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𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 28 - 𝕻𝖆𝖘𝖘𝖆𝖌𝖊𝖒 𝖕𝖆𝖗𝖆 𝖔 𝕴𝖓𝖋𝖊𝖗𝖓𝖔

       "Hipnotizada pelas chamas do bendito fogo que me carboniza ao ritmo de minhas risadas. Mergulhada no mar de sangue que me encharca a garganta. Pintada nos espinhos das cataratas e nas pétalas cortantes. Meu sangue, meu fruto. Minha dor, minha vitória. Minha dádiva. Minha morte."


Lucy Vaughan

Perdida em meio a escuridão de meu subconsciente, sinto meus sentidos entrarem em ação para me despertar do meu desmaio repentino. Minhas mãos me dizem que estou em uma cama com lençóis de algodão e meus ouvidos me alertam sobre a presença de mais pessoas nesse quarto. Abro um pouco meus olhos e vejo as imagens embaçadas de Rutts, Renne, Tia Maggie e Theodora. Ao meu lado está uma figura de cabelos preto como ébano e um bracelete grosso de couro. Ivan está no chão debruçado em minha direção e usando seu braço esquerdo como travesseiro. Ele está profundamente adormecido, apesar da posição desconfortável, com certeza ele dormiu muito mal nesses dias de tensão.

   — Precisamos começar a evolução do treinamento de Lucy o mais rápido possível. — Fecho os olhos no momento em que ouço a voz de Renne para fingir que estou dormindo e continuar ouvindo a conversa.

   — Sim, sem dúvidas. Mas e quanto a Ivan? — Questiona Rutts.

   — O que tem ele?

   — Precisamos organizar algo pra ele. Já há um abismo de diferencia entre os dois em relação a força. Se evoluirmos o treinamento dela e o deixarmos no básico, ele será visto como um peso para o reino e o povo pode pedir a expulsão dele. — Exclama Rutts

   — Ivan entende muito bem as próprias condições, Rutts. E, além disso, o povo nem o conhece.

   — O povo ainda não o conhece. Renne, ele é um adolescente de 17 anos, uma hora ele vai querer sair e ir até o vilarejo, seja em um festival ou só para dar uma volta, e aí as pessoas vão vê-lo, vão ver seus olhos.

   —... Elas verão a denúncia de seu sangue. — Renne se cala para dar espaço aos seus pensamentos estratégicos. — Terei que dar uma ordem aos guardas para que não o deixem sair do Castelo.

   — Você acha mesmo que ele vai aceitar passar a vida inteira trancado dentro de um Castelo? Por Genevèive, Renne, você já foi mais esperto! Esqueceu que no momento em que pisarmos no reino a sua abdicação será preparada junto com a coroação de Lucy.

   — Eu jamais esqueceria disso Rutts, mas o que uma coisa em a ver com a outra?

   — Lucy ama ele! — Nesse momento meu coração, que já estava muito acelerado com toda essa conversa, pula do meu peito, e, como se estivesse sendo empurrada, minha mão toca suavemente a de Ivan e logo se uni à mesma. — Ela nunca o manteria trancafiado como um prisioneiro se visse que isso faz mal à ele, o que provavelmente vai acontecer.

   — Então o que você sugere? — Indaga Renne.

   — Sugiro que façamos o Therazi e que você me permita preparar um treinamento exclusivo para ele.

   — Você enlouqueceu? Sabe muito bem como esse procedimento funciona e...
— Rutts o interrompe.

   — É exatamente por isso que estou sugerindo o Therazi. Tenho certeza que Ivan aceitaria faze-lo, ele tem um espírito forte. — Renne volta a se calar perante a argumentação de do meu treinador e logo solta um suspiro.

   — Por que não esperamos até chegarmos no Castelo? — Agora é a vez de minha tia intervir na conversa.

   — Para que? — Questiona Rutts.

   — Para observarmos ele. Vermos se ele é de total confiança e se estaria realmente disposto a fazer isso. — sugere, minha tia.

   — É uma boa ideia, mas o procedimento é muito demorado para ser preparado. Se decidirmos isso hoje, nós podemos enviar uma ave até o reino e eles já podem dar início aos preparativos primários. Se esperarmos até a nossa chegada o Therazi só estará pronto depois da coroação de Lucy. — Renne argumenta.

