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Invisível

É manhã, bem cedinho. Os bichos prateados com patas redondas passam ao meu lado correndo. Estão sempre correndo. Eu detesto correr, minhas orelhas ficam pulando, o vento entra frio no meu ouvido e começa a doer. Por isso só ando rápido, assim minhas orelhas ficam bem abaixadas, caídas, e me protegem desse ventinho chato, só que ainda balançam a cada passo meu. "Ai que bonitinho", uma mulher falou para a outra apontando o dedo para mim. As pessoas sempre fazem isso quando passam por mim e mostram os dentes, mas não igual os outros cachorros, é de um jeito bom, então balanço meu rabo. Às vezes me dão comida quando faço isso. Lambo meu focinho enquanto olho para a mulher, só que ela não me dá nada, continua andando e falando com a outra. Tudo bem, eu também ando e posso falar com o Wagner. Cadê ele? Ali na frente! Corre, corre! Ai minha orelha. Wagner! Não, não posso chamar ele de novo, eu consigo alcançar se correr só mais um pouquinho. Ele odeia quando grito. Ufa, alcancei. Eu olho para ele balançando meu rabo e ele nem olha para mim aqui embaixo. Wagner é muito concentrado no que faz, sempre olhando para frente, me mostrando o caminho certo. Gosto dele, é um bom líder. Estamos juntos há uma eternidade e sempre foi assim. Olha só! Logo ali na frente tem um montão de água. Ele sabe me guiar. Obrigado, Wagner! Vamos beber? Estou morrendo de sede. Essa água é boa, fresca. Deve ter caído aqui ontem à noite, depois da chuva. Acumula tudo no canto do chão preto por onde correm os bichos prateados. As pessoas chamam isso de rua. Não sei bem o que é rua, na verdade. As pessoas sempre falam isso para mim. Dizem que eu sou cachorro de rua e que o Wagner também mora na rua. Mas ninguém mora na rua. A gente mora debaixo da rua, um lugar incrível em que uma rua passa por cima de outra rua. Eu nunca tinha visto nada assim, até encontrar o Wagner. Será que ele também está gostando do sabor dessa água? É meio esquisita. Pelo menos é melhor do que aquela outra que eu bebi uma vez. Ela era preta, mas também colorida, uns fios de arco-íris que ficavam dançando pela água. Era bonito, então bebi. Ruim, ruim, ruim. Fiquei ruim depois de beber aquela água. Wagner ficou rindo. Eu nunca tinha visto ele daquele jeito, tão feliz. Ele nunca parecia feliz, se tivesse um rabo longo igual ao meu estaria com ele sempre baixo. Por isso que ver ele rir me deixou feliz. Tentei balançar o rabo para mostrar para ele como eu estava contente, mas eu não estava bem. Vi tudo balançar de um jeito esquisito e vomitei. Saiu toda aquela água preta e uma carne muito gostosa que um homem jogou para mim. Que desperdício o meu colocar aquilo pra fora. Depois daquilo eu nem quis andar muito mais, nem o Wagner, ele parecia um pouco tonto também. Naquela noite a gente estava tão cansado que nem voltamos para dormir debaixo da rua, ficamos ali mesmo, na calçada. Isso! Calçada! É esse o nome da rua do lado da rua. A água cai na rua preta e se encosta na outra rua, a calçada. Todos os bichos andam na calçada, menos os que têm patas redondas. Esses bichos têm nome também. Como é mesmo, Wagner? Ué! Cadê ele? Achei que estivesse bebendo água aqui comigo. Achei! Ele está ali na frente de novo. Corre, corre! Ai minhas orelhas, preciso parar para coçar. Bem melhor. Wagner! Corre, corre! Ai, ai, ai! Coça a orelha só mais um pouquinho. Corre, corre! Ufa! Aqui estamos nós dois, juntos de novo. Wagner, qual o nome daqueles bichos? Ele não olha para mim e parece não entender o que eu quero saber. Já sei! Preciso apontar para ele o que quero. Com outras pessoas funciona... Às vezes. Desço da calçada e ando na rua preta, levantando um pouco meu focinho para cada pata-redonda prateado que passa por mim. É preciso ter cuidado com eles, não pode chegar muito perto. Olha ali, Wagner. Como chama? Ah não, esse era preto. Não serve. Ali, ali! Aquele é prata. Olha! Como chama? Ele não está olhando para mim, vou ter que chegar mais perto dos bichos. Corro pro meio da rua preta. "A moto!", um homem que