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Inconveniências

     Me levantei em um pulo assim que o despertador marcou 6:00. A luz invadia meu quarto através da cortina fina, e já dava para perceber que aquele seria um dia ensolarado.
     O sr. Mcjake dissera que o uniforme seria entregue assim que eu chegasse, portanto separei um sobretudo de camurça marrom, uma blusa lisa branca e a surrada e antiquada calça jeans skinny.
     Com as peças em meu corpo, após fazer a higiene pessoal no banheiro, observei atentamente minha imagem no espelho da cômoda.
    Durante a maior parte da minha adolescência, me dei o luxo de ser vaidosa, gostava de me sentir bonita, e mesmo que com o tempo, tenha deixado a vaidade um tanto de lado, não abria mão do meu batom Cherry e do queridinho rímel. O código do hotel, no entanto, restringia o uso de maquiagem ou jóias espalhafatosas.
    Por isso, o espelho agora refletia uma figura neutra e sem graça. Uma mulher mediana, com peso proporcional ao tamanho, e cabelos descomunalmente longos e castanhos, que caiam, como uma cachoeira de caracóis, até a cintura.
    Soltei um suspiro resignado e me apressei porta a fora.

   
      O hotel tinha cerca de 12 andares. De fato, era um dos melhores da cidade, e recebia hóspedes do mundo todo, todos os dias.
    Passei pela portaria e fui até a recepção onde a mesma mulher simpática que me atendera ontem estava. Sarah, li em seu crachá.
    - Olá querida. Vejo que conseguiu o emprego - ela me lembrava minha mãe com seu sorriso terno e doce.
Sorri de volta, radiante.
    - Sim! Finalmente posso voltar a sonhar! - Seu sorriso se alargou junto ao meu.
    - O sr.Mcjake passou aqui agora a pouco. Seu uniforme está no vestiário dos funcionários. Terceira porta à direita. - Apontou - Depois que se trocar vá até a saleta onde ocorreu a entrevista de ontem, por favor, querida.
     Tentei guardar as informações. Ok. A sala do gerente... Pensei que não precisaria ficar me esbarrando com o sr. Bigode de foca o tempo todo.
     Meu uniforme estava dobrado impecavelmente sob um banco no vestiário.
     As roupas consistiam em um vestido vermelho flamingo com listras brancas, o logotipo em letras douradas dizia :"PalaceGardenHotel". Tinha também uma faixa para amarrar os cabelos, meia calça rosa e sapatilhas pretas com amarradores, tipo aquelas de sapatilhado. Fiquei parecendo uma idiota.
     Uniforme patético!
     Saí de dentro do vestiário a procura da sala da gerência, e quando adentrei o cômodo, de paredes vermelhas e papel de parede dourado, lá estava o sr. Mcjake, com seu terno azul escuro e óculos redondos.
     - Devia bater na porta, srta. Drayton.
Minha boca se abriu para pedir desculpas mas ele continuou. - sente-se.
    Puxei a cadeira em frente a sua mesa e me sentei.
    - Bom dia para o senhor também. 
   Sua expressão era séria.
    - Você me parece o tipo de mulher com a língua afiada, estou errado, Kimberlly? - Não respondi. - Pois saiba que adoto uma política de tolerância zero à irônias, deboches ou brincadeiras de mau gosto, entendidos?
      - Não será um problema. - Contanto, que ele não me tirasse do sério.
      - O que houve com os joelhos? - perguntou.
    Franzi a testa, ele provavelmente os tinha notado quando entrei. Observei o machucado, já criando uma casca fina, e ri.
      - Foi uma história engraçada - Não fez o mínimo esforço para parecer interessado. - Foi só um acidente. - Disse por fim. Impossível manter uma conversa com aquele velho rabugento.
      - certo... desastrada... - murmurou - irei anotar isso. - Não revirei os olhos Kimberlly Drayton, não revirei os olhos... - Vamos. Você vai começar pelo apartamento de número 988. - informou se levantando.
     Parei por uns segundos tentando entender o que estava prestes a acontecer.
     - O senhor vai comigo?
Ele pegou um copo, se dirigindo à cafeteira, e em seguida o encheu até a metade.
     - Preciso auxiliá-la.
     - E não teria outra pessoa para o senhor auxiliar não?
    Seus olhos me fulminavam.
     - Temos mais de quatrocentos funcionários - falou - Mas não. Não tenho mais gente para auxiliar... Você é a única novata que precisa de supervisão.
     O que ele queria dizer com precisa de supervisão? Estava por acaso tentando insinuar alguma coisa?
     Saímos pela porta, até uma sala onde peguei um carrinho, aqueles que costumamos ver em supermercado ou nos corredores dos shoppings.