   — E qual é o problema de isso ser feito depois a coroação dela? — O tom de voz de minha tia é carregado um ar mais grave, como se estivesse suspeitando de algo.

   — Seria a primeira decisão dela como rainha. É algo muito grande para iniciar um reinado, ela não tem maturidade o suficiente para isso.

   — Permita-me discordar disso Sr.Lingston. — Agora é a vez da voz estridente de Theodora tomar o quarto. — Apesar de ser uma atitude real de peso, eu acho que será o começo perfeito para ela, já que, com base em sua decisão, nós saberemos que tipo de rainha ela será.

   — Bem, nós temos um pouco de tempo ainda. Podemos nos reunir quando os dois acordarem e decidir isso em grupo. — Diz Rutts, encerrando essa pauta.

   — Está bem. Agora voltando ao assunto dos treinamentos, como nós vamos introduzi-los? — Essa pergunta é séria Renne?

   — Introduzindo. Eu vou chegar e falar "Ok Lucy, agora o treinamento vai ser intenso e vai te levar para um outro nível. Prepare a toalhinha porque você vai suar."

   — Ah claro, por que você não aproveita e diz "Vamos fazer isso porque querem te matar e você precisa se defender da magia deles." Pense um pouco Rutts, como você vai contar para uma adolescente que não conhece metade desse mundo sobre o perigo que a vida dela corre? — Renne está exaltado, visivelmente cansado desse assunto.

   — Eu já sei que a minha vida corre perigo, Renne. Não sou a tonta que você acha que eu sou. — Ressalto, finalmente dando o ar da graça e acabando com esses achismos. Me levanto lentamente da cama, ainda com a minha mão sobre a de Ivan, que tem o sono mais pesado que eu já vi. Ele não acordou quando eu toquei a mão, não acordou com a discussão e nem com o meu movimento agora. Ou ele está desmaiado ou morto.

   — Lucy! — Minha tia vem rapidamente em minha direção e se põem ao meu lado, com a preocupação estampada em seu rosto bronzeado. — Você está bem? Como está se sentindo? Alguma dor ou desconforto?

   — Desde quando você está acordada? — Pergunta Theodora.

   — Já faz um tempo. — Falo sem olhar para ela já que estou focada em acalmar a minha tia. — Ivan... Acorda. — Me viro na direção dele e passo a mão em seus cabelos pretos e grossos para desperta-lo. Ele abre os olhos preguiçosamente e demora para se localizar no ambiente, mas logo depois de se achar, ele segura a minha mão e a acaricia.

   — Ficamos felizes em ver que você está bem, Lucy — Diz Rutts, com os braços cruzados, só pra variar. — Você dormiu por um dia inteiro depois do desmaio. Você está bem mesmo?

   — Sim, só estou com fome.

   — Eu vou pedir pra fazer algo para você comer. — Assim minha tia sai, apressadamente, do quarto.

   — Por que eu desmaiei? — Dirijo minha pergunta para Rutts, que assim como todos os adultos aqui presentes, não esperava essa pergunta de repente.

   — Acreditamos que tenha sido a rosa. A marca da iniciação. — Renne se senta em uma poltrona perto da cama e se aconchega para continuar a explicação. — Quando seu pescoço foi marcado nós não te explicamos tudo sobre a marca, não vimos necessidade na época.

   — Vocês me esconderam mais uma coisa? Que novidade, — Dou uma risada irônica perante essa situação frustrante.

   — Nós não lhe escondemos nada senhorita Vaughan. Nós apenas seguimos o regulamento. — As palavras esnobes de superioridade de Theodora trazer um gosto amargo na minha boca. Essa mulher é desgastante!

   — Eu não ligo para o regulamento! É o meu corpo que foi marcado e que parecia estar em chamas e fui eu quem desmaiei na frente de dezenas de pessoas. Eu tinha o direito de saber as consequências que isso poderia trazer para o meu corpo e vocês me negaram isso! — Começo a me exaltar, mas logo me acalmo ao sentir a mão de Ivan sobre o meu ombro. Ele olhar como se estivesse dizendo "Cuidado para não falar alguma besteira." O clima fica um pouco pesado e o silêncio pária por um instante até ser quebrado por Renne.