vem na direção contrária do Wagner grita para mim. Não, não é moto. Esse bicho eu sei qual é. Odeio eles. Eu quero saber é do bicho prata, homem estranho. Cadê a moto? Não estou vendo. Será que já passou por mim? Ei, homem estranho, já que está olhando para mim, que bicho é... Cadê? Ah, esse aqui na minha frente! "Sai daí, cachorro!". O bicho prata para na minha frente, quase pegando meu focinho. Então ele grita. Um barulho muito esquisito que só os pata-redondas fazem. "Sai da rua, cachorro!", o homem estranho grita para mim de novo. Parece que ele está me esperando na calçada. Tá bom, vou até ele, se isso fizer esses bichos pararem de gritar comigo. Agora tem um montão deles gritando. Cadê o Wagner? Ali, ali! Poxa, todo esse trabalho para nada. Qual o nome do bicho prata? Wagner, por que... Ah, olha! Nossa casa. A rua sobre a rua. O Wagner tem pernas longas e sobe até a nossa casa com muita facilidade. Nossa casa é logo ali, atrás daquele pano que fica pendurado na rua de cima. Dormimos bem próximos da rua de cima. Será que já vamos dormir? Eu não quero dormir agora, quero comer. Mas se o Wagner dormir, eu durmo. Ele sabe o que é melhor para nós. Um homem sai de trás do pano, de repente. Nunca vi esse homem. O que ele está fazendo na nossa casa? Sai! Sai daí! Sai já daí! Fora! Fora da nossa casa! Sai! Sai! Sai! Sai, sai, sai! Sai! "Cala a boca, desgraça!", o Wagner grita para mim. Fico quieto, abaixo o rabo e as orelhas. Que vergonha. Acho que ele conhece o homem estranho, está apertando a mão dele. "Você demorou dessa vez, Cleiton", o Wagner fala com o homem estranho. Cleiton. Tá! Mais um bicho para eu lembrar. "Ah, sabe como é, Vavá. Tava procurando um lugar melhor pra gente. Ninguém merece ficar vivendo debaixo da ponte", Cleiton fala apontando para cima. Eu levanto a cabeça, mas não vejo nada além da rua de cima. "Trouxe dinheiro?", o Wagner fala bravo. Não estou gostando dessa conversa, e parece que o Wagner também não. "Cachorro novo?", o Cleiton está apontando para mim agora. Ele é magro, mais do que eu. "Tá me seguindo já faz uma semana". Wagner se senta e o Cleiton também, bem do lado dele. Acho que ele é legal, posso confiar. Meu líder jamais deixaria alguém ficar assim tão próximo dele se não fosse de confiança. Nem eu posso ficar tão perto assim dele. Cleiton estala os dedos e mostra os dentes para mim. Assovia e dá umas batidinhas no chão. Ah, eu sei o que isso quer dizer. Chego mais perto, abanando o rabo, e me jogo no chão. As mãos do Cleiton passam pelo meu pelo de um jeito tão bom. Ele coça minha orelha... Que gostoso. Faz isso na minha barriga? "Ha-ha! Gostou de mim. Qual que é o nome?". Ah isso! Aí mesmo. Wagner olha para mim e vejo a boca dele se curvar para cima de novo. Como ele não tem rabo, acho que é assim que fica quando está feliz. "Outro dia ele bebeu água com óleo. Ficou doidão. E eu já tava tão bêbado que ri de me mijar. Vai ser Brisado". Wagner coçou meu queixo. Ele me tocou! É a primeira vez que ele faz isso. Será que posso retribuir. Vou arriscar e lamber a mão dele. "Brisado, Wagner? Brisado deve tá você de não ver que isso daqui é uma cadela. Você vai se chamar Brisada", diz Cleiton, aproximando o rosto do meu focinho. Dou uma lambida no seu nariz. "É melhor... Brisa", entorto um pouco a cabeça ao ouvir Wagner. "Brisa! Brisa!" Gosto daquele som. Levanto e balanço meu rabo. Eles repetem, ergo as orelhas e entorto a cabeça cada vez que dizem aquilo. Aquele barulho que eles fazem me deixa feliz. "Brisa! Brisa!". Acho que é o meu nome. Não consigo conter minha alegria. Rodopio, salto e começo a latir. Wagner não se incomoda com meus latidos, ele ri e continua a repetir a palavra. Rodopio mais uma vez e paro. "Brisa!". Rodopio de novo. Eles riem com a minha alegria e eu me divirto com a risada deles. Brisa. Gostei do meu nome. "A mãe ia gostar dela", Cleiton diz. Wagner para de rir de repente e começa a chorar. Cleiton passa os braços em volta dele e chora também. Eu me aproximo devagar, encosto minha cabeça no joelho do Wagner e ele passa a mão em mim. Me