    - Aí tem tudo o que você precisa no quesito de materiais de limpeza. - Ele especificou em tom monótono.
    Empurrei o carrinho até o elevador e apertei o número 9.
     - Quantos quartos por dia? - perguntei.
     - Três. Depois lhe entregarei seu horário de trabalho. Vamos começar pelo 988, depois 989 e então 992.
     Chegamos até o andar, onde abri a porta que indicava 988.
     Não era muito grande, comecei pela cozinha. O fogão estava coberto de molho.
     O sr. McJake parecia uma sombra atrás de mim. Quase podia sentir minhas costas pegando fogo.
     - Vai ficar mesmo aqui? Não sei se consigo trabalhar com o senhor olhando - falei quando se acomodou em uma cadeira, me observando e tomando notas.
   Fui terrivelmente ignorada e resolvi esquecer sua ilustre presença.
Não demorou muito até que eu terminasse todo o trabalho.
     - E então? - Perguntei varrendo o apartamento com os olhos, em busca de alguma falha.
     - Por ora está bom. -Respondeu, enquanto inspecionava cada canto a procura de pó ou manchas.
    Sorri presunçosa. Estava tudo brilhando. Me certificara de eu mesma inspecionar todo o trabalho durante os últimos trinta minutos.
    - Deixe-me ver seus bolsos - apontou para o bolso no meio do vestido de meu uniforme.
     Franzi a testa... Será mesmo que ele estava... Aaaah não!
    - Acha que roubei alguma coisa? É por isso que está me vigiando? Acha que vou roubar?
    Sua expressão continuou monótona, como se não tivesse nem aí pra mim ou para o que eu pensava. E provavelmente não estava nem aí mesmo. Apenas fez um gesto impaciente para que eu abrisse logo o bolso.
    Eu não podia admitir isso, podia?
    Embora precisasse do emprego, não seria impossível encontrar outro aqui em Nova York... Mas acho que eu não encontraria um que pagasse tão bem. Revirei os olhos e abri o bolso, estava vazio, claro.
    Meus olhos queimavam. Queria sair dali e chorar. Nunca havia sido tão desrespeitada em toda a minha vida!
     - Quer que eu tire a roupa também? Vai que escondi algum desses vasos caros no... - Prevendo o que eu diria a seguir, ele se apressou em me interromper.
     - Não será necessário. Acredite, srta. Drayton, este é apenas meu trabalho.
     Era pago para infernizar a vida dos funcionários? Para humilhar, criticar e responder rispidamente a cada pergunta dirigida a ele?
     Me sentido desmoralizada, o segui até o próximo apartamento. Me recusei a abaixar a cabeça e tentei imitar o mesmo olhar indiferente em seu rosto. Ele devia estar acostumado a ser um grande filho da puta. E não, não vou pegar leve porque ele é um senhor, com o pé em uma aposentadoria gorda a propósito.
     No quarto de número 989 fiz o mesmo processo. Dessa vez o sr.Mcjake começou a ler as regras básicas do manual do hotel enquanto eu organizava o apartamento,
   Não chegue atrasada, não saia sem avisar na recepção, não interaja com os moradores, não coma nada que estiver no apartamento, e bla-bla-bla.
     Lutava para estender o lençol na enorme cama king sizze quando o  gerente pigarreou para chamar minha atenção.
     - Hora do almoço - bateu no relógio imaginário em seu pulso.
     - Não terminei ainda. - Não olhei pra ele. Não precisava olhá-lo para saber que sua expressão era a mesma desde a entrevista, e provavelmente desde que nascera.
     - O casal que reservou este quarto só chegará à tarde. Terá tempo suficiente. - Soou até gentil para seus modos - Se desmaiar de fome não quero ser o responsável. Agilize.
   Ah. Bom demais para ser verdade.

     Não daria tempo de ir pra casa e voltar pro trabalho, por isso fui até a lanchonete em frente e pedi um pedaço de pizza com Coca Diet, não que eu acreditasse que o fato de ser Diet melhorasse muita coisa.
    Enquanto esperava meu pedido, observei as pessoas ao meu redor: um escritor solitário em um canto, um casal de idosos compartilhando uma fatia de cheesecake e um grupo de amigos discutindo animadamente sobre os últimos acontecimentos. Era uma lanchonete que parecia capturar a essência da cidade em cada detalhe, e eu estava grata por fazer parte daquela tapeçaria vibrante, mesmo que por apenas algum momento.
   Quando meu lanche chegou não pude deixar de me perguntar que impressão eu passava para quem me via de longe...
