Capítulo 4
"Nem tenta intimidade que ela corta simpatia (...) Tenebrosa é, quero ver pegar (...) Ela é cria da quebrada, tem o instinto selvagem"
— Tenebrosa, MC Livinho
Clarissa narrando.
Sempre fui de lutar pra conseguir minhas coisas.
Meu pai sempre me deu uma boa condição tá ligado?
Esse lance de traficante ostentar, é tudo verdade.
Não podia estudar no asfalto, por ser filha e neta de quem sou.
Mas toda minha vida fui focada nos meus sonhos.
E o meu grande sonho é a dança.
Na verdade, eu sempre quis usar meu dom pra ajudar outras pessoas.
Sempre sonhei em montar uma escolinha de dança em outra comunidade.
Primeiro porque aqui já tem, meu avô e meu pai sempre foram muito de fazer o bem a comunidade e procurar o melhor pra o morador, e segundo porque eu preciso, na verdade eu necessito sair das asas da minha família.
O Guilherme sempre disse que eu sou um passarinho que não pode ficar muito tempo em um lugar, que preciso sempre está batendo minhas asas.
E na verdade, eu me sinto assim mesmo.
Nada nunca me fez ficar presa em algo a muito tempo.
Na verdade... Só ele.
O Iago.
O Iago foi o único capaz de fazer eu querer algo verdadeiro com alguém, a ficar presa a relacionamentos.
Mas como tudo na vida não é um mar de rosas... Eu acabei descobrindo que aquele que eu achava ser um príncipe, na verdade é um sapo.
Ao contrário do Guilherme, eu nunca me fechei pra o amor.
Eu mesmo depois de toda a decepção que sofri, espero alguém que me faça tomar juízo... Mas por enquanto que essa pessoa não chega, a gente vai perdendo o juízo em umas bocas por aí.
••
Meu pai tinha falado com um chegado dele, dono do vidigal pra que eu fosse lá... Apresentar o meu projeto pra escolinha.
Aí você me pergunta.
Porque você não foi no Alemão?
Pelo mesmo motivo de não querer montar aqui... O Alemão continua sendo do meu tio avô, FA.
E assim como não quero ficar nas asas dos meus pais... Não quero ficar nas asas de ninguém da minha família.
💭Está na hora de eu escrever o meu próprio destino💭
Fui ao Vidigal hoje pela manhã.
Sabia que ia ser uma conversa dura, já que meu avô tinha me avisado... O tal Digão é da pesada.
Flashback on
Estava de frente ao espelho com meu Notebook virado pra mim.
— E quem vai com tu? — Bianca perguntou do outro lado da tela.
Terminei de passar meu hidratante labial.
— Vou com ninguém não fia... Eu me garanto — Beijei meu ombro e encarei a tela no Notebook
— Valeu senhora blindada... A senhora fez cursinho de escudo humano aonde? — Ergueu uma sobrancelha.
Minha relação com a Bia se resume a isso... Duas telas de computador.
O que deixa meu coração partido.
Porra... Minha Índia é minha melhorzona tá ligado?
Ela e a Mari são minhas viadas, irmãs mesmo.
Me joguei na cama.
— Fiz cursinho de nada não... Mas se eu chegar lá com segurança o cara vai achar que eu sou menininha indefesa que vive na aba do pai — Dou de ombros e brinco com uma mecha do meu cabelo.
— A senhora está ousada a senhora — Disse rindo.
— Deixa de onda Bianca... Ao invés de tá de onda com minha cara, devia vim no Rio nem que fosse um dia — Faço bico.
— Ahh... Falou a que vem sempre em São Paulo né — Ela disse debochada.
— Oh putona... Eu nunca fui por causa do projeto da escolinha... Tu tá ligada que sempre foi meu sonho.
Ela sorriu e assentiu.
— Eu sei meu amor... Mas escuta... Quando você menos piscar eu posso está batendo em sua porta, de mala e cuia — Ela disse e piscou.
Dei um salto da cama.
— O quê? — Perguntei afobada
— Rio de Janeiro me aguarde... Meu fogo no rabo vai esquentar ainda mais essa cidade — Gritou.
Comecei a pular e bater palminhas animada.