   — Está bem Lucy. Você quer saber sobre a marca? Então eu vou te explicar. A marca da rosa serve como um potencializador para nossas habilidades. Ele funde a magia com o nosso sangue e aumenta nossa força, nossa velocidade e nossa agilidade. Mas ele tem uma ativação um pouco... diferente.

   — Que seria? — Eu Pergunto.

   — Para ser ativada é preciso que você risque sua marca com seu sangue. Muitos nós costumamos fazer um corte em um dos dedos para ativa de forma mais simples.

   — E qual é o preço disso? — Pergunta Ivan, que se sentou ao meu lado sem que eu percebesse, o que me causou um leve susto.

   — Como assim Ivan? — Indaga Renne, que parece estar realmente confuso com essa pergunta.

   — Tudo nessa vida tem um preço e eu não acredito que um símbolo mágico que é diretamente ligado ao corpo humano não cause nenhum tipo de dano.

   — Haha, calma Ivan. Não precisa ficar tão preocupado. — Renne ri genuinamente. — Sei que muitas coisas no mundo tem consequências, mas o uso da marca não traz prejuízos. Pelo menos, nunca trouxe até hoje. — Ele olha para mim com um olhar tenso, perdendo parte de seu sorriso.

   — Então por que a marca teve efeito em mim?

   — Achamos que é justamente pelo seu sangue. — Responde Rutts. Eu levanto a sobrancelha, em dúvida com sua fala. — Seu sangue não é como o nosso Lucy. Nós temos uma pequena porcentagem do sangue Malach dentro de nós, mas você tem 100% desse sangue. Acreditamos que essa junção seja a causa de seu desmaio, já que seu corpo, aparentemente, não estava totalmente pronto para ser marcado.

   — Mas por que naquele momento? Eu poderia desmaiar em qualquer outro lugar.

   — Isso nós só vamos descobrir quando chegarmos no reino e estivermos com os livros sobre o assunto em mãos. — Solto um longo suspiro perante a falta de respostas concretas que recebi. De novo eles me colocaram em risco sem que soubessem. De novo eles me esconderam coisas que eu precisava saber e me explicaram com meias palavras. Isso já está começando a me irritar.

Um tempo depois, minha tia volta para o quarto com uma bandeja azul que traz algumas torradas com geleias e um copo de suco de laranja. Não é muita coisa, mas eu sei que não é bom fazer uma refeição grande depois de tanto tempo apagada. Enquanto como todos que estavam presentes saem do quarto, exceto Ivan, que está sentado ao meu lado e aparentemente não vai desgrudar de mim tão cedo.

   — Está brava com o quê? — Diz ele de uma forma repentina com uma voz baixa e grave.

   — Eu não estou brava com nada.

   — Está sim. Seus ombros estão tensos, seu olhar está distante, sua sobrancelha está franzida e você está murmurando alguma coisa. É, você está brava.

   — Você observou tudo isso em 15 minutos? — Solto uma risada frouxa que parece alegra ele também.

   — E pelo seu sorriso agora eu posso presumir que você não está brava comigo. — Ele faz uma pausa e logo de olha um pouco assustado. — Você não está brava comigo, né?

   — Hahaha — Ok, agora eu não consegui segurar a risada. A cara de desespero dele foi hilária. — Não Ivan, eu não estou brava com você.

   — Ufa, estou salvo. — Ele passa o braço pelo meu ombro enquanto me olha carinhosamente. — Então o que foi? O que está te deixando estressada?

   — Renne. Rutts. Aquela vaca da Theodora. Eles sempre mentem para mim. Escondem coisa que eu preciso saber e nunca me explicam nada direito. Me tratam como se eu fosse uma idiota.

   — Às vezes eles só querem te poupar do estresse. Esse mundo é todo confuso e complexo, não deve ser fácil explicar tudo de uma vez.

   — Eu sei que é muita coisa, mas ele tem que lembrar que é graças à eles que eu vou me tornar a Rainha de Sanih Radii quando voltarmos. Como eu posso ser Rainha sem nem ao menos entender como as coisas realmente funcionam. Eu só sei o pouco que li na biblioteca.

   — E vale lembrar que você nem conseguiu ler tudo por causa daquele monstro.