   Ainda restavam 10 minutos de sobra para descansar, mas resolvi voltar ao trabalho. Quanto antes terminasse, mais rápido me livraria do sr. Bigode de Foca e de seus comentários ácidos.
    Por isso, retornei ao quarto 989, com o Dumbledore do mau na minha cola. Ele não tinha mais o que fazer, não? Sei lá, atormentar criancinhas, chutar animais indefesos, dar entrada na aposentadoria?
    A forma mais fácil de engolir sua presença, era ignorando-a, então cantarolei durante os 26 minutos restantes que levei para finalizar, e quando chegamos à porta do 992 o sr.Mcjake parecia a ponto de explodir.
    Ao cruzar a porta do apartamento, fui surpreendida pela amplitude do espaço. Era notavelmente maior do que minha casa, não que ela fosse grande. Esperava encontrar o típico layout compacto com uma cozinha integrada à sala, seguido por uma suíte modesta, semelhante aos outros apartamentos. No entanto, o que se desdobrava diante dos meus olhos era algo muito além do meu imaginário.
     As paredes, imaculadamente brancas, realçavam a sofisticação dos móveis cuidadosamente escolhidos. Cada elemento do ambiente irradiava luminosidade: das cortinas cor de gelo ao piso de madeira lustroso, passando pelo sofá de um creme suave e convidativo.
     A cozinha revelava um design meticuloso, com eletrodomésticos embutidos que se fundiam perfeitamente aos armários bem alinhados, e fornos e micro-ondas dispostos com uma precisão quase artística.
    Ao observar os detalhes, era fácil imaginar que o ocupante daquele espaço devia ser alguém que apreciava a solidão refinada, talvez uma senhora de idade com um gosto impecável e uma conta bancária robusta.
 

   - É um dos nossos maiores - Me assustei. Acabara me esquecendo da presença inconveniente de Mcjake-Dumbledore-Bigode-de-Foca.
     - É maior que muitas casas em que já estive. - Admiti, ainda chocada com o esplendor. Dava vontade de tirar os sapatos, deitar naquele sofá e maratonar uma série na Netflix. - Sabe, acho que eu ficaria perdida morando em um lugar assim. Não saberia o que fazer primeiro. Aposto que tem uma jacuzzi no banheiro. Tem uma jacuzzi, não tem?
     - É uma residência fixa. - Disse ignorando minha pergunta - O sr. Laurent mora aqui há mais de um ano. Nesse hotel existem apenas cinco moradores fixos, e ele é o nosso inquilino modelo.
      Claro!
     - A diária disso deve ser um assalto! - soltei sem pensar.
     - Nesse caso é mensal srta. Drayton - informou - Vou lhe dizer uma coisa ... - falou sério - O sr. Laurent pouco fica em casa, mas sei que ele não gosta de ser incomodado, e se houver alguma reclamação de suas tagarelices... Saiba que não pensarei duas vezes antes de colocá-la no olho da rua.
     Suspirei. Eu nem era tãoooo falante  assim!
     - Ok. Entendi. Boca fechada - passei os dedos nos lábios imitando um zíper.
     - Ótimo. Pode começar.
     Ele me surpreendeu quando deu meia volta e saiu do apartamento.
     Após passar o aspirador de pó e organizar os cômodos, fui atraída pelo quarto. No centro, uma mesa elegante com um computador estava posicionada; ali, deixei meu celular, que piscava com a ameaça de bateria fraca. Uma cama gigantesca tomava boa parte do espaço e parecia ser o lugar mais confortável do mundo. Ao lado, um closet meticulosamente organizado, onde as camisas transitavam harmoniosamente dos tons frios aos quentes.
    Contudo, foi a estante de livros que capturou minha atenção de imediato. Rapidamente, meus olhos identificaram obras clássicas: a distintiva lombada da coleção de Jane Austen, seguida por uma edição suntuosa de "Ilíada" e "Odisséia".
    "Sr. Laurent", murmurei para mim mesma, maravilhada. Um homem que entrelaçava em sua estante o romance e a mitologia revelava-se diante de mim como alguém verdadeiramente fascinante.
    Constatei que não tinha muito o que arrumar ali... Ou morador era realmente muito organizado, ou a antiga faxineira tinha feito um recente e bom trabalho.
    Fiquei com medo de explorar demais, apostava que o gerente estava agora mesmo me monitorando pelas câmaras. Será que haviam câmaras?
    Bem, acho que não, na verdade, não ali.
    Fiquei entretida lendo os nomes dos livros, alguns eu conhecia... Romances de época, na maioria... Um homem organizado, amante de romances de época... Parecia coisa de conto de fadas!
