Capítulo 9
Eram 09:30 da manhã de sábado quando o antídoto percorreu minhas veias. Paul e Michel estavam exaustos, eram os únicos que não tinham dormido, apesar disso Michel não quis descansar enquanto não pudesse me ver. Richard concordou afirmando que eu estaria totalmente dopada agora, pareceria mais uma morta do que uma viva. Ele não se importou.
—Meu amor, eu só queria que você acordasse.— Michel exclamava, depois de me ver sossegar da dor. Ele ficou ali ao meu lado um bom tempo.
Mais tarde após o meio dia. Bárbara propõe, a Selena, Alice e Paul irem embora, mas Alice e Paul não concordam, Selena não iria sozinha. Todos resolveram ficar. E antes que escurecesse se envolveram em uma roda, tentando tocar e cantar algo.
No calar da noite, Michel, saiu de sua barraca em direção a minha, antes de entrar escutou Gabriel e Paul conversando na barraca de Gabriel. Ele ficou a espreita antes de seguir.
—Eu surtei em pensar perdê-la.— A voz era de Gabriel.
—Você precisa falar com ela Gabriel, precisa contar o que está no seu coração desde que a viu.
—Não posso Paul, não posso contar a verdade agora, agora não.
Michel, estranha a conversa, na verdade não entende nada. Dirige-se a minha barraca, onde Alice e Jean se encontram. Michel entra esperançoso de alguma notícia. Porém seus olhos aflitos são decifrados por Alice.
—Nada ainda.— Ela diz.
Michel senta calado.
Jean finalmente fala com ele: —Você sabe que isso é culpa sua?— Alice da uma cotovelada nele.
Michel o olha sofridamente.
Jean prossegue: —Ela não estaria assim se não tivesse recebido um back ontem de manhã. Afinal, o que você fez? Onde estava com a cabeça?— Alice dessa vez só olhou para Michel aguardando uma resposta.
—Tudo o que eu falar, se tornará tão insignificante.— Michel fala tristemente. —Eu só tinha que provar de outro beijo, tocar outra pele, e outro perfume, mais uma vez.
—Pra que?— Alice agora perguntava indignada.
—Para ter certeza que eu a merecia.
—Não entendo.— Disse Alice.
—Gracy, tinha tornado meu mundo tão melhor que eu fiquei com medo que fosse uma fantasia, tive que sair dele por um momento para que eu soubesse se ele era real ou não.
—E o que você percebeu?— Jean perguntou.
—Percebi que ela é meu mundo. Mas que eu não sou digno de viver neste mundo, ela merece mais do que isso.
—Michel, porque não deixou ela decidir isso? — Alice argumentou.
—Porque notei que ela sofreria, só deixei o sofrimento um pouco menor antecipando isso.
—Mas e você?— Alice insiste.
—Eu, vou tentar viver sem ela.
—Você a ama?— Jean perguntou.
—Amar? Essa palavra não decifra o que sinto por ela. Eu não suportaria viver se ela não vivesse.— Alice emociona-se, e vê o quanto Michel está sendo verdadeiro.
—Michel, ela vai te perdoar.— Alice falou.
—Como poderia?— Indagou ele.
—Porque eu te amo.— Eu sussurrei.
Alice saiu correndo da barraca. — Ela acordou!
A madrugada se dissipava em um lindo nascer do sol e todos saem de suas barracas aproximando-se mas só Gabriel e o Professor Richard entram.
—Como está se sentindo?— Richard me pergunta.
—Bem, estou consciente, lembro de tudo e até das últimas palavras antes de abrir os olhos.— Falei olhando para Michel. Ainda permanecia deitada, sentindo uma leve dormência, efeito do antídoto.
—Você precisa tomar muita água, e aos poucos se movimentar. Faça pequenos exercícios com os dedos dos pés e mãos pra começar.— Richard delegava.
—Eu ajudo!— Disse Alice, com a expressão facial extremamente aliviada por eu ter acordado.
—Você está com fome?— Perguntou Gabriel.
—Estou com sede.— Afirmei.