   — Pois é. — Fico tensa por mais um tempo até decidir dispersar esses pensamentos revoltante. Me viro para Ivan e o encaro, examinando todos os traços do seu rosto. Seus olhos coloridos me acalmam instantaneamente e me fazem mergulhar em seu olhar. Levo minha mão para o seu rosto e passo o dedo pelos seus lábios finos e avermelhados. Ele com certeza não está entendendo o que eu estou fazendo, na verdade nem eu estou entendendo, mas ele permite que continue enquanto me puxa pela cintura para mais perto de seus corpo.

   — Você mudou bastante. Era tão bravo e irritante. — Rio me lembrando do trabalho que ele dava para todos. — Agora você é amoroso e cuidadoso, apesar de ainda ser bem cabeça quente.

   — Tem certeza que você não acabou de se descrever? — Ele retribui a risada e me tira um sorriso ainda maior. — Mas e então? O que você achou dessa mudança?

   — Bem, eu estou nos seus braços com nossos rostos à poucos centímetros de distância agora. Acho que isso já é uma boa resposta, você não acha?

   — É uma ótima resposta. Mas sabe o que realmente estou achando agora?

   — O que? — Ele aproxima ainda mais nossos corpos, colando-os de vez.

   — Acho que nós deveríamos acabar com essa distância que você falou. — Sem mais demora, ele uni nossos lábios e nós nos entregamos completamente à esse beijo.
No entanto nossa diversão é cortada - como sempre - quando o copo de suco cai no chão devido ao balançar a pesada cortina, que acaba no assustando. Ivan se levanta para pegar o objeto e eu me levanto em seguida para tirar essa camisola branca em que me colocaram e trocar de roupa, mas paro no meio do caminho para tentar limpar um manchinha que está na roupa.

   — Você está mais tranquila agora não é? — Ele está apoiado na pequena mesa perto da janela com a cabeça um baixa, mas posso ver seu rosto convencido que conheci a um bom tempo.

   — O que te faz achar isso? — Pergunto cruzando os braços, já esperando mais uma de suas deduções.

   — Você com um sorriso leve no rosto, seus ombros não estão tensos e seu peitoral está relaxado. — Entendo o que sua fala quis dizer e olho mais atentamente para a camisola e percebo que ela é tão branca que tem um pouco de transparência. Quando volto meu olhar para Ivan ele levanta o canto direito da boca em um sorriso tendencioso e os olhos, Principalmente o vermelho, queimando de malícia.

   — 1° Para de me analisar! 2° Eu sei muito bem que a palavra que passou pela sua cabeça não foi "peitoral", ok? – Ele ri da minha indignação cômica. – Você é um pervertido, sabia?

   — Ah, eu sou um pervertido? Você fala como se fosse santa. — Levanto uma sobrancelha em deboche. — Sua mente é tão impura quanto a minha. Acha que eu esqueci das piadas que fazíamos na escola — Ele se aproxima de mim até quase colar nossas testas. — Acha que eu esqueci de como você me secou com olhos no dia da piscina. — Agora esse filho da mãe me desarmou. Sinto minhas bochechas queimaram e ele interpreta como uma deixa para um beijo, que eu impeço colocando minha mão entra nossos lábios.

   — É melhor não começarmos algo que não vamos poder terminar com calma. — Dou um beijo no canto da sua boca para provoca-lo e vou em direção ao trocador. Quando olho para trás vejo ele bufar, visivelmente frustrado com esse impedimento.

Estou terminando de colocar a calça tática que me deram quando escuto um batida na porta e a voz de um soldado logo em seguida. Ele nós avisa que quase todos cavalos e as pessoas estão prontos e que em breve nós partiremos.

   — Nós já estamos indo? — Saio de trás do trocador com os sapatos em mão para usar a mesinha como apoio para coloca-los.

   — Já? Você quis dizer finalmente né. Eu nunca mais quero pisar nessa merda de lugar. — Lanço um olhar de reprovação em sua direção por xingar o lugar. — O que foi? Vai me dizer que quer ficar aqui mais um tempo?

   — Primeiramente, eu não estou dizendo que quero ficar mais tempo aqui, só estou surpresa por que o tempo passou muito rápido.

   — Passou rápido por que você dormiu um dia inteiro, tipo, dia, tarde e noite.

