Sempre fui filho único. Você sabia que na Terra das Asas os genitores deixam seus filhos livres para voar quando eles se tornam adultos? Fadas não têm muito senso de família… Hm. — Ele divaga, franzindo as sobrancelhas. — Isso não é uma coisa boa, confesso. Mas brigo bastante com meus amigos, principalmente com Taehyung. Ele é uma fada-madrinha também. Pensando bem, acho que somos que nem você e Filipa: irmãos postiços que se consideram irmãos de verdade.

Sempre fui curioso sobre Jimin, mas me surpreende, depois de ouvir isso, que eu nunca tenha parado para pensar em como é sua vida na terra de onde vem, quem são seus amigos, como é sua família, se mora sozinho ou se mora com alguém… Eu achava que era eu quem precisava me esconder de Jimin, não deixá-lo entrar tanto assim (tanto quanto já estou permitindo) na minha vida, mas é ele quem está se escondendo de mim.

Porra… Eu não sei quase nada sobre ele. Ter consciência dessa minha ignorância me faz querer iniciar uma conversa e enchê-lo de perguntas. Mas não faço isso.

Pelo menos tenho um nome. Ele tem um amigo chamado Taehyung.

Jimin leva o olhar para a porta na qual Lili sumiu e entorta os lábios em um bico reflexivo.

— Acho que sua irmã se esqueceu da gente — e conclui.

Eu também tinha me esquecido dela. Acabei de lembrar.

— Eu tenho toalhas no quarto. Vem comigo. — Faço menção de me afastar, mas Jimin me interrompe.

— Espera. Vou pegar meus sapatos. E você também precisa pegar sua camisa.

Ele se vira para caminhar até o outro lado da piscina, onde nossas coisas estão jogadas no chão, e eu o sigo sem questionar. Acontece que ter Jimin andando na minha frente com essas roupas molhadas grudadas ao corpo é uma ideia horrível.

A caminhada até o outro lado não dura mais que alguns segundos, mas nesse momento parece durar uma eternidade, uma eternidade torturante em que eu tento não prestar atenção na forma como Jimin caminha (como se estivesse numa passarela, como se seu corpo fosse tão leve quanto uma folha flutuante… Ah, merda. Estou prestando atenção) e na forma como a umidade das roupas modela as curvas de seu corpo.

Sem que eu esteja realmente ciente, meus olhos fazem uma lenta inspeção pelo que há em minha frente, cada vez mais indo para baixo. Mas aí eu pisco.

O que estou fazendo?

Desvio as vistas, irritado com o tipo de coisa que estou pensando. Devo soltar algum ruído queixoso porque Jimin me olha por sobre o ombro e me analisa de olhos semicerrados.

— O que foi? — ele pergunta.

O que foi digo eu. Vira pra lá — minha entonação acaba saindo com mau humor. Ele nem liga; ele apenas sorri antes de se voltar para frente.

Não cometo o mesmo erro uma segunda vez. Mas nem preciso me esforçar tanto para ignorá-lo porque logo alcançamos nossas coisas. Agarro minha camisa e Jimin se agacha para pegar seus tênis e a touca, que agora é mais sua que minha.

De repente lembro de um detalhe. Endireito a postura e olho para Jimin com uma sobrancelha arqueada.

Ele usa minha touca para esconder as orelhas e não estava a usando quando Lili estava aqui.

— Jimin. — Chego para perto dele no mesmo instante em que se levanta e se vira para mim. Ele acaba dando um passo para trás pelo quase encontrão do meu corpo com o seu.

— Opa.

Franzo as sobrancelhas para as orelhas dele. Estão anatomicamente iguais às minhas, não com aquelas pontas que qualquer um poderia perceber.

— O que aconteceu com as suas orelhas?

— Ah. — Jimin leva as mãos às ditas-cujas, parecendo se lembrar delas só agora também. Ele as massageia com os dedos e fica confuso. — Acho que minha magia reagiu sozinha à presença de um humano que não era você e enfeitiçou minhas orelhas para parecerem normais. Eu não sabia que isso podia realmente acontecer, só ouvi dizerem. Interessante. — Ele abre um sorriso, ainda acariciando a nova forma das orelhas.

Nós nos voltamos para fora da área da piscina depois de uma breve conversa sobre orelhas e feitiços e Jimin começa a brigar comigo por tê-lo jogado na água e consequentemente tê-lo deixado todo molhado. Ele fica encucado com a hipótese de minha mãe chegar em casa enquanto ele estiver assim, "nem um pouco apresentável" (dramático); Jimin diz que precisa estar bonito pra conhecer minha mãe. Puft. Como se não soubesse o poder que tem sobre as pessoas só em olhar para elas.

Não falo nada disso.

Fecho a porta do quarto quando ele passa para dentro.

Estou ciente da análise crítica que Jimin está fazendo do meu quarto agora; ele está franzindo a testa para tudo que vê.

Passo por ele e vou direto até a minha bolsa, que deixei em cima da cama mais cedo. Começo a procurar por minha toalha e roupas, mas isso se mostra uma tarefa difícil quando está tudo muito bagunçado. Não tenho paciência pra isso, então suspendo a bolsa de cabeça para baixo e deixo minhas coisas despencarem no colchão.

— É tudo muito — Jimin rompe o silêncio —... preto. 

É. As paredes, o tapete e a colcha de cama são pretos, mas o teto é branco, e as duas mesas de cabeceira são amarelas. As cortinas são brancas também. Não sei por que Jimin parece tão horrorizado com a decoração do meu quarto.

— Nem tudo.