aproximo mais e sento ao lado dele, que me envolve com um dos braços. Ele me puxa para perto de seu corpo. É um pouco assustador ficar assim sem poder se mexer, mas parece que isso faz ele se sentir melhor, então por mim tudo bem. Até que não é tão ruim. Ficamos assim, os três juntos, até cairmos no sono. Quando chega a noite, Wagner se agita e sai pegando tudo o que vê pela frente. Mochila, sacola, panos de corpo e um monte de coisa que eu nem sei o que é. Cleiton diz alguma coisa, ele responde. Ficam nisso por muito tempo, até que Wagner encerra a conversa e sai de casa com pressa. Eu estou logo atrás. Caminhamos rápido, minha orelhas pulam sem parar. Os pata-redondas agora têm luzes para iluminar a noite, só que essas me cegam quando olho muito. Wagner está andando rápido, mais rápido do que o normal. Não para de andar. Sobe rua, desce rua, vira, corta, atravessa, corre para fugir da moto. Sai, moto! Sai, sai, sai! Lá na outra calçada tem uma cachorra latindo para mim, muito nervosa. Eu é que não quero confusão, de jeito nenhum. Aquele é o lugar dela e eu vou respeitar. Abaixo o rabo e as orelhas e acelero o passo para sair de lá rapidinho. Cadê o Wagner? Ali atrás! Eu corri mesmo daquela cachorra. Melhor esperar ele aqui. Vamos! Que cheiro é esse? É comida. Hum! E é comida boa. Cadê, cadê? Wagner, olha ali! Um frango inteiro em cima da... Mesa? Por que tem uma mesa no meio da calçada? Ai, olha esse frango! Será que esse cara dá um pouquinho. Por favor, por favor, por favor. "Quer uma coxinha?", diz o homem sentado na cadeira de plástico. Ele enfia a mão no frango, arranca um pedaço e joga no chão, bem na minha frente. Eu como com prazer. Que delícia! Quero mais. Mais, mais, mais! Por favor. Por favor! "Márcio, tira esse cachorro do bar", diz alguém, mas não sei quem. Nossa! Tem um montão de comida aqui. O que é aquilo... "Sai! Xô, xô!", um homem novo grita comigo igual aquela cachorra. Saio correndo antes que me chutem de novo. Cadê o Wagner? Wagner? Wagner! Ele está ali, entrando naquela porta do lado do bar. O que tem aí? Uau! Uma escada! Eu vou subir também, estou logo atrás de você. Wagner olha para mim e parece preocupado. "É melhor você ficar lá fora, Brisa". Lá em cima, no final da escada, surge uma mulher. "Quem é Brisa?", ela fala enquanto tira um palito branco da boca. Um palito muito fedido. Eles falam um com o outro. Wagner parece confiar na mulher. "Cinco minutos. Mais que isso e eu fecho o registro", ela fala esticando a mão para Wagner. "Tá, tá! Eu já sei". Ele coloca na mão dela um papel colorido e entra por uma porta. Tento entrar, mas a mulher coloca a perna na minha frente, quase me chutando. "Espera aqui. Já te trago uma coisinha". A porta se fecha, batendo no meu focinho. Cadê o Wagner? Ele vai sair daí logo? Me deixa entrar! Coloco meu focinho na fresta da porta e consigo sentir o cheiro dele vindo lá de dentro. E tem cheiro de mais coisa. Não, coisa demais. É uma mistura muito grande, um monte de cheiros que nem sei o que são. Espera, esse eu conheço. É carne! E batata! Agora tem um cheiro ruim... isso não é estranho. É a mulher! É o cheiro do palito que ela carrega na boca. A porta se abre e a mulher está logo ali com uma coisa na mão. Comida! Ela se abaixa e coloca a comida no chão, bem ao meu lado. "Vai, pode comer". Que dia de sorte. Mais comida. Devoro tudo num instante. Eu adoro batata! Wagner surge de repente atrás da mulher. Os pelos da cabeça dele estão molhados e tem outros panos no corpo, acho que chamam isso de roupa. O cheiro dele é estranho, bom, mas não reconheço. Parece um pouco com o cheiro da mulher. Ela olha para o Wagner de cima a baixo. "Vai voltar a se vender, lindinho? Quer mesmo voltar pra essa vida?". Wagner, assim como faz comigo, muitas vezes, ignora a mulher e desce as escadas. Eu o sigo imediatamente. "Eu posso arrumar o quartinho lá dos fundos pra você trazer seus clientes! A cama é melhor que o carro deles". Ela tem uma voz feia e alta, igual a dos bichos prateados. Wagner para na escada e olha para trás, para a mulher. Ele balança