   — Eu sei o que significa um dia inteiro, seu besta. — Ficamos em silêncio por um tempo enquanto arrumo minhas coisas.

   — Qual é a segunda coisa?

   — Que "segunda coisa"?

   — Você tinha dito um "primeiramente". O que é o "segundamente"?

   — Ah sim — Caramba, eu tinha mesmo me esquecido disso. – Eu ia dizer para você não xingar uma cidade inteira por causa de ciúmes.

   — Isso não era ciúmes. — Ele faz cara de emburrado e cruza os braços como uma criança mimada.

   — Ah, não era ciúmes? Então era o que? — Agora é a minha vez de dar um sorriso de canto convencido.

   — Era o fato de que eu odeio pensar naquele maldito perto de você.

   — Ivan se isso não é ciúmes isso é o que então? — Falo me curvando sobre o meu joelho para amarrar a bota

   — É cuidado. Totalmente diferente de ciúmes. — Antes que e pudesse responder Ivan anda em direção a porta e, no caminho, me surpreende com um beijo doce no pescoço, bem em cima da minha marca. Ele logo alcança a maçaneta e abre a porta para sair.

   — Não vai me esperar para ir comigo? — Faço uma cara triste fingindo estar chateada com isso. Ele entende e fica se apoiando na porta.

   — Eu adoraria, mas não sei se é seguro nós sairmos juntos. Podemos acabar fortalecendo os rumores em cima do nosso relacionamento e deixando muito na cara que estamos juntos.

   — E qual é o problema das pessoas saberem que estamos juntos, hein Ivan? — Cruzo os braços e começo a bater a ponta do meu pé, deixando claro que fiquei realmente irritada com isso. Todos já notaram a nossa ligação, isso não seria surpresa para ninguém.

   — O problema é que nós estamos em um reino diferente com um governante claramente insano que pode mudar de ideia de repente se nos ver juntos. Sem contar que seria um saco ter que ouvir um monte de fofoca sobre a gente e o que fazemos.

   — Como assim "o que fazemos"? — Faço uma careta de dor ao puxar demais o meu cabelo ao penteá-lo. Acho que preciso ser mais delicada nesse aspecto se quiser continuar a ter cabelo.

   — Eles ficam se perguntando se nós já transamos. — Não esperava que ele fosse tão direto na explicação. Vou procurando algo para prender meu cabelo ao mesmo tempo que penso sobre esses rumores vergonhosos.

   — Bem, o que nós fazemos entre quatro paredes não interessa à eles. – Começo a trançar meu cabelo enquanto me viro para Ivan.

   — No caso é o que nós não fazemos né. — Ele tosse durante a fala na esperança de disfarçar o que acabou de dizer.

   — Tudo no tempo certo Ivan, tudo no tempo certo. — Me viro de costas para ele para me olhar no espelho e ajeitar a minha trança embutida.

   — Tudo bem. Te espero lá em baixo, ok?

   — Ok. Escuto a porta fechar atrás de mim, me deixando sozinha no quarto. Agora sou só eu e os meus pensamentos e reflexões sobre os últimos acontecimentos. Alguns minutos depois eu finalmente termino a exaustiva trança e saio do quarto.

Já estou no meio do corredor quando vejo Levi vindo na direção oposta a minha. Sua cabeça abaixada e sua face estressada deixam claro que algo o está atormentando.

   — Levi. — Com um susto, ele se endireita ao ouvir o som da minha voz e parece estar perdido, apesar d se localizar facilmente. — Está tudo bem com você?

   — Oi Lucy. Sim, eu estou ótimo e você? Fiquei preocupado quando você quando você desmaiou, não davam nenhuma informação sobre você e ninguém podia entrar no seu quarto, a não ser a elite.

   — Mas como ninguém podia entrar se Ivan estava lá? — Coloco a mão na cintura, com desconfiança.

   — Ele estava lá por que ameaçou arrombar a porta para entrar no quarto e ficar com você. Aquele cara é maluco Lucy! — Saber disso faz meu espírito rir.

   — É, ele maluco sim. — Não esperava nada menos vindo do Ivan. Dou um sorriso bobo que Levi não parece ter notado, mas eu noto um detalhe questionável. — Você não deveria estar lá embaixo com os outros?