— Mais do que deveria. É um pouco sombrio — ele está bem sério enquanto fala isso, como se a cor estivesse se refletindo em seu humor. — O meu quarto é azul, e eu desenhei flores nas paredes. — Ele se aproxima da cama, agora com um sorriso infantil no rosto.

Fico imaginando-o em seu quarto.

— Azul? — Sinto um canto da minha boca se curvar para cima. — Tenho certeza de que é bastante colorido, como você.

Jimin solta uma risada com a minha fala, mas parece mais envergonhado que qualquer outra coisa.

Limpo a garganta, desfazendo o sorriso, e lembro do que a gente veio fazer aqui.

— Vou pegar uma toalha pra você.

Ele não me segue quando vou para o banheiro, que por acaso fica dentro do quarto. Procuro por uma toalha limpa em uma das gavetas da pia, bem onde sei que minha mãe as deixa guardadas, e apanho uma para Jimin. Passo a minha pelos ombros antes de voltar para ele. Encontro-o ainda de pé perto da cama, se balançando e com as mãos juntas atrás do corpo, os olhos cerrados vagando pelo meu quarto.

Fofo.

— Toma — entrego a toalha dobrada para ele, que só agora percebe que estou de volta.

Jimin sussurra um obrigado e fica com um sorrisinho enigmático nos lábios enquanto passa a toalha pelos ombros e usa as pontas para enxugar o rosto. Posso sentir seus olhos em mim enquanto seco o cabelo; ele olha para o topo da minha cabeça quando termino e ri, como se achasse a bagunça dos fios muito engraçada. Não me importo com isso. Deixo como está. Gosto do meu cabelo bagunçado.

A atenção de Jimin continua fixa em meus movimentos quando visto a camisa. Sem dizer nada, entro no banheiro para vestir uma cueca limpa e trocar a bermuda encharcada por uma calça moletom.

Quando estou de volta, me deparo com Jimin bem na minha frente, com a mão se arrastando no pescoço e os dentes presos no lábio inferior.

Conheço essa cara. Ele está prestes a me pedir alguma coisa.

— Jungkook… — Jimin parece muito pequeno me encarando de perto.

Não sei se ele faz isso de propósito ou se ser assim é um traço intrínseco, mas é fascinante a dualidade que Jimin transmite só de me olhar agora: há essa inocência em seus gestos, em seu olhar, que de alguma forma o deixa ainda mais atraente, quase como se ele soubesse que conseguiria qualquer coisa de mim se me olhasse desse jeito. Me pergunto se não é verdade. E, por um segundo, me pergunto se Jimin não está mesmo tentando me seduzir com essa falsa ingenuidade.

Eu pisco para afastar a ideia maluca da minha cabeça. Esboço uma carranca para Jimin, achando que talvez minha animosidade possa afastar qualquer ideia maluca da cabeça dele também.

— O quê? — retruco, a voz rouca.

— É que… Eu não trouxe outras roupas e estas estão molhadas — ele aponta para o próprio corpo como se eu não pudesse concluir isso por conta própria. — Você pode, hm, você pode me emprestar uma camisa?

Encaro seus olhos pidões sem dizer nada, considerando o pedido. Não é como se Jimin estivesse me sugerindo algo muito difícil, de qualquer forma. Nunca dividi minhas roupas com ninguém, mas, incrivelmente, não me importo em fazê-lo com Jimin.

Percebo que passo tempo demais o encarando e contorno seu corpo para caminhar até a cama, onde deixei minhas roupas espalhadas. Penso no meu corpo, depois olho para o corpo de Jimin.

— Não tenho nenhuma do seu tamanho. — Juro que não falo por maldade, mas Jimin interpreta de uma forma diferente.

— Ei! Eu não sou pequeno!

Coloco as mãos nos bolsos frontais da calça e giro para encará-lo de cima a baixo. Minha boca se curva num sorrisinho debochado, e eu estendo as sobrancelhas.

— Não — finjo que concordo. — Você só é baixinho.

Jimin faz uma cara ofendida e dá passos seguros até estar diante de mim. Na verdade, nossa diferença de altura não é assim tão grande, mas ele precisa inclinar a cabeça um pouquinho para me olhar nos olhos.

— Tenho um metro e sessenta e nove!

— Uau, você é… enorme.

Ele entenderia que é sarcasmo mesmo se eu não estivesse sorrindo do jeito que estou sorrindo.

— É uma estatura grande na Terra das Asas. Lá, eu sou tão grande quanto você, então é a mesma coisa. — Jimin cruza os braços.

— U-hum. Exatamente a mesma coisa. Você nem está se colocando na ponta dos pés agora pra ficar maior. — Ele está realmente fazendo isso. Mas para quando falo, ficando ainda mais emburrado, e eu ainda mais debochado.

— Jungkook, isso não é legal. Zoar a altura dos outros não é legal. E eu não sou baixinho só porque você é maior que eu. Quer saber, se não quer me emprestar uma camisa sua, é só dizer! Eu não estou lhe forçando a nada! — E então Jimin vira e fica de costas para mim.

Sério? Eu quase me entrego a uma risada desacreditada. Ele sempre foi dramático, mas eu não imaginava que fosse tanto.

— Só estava brincando, Jimin. — Toco em seus ombros e o giro para ficar de frente para mim novamente. Ele ainda está de braços cruzados, com um bico pequeno nos lábios, mas parece mais afável.  

Analiso as camisas que trouxe espalhadas pelo colchão e pego qualquer uma. São todas do mesmo tamanho e da mesma cor, então não teria sentido escolher. Ofereço uma para ele.

— Vista.