a cabeça enquanto sua boca se curva para cima de novo, mas não parece feliz de verdade. Caminhamos pela rua de novo. Wagner está muito diferente, caminha diferente. Se eu tivesse conhecido ele assim, não teria seguido ele. Não é assim que um líder anda. Se ele tivesse um rabo, estaria com ele no meio das pernas agora, tenho certeza. Mas continuo seguindo ele mesmo assim, afinal, nem os líderes são fortes o tempo todo, por isso devo continuar aqui para proteger ele de qualquer coisa que possa acontecer. Isso me preocupa. Por que ele está assim? Chegamos num lugar com muita grama e árvores. Muitas pessoas também. Todos homens. Eles usam roupas parecidas com as de Wagner. O cheiro também é forte igual ao novo cheiro dele. Muito forte. Que coceira no meu nariz. Wagner se espanta ao me ouvir espirrar. Ele fala com alguns dos homens e eles olham para mim. "A velha deu comida pra cachorra mas não ofereceu nada pra mim", Wagner fala para um homem de roupa branca. "Acredita que ela me ofereceu um quarto? Tá tentando me tomar. Vai sonhando! Meu trabalho, meu dinheiro". Wagner parece nervoso, agitado. Um homem com pouca roupa tenta acalmar ele. "Eu aceitava, porque só trabalho em quarto, dentro do carro não dá". Wagner continua em silêncio, parece impaciente, olhando para a rua o tempo todo. "É porque você nunca pegou alguém dentro de uma SUV", o homem de branco diz. "Melhor que muito quartinho barato que os clientes pagam pra gente". Wagner volta a olhar para os homens, mas continua nervoso. "Eles têm é medo de pagar coisa melhor. Não querem usar o cartão pra esposa não descobrir". Então Wagner se afasta assim que vê um pata-redonda se aproximando. Vou logo atrás dele. "Não! Vai pra lá", ele fala nervoso comigo e me afasto um pouco. Wagner fica parado ali. O homem com roupa branca passa por mim e coça minha cabeça minha cabeça sem que eu permita. Se Wagner me permitir, vou morder a mão dele, mas ele não parece perceber o que está acontecendo, então corro até ele. Wagner está encostado no pata-redonda. Deve ter alguma coisa errada com esse bicho, melhor ajudar a descobrir o que é. Farejo ele inteiro e então percebo que é um bicho prateado. Fico parado bem na sua frente e encaro sua luz. Perco a visão, os sentidos, não consigo me mexer. "Sai da frente do carro". O que disse, Wagner? Carro? Carro! É isso! É esse o nome do bicho prateado. "Vai pra casa! Xô, xô! Pra casa". Sim, sim! Eu vou para casa. Por que você está dentro do carro, Wagner? Carro! É isso. Está bem. Vou para casa. Estou indo! Nos vemos lá. Carro. Que legal! Está bem, agora vou para casa. Qual o caminho mesmo? Vou ter que seguir pelo cheiro. Acho que é por aqui, lembro que tinha esse cheiro de grama. Olha ali mais um carro. Será que os pata-redondas de todas as cores se chamam carros? Carros e motos andam pela rua preta, enquanto Wagner e eu caminhamos pela calçada. Cadê o Wagner? Ah é! Ele entrou no carro e foi embora. Por que ele entrou no carro? Como será lá dentro? Nunca vi um bicho em que desse para entrar. Nas motos as pessoas montam, mas nos carros elas entram. Um bicho oco. Que esquisito esse negócio de carro. Esse cheiro. É logo ali, posso sentir! Vou correr para chegar logo. Ai, ai! Péssima ideia. Minha orelhas, sempre esqueço delas. Aqui! Cheguei. Ali está a árvore, a coisa comprida onde as crianças se balançam, muita e muita grama, o arbusto onde faço xixi e o lixo que sempre tem alguma coisinha boa escondida. Ali o banco onde eu durmo. Debaixo dele a chuva não me atinge. Vou me deitar ali. Que saudade que eu estava da minha casa. Nossa casa, melhor dizendo, porque é do Wagner também. Espera. O Wagner dormia junto comigo, mas, olhando melhor agora, não tem como ele caber aqui debaixo do banco. Como é que...? Acho que essa não é nossa casa. Que estranho! Eu me lembro desse lugar, dormia sempre aqui. Essa casa... Ela veio antes do Wagner? Eu não conhecia ele quando morava aqui. Mas então, onde está nossa casa. Onde é? Eu não sei. Qual o cheiro de lá? Não sinto nada. Cadê o Wagner? Wagner. Wagner! Wagner! Ele sumiu. Nada bom. Vou