💭Pow mano... Eu não tô bem 💭
Cês tem noção? Minha melhor amiga, prima e irmã de vida está vindo pra perto de mim... Isso é fucking.
— Se tu tiver mentindo eu juro que vou em São Paulo arrancar esse piercing puxando — Falei séria.
— Tô mentindo não caralho... Esse mês ainda eu e meus pais voltamos pra o Rio — Disse sorrindo largo.
Na mesma hora, Tia Avelyn entrou no quarto dela.
Assim que me viu na tela, correu em direção a mesa com um sorriso enorme no rosto.
— Oi coisa mais gostosa — Ela disse sorrindo
— Falou o mulherão da porra... Tia tu só fica gostosa a cada dia — Bati palminhas.
— Pau do Leonardo... Segredo de família — Disse sorrindo maliciosa e piscou.
— Eca mãe — Bia falou fazendo careta pra tela do Notebook.
Eu ri pelo nariz e minha tia revirou os olhos.
— Quem vê pensa que é Santa uma coisa dessa — Tia Avelyn disse com tédio.
— Eu sou piranha... Mas uma piranha virgem — Bia disse olhando pras unhas.
— Vou soltar meu grande ATA — gritei a última parte
— Mas é sério velho... Preciso saber que meus pais transam não... Isso é traumatizante — Bia disse com uma careta estranha.
— Mudando de assunto.... Cadê minha irmã? — Tia Avelyn perguntou com a sobrancelha erguida.
Incrível como as duas são parecidas.
Até hoje eu acho minha mãe e tia Avelyn maneironas sabe?
As duas tem as tatuagens e piercings... Eu acho isso demais.
Eu tenho alguns rabiscos, mas não como minha mãe.
Que mais parece um gibi, vamos combinar.
— Ela deve tá na boca ou na casa dos meus avós — Dou de ombros.
— O Arthurzinho melhorou da febre? — Bia perguntou preocupada
— Melhorou — falei aliviada e sorri — A pediatra disse que são os dentinhos... A Majuzita ficou toda enjoadinha também — Dou de ombros.
— Nossa... Bianca era um porre quando tava pra nascer os dentes — Minha tia disse como se tivesse lembrando — Aliás... Até hoje é — entortou o bico pra o lado da minha prima que colocou a mão no peito como se estivesse ofendida.
— Mãe... Não fala isso do seu nenê — Bianca disse fazendo um bico.
— Meu nenê, que faz nenê — Disse rindo e abraçou a Bia de lado.
Eu suspirei.
— Gostosas... O papo tá bom, mas eu tô oh — Fiz sinal com a mão — Vazando... Eu tenho que ir atrás do meu ganha pão — Pisquei.
— Vai lá viada... Arrasa — Bia disse mandando um beijinho no ar.
Levantei da cama e quando ia desligar a chamada, minha tia falou comigo, chamando minha atenção.
— Teu pai vai embaçar no tamanho do teu short — Apontou pra meu short.
— Com meu pai eu resolvo depois — Sorri vitoriosa e Pisquei pra elas.
Depois que desliguei a chamada de vídeo, decidi tirar aquela fotinha... Só pra movimentar as redes sociais.
Instagram on
É que ela é cria da quebrada,tem um estilo selvagem 🎶🔫 — Em Rocinha, Rio de Janeiro
900 curtidas e 300 comentários.
Instagram off
Já peguei minha bolsa em cima da cama e joguei meu celular dentro.
Dei uma última olhada no espelho bem estilo Nazaré Tedesco.
— Gostosa do caralho — Falei pra mim mesma olhando meu reflexo.
Mandei um beijo pra o ar e sai batendo a porta do meu quarto.
Eu não sabia... Mas minha mãe estava em casa sim.
Acho que ela tinha chegado e eu nem vi.
— Oi minha rainha suprema, deusa do Nilo, mulherão da porra — Falei animada e lhe dei um beijo na bochecha.
— Vou te dar dinheiro não Clarissa — Falou firme
— Sai daí... Quem escuta uma coisa dessa acha que eu só te dou carinho quando quero alguma coisa de tu véi — Falei com a mão no peito.
— Tô brincando... Vem cá me dá um beijo — Falou abrindo os braços.
— É beijo ou abraço fia? — Perguntei prendendo o riso.
— Se tu falar muito vai ser chinelada — Sorriu cínica.