O sorriso que Jimin me lança é instantâneo; é tão largo e brilhante, que fico com a sensação de que ele vai se jogar para frente e me abraçar a qualquer momento. Mas ele não faz isso. Não comigo; ele abraça a camisa.

— Obrigado! — É curiosa a forma como Jimin está tão satisfeito com meu gesto. É só uma camisa. — Vou me trocar.

Ele não saltita até o banheiro, mas faz algo parecido com isso. Eu solto um riso assim que a porta se fecha e espero sentado na cama. Talvez eu devesse deixá-lo sozinho e descer, mas desisto da ideia no segundo seguinte em que penso nela. Jimin está mais nervoso com a ideia de conhecer minha mãe do que achei que ficaria e tenho a sensação de que minha presença o conforta um pouco, por eu ser a única pessoa que ele conhece aqui. Acho que não gostaria de ficar sem mim.

Nessas circunstâncias, quero dizer. Não gostaria de ficar sem mim nessas circunstâncias.

Antes que eu possa pensar demais nisso, ouço a porta se abrir. Jimin sai de lá rodopiando, segurando as pontas da minha camisa como se fosse um vestido.

Thuru, thuru, thuru… — ele também cantarola. 

Dou uma rápida olhada nele inteiro e reparo que está descalço e com um calção seco, diferente do que estava usando antes. Franzo as sobrancelhas para esse último detalhe.

— Como estou? — ele pergunta, enfim, quando termina sua entrada triunfal.

Bem. Ele está… pequeno.

Minhas camisas ficam largas em mim, e em Jimin estão enormes. A gola mostra um pouco de sua clavícula marcada e as mangas largas rodeiam seu braço um pouco abaixo do cotovelo. Agora que ele soltou as pontas da camisa, vejo que a barra passa da altura de seus quadris, deixando apenas a parte inferior do shorts à mostra.

Repasso sua pergunta na mente. Como ele está? Está bonito.

Ele já estava bonito antes — sempre está, na verdade —, mas agora há esse toque de desleixo em sua aparência que o deixa tentador. O cabelo bagunçado e ainda úmido, as maçãs do rosto coradas, as sardas charmosas, a roupa larga, os pés descalços, o sorriso preguiçoso…

Eu não disse tentador, disse? Jimin está apenas bonito. Só isso.

Ouço um risinho.

— Por que você está me olhando desse jeito?

Eu chacoalho a cabeça e pisco para ele, perdido.

— O quê? Você por acaso acha que ficou ruim? — O desespero substitui o sorriso. — Ah, não. Não posso conhecer sua mãe se estiver horrível. Oh, meu Deus, o que eu faço agor-

— Jimin. — Ele para. — Você está bem. Está apresentável, como você mesmo disse.

— Ah. — Sorri. — Obrigado.

Volto a atenção para outro detalhe.

— Você não estava com esse shorts antes.

Com a menção à peça, Jimin naturalmente olha para ela. Quando volta as vistas para mim, há um pequeno sorriso em seu rosto. Mas não um sorriso normal. Ele faz isso como se estivesse escondendo alguma coisa.

— Eu dei uma passadinha na minha casa para pegá-lo. Foi bem rápido. Mas depois que já tinha voltado que percebi que tinha esquecido de pegar um calçado mais confortável também. Sabe, ficar com sapatos fechados o tempo todo é um pouco opressor, você deve entender, e é bom estar descalços. Tem problema se eu ficar assim o dia todo?

Impressionante a capacidade dele de mudar de assunto numa mesma fala.

Não respondo à pergunta. Não estou interessado nela. Ao invés disso, lhe faço outra, porque estou curioso. E um pouco confuso.

— Você foi à sua casa? — Ele maneia a cabeça. — Se podia fazer isso, então por que pediu minha camisa?

Ah, eu conheço bem essa expressão que Jimin está fazendo agora: ele sorri de um jeito diferente de antes, não como se escondesse alguma coisa, mas como se estivesse muito ansioso para revelar alguma coisa. Como se estivesse esperando que eu fizesse a pergunta.

Minhas sobrancelhas se franzem.

— Você sabe… — Não. Não sei. — Eu gosto de usar suas coisas. Primeiro a touca, agora a camisa. Qual vai ser a próxima?

Eu gosto de usar suas coisas.

Que porra de resposta é essa?

Eu fixo um olhar duro nele e tenho certeza de que estou bem sério. Mas Jimin não demonstra estar intimidado; ele só parece estar se divertindo. Fico me perguntando por que estou tão perturbado por isso, então, se ele mesmo está agindo como se não tivesse dito nada de mais.

Levanto da cama.

— Não vai ter próxima. 

Ouço sua risada. Ele duvida.

— Vai, sim. Você não consegue resistir a mim.

Reviro os olhos, mas também estou revirando por dentro.

— Não sabia que era assim tão presunçoso. — Não estou gostando dessa conversa. Não estou mesmo. Dou passadas rápidas até a porta e digo, antes que Jimin tenha chance de me desmontar um pouco mais: — A gente devia descer. Acho que já devem ter chegado.

Fico aliviado que agora eu tenha conseguido desmontá-lo. Com a menção da suposta chegada da minha mãe, ele fica todo nervoso e vem para perto de mim. Ouço vozes enquanto estamos descendo as escadas. Jimin também deve ouvir, porque é nesse momento que ele me para e me faz encará-lo.

— Me fale — começa, passando as mãos no cabelo, agora quase seco —: as orelhas estão normais ainda? Veja bem.

Dou uma olhada.

— Estão. Você não pode controlar isso?

— Não sei. Nunca tentei. Mas se já estão enfeitiçadas agora, não preciso tentar.

