𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 5 - 𝕴𝖌𝖓𝖔𝖗𝖆𝖓𝖈𝖎𝖆 𝕻𝖊𝖗𝖎𝖌𝖔𝖘𝖆
"Os olhos são a janela da alma, eles dizem. Não... A alma é única e só pode ter uma única vertente; bem ou mal. Os olhos são as palavras do coração. Transparecem os sentimentos mais intensos do momento, abreviam milhares de palavras em segundos e podem ler ou entregar qualquer pessoa, basta saber usá-los direito."
Lucy Vaughan
É chegada a tão temida segunda-feira. Helen pede para que meu pai e eu levemos Ivan e Yasmim conosco para a escola e assim o fazemos. Ela disse que ainda precisa resolver algumas papeladas e que o marido abrirá o restaurante cedo a partir de hoje. Ao chegarmos no carro eu me sento no banco da frente ao lado do meu pai, enquanto meus dois vizinhos se sentam nos bancos de trás. Ivan, como sempre, com sua expressão indiferente e séria que destoa totalmente do resto da família, é ofuscado pela irmã que não para de falar um minuto.
— Lucy, como é a escola? As pessoas são legais? E os professores? Eles são bravos ou calmos? Lá tem um pátio grande? E como é... — Ela é abruptamente interrompida pelo irmão.
— Yasmim fica quieta, pelo amor de Deus! São 06:50 da manhã e você tá com um pique tão forte que parece ter tomado 4 litros de energético!
— Ah, para de ser chato! Eu só estou curiosa porque eu não fui à escola com a mamãe. — Retruca a irmã, que volta a se sentar com os braços cruzados e uma careta de chateação na cara. Eles passam a viagem toda discutindo, típico de irmãos.
Chegando na escola respiro fundo e peço aos céus paciência, hoje não será fácil. Descemos e eu me despeço do meu pai. Não demos nem 5 passos e posso ver Saulo e sua "gangue" vindo em nossa direção.
Eles são 5, Saulo é o principal. Não sei o nome dos outros 4, apesar de eles estudarem comigo há 1 ano. Eu e meus amigos os identificamos por números: capanga 1, 2, 3 e 4. Eles são incrivelmente burros e machistas, vivem mexendo com as meninas e a escola não faz nada! Pra minha sorte eu nunca passei por isso porque eles me acham "gorda e bruta." O único que me importuna é o próprio Saulo, que começou a fazer isso repentinamente há um mês. Todo dia sinto que estou prestes a socá-lo, mas isso não aconteceu... ainda.
Apesar de não me intimidar com a presença infame deles, não posso evitar de ter uma má impressão sobre esse encontro que está por vir. Sabendo que não teremos tempo para sair correndo e nem nada do tipo, eu me dirijo à Yasmim.
— Yasmim... — Me curvo para ficar da sua altura e aponto para frente — está vendo aquela senhora grisalha de blusa vermelha? Então ela é uma inspetora, vai lá com ela e ela vai te ajudar na escola, ok?
— Está bem. — A menina sai em dispara com uma alegria resplandecente.
— Por que fez isso? — Pergunta Ivan, enquanto olha para irmã para ter certeza da segurança dela.
— Porque a coisa pode ficar feia. — Respiro fundo e tenciono os lábios enquanto aponto a presença deles com a cabeça para Ivan, que logo os vê.
— São os caras que me encontram no dia em que vim aqui com... — Ivan é interrompido pelo rojão que foi a elevação de voz de Saulo.
— Lucy, que bom te ver. Você está linda hoje — Ele passa o braço em torno dos meus ombros, o que me dá náuseas.
— Olha, obrigada pelo elogio, mas eu realmente quero que você mantenha-se distante de mim! Respeite o meu espaço! — Peço enquanto tiro seu braço de cima de mim e o empurro de leve.
— Ok, ok, princesa. — Ele ergue as mãos como quem diz "eu não fiz nada". Ivan dá um longo suspiro, que foi alto o suficiente para chamar a atenção de Saulo, enquanto retira os óculos escuros para entrar na escola. — Quem é o seu ami... Que merda é essa?! — Ele alarma, incrédulo ao olhar para os olhos de Ivan. — Então você é aquele demônio! Tá fazendo o que aqui?!
— Bem, eu estou uniformizado e na frente de uma escola. É, acho que vim fazer um churrasco. — O sarcasmo de Ivan visivelmente deixa Saulo irritado, o que o faz começar a crescer para cima do meu acompanhante, que faz o mesmo. Mas, ao contrário de Saulo que está metralhando meu vizinho com os olhos, Ivan permanece com uma expressão impassível e seu olhar frio habitual.