   — Sim, sim, mas me pediram para chamar a minha ma..., quer dizer, a Senhora L'amuff. Ela está atrasada, inclusive eu também estou, com licença. — E assim ele sai apressadamente. Ele estava prestes a falar algo que não deveria e isso o deixou muito perturbado. O que você está escondendo Levi?

Desço as escadas e logo vejo todos no salão principal. Renne e Rutts estão se despedindo do Sr.Miller e do príncipe e minha tia está com Yala e Haiah. Aproveito que elas não me viram e chego por trás para assusta-las.

   — BUH! — Missão cumprida. Minha tia e Haiah dão um pulo de susto enquanto Yala teve uma reação mais violenta ao segurar a espada caso fosse um inimigo. Devo admitir que isso é bem a cara dela.

   — Lucy! — Haiah pula em cima de mim e me abraça fortemente. Eu retribuo o abraço, mas logo a afasto.

   — Cuidado Haiah! Sua barriga está enorme, a bolsa pode estourar a qualquer momento. E, a propósito, você e seu marido vão voltar com a gente? Achei que ficariam aqui — Ela ri e coloca as mãos na sua grande barriga.

   — E nós iriamos ficar, mas o Lorde daqui disse que só aceitaria metade das famílias que vieram, por que já tem muitas bocas para alimentar. E como eu estou grávida, eles acharam melhor que eu aumentasse o números de pessoas em Sanih Radii, e não aqui.

   — Isso não é algo meio rude de se dizer?

   — É, pode até ser, mas o importante é que nós vamos voltar para a casa. — Ela segura minhas mãos com uma força agradável, como se não quisesse se desgrudar de mim. Eu confirmo com a cabeça. Haiah é uma boa amiga e uma ótima pessoa, gosto de ter ela por perto.

   — Estamos muito aliviados que você esteja bem, senhorita Lucy. – Diz minha fiel amiga.

   — Yala você sabe que não precisa dessa formalidade não é? — Ela suspira em afirmação. Sei bem que ela não vai parar de me chamar de senhorita.

Rimos um pouco e logo somos chamados para nos juntar aos nossos cavalos. Sr.Miller e Maxy fazem uma despedida formal, mas sem grandes regalias, o que me deixam muito desconfiada. Ambos estão com sorrisos ardilosos no rosto e esboçam em certa alegria com esse momento. Tenho medo do que seus sorrisos significam, mas não pretendo ficar mais um segundo aqui, nem se fosse para descobrir esse mistério.

Saímos pacificamente da província e entramos no caminho de volta para nossa casa. A viagem até agora está leve e animada, principalmente por que Rhayon aprendeu recentemente à tocar violão e está querendo nos mostrar seu talento. Isso seria fantástico se não fosse pelo fato de que ele é o pior violinista do mundo e decidiu unir o som desafinado do violão ao seu canto que é de rasgar os tímpanos. Mas tudo se torna muito engraçado quando Saulo perde a paciência e começa a gritar com ele enquanto todos nós rimos. Para a salvação de nossos ouvidos o marido de Haiah é um ótimo musicista e, junto a incrível voz de sua mulher, eles dão conforto para nossos ouvidos cansados e fazem dessa viagem algo muito agradável.

Não demora muito para a coloração rosa e roxa tomar o céu e nos dizer que é hora de pararmos. Alguns soldados relutam, dizendo que saímos consideravelmente tarde da província e que os cavalos ainda tem energia para continuar, mas Rutts os lembra que é perigoso viajarmos em grupo a noite, ainda mais com civis para proteger. Eles então sossegam e começam a montar as barracas enquanto os outros fazem a fogueira e dividem os turnos de vigilância. Eu e Ivan caímos no mesmo turno já que, de acordo com Rutts, nós temos mais afinidade um com o outro. É óbvio que ele sabe que nós estamos juntos, na verdade, pelo olhar dos outros soldados, acho que todos já sabem disso, visto que nós nunca fizemos muita questão de esconder isso. A noite cai rapidamente sobre nossas cabeças e chega a hora do meu turno, o dás 20:00, como sempre. Estou indo até a cabana de Ivan para chama-lo quando ouço um grito de uma voz familiar.