Richard prosseguiu: —Certamente é por sua desidratação. Por isso tome água!— Ergueu minha cabeça e me deu toda a água que eu pude tomar. —Gabriel peça para Selena preparar uma sopa.— Ele sai da barraca. Richard percebeu o quanto eu encarava Michel que neste momento estava cabisbaixo, e muito discretamente falou: —Alice, me ajude a catar alguns objetos que ajudarão Gracy nos exercícios.— Os dois saíram e fiquei sozinha com Michel.
Sem me olhar ele disse: —Sinto muito. —Eu me esforcei totalmente e me sentei. Ele perguntou: —O que está fazendo?
—Me exercitando. Não aguento mais ficar deitada.— Silêncio. Eu o olhei, ele desviou o olhar. —O que disse ainda á pouco é toda a verdade?— Pergunto.
—A verdade.— Ele disse envergonhado.
—Michel, eu... eu só queria ter ouvido a frase "eu te amo", em outra circunstância.
—E o que você falou quando acordou também é verdade?— Perguntou desconfiado.
—Sim... Eu te amo tanto... que eu te perdoo sim, mas ...— ele me olha encucado com o "mas".
—Mas...?
—Mas, eu não posso simplesmente voltar com você, eu preciso de um tempo, eu mereço este tempo.
—Eu entendo. Perfeitamente.— Então ele me olha com remorso. —É tudo minha culpa, você estar assim.— Não pude respondê-lo, Gabriel entrou com a sopa.—Acho que vocês também precisam conversar, creio eu que Gabriel tem muito a te falar também, espero que o perdoe também.— Gabriel e eu, o olhávamos estarrecidos. E ele saiu.
—Tudo bem?— Ele perguntou.
—Acho que sim. O pior já passou.
—Trouxe a sopa de Selena, e fique tranquila, estava perto quando ela a preparou, não colocou veneno algum.— Eu ri junto com ele, mas parei quando meu corpo se encurvou da dor. Ele percebeu e parou de rir também. —Espere uns segundos para esfriar um pouco.
Eu o olhei e perguntei. —O que Michel quis dizer quando ele saiu da barraca?
—Eu não sei o que ele quis dizer, mas eu realmente preciso te dizer algo.
—Diga!— Falei-lhe.
Ele me olhou com os mesmos olhos que me olhavam na noite da festa onde dançamos.
—Eu sou o culpado de tudo o que aconteceu.— Revirei os olhos.
—Todos estão me dizendo a mesma coisa. Ninguém é culpado. Talvez eu por ter estragado o acampamento.
— Gracy! Eu tentei separar você e o Michel desde o começo. A sua retirada do colégio na noite em que se conheceram, seu encontro no cinema, entre outros, e se eu não tivesse me metido na manhã onde você viu ele e a garota, talvez vocês resolvido a situação de uma maneira melhor.— A sopa esfriava perto de mim. E eu o fitava, sentindo alegria e raiva ao mesmo tempo. Alegria porque então ele se preocupava comigo, e raiva porque ele me fez entender que ele não se importava e tentou me afastar de Michel. —Bom, se tem alguém para não perdoar, este deve ser eu. Eu fui muito egoísta.
Lutei para que minha voz não saísse embargada, em vão. —Porque está me dizendo isto agora?
—Porque eu quase te perdi. E eu jamais conseguiria conviver com isto, se você não tivesse conseguido.— Ele encheu os olhos de lágrimas, eu também.
—Gabriel, eu não estou conseguindo acompanhar sua forma de agir, suas decisões e raciocínios, uma hora você parece me odiar, outra diz que não pode ser meu irmão, e agora nem mesmo sei o que está tentando dizer no final das contas.
—Eu sei, eu sei, acredite, a sensação que tenho é que estou morrendo por dentro a cada momento. Mas não podemos passar disso, eu não tenho respostas ainda. Eu queria concluir com um pedido, se é que sou digno de fazê-lo.
—Qual?— Perguntei.
—Volte com o Michel. Perdoe ele.
— Porque?
— Porque eu sei que ele te ama, e pode cuidar de você, ele já provou isso muitas vezes.
—Gabriel, se eu voltar com Michel, é porque realmente quero fazê-lo.— Terminei esta frase e Bárbara entrou.
—Querida coma sua sopa, já deve estar gelada.— E ela se volta pra Gabriel.