Balancei minha cabeça e ri.
Minha mãe me apertou em um abraço e me deu um beijo na testa.
— Vai colar lá no Vidigal? — Perguntou me olhando de cima a baixo.
— Tô indo conversar com o tal Digão... Apresentar o projeto — Pisquei pra ela e ajeitei minha bolsa em meu ombro de novo.
— Tem juízo — Falou firme
— Meu sobrenome dona Maria Laura — Falei sorrindo e caminhei até a porta.
— E o primeiro é sem — Ela disse balançando a cabeça.
Pisquei pra minha mãe e mandei um beijo no ar, antes de sair de casa, fechando a porta atrás de mim.
Procurei a chave da minha moto em minha bolsa e assim que achei, subi na moto.
Antes que eu pudesse ligar a mesma, meu tio Miguel tava encostando com meu avô.
— Vô — Falei animada, mas nem desci da moto.
💭 Preguiça... O amor é grande... Mas a preguiça é maior... Perdão vô💭
Ele desceu da garupa do meu tio e veio até mim, me dando um beijo na testa.
— A benção pra os dois... Pra eu economizar saliva — Sorri .
Meu avô riu comigo enquanto meu tio revirou os olhos.
— Vai pra onde guria? — Tio Miguel perguntou me encarando.
— Sou só um ano mais nova... Não força — Fiz sinal com a mão pra ele abaixar a bolinha dele.
Ele me deu dedo e eu apenas revirei meus olhos.
— Vai pra onde meu amor? — Meu avô perguntou carinhoso como sempre.
💭Mentira... Meu avô só é carinhoso comigo mesmo, porque com o resto do mundo é coice pra todo lado 💭
— Vidigal vô... Se tudo der certo eu abro minha escolinha — Falei orgulhosa.
— Cuidado lá... O Digão é barra pesada — Falou preocupado.
— Deixa com nós... Aqui é neta de Lucy Madison e Maria Laura Araujo.... nós não engole sapo de traficante calada não — Falei firme.
Ele balançou a cabeça e me deu outro beijo na testa.
Coloquei meu capacete e dei uma buzinada antes de dar partida na moto.
••••••
Cheguei no Vidigal e fui parada na contenção.
— Levanta o capacete mina — Um cara armado falou em tom autoritário.
Respirei fundo antes de mandar ele levantar o cú dele.
Odeio que falem em tom autoritário comigo.
💭Odeio mesmo💭
Levantei o capacete e ele ficou me olhando como se tivesse perdido alguma coisa na minha cara.
— Tô na paz aqui — Levantei as mãos em forma de rendição.
— Tá massa... Tu quer o quê mesmo? — Perguntou com a testa franzida.
— Meu nome é Clarissa... Eu sou a filha do Muka e da Malau da Rocinha... Meus pais falaram com seu chefe... Eu vim bater o lero com ele, apresentar um projeto da escolinha de dança — Falei firme, sem recuar.
Se a pessoa treme a voz nessas horas, eles acham que é mentira.
Que eu sou patricinha de asfalto subindo o morro pra dar aos traficantes.
— Vou averiguar esse papo... Marca um dez aí — Falou já puxando o radinho dele.
Revirei meus olhos e desci da moto, a encostando no cantinho.
Segurei o capacete na mão e fiquei encostada na moto, cantarolando umas músicas da minha diva master Pabllo.
••
Meu irmão... Esses 10 minutos mais pareceu 1 hora.
Na sincera mesmo.
Quando ia abrir minha boca pra reclamar, uma moto foi encostando aos poucos.
O cara que falou comigo no começo apontou pra mim e o cara da moto pareceu olhar em minha direção.
Ele tirou o capacete e foi nessa hora que eu senti minha calcinha dissolver.
💭Porra de homem gostoso do caralho.💭
— Oh mina... Vem cá — O cara que me barrou falou me chamando com a mão.
Peguei a chave da moto na ignição e caminhei até eles, com a bolsa no ombro.
— Eu mesma — Falei sorrindo.
— Tu que é a filha do Muka? — O Loiro da moto perguntou com a sobrancelha arqueada.
— Clarissa — Falei estendendo minha mão.
Ele me olhou de cima a baixo e porra... Senti como se meu corpo inteiro estivesse pegando fogo com aquele olhar.