ter que ficar aqui e dormir, esperar para encontrar ele amanhã. Sim, é isso que vou fazer. Então durmo. As luzes da terra se apagam e o sol volta a ocupar seu lugar. O chão inteiro está molhado, está garoando. Ainda bem que esse banco me protegeu. "Oi, bebê", diz alguém. Olho em volta e vejo uma mulher jovem. Ela balança um pote que faz barulho. Ela está um pouco à frente de mim, se aproximando devagar, então deixa o pote no chão e dá umas batidinhas com o dedo, fazendo mais barulho. O pote tem um cheiro salgado. Comida! São pequenas bolinhas escuras, secas e salgadas. Não é a melhor coisa que eu já comi, mas já comi coisa muito pior. Devoro tudo com rapidez, já que não sei quando vou poder comer de novo. Levanto a cabeça e vejo um outro pote com água logo ao lado. Essa água não tem cor, nem cheiro ou gosto engraçado. É a melhor coisa que já bebi. Devagar, a jovem estica o punho em minha direção. O que ela está tentando fazer? Cheiro entre seus dedos. Não tem comida ali, mas tem um cheiro bom. É o cheiro dela, um cheiro doce. Ela passa a mão em meu pescoço. "Cuidado, Samanta", diz um homem mais velho atrás dela. Eles ficam ali, falando e falando enquanto a jovem continua a passar a mão pelos meus pelos. É tão relaxante. Me faz querer fechar os olhos. O homem então se afasta. "Samanta, vamos", ele diz e ela responde. "Samanta, sua mãe tá esperando. Vamos! Samanta!". A jovem responde de novo. Acho que esse é o nome dela. Samanta. Ela se levanta e balança a mão para mim. "Tchau, lindeza". Os dois se afastam e entram em um bicho prata. Não, um carro. Tem muitos carros na casa do Wagner, sempre passam correndo por lá. Eu vou seguir a Samanta e chegar em casa. É isso. Ela vai me mostrar o caminho. Paro bem ao lado do carro, Samanta me olha lá de dentro. "Pai, olha isso", ela aponta para mim. Acho que vão me levar para casa, para o Wagner. Finalmente! Meu rabo não consegue esconder minha alegria. Samanta e o homem saem de dentro do carro e falam comigo. Então abrem o carro de novo. "Entra", Samanta dá algumas batidinhas na coisa dentro do carro que parece um pouco com o banco que me protegeu da chuva, mas parece ser fofo. Então ela entra no carro. "Vem, vem", ela balança as duas mãos para frente e para trás. "Vai lá", o homem me empurra um pouco para frente. Entendi! É para eu entrar. Coloco minha pata lá dentro. Esse banco é realmente fofo, como eu suspeitei. "Isso, meu amor", a voz de Samanta é aguda. "Vem cá! Vamos pra casa". Casa? Sim, é isso que quero! Vamos para casa! Pulo e entro no carro. "Muito bem, meu amor! Muito bem". Samanta está tão feliz quanto eu. Gosto dela. O homem entra no carro, ele está na nossa frente. O carro se mexe.

É manhã, bem cedinho. Os carros passam correndo na rua em frente ao portão. Daqui vejo quase tudo. Melhor é quando fico na sacada, sentindo o vento em minhas orelhas, o que já não me incomoda desde que a veterinária mexeu nelas. Acho que vou para lá. Corro para dentro de casa, subo as escadas correndo, desvio do Papai no meio do corredor, entro no quarto de Samanta e quase trombo no Mateus. "Ai! Que susto", ele diz. Dou a volta nele atravesso por cima da cama e salto para a sacada. Sento e observo. Do lado de dentro, vejo Samanta rindo e abraçando Mateus. Ele se deita na cama junto com ela. Gosto dele, mas detesto o cheiro de gato que tem em suas roupas. "A Brisa ama ficar nessa sacada", diz Samanta. "Ela fica aí um tempão, parada, sentindo a brisa. Por isso dei esse nome". Mateus ri. "Achei que era por causa das suas plantas". Lá dentro, os dois riem. É só o que fazem o dia todo. Gosto disso. A risada deles deixa meu rabo sempre agitado. Amo a Samanta, o Papai e a Mamãe. O Mateus é legal também. Todos eles me amam. Mas e o Wagner? Fico aqui o dia todo, olhando, procurando. Às vezes vejo alguém que se parece com ele e começo a latir para que ele venha brigar comigo. Mas nunca é ele e só consigo uma bronca do Papai. Só que não desisto. Estarei sempre aqui, esperando pelo dia em que ele virá me encontrar.

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