—Gabriel, Richard pediu para lhe chamar. Estamos decidindo algo.— Ele me olhou uma vez e saiu. Passei a tomar a sopa, que por sinal estava maravilhosa. Não tinha percebido o quanto estava com fome.
—Gracy, como está se sentindo? Bárbara perguntou.
—Bem melhor, mas não aguento mais ficar nesta barraca.
—Tome sua sopa, vamos dar uma volta lá fora depois.
A luz do dia ofuscou meus olhos, meu corpo ainda doía, mas estava bem melhor. Todos vieram me abraçar. Selena deu um aceno, eu a agradeci pela sopa. Fizemos uma roda em pé mesmo, e o Professor Richard me perguntou o que eu gostaria de fazer.
—Gracy, temos que tomar 1 de duas medidas, ou descemos agora para ir para casa, você repousa e podem até inventar uma outra forma de diversão. Ou subimos agora para o topo e terminamos nosso acampamento, o que não podemos é ficar no meio da mata por mais tempo, a resposta virá de você.
Era domingo bem cedo teríamos que voltar no fim da tarde, sem pensar muito eu respondi:
—Subimos com certeza!— Todos pareciam ter gostado, para eles o acampamento era quase um ritual. E conclui. —Vamos terminar o que começamos.
Todos ajudaram a desmontar as barracas enquanto eu fazia exercícios com os objetos de Alice, ela parecia minha médica, me chamando a atenção em alguns momentos. Eu ria. Começamos a subir, desta vez fui bem á frente, meus irmãos, Michel e Alice me rodeavam, algumas vezes paravam por mim, mas já estava me sentindo bem melhor, uma vez que o veneno saiu do meu corpo.Chegamos no topo, e na primeira baixada havia uma cachoeira que o planalto trazia com vontade, formando um maravilhoso lago.
Eu exclamei: —Que coisa linda! Podemos entrar?
—Acha que é uma boa idéia?— Bárbara perguntou.
—Olha tendo em vista que todos estão fedendo, sim!— Alice falou rindo.Estávamos dois dias sem tomar banho.
—Subir até aqui e não explorar isso? Você está brincando!—Falei e joguei minha mochila tirei meu casaco e tênis e com roupa e tudo me joguei.
Jean, Paul e Alice vieram logo depois, quando percebi que todos já estavam dentro do lago, com exceção de Richard e Bárbara que nos olhavam e riam. Um tentava afundar o outro, foi um início de tarde agradável, porém saímos logo para poder trocar de roupa e por fim nos aquecermos em uma fogueira, almoçar um cozido de carne seca que desta vez Bárbara fez. Então pela primeira vez estávamos na tarde linda e ensolarada, a postos para um luau antes de voltarmos, os violões de Michel e Paul foram removidos da capa preta, a percussão de Jean foi atinada, sentei no Meio de Gabriel e Alice e começamos nossa sessão musical, pude sentir vibrar, e a cada harmonia sentia a ligação que isso nos trazia, e o porque a banda era tão perfeita, era tudo tão claro, cada nota e sinfonia. Nossos olhares eram de amantes apaixonados por música e podia-se dizer, profissionais. Só paramos quando a maioria estava muito cansada. Eu estava tão descansada, que nem parecia estar moribunda fazia algumas horas atrás, Paul ainda tocava e ao lado dele Michel se aquietou. Fiz um sinal com os olhos para que ele me seguisse, e este o fez.
Fui até uma árvore próxima, e esperei de costas até escutar seus passos bem próximos a mim, então me virei. —Seu rosto ainda dói? —Perguntei notando que o inchaço havia quase sumido.
—Você me chamou aqui pra me perguntar isto?— Ele responde com outra pergunta.
—Também!— Eu disse me aproximando dele. —Michel, eu...—passei minhas mãos em seu rosto. Enchi os olhos de lágrimas. Ele também estava com um nó em sua garganta. Então ao invés de falar, o beijei, ele levantou suas mãos até então indiferentes ao meu rosto, e retribui o beijo novamente, agora as lágrimas saíam sem força de meus olhos. E só pude concluir com: —Eu te amo!— Ele me deu um sorriso tão genuinamente dele e disse:
—Eu também te amo!