   — SOCORRO, ALGUÉM ME AJUDE! — É o marido de Haiah. Corro até ele, que logo abre a sua barraca.

   — O que houve?! — Exalto.

   — É a Haiah, a bolsa estourou, meu bebê vai nascer! — Ele está histérico e quase petrificado de pânico.

   — Ah não, aqui não! — Entro com tudo na tenda e vejo minha amiga deitada no colchonete, com as pernas abertas e o suor pingando em sua testa. Vou imediatamente até ela e fico ao seu lado enquanto limpo um pouco sua testa — Calma Haiah, vai dar tudo certo, ok? — Ela responde "sim" com a cabeça e logo volta para sua dor. Olho para o marido dela, que já se põem de urgência para o que eu pedir. — Eu preciso que você chame o médico daqui e a minha tia Maggie. Também traga uma toalhas, vários lenços e uma agua morna! — Ele sai em disparado, me deixando sozinha com e mãe e essa criança que está pra vir.

   — Lucy... AH — Ela interrompe a própria fala com um grito de dor abafado — Você já fez algum parto antes?

   — Não.

   — Mas você pelo menos sabe o que está fazendo? — Sua voz de pânico e falta de confiança em mim são compreensíveis. Eu também não gostaria que uma adolescente inexperiente fizesse o meu parto.

   — Também não.

   — Você sabe que é loucura uma menina de 17 anos fazer um parto não é?

   — No caso agora é 18, mas sim, eu sei que é loucura, e é justamente por isso que eu pedir para o seu marido chamar a minha tia e o médico, são eles quem vão cuidar de vocês dois.

   — Ah, que alivio. Espera, quando você fez 18 anos?

   — Hoje. A verdade é que aconteceu tanta coisa, que eu acabei me esquecendo totalmente disso. Só me lembrei agora. — Antes que ela possa me responder eu vejo minha tia entrando esbaforida na barraca com alguns panos e uma toalha, como eu pedi. Ela me entrega um pano e eu começo a limpar o rosto molhado de suor e Haiah para deixa-la mais confortável.

   — Onde... está o meu marido? — Sua voz sai cortada por chiados de dor.

   — Foi chamar o médico e esquentar a água. Pode ficar tranquila, logo ele estará aqui. — Dito e feito. Em poucos segundos o marido dela chega na tenda com uma grande bacia de água quente. Ele disse que não sabia o porquê da água, mas quis se prevenir.

   — Onde está o médico? — Exclamo.

   — Ele não vem. Disse que é um médico de soldados e que não sabe fazer partos.

   — Como? Nós estávamos viajando com uma grávida e ninguém pensou em trazer uma parteira ou um médico que saiba o mínimo sobre partos?! — Bufo, enfurecida. — Vou ter que ter uma conversa muito séria com quem organizou essa viagem! — Minha tia já havia colocado Haiah na posição certa e está tudo pronto, agora só falta Haiah ter energia e força o suficiente para parir essa criança. De repente nós começamos a ouvir alguns gritos e sons de espadas lá fora. Estou preste a levantar para ver o que está acontecendo quando ouço a forte voz de uma mulher vindo de fora.

   — ONDE ESTÃO OS GUARDIÕES?! APAREÇAM LOGO OU NÓS MATAREMOS TODOS QUE ESTÃO AQUI! — Olho para minha tia, que está com os olhos arregaladas e o suor brilhando na testa, para que ela entenda o que eu vou fazer. Pego minha espada que deixei de lado para cuidar de Haiah e saio da barraca, indo em direção à quem me chama. Na nossa frente há uma cavalaria de soldado com armaduras de aço preto e espada em mãos. A mulher que me chamou parece ser a general deles e me encara fervorosamente com seus olhos pequenos e puxados, mostrando que ela deve ter descendência asiática. Logo estou na frente dela e, no mesmo instante, Ivan também se põem ao meu lado.

   — O que vocês querem aqui? — Questiona Rutts, que está um pouco atrás de nós.

   — O que nós queremos? — Seu tom de voz e sua risada sínica soam de forma perversa e arrepiante. — Nós, ou melhor, o Lorde do Inferno quer o que é dele por direito. – Ela pega sua espada e aponta na direção de Ivan. Sinto minhas mãos suarem e meu coração errar o ritmo das batidas. O que ela quer? O que esse maldito Lorde de Inferno quer, afinal? – Ele quer o nosso Guardião, ou vocês realmente acharam que ficaram com ele para o resto da vida e nós não faríamos nada?