A gente continua a descer a escada. Ouço a voz aguda da minha mãe e um sorrisinho nasce em meu rosto sem que eu possa controlar. Estou muito ansioso para vê-la. Minha mãe costuma dizer que eu não ligo pra ela, mas é tudo drama. 

Me dirijo para a cozinha, onde a vejo acompanhada de Camila, sua namorada e minha madrasta. As duas estão de costas, conversando.

— Vocês trouxeram comida?

— Ai, meu Deus! — minha mãe é quem exclama; ela e Camila se viram ao mesmo tempo, a mão de ambas no peito enquanto arregalam os olhos na minha direção.

Eu reprimo a vontade de sorrir. Foi engraçado.

— Jungkook?

— Garoto, pelo amor de Deus! — Minha mãe começa a caminhar até mim. Penso que receberei um abraço, mas ela dá um tapa estalado no meu braço. Sinto ainda mais vontade de rir. — Por que é que você sempre faz isso? — E só então me puxa para um abraço apertado. Os abraços da minha mãe são os melhores, os meus preferidos, ela me faz sentir acolhido mesmo que seja muito menor que eu. Senti falta disso: de me sentir acolhido.

E sinto falta de estar com a minha mãe também.

— Oi, mãe. — Percebo que é a primeira vez que soo caloroso em muito tempo.

— Nossa, como você cresceu — ela comenta entre o abraço.

— Bora, ele não cresce mais. Ele é adulto — Camila diz, revirando os olhos e dando risada. Ela se aproxima e me oferece um sorriso. — Como vai, Jungkook? Chegou há muito tempo? — Quando minha mãe se afasta, sou abraçado mais uma vez por Camila. Seu abraço não dura tanto quanto o da minha mãe. 

— Não muito. Vocês trouxeram comida? — pergunto de novo, esticando o pescoço para observar as sacolas dispostas na bancada.

Quando volto a olhar para elas, reparo nas duas estão trocando olhares. Minha mãe se volta para mim com uma expressão risonha.

— Quando Lili me falou, eu jurei que era mentira — ela fala, parecendo realmente desconcertada.

— Eu falei pra você que isso era possível — Camila rebate, dando um tapinha animado no ombro da minha mãe. Ela também está com dificuldade de esconder um sorriso.

Fico olhando para elas, me perguntando por que não estou acompanhando a conversa. O que eu perdi?

— Você não vai nos apresentar, filho? — Até que minha mãe aponta para algo atrás de mim.

Viro a cabeça. Não é algo, é alguém. Jimin esteve tão quieto durante a recepção da minha mãe e da minha madrasta, que me esqueci de que também está aqui. Ele morde o lábio ao perceber toda a atenção direcionada a si e dá um passo para o lado e para frente, saindo de trás do meu corpo. É interessante vê-lo tão tímido e pensar nele tentando esconder sua presença atrás de mim. Logo ele que é… desse jeito. Nunca passaria despercebido.

Ele sorri, comprimindo os olhos com as bochechas coradas. Deve estar mais envergonhado ainda por ter sido pego tentando ser invisível.

— Olá. Eu sou Jimin. — Essa é a primeira vez que fala tão pouco.

— Ah, que fofo… — Camila murmura para minha mãe, como se Jimin não estivesse aqui, ouvindo.

— Não é? — ela concorda. — Oi, Jimin. — E se aproxima para abraçá-lo. — Sou a mãe do Jungkook. Você já ouviu falar de mim? — Reviro os olhos pela alfinetada.

— Hm. Na verdade, ontem foi a primeira vez que ele falou sobre você para mim.

Que desnecessário. Eu lanço um olhar para ele, mas Jimin não retribui.

Camila começa ri, enquanto minha mãe desfaz o abraço e segura Jimin pelos ombros. Ela vira o rosto para mim, semicerrando os olhos.

— Ah, é? Bom saber.

— Mas é muito bom finalmente conhecer a senhora — Jimin leva a atenção dela novamente para ele. — Sua casa é linda. A propósito, nós demos um mergulhinho na piscina quando chegamos. Espero que não se importe. Jungkook foi quem me obrigou a entrar; ele me puxou, então não tive muita escolha. De qualquer forma, desculpe se fui muito inconveniente.

Minha mãe abre um sorriso. 

— Não se preocupe com isso. E não precisa me chamar de senhora, me sinto uma velha quando me chamam assim. — Ela faz careta, e ele ri. — Me chame de Bora mesmo.

— É um nome bonito, então tudo bem.

Jimin falou sério, mas ela dá risada, como se achasse que ele estivesse tentando ser engraçado. Minha mãe vem para perto de mim e faz uma cara esquisita, meio insinuativa. Franzo o cenho, porque não entendo o porquê disso. Quando está perto o bastante, ouço seu sussurro.

— Quem diria, hein? — Quem diria o quê? — Gostei dele.

Eu apenas aceno com a cabeça, ainda confuso, mas com preguiça demais para perguntar alguma coisa. Deixo Jimin com as duas e me afasto para a bancada da cozinha, onde abro todas as sacolas para ver se tem algo para comer. Abro também a geladeira e fico satisfeito ao encontrar metade de um bolo confeitado. Estou morrendo de fome. Acho que Jimin também está.

Ouço Camila convidá-lo para se juntar a nós na cozinha, e ele se mostra animado para ajudá-las a preparar o almoço. Ele se senta na bancada, bem perto de onde estou em pé, comendo do bolo, e começa a conversar. Faço papel de espectador ou um mero coadjuvante, porque não falo nada, só fico observando. Olho para Jimin. Está sorrindo de alguma coisa que minha mãe disse. Percebo tarde demais que também estou sorrindo enquanto olho para ele. Desfaço o sorriso e abaixo o olhar para o pedaço de bolo.