Quando chegamos em casa no domingo perto do jantar, recordei do dia em que tão ansiosa esperava por meu irmão, e senti as mesmas emoções que aquele dia mas, com um tom de alívio, agradecendo por aquele dia ter passado e eu ter sobrevivido até então. Olhei para meus irmãos, e sorri.
—Você sobreviveu então!— Gabriel falou.
—Deu é um belo susto em todos.— Jean terminou.
—Bom, acho que precisava acontecer, sei lá, obrigada por terem ficado ao meu lado no acampamento.
Sra. Madalena abre a porta neste momento. Contamos tudo a ela e seu James, eles ficaram preocupados, mas aliviados por estarmos em boas mãos. O Professor Richard foi muito eficiente, talvez o pior teria acontecido se ele não estivesse lá.
Jantamos e nos rendemos ao cansaço depois de um bom banho, a próxima semana já era de aulas, e começaríamos também ensaios para o campeonato musical, sem contar que Gabriel começaria a trabalhar. Gabriel não precisaria trabalhar mais ele o quis. Fico pensando se eu também não deveria trabalhar. Até mencionei o assunto com a sra. Madalena, mas ela disse que meu pai enviava dinheiro o suficiente para arcar com minhas despesas e de Gabriel . Meu pai... onde será que ele anda, fazia quase 3 meses que não o via.
—Bom dia!?— Jean foi entrando no meu quarto. —Queria ver se está tudo bem com minha irmãzinha antes de ir para o colégio, quem sabe ganhar um abraço de boa sorte.— Jean estudava ainda no Primeiro período, diferente dos outros da banda. Ainda na cama, abri os braços e lhe dei um abraço bem apertado.
Fomos interrompidos, quando Gabriel também entra falando. —Está na hora de arranjar uma namorada né cabeção!?— Jean fingi dar um soco nele, e começa a rir.
—E você, tentar não espantar as suas.— Jean rebate.—Vou indo, nessa, nos vemos no almoço Gray?— Jean pergunta.
—Sim claro! Até mais.— Todas as segundas, a banda almoçava no restaurante Amom, mas como não estudavam no primeiro período, resolvi ir mesmo assim com Jean. Gabriel me olha e antes de ele dizer que também está saindo, eu pergunto: — E Vasti, como está?
—Não sei, terminamos naquela tarde.
—Humn, bom, tenho que confessar que estou mais aliviada.
Ele me olha fixo e pergunta: — Por que, acha que eu não sei me cuidar?
—Não, não é isso, só acho que ela não era boa o suficiente pra você.
—Se eu não tivesse que ir, perguntaria quem seria boa suficiente pra mim.
Respondo rápido: —Não sei, só sei que ela não é.
Ele sorri e diz tchau. Por um segundo pensei em como seria bom se eu também pudesse lhe dar um abraço. Paciência.
Meio dia em ponto estava esperando Jean no Restaurante Amom, quando vi, Alice, Arthur, e Michel entrarem. Parece que eles também estavam com certa pena de Jean sozinho. Jean chega e vejo o quanto fica feliz. Michel senta ao meu lado e me dá um breve beijo, seu rosto está agora levemente marcado, agora não conseguia acreditar que Gabriel tinha batido tanto nele. Após o almoço resolvemos ele e eu dar uma volta na pracinha.
—Gray, posso te fazer uma pergunta? Já fazendo claro... quer dizer, eu sei que você me ama, e que realmente me perdoou, mas... porque decidiu voltar comigo?
Analiso-o pra ver se ele não tinha se arrependido, notando que não é esse o motivo da pergunta, respondo. —Eu voltei porque eu tive o tempo que eu te pedi, e vi o quanto você me respeitou neste tempo, por mais breve que ele tenha sido, e as suas palavras, foram tão verdadeiras naquela barraca que eu não parei de pensar nelas. Naquele momento eu estava tão vulnerável, qualquer coisa mal feita me tiraria a vida, e ainda assim você declarou seu amor por mim, eu tive aquele tempo pra pensar o quanto eu te amo, e como eu preciso desse seu amor por mim.— Ele me beijou... me abraçou e disse:
—Você é o meu anjo.— Ficamos ali por um bom tempo.
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