Desde que contei toda a verdade para Lívia e para meus pais, eles ficam me azucrinando dizendo que preciso procurar e perdoar Victória pelo que ela me fez, mas ninguém se coloca em meu lugar. Não foram eles que sentiram a dor que eu senti e simplesmente querem tomar a decisão que julgam ser a certa, sem nem mesmo consultar meus sentimentos.

--Acorda Josh! Temos vários clientes para atender e você aí fazendo corpo mole. - já é a segunda repreensão que levo de meu chefe em menos de uma semana. Sigo para atender uma senhora e Clarisse, minha colega vem até mim.

--Kellan lhe brigou novamente não foi? - assinto. - Cara, você tá pisando muito na bola esses tempos, Kellan tá de olho em você e nem sabe que você saiu no meio do expediente naquele dia, está acontecendo alguma coisa com você? Pois se for algo grave é melhor pedir uma dispensa logo antes que acabe perdendo o emprego.

--Não está acontecendo nada Clarisse, eu estou ótimo e não preciso de mais ninguém querendo se meter na minha vida. - digo irritado e a deixo para trás.

Após o expediente, vejo algumas ligações de Lívia, antes fosse só saudade, mas nosso relacionamento não está mais como antes, ela não me entende e não faz esforço nenhum pra entender, mas sempre nos entendemos muito bem, não vou deixar que uma bobeira acabe com um namoro de três anos e meio, sigo para sua casa e quando ela me vê não esconde sua surpresa.

Uma conversa sincera foi o que tivemos e voltamos a nossa relação habitual e confesso já estava sentindo falta.

--Eu vou só pegar meu celular e já vamos. - fala Lívia quando já ia subir as escadas.

--Deixa que eu vou, vai lá falar com sua mãe. - quando finalmente encontrei o celular sobre o tocador, escutei vozes na sala e desci em busca de Lívia.

--Nicholas adora o bolo de sua mãe e ficou o dia todo pedindo por ele. - falou uma voz suave, mas que me trazia certa melancolia, quando vi de quem se tratava estaguinei nas escadas e ela me encarou sorrindo, Lívia parecia aflita e quando me viu não conseguiu esconder sua perturbação.

--O que essa mulher ta fazendo aqui? - perguntei entre dentes, e a mesma desfez seu sorriso dando lugar a uma expressão confusa.

--Josh por favor. - pediu Lívia se colocando na minha frente.

--Ela não devia estar aqui. - grito e der repente escuto passos rápidos vindo em nossa direção.

--Mamãe eu to com medo. - disse um garotinho de cabelos loiros se recostando atrás dela.

Vê-lo ali com medo pedindo proteção e com medo de mim, decido ir embora, mas antes falo com ela e sei que Lívia e dona Lauren também escutaram quando vejo olhares perplexos em seus rostos.

--Tenho pena dessa criança, ele não merecia ter uma mãe como você. -digo com raiva e sem remorso algum.

--Josh. - grita Lívia vindo atrás de mim. - O que deu em você lá dentro? Pensei que estava mudando, mas o que eu vi foi muito cruel.

--O garoto. - digo magoado. - ela tem um filho.

--Sim, o nome dele é Nicholas, e é seu irmão. Crescermos sem companhia e esse é o motivo de termos decidido por dois filhos, e agora você acaba de saber que tem um irmão e reage dessa maneira.

--Você não entendeu. - digo olhando nos seus olhos. - esse garoto deve ter uns cinco anos, significa que quando encontrei com Victoria, ele ja tinha nascido. E pela maneira que ele correu para seus braços eles tem uma boa relação, mas comigo tudo que ela foi capaz de fazer foi me abandonar, por duas vezes ela me abandonou. - revelo e não consigo controlar as lágrimas que ultrapassam meus olhos.

Ela me abraça, mas eu recuo e enxugo meu rosto com as costas da mão . - Preciso ficar sozinho. - digo a deixando para trás.

--Por que ela me deixou? Por que o Senhor permitiu que ela me deixasse? - questiono Deus com tristeza no coração.

Lívia narrando

Depois de Nicholas e Victoria deixarem nossa casa, pude chorar no colo de mamãe que me confortava com palavras. No dia seguinte já havia me recuperado da crise de choro e, fui até a casa de Josh, mas o mesmo estava trabalhando e encontrei somente seus pais sendo assim contei tudo o que aconteceu.

--O que nosso menino está fazendo? - questionou Melissa sentida.

--Ele está muito magoado, e não consegue ver nada além se sua dor, precisamos ajudar nosso filho. - fala John decido. - Melissa encara seu marido e enxuga as lágrimas concordando.