Jimin também não comeu nada além do algodão-doce, e isso já deve fazer umas duas horas. Me levanto e pego o bolo na geladeira, corto um pedaço e coloco em um prato. Deslizo-o até estar na frente de Jimin.

— Pra você.

Por um instante, ele se mostra surpreso, mas depois sorri.

— Como Jungkook é atencioso… — Jimin zomba, massageando o lado do peito onde fica o coração. — Estou sentindo coisas…

— Deve ser fome.

Ele inclina a cabeça para trás quando ri e coloca a mão em frente à boca. Eu bufo, meio que rindo também, e vou sentar no banco ao seu lado. É estranho, mas me sinto exultante quando o faço rir — não que seja difícil fazer Jimin rir, mas mesmo assim eu gosto de ter sido eu o motivo disso. Como eu disse: é estranho. Estranho e bom. 

— Você viu Filipa, Jungkook? — Camila pergunta enquanto mexe alguma coisa na panela.

Jimin disse que ia ajudar, mas não está ajudando nada. Nem eu.

— Ela deve estar no quarto.

— Aquela menina só sai daquele quarto quando é pra comer e olhe lá — ela resmunga.

— Ela é adolescente — minha mãe enfatiza. Sim, isso explica tudo.

Em algum momento, Lili também desce para se juntar à conversa animada que enche a cozinha. Como vem acontecendo desde o começo, fico de fora, apenas fazendo comentários curtos de vez em quando. Minha irmã ajuda nossas mães na comida enquanto ouve música no fone de ouvido. Está tão alto, que consigo escutar os ruídos daqui de onde estou. Ela alega que só consegue "curtir a música" desse jeito.

Lili larga o celular em cima da bancada e retira um dos fones. Ela olha para Jimin e puxa assunto. Dá pra perceber que é bem diferente de mim só por isso: ela ama conversar, fazer amizades e socializar; eu sou o oposto. 

— Gostei do seu cabelo. — Pelo visto, todo mundo gosta do cabelo de Jimin.

Instintivamente, ele leva a mão ao cabelo.

— Obrigado. Também gostei do seu. Esses cachos são muito elegantes.

— Puxei da minha mãe. — É verdade. Camila tem cabelos enrolados e cheios, mas são ruivos. — Só queria ter herdado os olhos verdes também — Lili choraminga.

— Seus olhos já são bonitos assim. Você deveria valorizá-los mais.

Minha irmã abre um sorriso, sem jeito por causa do elogio. Ela está quase derretendo.

— Você é tão fofo e gentil… Como foi que foi ficar logo com esse daí? — ela aponta pra mim com desprezo.

Eu reviro os olhos, já acostumado com as alfinetadas dela. Mas não é por isso que não rebato, é porque estou encucado demais com o verbo "ficar". O que ela quis dizer com ficar

— Ah — Jimin suspira. — Não fale assim dele. Jungkook não é tão rabugento quanto parece. Ele até que está sendo muito amável hoje.

Não gosto dessa palavra. Eu não estou nada amável hoje. Jimin está louco. E também não gosto do fato de os dois estarem falando assim de mim como se eu não estivesse bem aqui.

Lili dá risada.

— Essa foi boa.

— Lili — eu a chamo, mais inabalado impossível —, você não tem nada melhor pra fazer?

— Ah! Tenho, sim, na verdade! — ela se vira para Jimin, os olhos arregalados em entusiasmo. — Eu ia mesmo te chamar pra jogar xadrez comigo. Você quer?

Jimin dá um pulinho para fora da cadeira na mesma hora.

E é assim que os dois acabam sentados no tapete da sala ao redor da mesinha de centro jogando e conversando como se fossem amigos íntimos.

🦋

Ficar na casa da minha mãe não é tão divertido. Quer dizer, não tem nada de mais pra fazer além de jogar jogos de tabuleiro com Lili, nadar na piscina ou passar o dia inteiro dormindo. Pra mim, isso não faz a menor diferença. Gosto do silêncio confortável da casa quando todo mundo está preocupado com suas próprias coisas; eu costumo ficar a maior parte do dia no meu quarto, estudando pra faculdade, fazendo algum trabalho pra Dainty ou dormindo. É libertador. Eu não preciso me preocupar com estar ocupado o tempo todo, porque meu pai não está aqui.

Já aconteceu de irmos à praia algumas vezes, fazer um churrasco com os amigos em comum da minha mãe e Camila e jantar fora. Mas até agora ninguém parece disposto a planejar uma programação diferente para hoje.

Para falar a verdade, só estou pensando muito nisso por causa de Jimin. Ele não parece o tipo de pessoa que gosta de ficar parada. Literalmente.

E eu (não acredito que vou falar isso) quero que ele se divirta, que goste de passar um tempo comigo. Será que ele está gostando?

Bem, ele parece estar se divertindo muito agora, considerando o quanto está rindo com Lili. Eu fico olhando para os dois, franzindo as sobrancelhas. Minha mãe e Camila sumiram no quarto depois do almoço para resolver negócios da Marazul, a pousada da qual minha mãe é dona e Camila é sócia, e desde então não foram mais vistas. E Lili roubou Jimin e até agora não o devolveu.

Não que eu esteja reclamando, só achei que ele iria querer passar mais tempo comigo, mas ele só está jogando Just Dance com a minha irmã.

Jimin estava certo: ele sabe dançar. E eu sou um covarde, porque não consigo focar no seu quadril se movendo por um minuto sem desviar o olhar. Não sei e nem quero saber o que há por trás dessa inquietação toda no meu estômago, mas ela aparece sempre que paro para observá-lo dançando. 