— Digão — Disse pegando em minha mão e levando até os lábios.
Eu sorri e balancei minha cabeça.
— A gente pode conversar agora? — Perguntei ainda sorrindo.
— Só se for agora mesmo — Ele disse deixando um sorrisinho de lado escapar.
O outro cara olhou pra ele assustado, mas eu nem dei bola.
— Eu sigo você com a moto — Falei apontando pra minha moto.
— Deixa aí pow... Tu vai comigo — Ele disse com um sorriso malicioso nos lábios.
— Eu realmente não confio minha moto assim — Falei cínica.
💭Sentindo que esse moço acha que eu iria dar pra ele assim de primeira... Querido... Aonde fica a parte do jantar mesmo? 💭
— Então tu me segue — Levantou as mãos em forma de rendição.
Ele caminhou até a moto dele e eu até a minha.
Liguei a mesma assim que subi e dei partida, seguindo ele.
•••
Chegamos aonde eu tenho certeza ser a boca daqui.
O segui até uma sala em silêncio.
Assim que entramos na sala e o loiro fechou a porta, ele caminhou até uma cadeira atrás da mesa de madeira e eu me sentei na cadeira a sua frente.
— Então Clarissa... Qual teu projeto? — Perguntou sinalizando com as mãos pra que eu falasse.
Suspirei antes de começar a falar.
••••
— Então... Teria aulas na segunda, quarta e sexta... — Encerrei.
Ele coçou o queixo.
— Eu tenho uma contraproposta... Ao invés de as famílias terem que pagar alguma coisa... Eu te dou um salário... A tu e a quem mais precisar... A gente deixa as praguinhas... Digo, deixa essas crianças daí fazer tudo de graça — Se corrigiu e deu de ombros.
Sorri de lado.
— Eu acho melhor ainda — Falei animada.
— Então... Pode montar tua escola de dança aqui — Ele disse firme.
Me levantei animada e estendi minha mão novamente pra ele apertar.
— Meu pai disse que ele mesmo vai montar... Eu só vou precisar de um local — Falei sorrindo
— Isso é fácil de nós arrumar — Sorriu também e pegou em minha mão, novamente depositando um beijo.
— Então... Eu já vou — Puxei minha mão
— A gente se vê de novo — Ele piscou
— A gente se vê de novo — Repeti olhando no fundo daqueles olhos azuis.
Caminhei até a porta e antes de sair, olhei pra trás, pegando no flagra ele olhando pra minha bunda.
— Limpa a babinha — Falei apontando pra lateral de seu lábio.
Pisquei e sai dali o mais rápido possível.
Montei na minha moto e coloquei minha bolsa no guidom.
Vi ele saindo pra fora da boca, coloquei o capacete e liguei a moto.
Dei uma última buzinada antes de sair descendo o morro.
Flashback off
••••••••••
Termino meu banho e sorrio ao lembrar da cena de hoje cedo.
💭Eu dava muito viu... Dava até dizer chega💭
Pensei olhando meu reflexo no espelho, ao lembrar daqueles olhos azuis.
Prendi meu cabelo em um rabo e desliguei a luz do meu quarto.
Caminhei até minha cama e me enrolei no meu edredom.
Liguei o ar condicionado e apaguei a luz do abajur.
Encarei a porta... Na esperança de que nossa briga de mais cedo não tenha abalado ele.
💭Ta faltando algo💭
Foi só eu terminar de formular a frase em meu pensamento.
A porta do meu quarto foi aberta e vi a sombra do meu irmão passar por ela.
— Achei que você não ia vim — Falei dengosa.
Ele balançou a cabeça e sentou na beira da minha cama, ligando o abajur.
— Eu sei que tudo o que você fala é pra meu bem — Sussurrou.
Sorri largo e ele beijou minha testa, levantando em seguida.
— Xau Gui — Sussurrei.
— Dorme bem resto de aborto mal feito — Sussurrou e desligou meu abajur.
Guilherme saiu do meu quarto e fechou a porta.
Fechei meus olhos sorrindo e abraçando o resto do meu edredom.
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Oi amores 😘 Parece que alguém gostou de um par de olhos azuis em 😏
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Aguardem os próximos capítulos ❤
Kisses 😘😘
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