--Vamos orar por nosso menino. - fala ela e damos as mãos.

--Paizinho amado estamos aqui reunidos para pedir pela vida do nosso filho ó Deus, ele se deixou corromper pelo rancor e não consegue mas vê-lo Pai, se afastou de todos que querem seu bem e vem magoando todos ao seu redor. Te pedimos Senhor tua misericórdia sobre a vida do Josh Senhor, faz com que ele perdoe, assim como o Senhor o perdoou, não deixe que esse sentimento venha lhe destruir ó Pai. - pede Melissa.

--Ah Pai atendei nosso clamor e abre os olhos do Josh Senhor. Que ele venha se libertar dessas correntes que estão lhe aprisionando e que possa cumprir os propósitos que Tu tens para a vida dele. Te pedimos que ele perdoe a dor que Victoria lhe causou e que eles possam se entender como a família que são. Não deixe nosso menino se afastar cada vez mais do Senhor, trás ele pra perto ó Deus, lhe mostre a tua infinita verdade, é o que te pedimos e já te agradecemos Senhor. -finaliza John.

--Amém. -dissemos em uníssono.

--Ainda me lembro do dia em que Josh entrou em nossas vidas. - diz Melissa se recordando do passado. -

--Como foi? - questiono e ela prossegue.

--John e eu havíamos acabado de nos casar, não pretendíamos ter filhos naquela época, mas Victoria se mudou para nosso bairro grávida, e logo depois um bebê apareceu em nossa porta, ela era muito jovem, mas eu sabia que o filho era seu, fui atrás dela e ela não negou, mas disse que não ia assumir, se eu não quisesse ele, que eu o entregasse para um lar adotivo. Meu coração não aceitava isso, cria que ela mudasse de idéia e voltasse para buscar o filho, mas acabamos nos apaixonando por aquele pequeno. - falou Melissa entrelaçando as mãos com John.

--Ela não veio atrás dele, e acabou se mudando, nossos pais diziam para entregarmos o bebê para a adoção, mas já estávamos envolvidos e decidimos que ele seria nosso filho e receberia todo amor que daríamos para um filho legítimo, recebemos o apoio de nossas famílias e demos tudo que estava ao nosso alcance para sua felicidade. - completou John.

Quando estava indo embora, Josh atravessa a porta com o olhar longe e decepcionado.

--Fui despedido. - fala ele nos deixando completamente chocados.

Josh narrando

Saber que Victoria tinha um filho pequeno veio como uma lâmina atravessando meu peito e o dilacerando por completo. Embora eu quisesse me enganar dizendo que sentia pena do garoto, por ter um monstro como mãe, mas no fundo eu sabia que em meu ser brotava tristeza por ele poder receber o amor que me foi negado assim que eu nasci, mesmo que meus pais sejam as melhores pessoas do mundo e não os trocaria por nada nesse mundo, sinto-me incompleto, e Victória causou tudo isso em mim, quando me abandonou sem nem ao menos se preocupar se eu viveria bem ou não.

Saio de meus pensamentos ao ouvir uma voz longe e finalmente me toquei de que estou no trabalho.

--Onde você vai Josh? - pergunta Clarisse quando estava me aproximando da porta.

--Embora. - digo firme e ela fica chocada.

--Josh não faça isso, o Kellan está de olho em você, se você antes que seu expediente acabe, vai acabar perdendo o emprego. - deixo ela para trás falando sozinha.

Eu realmente preciso de um tempo sozinho. - falei adentrando em meu carro. Mas antes que eu ligasse a ignição Kellan vem atrás de mim.

--Espera Josh precisamos conversar, na minha sala agora. - pede ele autoritário e obedeço. Volto a loja e Clarisse me olha com pena.

--Senta Josh. - pede ele. - você sempre fez seu trabalho com excelência, quando te contratei vi um grande potencial em você e estava certo, você contribuiu muito para nossa empresa, mas hoje não vejo mais aquele cara que eu contratei, vejo um jovem disperso e sem compromisso, eu vi Clarisse te alertando e eu mesmo lhe sondei pra ver se você precisava de algo, mas infelizmente o seu comportamento não condiz mais com quem eu quero na minha equipe, espero mesmo que você possa ter aquela garra e vontade de trabalhar, mais por hora não posso fazer nada, a não ser assinar sua demissão. -fala com o olhar triste. - Ainda acredito em você, e sei que pode ir muito longe.

--Obrigado Victoria! Mais uma vez você conseguiu interferir meus planos. - disse entrando no carro.

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