Toxic, da Britney Spears, está saindo das caixas de som da TV, e Jimin imita os passos de dança que aparecem na tela com maestria. Ele está levando isso a sério, descobrindo uma sensualidade até então disfarçada. A música piora tudo. Ou melhora, sei lá. Depende do ponto de vista, e eu agora não estou sabendo raciocinar direito.

Me desfaço dos pensamentos quando ouço risadas. Presto atenção para saber do que estão rindo e descubro que Lili errou um passo e acabou fazendo um movimento esquisito. Então é por isso que Jimin está se curvando pra frente com as mãos na barriga, se esforçando pra manter o equilíbrio.

— OK. Chega. Vocês já brincaram o bastante. — Eu me levanto do sofá e ando até ele.

— O quê? — minha irmã cessa o riso no mesmo instante. — Quem foi que te deu permissão pra atrapalhar a brincadeira?

Jimin ergue o tronco, a mão tapando a boca enquanto o riso vai diminuindo, até desaparecer. Ele leva um tempo para tomar conta do que está acontecendo. 

— Jimin, diga ao meu irmão que você ainda quer dançar.

— Hm… — ele começa a refletir, mas eu não dou tempo para que termine.

— Jimin vem comigo — digo e passo a mão pela cintura dele, puxando-o para caminhar.

— Ah, é, eu — ele gagueja —... acho que vou com ele.

Lili revira os olhos, mas posso ver que quer sorrir. Semicerro os olhos para ela. Deve estar pensando em alguma coisa inconveniente para estar nos olhando assim.

— Tudo bem. Ele é todo seu. — Ela desliga a TV. — Mas a gente tem que continuar depois, viu, Jimin? Eu não aceito perder no Just Dance. Vou pro meu quarto. — Ela acena e sorri para Jimin quando passa por nós. Quando seu olhar cai em mim, diz: — Vai lá com seu namorado, Narigudo. — E mais uma vez sai correndo.

🦋

Jimin está chorando.

A culpa foi minha. Eu o trouxe para o meu quarto e o lembrei que ele não assistiu O Diário de uma Paixão completo porque dormiu nos primeiros quinze minutos do filme. Nós nos juntamos em cima da minha cama, por pedido meu, e assistimos no meu notebook. Agora ele está aqui, encolhido do meu lado, chorando em silêncio enquanto as últimas cenas passam na tela.

— Jimin… — eu o chamo, sussurrando.

Ouço-o inspirar profundamente antes de responder com um resmungo trêmulo.

— Eu avisei.

— Cala a boca. — Sua mão acerta meu braço, e eu quase sorrio. Jimin pode gostar de me ver sorrindo, mas com certeza odeia me ver sorrindo dele.

Os próximos minutos se passam assim: Jimin e eu dividindo uma cama e um saquinho de balas de gelatina enquanto ele tagarela sem parar sobre qualquer coisa. Ele furtivamente — nem tão furtivamente, pelo visto — desliza o corpo para mais perto, provavelmente achando que não percebo o colchão ondular com o movimento, e recosta seu ombro no meu. Não faz sentido querer chegar mais perto agora que não estamos mais dividindo a mesma tela do notebook, mas não reclamo; Jimin parece feliz. 

Mais tarde, tenho que tirar uma foto de Jimin depois de checar as mensagens e ver que nenhum dos meus amigos está acreditando que eu o trouxe mesmo para a casa da minha mãe (não entendi o choque todo). Jimin não percebe quando aponto o celular para ele e tiro a foto — ele está distraído demais procurando um novo título para assistir na Netflix, porque, segundo ele, precisa vingar todas as lágrimas de tristeza de outrora com um filme que o deixe feliz —, e eu não faço questão alguma de avisar. A foto ficou bonita. E ele não precisa saber que tenho uma foto sua no meu celular.

A casa está vazia e silenciosa quando desço à cozinha para preparar uma pipoca (fui obrigado a fazer porque perdi no pedra, papel e tesoura) e pegar pacotes de amendoim para levar ao quarto. Minha mãe e Camila gostam de passar um tempo na piscina nos fins de semana, quando não estão trabalhando, então presumo que devem estar lá agora.

Quando venho, minha mãe gosta de juntar todo mundo pra preparar o jantar, como um "meio de aproximar a família". Eu gosto disso, apesar de reclamar todas as vezes. Tenho quase certeza de que Lili odeia, mas ela adora minha mãe e não consegue dizer não pra ela ou fazer algo que a deixe chateada. Ainda não está na hora, mas não vai demorar muito para que ela apareça no meu quarto me chamando para descer. Me pergunto se Jimin gosta de cozinhar.

Existe alguma coisa da qual ele não goste?, penso, rindo sozinho. Filmes de terror, talvez.

Quando volto ao quarto, o protagonista dos meus pensamentos desvia o olhar do computador e sorri pra mim.

— Qual filme você escolheu? — pergunto assim que sento ao seu lado na cama. Ele pega a bacia de pipoca da minha mão e a coloca em seu próprio colo.

Em vez de uma resposta verbal, Jimin vira a tela do computador na minha direção.

Tcharam! — ele comemora.

Eu franzo a testa.

Os Irmãos Willoughby? Eu já assisti esse. Várias vezes, com Lili.

— E daí? — Jimin dá de ombros, colocando uma pipoca na boca. — Assiste de novo, ué.

Eu nem mesmo considero a proposta.

— Não vamos assistir esse — e digo, decidido.

— Vamos, sim.

— Não vamos, não.

