𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 29 - 𝕯𝖊𝖘𝖊𝖘𝖕𝖊𝖗𝖔 𝖉𝖊 𝕮𝖔𝖚𝖗𝖔
🚫Atenção: Esse capítulo contém cenas que podem ser gatilhos emocionais e psicológicos. Tudo que acontecer nesse capítulo será comentado brevemente mais para frente, então sinta-se a vontade de pular esse capítulo caso necessário. NÃO LEIA SE ISSO FOR ARRISCADO PARA VOCÊ.🚫
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"E então o sábio disso à seus homens 'A pior morte não é a sangrenta, a violenta ou a demorada. A pior morte é a espiritual. Estar vivo e, ao mesmo tempo, morto. Ter saúde, mas estar doente. Ser luz, mas estar na escuridão palpável do desespero."
Lucy Vaughan
— Estou enjoada. — Aviso minha tia, que está no comando do cavalo. Minha voz sai em um tom de suplica que já está presente em minhas poucas falas desde aquele dia.
— Tome um pouco de água de querida. — Ela tira a garrafa de pano que estava em seu cinto e me entrega, mas só depois de me fitar com seus olhos esmeraldas que estão cheios de preocupação.
— Obrigada. — Dou um gole pequeno e vou tomando a água aos poucos para não piorar meu enjoo. — Quanto tempo falta para chegarmos? — Minhas pálpebras já estão se fechando quando faço essa pergunta. Não tenho motivos para estar com sono no meio da tarde, e eu não estou com sono, mas o meu cansaço repentino fala mais forte e vem me apagando várias vezes ao dia, me fazer ter os piores pesadelos possíveis.
— Esta noite, se tudo correr bem. — Sua voz sai como um sussurro pena.
— Que bom. O povo já deve estar preocupado com nosso atraso.
— Certamente... — Minha tia faz uma pausa inquieta em sua fala, como se não tivesse coragem de me perguntar algo. — Tem certeza que é no povo que você está pensando, Lucy?
— São as únicas pessoas que eu vou poder garantir o bem-estar, então sim, é neles que eu estou pensando. — Ela se cala em um silêncio pesado e quando eu estou preste a voltar a dormir, o choro de um pequeno ser humano desperta meu cérebro. Abro apenas um olho e lá estão a nova família feliz. O marido de Haiah está com a bebê no colo e eles parecem não saber o que a filha quer.
— Será que ela está com fome? — Ele indaga, completamente perdido com sua paternidade.
— Não, eu acabei de amamentar ela. — Agora a criança está nos braços da mãe, que a balança para tentar acalma-la.
— Ela está com cólica. — Alerto.
— Como você sabe disso? — Ela se aproxima do cavalo em que estou sentada e eu aproveito a pouca velocidade do animal para descer de seu traseiro em um pulo bruto, o que me causa mais enjoo, para conversar melhor com Haiah.
— Minha mãe já trabalhou em loja de roupa infantil e as vezes reclamava da imprudência de algumas mães. Você tem que virar ela de bruços no seu antebraço pra esquentar a barriguinha dela. – Ela segue minhas dicas e logo a neném para de chorar e acaba dormindo. — Passei tanto tempo cansada que nem conseguimos nos falar. Qual é o nome da pequena?
— Katherine. É o nome da falecida mãe de Anthony. — Ela sorri para sua filha com um sorriso caloroso.
— É um lindo nome, sem dúvidas. — Continuamos caminhando em silêncio, até Haiah falar algo que ela parecia querer me falar a um tempo.
— Lucy, eu e o Anthony estivemos pensando e queríamos se você aceita... — Nesse momento, interrompendo sua fala, Rutts assovia muito alto para chamar nossa atenção.
— Peço a atenção de todos! Já estamos conseguindo ver um pouco do grande castelo, mas tivemos notícias que o povo está com problemas de desordem financeira e também estão muito inquietos com a ausência do rei. Por isso nós precisamos ir mais rápido enquanto o Sr. Lingston e Lucy vão na frente com os cavalos para acalmar o pessoas e ter tempo para tentar organizar as coisas no reino. — Minha tia vem até mim segurando as rédeas de Tzar, o cavalo que eu tinha escolhido. Acaricio seu pelo ralo e preto como a noite e ele relincha em um resposta positiva ao meu carinho.
— Fiquem bem. — Falou para Haiah e seu marido, que acabou de surgir ao lado dela. Eles confirmam com a cabeça e parto em direção à Renne, que já está a minha espera.
— Você está bem? — Pergunta ele em um tom de voz que se assemelha a de um pai. Levanto minha sobrancelha em um leve deboche porque tenho certeza que minha cara já diz exatamente como estou.
— Se o seu "estar bem" significa não estar prestes a desmaiar, então sim, eu sou ótima. – Ele aperta os lábios e se põem em silêncio, cortando as palavras de conforto que pretendia me dizer caso eu dissesse que estava mal, que é o que ele esperava. – Por que tenho que te acompanhar nessa corrida até a cidade.