— Vejo que temos um demônio comediante. Você é algum tipo de bobo da corte do inferno? — Esse comentário é o suficiente para fazer as hienas de estimação dele começarem a rir de forma exagerada - forçada, eu diria.
— Não, eu não sou comediante, mas parece que você é. — Com esse início de resposta os lábios de Saulo se tornam uma linha fina e comprimida de raiva. — Você deve ser o palhaço da turma já que fez esses caras rirem como hienas com uma única piadinha de mal gosto, apesar de que essas risadas foram bem forçadas.
Você escutou meu pensamento, por acaso, Ivan?
Ele faz um sorriso sutil e carregado de deboche crescer pelo seu rosto antes de se curvar para o lado e se dirigir aos capangas.
— Quanto esse cara paga para vocês serem amigos dele, hein? — Sinto vontade de rir, mas o frio na minha barriga me lembra da encrenca em que ele está se metendo.
— Escuta aqui, seu merda! — Saulo agarra a gola do uniforme de Ivan e tenta levantá-lo. Seu rosto está desfigurado de raiva e seus punhos estão tão fechados que suas unhas devem estar fincando na palma da mão. Parece que eu sou a única pessoa que pode intervir nessa idiotice, visto que o resto das pessoas que se aproximaram para ver a briga não devem ter a mínima pretensão de fazer isso.
— Ok, agora já chega. — Passo por baixo de um braço do agressor e me coloco no meio dos dois e estico meus braços, os empurrando para longe.
— Vai mesmo defender esse capeta, Lucy? — Saulo começa a se afastar violentamente enquanto continua gritando. — Ele vai te possuir e te fazer coisas horríveis! Você vai ter que ser exorcizada por causa dele!
— Santa ignorância... — Digo já cansada e estressada com toda essa palhaçada.
— Que santa é essa? — Diz o capanga 2.
— Puta merda, vai ser burro assim lá na casa do cacete! — Perco a paciência com toda essa situação ridícula e me volto para Ivan — Vem, vamos embora, eles não valem nosso tempo, só tem merda na cabeça! — Pego ele pela mão e o arrasto até o portão, deixando os otários da "Santa Igreja" falando sozinhos.
Enquanto andamos até o pátio de entrada da escola eu começo a pensar na loucura que eu acabei de fazer. Eu apartei a briga entre dois armários me colocando no meio deles! Se minha mãe soubesse disso iria surtar e logo depois me daria uma bela bronca por, de novo, ser tão impulsiva e ter essa "Síndrome de Mulher-Maravilha."
— Para de me puxar! — Ivan se solta bruscamente e ao fazer isso massageia sua mão vermelha. Estava tão nervosa que devo ter apertado demais.
— Você enlouqueceu? O cara é quase o dobro de você em músculo e você quer brigar com ele? — Me exalto.
— Em primeiro lugar; ele não ia fazer nada comigo. E em segundo lugar; fala mais baixo porque tem gente olhando. — Sua grossas sobrancelhas voltam a se franzir em estresse, que novidade. Decido respondê-lo à altura.
— Em primeiro lugar; é, talvez ele não fizesse nada com você além de te esmagar como um inseto! E em segundo lugar; Vai à merda! Se eu estou falando alto é porque tudo o que você fez desde que nos conhecemos foi me irritar e me deixar nervosa!
— Eu sei me virar Lucy, não preciso das suas "broncas de proteção", sou racional.
— Bem, não foi o que pareceu! Vocês pareciam dois leões se encarando e prestes a se atacarem. Você pode até ser racional, mas ele não é.
— Tô nem aí, é só ignorar ele. — Ele dá de ombros e, com as mãos nos bolsos, me dá as costas e começa a se afastar.
— Acha mesmo que ele vai te deixar em paz? Pra eles você é uma ameaça, a escola inteira acha realmente que você é um demônio, não vão te deixar em paz. — Seus pés param de se movimentar e eu entendo que seus ouvidos estão comigo. — Até que você esteja adaptado a esse lugar, vai precisar de mim. E também tem a sua irmã, como acha que ela vai reagir ao ver as pessoas te xingarem? Faça isso por ela. — Ele se vira em minha direção com seu olhar colorido como se estivesse travando uma guerra interna entre seu orgulho masculino e o amor por sua irmã.
— Tudo bem, mas só por um tempo. — Ele estende a mão como se estivéssemos fazendo um acordo. Seus lábios comprimidos mostram seu desgosto em estar aceitando isso.
— Só por um tempo — Apertamos as mãos e vamos em direção à sala de aula.
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