— Nós vamos — Jimin está sorrindo, como se já tivesse vencido a discussão. Ou como se soubesse que é capaz de conseguir tudo o que quer.

Ele está errado. Claro que está.

— Jimin — eu o repreendo.

— Jungkook — ele faz a mesma coisa, mas seu sorriso de divertimento o deixa ainda mais irritante.

Eu o fito nos olhos, tentando ser imponente.

— Não vamos assistir esse. Ponto final.

Nós passamos o resto da tarde assistindo Os Irmãos Willoughby. Jimin ri muito, até nas cenas que não são engraçadas, e come mais pipoca do que eu. Aliás, durante o filme, ele fica tão distraído que acho que não percebe quando se aconchega em mim, como alguém à procura de calor. Pensar assim é meio contraditório, na verdade; está fazendo calor pra caralho, ainda mais dentro de um quarto fechado com o ar-condicionado desligado, nós dois com camisas. Eu gosto de ficar sem quando estou em casa, mas agora não parece ser uma boa ideia.

Tiro a atenção do filme e penso. Por que não seria uma boa ideia, afinal? Não faz sentido. Não deve ter nada no meu corpo que incomode Jimin. Eu acho.

Eu abaixo o olhar para ele e o vejo quebrar a casca de um amendoim com os dentes. Ah, outra coisa que desvendei sobre ele durante esse tempo: Jimin não gosta de comer a casca do amendoim. "É muito salgada", disse ele, com uma careta. "Não gosto de coisas salgadas demais".

Espero ele me estender a mão com a casca quebrada (ele está me dando agora que descobri que não gosta). Quando recebo, ponho na boca e só então o afasto um pouquinho. Jimin se acomoda e continua assistindo o filme, imerso demais nas cenas.

Até eu levar as mãos à barra da camisa e erguê-la para fora do corpo.

Tenho um vislumbre dele virando o rosto para mim antes de passar a camisa pela cabeça.

— O que é isso? — ouço-o perguntar. — Vai fazer striptease?

— Ha-ha. Quando foi que ficou tão engraçado? — devolvo, jogando a camisa no chão.

— Por que tirou a camisa? — Há uma ruga entre suas sobrancelhas.

— Um homem não pode mais tirar a camisa sem ser incomodado por causa disso? — Me inclino em sua direção para tomar a bacia de pipoca (ele duplicou a quantidade de pipocas com um feitiço. Tem pó mágico nelas agora, mas Jimin garantiu que não tem problema ingerir), e Jimin se esquiva para trás de um jeito tão afobado, que quase cai de costas no colchão. 

Ele faz menção de dizer mais alguma coisa, mas aí comprime os lábios juntos, fechando a boca. Ainda está com uma careta confusa quando se ajeita novamente para assistir, agora abraçando as pernas dobradas, o pacote de amendoim esquecido aos seus pés.

Estranho a tensão visível em sua postura, mas Jimin parece esquecê-la à medida que o tempo passa. Seu corpo se recosta no meu novamente e ele permite que nossas pernas se encostem. Não é só um resvalar da pele da coxa desnuda dele com a minha coberta pela calça, ele literalmente se põe de lado e apoia os joelhos dobrados sobre minha perna. O engraçado é que eu nem estava consciente de nossa proximidade até a porta ser aberta.

Minha mãe fixa o olhar em nós e dá um sorrisinho. Jimin se afasta para sentar direito.

— Hora de preparar o jantar. Jimin é pra vir também. — E sai.

Não perco tempo e alcanço o notebook para desligá-lo. Ainda faltam uns dez minutos para o fim do filme, mas Jimin não reclama.

— Sua mãe é uma pessoa muito divertida. Eu gostei dela — ele diz de repente. Quando o fito, vejo que está passando as mãos nos cabelos, um gesto que parece ansioso.

— U-hum. Ela também parece ter gostado muito de você. — Me dou conta de algo. — Jimin?

— Oi.

— Como é… Como são os seus pais? — me sinto um pouco encabulado por perguntar algo tão específico e pessoal assim pra ele pela primeira vez, mas não consigo conter essa vontade de conhecê-lo melhor. Afinal, Jimin me conhece mais do que eu o conheço, e eu quero igualar as coisas.

— Ah, eles… Nós não estamos juntos. Você sabe. Eu já te disse: fadas não têm muito senso de família. Nossos pais só cuidam da gente enquanto somos crianças, nos ensinam a ter um vôo perfeito e a decorar feitiços e criar novos. Mas, depois que aprendemos tudo isso, eles nos deixam partir. — Sua boca forma um bico pensativo. — Agora que parei pra pensar, percebo que não gosto muito disso… 

Eu também não gosto.

— Mas você tem seus amigos — não é uma interrogação, mas ele entende que precisa afirmar.

— Sim!

— E como eles são, os seus amigos? — tento ao máximo parecer indiferente, mesmo estando interessado.

O sorriso com que ele fala de seus amigos é contagiante. Eu me vejo perdido em sua animação enquanto ele me lança um monólogo explicando as personalidades de cada um deles. Consigo decorar seus nomes (ele os cita várias e várias vezes) e tenho vontade de rir toda vez que Jimin fala dos interesses peculiares de Taehyung pelos humanos e de seus flertes baratos pra cima de Rosé.

"Ele é horrível nisso. Você tem que ver! Queria que ele conhecesse Namjoon e aprendesse com ele", Jimin dá risada.

Estou secretamente aproveitando esse momento com ele, mas Lili o interrompe ao bater na minha porta com força.

— Mamãe mandou descer! — ela grita.