   — Pois então diga ao seu líder que ele não terá o que quer. — Agora é a vez de Renne se pronunciar.

   — Jura? — Pergunta ela com deboche. — Bem, isso é o que nós vamos ver. — Seu sorriso se alarga e o meu pânico aumenta, como se ele fosse a minha passagem direta para o inferno. — Soldados, ataquem!

Dado esse comando o nosso acampamento vira um verdadeiro campo de guerra e eu sou a primeira a ser atacada. A general avança com seu cavalo para cima de mim, mas eu consigo me defender de sua espada com um movimento rápido e passo por baixo do cavalo, me afasto dela. Olho em direção a barraca de Haiah e vejo que uma das lutas está perto da tenda e o nosso soldado está perdendo. Corro o mais rápido que posso em sua direção e arranco o soldado inimigo de cima do nosso soldado. Ele tenta me matar, mas eu sou mais rápida e finco minha espada em seu estômago, o que me dá a oportunidade de ver sua alma se esvair e seu corpo morrer na minha frente, jogando-o, logo depois, no chão e ajudando meu colega a se levantar.

Posso sentir, eu sinto correndo nas minha veias. Essa adrenalina, essa sede. Esse instinto para matar. Saio correndo em direção aos meu outro colega, mas não posso deixar de procurar por Ivan, mas para fazer isso eu acabo abaixando a guarda e sou derrubada por outro inimigo. Estava vendo a morte diante dos meus olhos quando Ivan o tira de cima de mim e o mata.

   — Você está bem? — Ele visivelmente acabado com essa primeira luta, mas me estende a mão.

   — Estou bem. — Ergo minha mão até a dele, mas antes que possamos uni-las alguém o segura pelo colete de couro e o puxa para longe. — IVAAAAN!! — Tento me levantar o mais rápido o possível e ir até ele, mas sou segurada por Rutts e Renne — ME SOLTEM!!!

   — Bem, parece que nós já conseguimos o que queríamos. — Ivan está tentando se desvencilhar das garras do brutamontes que o segura, mas falha miseravelmente. — Agora nós já podemos ir e não nos sigam, se fizerem isso, eu mato ele e a pessoa que vier atrás. — Ele começam a se afastar e levar Ivan com eles.

   — LUCYYY!!! — Ele grita meu nome com todos as forças e eu tento sair dos braços dos que me seguram. Não estou pensando direito, só quero matar aquela desgraçada e resgata-lo, mesmo que isso seja loucura. Minha garganta está ardendo. Meus pulmões estão ardendo de novo e gritar tanto está fazendo tudo a minha volta girar.

   — Ah, quase ia me esquecendo. — Ela se aproxima de nós, ainda montada em seu cavalo, e pega um saco de pano marrom que está sujo de sangue. — Nosso rei mandou um presentinho pra você, Guardiã. — Sem que eu possa responder qualquer coisa, ela joga o conteúdo do saco no chão e vai embora, rindo como se tivesse escutado a melhor piada do mundo. Eu paraliso.

É uma cabeça, uma cabeça!

É a cabeça da Yasmim, a irmã de Ivan. Minhas pernas tremem e meu estomago está se revirando no meu corpo.

   — Me soltem... — Imploro com a voz fraca para Renne e Rutts, que atendem meu pedido. Vou me arrastando até a cabeça morta para checar se meus olhos não me enganaram. Eu a pego e passo a mão pelos seus cabelos cacheados sujos de sangue. É ela mesma. Antes mesmo que eu possa fazer qualquer ação, eu sinto minha marca queimar como nunca antes. — AAAAHH — A dor se torna insuportável que me deixa de joelhos. É como se uma faca pegando fogo estivesse sendo lentamente cravada no meu pescoço. Coloco a cabeça da pobre menininha de lado e me debruço sobre minhas pernas enquanto sinto meus corpo enfraquecer e me derrubar no chão. A última imagem que tenho com a minha visão embaçada é de Ivan está sendo arrastado para algum lugar. Provavelmente para sua morte.

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