— Como Rutts disse, o povo está inquieto e preocupado, então quanto antes chegarmos, mais rápido a poeira vai abaixar. E eu pedi para que você viesse comigo para que a primeira visão de calmaria que eles tiverem sejam o Rei e a futura Rainha. Assim eles se acostumam e criam empatia por você. — Ele está mesmo tentando me desmerecer como se eu fosse um bicho do mato que não sabe conversar? Me surpreendo com a frase e sinalizo o canto da minha boca. — Minha boca está suja?
— Sim, é que seu veneno egocêntrico acabou escorrendo quando você cuspiu essas palavras narcisistas. — Renne se enfurece, mas procura não demonstrar, então simplesmente pega as rédeas de seu cavalo malhado e começa a correr. Eu e Tzar vamos logo atrás deles e não demora muito para chegar no reino.
Ao nos aproximarmos dos portões os soldados que o guardavam anunciam nossa chegada, ou melhor dizendo, a chegada do "MAGINÍFICO E DIVINO REI, SENHOR LINGSTON, SALVAODR DAS TERRAS DE SANIH RADII E PROTETOR DO POVO DE ANGALES e de sua herdeira, a Guardiã Lucy Vaughan." Apesar do abismo existente, até em anúncios, entre mim e Lingston, eu permaneço com a minha cara habitual dos últimos dias, a de morte. Mas mudo minha feição quando vejo os olhares de raiva que me estão direcionados. As pessoas cochicham e murmuram entre si, mas sem parar de me fuzilar com o olhar. Nesse momento minha cabeça, que já estava à mil, começa a borbulhar em busca de uma explicação para tais reações, enquanto eu permaneço olhando fixamente para o nada para que meu olhar não cruze com o de ninguém.
Atravessando as grandes portas do castelo, peço licença para Renne e vou diretamente meu quarto para tentar descansar e acabar com esses enjoos que voltaram com tudo. Já estou no corredor frio e vazio de mármore quando começo a ter um montante de lembranças. Me lembro de Ivan, dos meus amigos, de Dylan, de Yasmim, dos meus pais, de todos que me foram tirados e começo a sentir um aperto no peito e a minha ansiedade me causa um calor no corpo. Abro a porta com as mãos fracas e vou me arrastando até a sacada para pegar um vento, mas só faço minha situação piorar ao ver o bracelete que Ivan usava e embaixo uma carta. Abro a mesma e vejo que nela tem várias fotos e a letra de Ivan no papel. "Sei que você não está bem, então achei que algumas boas memórias pudessem te ajudar. Desfrute delas com carinho". As fotos caem no chão e eu simplesmente desabo. São várias fotos minhas com meus amigos e com os meus pais. Quando eu fui em um shopping e fiz um desafio de foto com o Jean. A minha festinha do pijama com a Carla. Meu aniversário de 15 anos com a minha família. Eu e o Ivan no clube jogando água um no outro. Eu abraçando meu cachorrinho, meu pipoca.
— HAAAAAAAAAAAAAAAA. — Pressiono minha fotos contra o peito e me curvo sobre meus joelhos. — EU DESISTO! EU PERDI TUDO! EU QUERO A MINHA VIDA DE VOLTA! — Me encolho em um canto e abraço minha pernas. Eu estou me afundando em um mar de lágrimas que não são capazes que acabar com um terço da minha tristeza. O ar parece estar relutante em entrar em meus pulmões, não importa o quanto eu o puxe e minha cabeça está recebendo várias pontadas pesadas.
Levanto meu rosto e olho para a sacada, que é muita alta por sinal. Eu imagino o vento no meu cabelo, a gravidade me puxando, a linda imagem das nuvens se unindo, e, por fim, o impacto, o fim de toda essa desgraça que só me destrói há um mês e que com certeza vai continuar me destruindo. Eu quero ir até a sacada, mas não tenho forças para andar e meus olhos estão inchados demais para que eu veja alguma coisa com clareza, então eu apenas permaneço lá, parada, gritando, com minhas mãos molhadas pelas lágrimas que eu tentei secar e o suor, com meu peito arfando fortemente. Sinto a raiva se misturar com a minha tristeza e a única coisa que eu faço é começar a balançar enquanto eu aperto meu couro cabelo, o que me faz perder muitos fios.
Que dor, meu Deus...
— Deus? — Sussurro. — Essa merda não existe... Você não existe! — Levanto meus olhos, ardendo em lágrimas, para o céu acinzentado. — Me disseram que você era proteção... MAS ONDE VOCÊ ESTAVA QUANDO EU PRECISEI? — Minha garganta parece fechar, o ar já se esvai de mim. — Eu prefiro morrer a acreditar em um Deus que precisa ser idolatrado ao extremo para dar um pouco de amor aos seus "filhos".
Estou enlouquecendo. Vou enlouquecer, isso é fato. Nem sei se o que estou falando ou pensado é certo, mas eu acho que nem me importa. Nenhuma punição divina superará minha dor atual, até porque é visível que sendo bom ou mal, você será castigado de qualquer jeito.
Nunca pensei que passaria por isso de novo, eu realmente achei que já tinha matado todos os demônios que me perturbavam, mas, aparentemente, eu só coloquei eles para dormir. – Alguém me ajuda...
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