Nós deixamos os lençóis bagunçados quando saímos do quarto. Minha irmã prontamente rouba Jimin — de novo — ao pisarmos na cozinha e começa a dar instruções pra ele de como se faz macarrão com carne moída e molho de tomate. Camila faz a mesma coisa comigo, só que me empurra até a pia para lavar as mãos primeiro.

Todos os ingredientes estão sobre o balcão e minha mãe já está preparando o macarrão. Ela me percebe ao lado dela, inspecionando o que está fazendo, e sorri antes de me dar um beijo na bochecha. Um minuto depois, essa mesma mulher está me batendo com uma colher de pau e me mandando ir fazer o suco.

Lili e Jimin estão cortando cebola e alho, respectivamente, e eu não entendo por que eles têm que ficar com as partes mais fáceis. Pior ainda é quando os dois terminam e vão para a sala continuar o jogo que interrompi mais cedo, enquanto eu continuo aqui, preso na cozinha, finalizando a carne moída a pedido de Camila, que saiu para tomar banho. 

Estou derramando molho de tomate na panela quando minha mãe se aproxima de mim. 

— Já tá bom, Jungkook — ela ri, tirando o recipiente do molho da minha mão.

Solto um resmungo.

— Por que Lili não vem fazer, então?

— Ela tá entretendo o seu namorado.

De novo isso.

— Jimin não é meu namorado — reviro os olhos, mas sinto meu coração dar uma acelerada.

Olho para minha mãe e franzo a testa. Ela fala sobre eu ter um namorado tão normalmente, como se isso não a surpreendesse, como se não se importasse. Ela não se importa mesmo?

Eu me pego comparando-a com meu pai.

Abalo a cabeça, afastando o pensamento, e volto as vistas para a carne na panela.

— O quê? — minha mãe abre a boca. — Eu pensei… Lili mandou uma mensagem hoje de manhã falando que você tinha arranjado um namorado. — Ela ri da própria ingenuidade. — Eu acreditei.

— Bom… Ela mente. — Xingo quando um respingo do caldo quente acerta minha barriga. Ainda estou sem camisa.

Ficamos em silêncio.

Bem, não tão em silêncio assim, porque a inquietude da minha mãe é barulhenta demais. Ela quer me dizer alguma coisa, sei disso. E também sei que está hesitando. Viro o rosto para ela e ergo uma sobrancelha, esperando e impondo que fale o que quer que queira me falar.

Ela suspira e abre um sorriso nervoso.

— Quero te contar uma coisa.

Minha desconfiança só cresce.

— O que é?

Seu sorriso adquire um tom misterioso.

— Espere até o jantar.

E eu espero.

Todos nós estamos juntos na mesa de jantar, comendo da macarronada que eu praticamente fiz sozinho, Jimin muito risonho e conversador ao meu lado, quando minha mãe abaixa seus talheres e chama nossa atenção para ela.

Ela e Camila trocam olhares e sorrisos (ambas sorriem tanto, que faz parecer que suas bocas estão rasgando o rosto), e tenho certeza de que suas mãos estão entrelaçadas por baixo da mesa. Eu sinto a ansiedade crescer dentro de mim, mas não consigo decifrar o caráter dela. Não sei se é algo bom ou ruim. Nem mesmo sei por que estou tão ansioso.

Então minha mãe fala.

— Camila e eu vamos casar!

E eu tenho certeza de que é ruim.

Meu olhar congela em minha mãe, chocado demais para entregar uma reação imediata. Eu consigo ouvir a palavra reverberando na minha cabeça.

Casar.

Jimin está batendo palmas ao meu lado, minha irmã está gritando até agora, repetindo “Sério?” e “Que legal!” a cada dois minutos como se não pudesse estar mais feliz. Sinto que deveria estar agindo da mesma forma, deveria estar feliz também (uma parte de mim quer estar), mas a outra parte — a maior — se tornou impermeável o bastante para não absorver a felicidade que flui ao meu redor.

Não é felicidade o que sinto.

Sou tão egoísta… Deveria estar pensando em minha mãe, não é? Mas estou pensando em meu pai.

Quando ele souber. O que ele vai fazer. Como ele vai se sentir. Ele já está triste. Ele está indo tão bem…

Fico repassando suas palavras de ontem, a primeira vez em que pareceu orgulhoso de si mesmo, da própria resistência, da sobriedade. E então o imagino jogando todas essas mesmas conquistas fora e voltando a ser o que sempre foi. Um homem do qual ele se envergonha.

Volto o olhar para a mesa, engolindo a saliva tão mal quanto engulo os pensamentos.

— Jungkook? — ouço a voz da minha mãe.

Ela não tem culpa. Ela não tem culpa das ações dele. Ela só está sendo feliz.

Quando ergo a cabeça, estou sorrindo.

— Você merece ser feliz, mãe.

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Oi!! Cheguei!

Começando com a pergunta de sempre: o que acharam do capítulo de hoje? Deixe aqui seu feedback 🗳️

Pra ser sincera, não estou completamente satisfeita com esse capítulo, mas se eu postei é porque de alguma forma eu gostei. Eu só posto uma coisa quando eu gosto dele de verdade, tanto é que escrevi  o capítulo 6 duas vezes. Mas esse aqui foi difícil 😩

Obrigada aos leitores que deixam elogios e mensagens carinhosas nos capítulos, vocês fazem o meu dia 💜💜

Antes de me despedir, queria deixar aqui que no meu instagram (yokoverso) eu posto algumas coisinhas sobre incf  de vez em quando. Se quiserem interagir mais comigo e com a história, lá é um bom lugar!

Obrigada por ter lido! Até a próxima att 😘

(desculpem qualquer errinho de digitação, às vezes passam despercebidos)

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