     Havia no canto do quarto uma porta branca, não sei para onde é que dava, mas estava trancada. Pensei em descer e pedir a chave. Quem sabe o que tinha ali? Poderia ser um banheiro precisando de limpeza...
     Mas já havia um banheiro próximo a sala e outro ali... Para quê dois banheiros em um mesmo cômodo? Resolvi deixar isso quieto, depois eu perguntaria para alguém o que tinha lá dentro e se precisaria de uma limpeza. Poderia ser algo secreto ou particular, não é?
    Minha curiosamente falou mais alto e tentei espiar pelo buraco da fechadura, não deu pra ver nada... Oh! Espere, aquilo brilhante ali era o quê...?
      - Perdeu alguma coisa aí? - Meu coração quase saltou pra fora com o susto.
     De início pensei que fosse o sr. Mcjake, mas aquela voz firme eu poderia reconhecer facilmente, mesmo só a tendo ouvido uma vez.
     Me virei de vagar com as mãos pra cima em sinal de rendição.
     - Hã... Oi? - Esbocei um sorriso sem graça, dando um passo involuntário para trás. Ele me olhava como se quisesse me queimar viva.
    E então sua expressão passou de homicida para confusa.
    - Eu conheço você? - A fúria ainda estava presente, porém um pouquinho mais contida.
     Cogitei dizer "Não", mas claro que logo ele se lembraria, e não precisei falar. Seus olhos desceram até meus joelhos ralados e imediatamente sua expressão mudou. Ele franziu o nariz.
     - Você? A garota idiota que quase foi atropelada? Que diabos está fazendo no meu quarto ?!
    Idiota? Idiota era ele!
    - Estou trabalhando! E você? O que está fazendo aqui?
    Agora ele me olhava como quem dizia "fala sério!". Não era possível que o leitor de clássicos, bem organizado, o príncipe encantado que imaginei, e o homem furioso a minha frente fossem a mesma pessoa.
    - O seu trabalho inclui espionar minhas coisas?
    Dei uma olhada rápida para a porta e arregalei os olhos teatralmente, me afastando ainda mais daquela parede.
    - Eu não estava espionando! - Rebati nem um pouco convincente.
    - Aaaah, e o que estava fazendo quando cheguei? - Cruzou os braços arqueando uma das sobrancelhas grossas.
     Antes de responder, fiz uma breve  avaliação e constatei que ele era muito mais bonito do que eu me recordava. Seus olhos hoje estavam com uma tonalidade mais viva de verde, e o cavanhaque precisava de um reparo. O cheiro de gel de cabelo fez meu estômago se agitar. Ele ainda usava terno e gravata, mas hoje eram de cor cinza.
    - Pensei que talvez fosse um banheiro precisando ser limpo!
    - Se fosse pra você limpar não estaria trancado!
    Bufei contrariada. Ele tinha razão, mas eu entraria em grandes apuros se admitisse.
    - Só estava tentando fazer um trabalho bem feito. Valeu por agradecer.
    Ele soltou um riso desdenhoso que fez com que eu me encolhesse.
    - Espera que eu te agradeça? Não te contratei, e não preciso de você.
    As palavras me magoaram um pouco. Quem ele pensava que era!? Engolir esse tanto de desaforo não estava incluso no meu contrato. Além disso, eu não iria, sei lá, pegar uma picareta e tantar abrir a porta! A vontade de chorar me acometeu novamente. Não, não ia chorar na frente desse babaca mesquinho estupidamente lindo. Não ia dar a ele essa vantagem e satisfação. Fechei as mãos em punho pensando se valeria a pena perder meu emprego e ser processada.
     Marchando até a sala de estar peguei minhas luvas de borracha, o esfregão e alguns produtos de limpeza. Voltei ao quarto onde o idiota ainda olhava para o ponto onde eu estava há 30 segundos atrás, e lhe entreguei o esfregão. Coloquei os produtos em cima da mesinha e joguei as luvas em seu peito.    Suas narinas se inflamaram com meu gesto, os olhos se cerrando em uma súplica.
    - Aí está! Já que não precisa de mim, faça você mesmo!
    E saí batendo os pés. Aaah, eu seria demitida, com toda a certeza do mundo! Mas quem se importava? Espera, eu me importava! Minha nossa, o que eu havia feito...
   Antes que minha palma encostasse na maçaneta da porta, mãos grandes cobriram meus ombros obrigando-me a virar.
     O encarei com a sobrancelha arqueada. Bom... Se antes seu olhar era assassino... Agora estava mil vezes pior, frio e feroz.
    Não me deixaria intimidar, e para deixar isso claro levantei minimamente o queixo.
    Ele me girou, me encostando na porta, parecia se esforçar muito para manter uma postura calma e delicada enquanto segurava meus ombros.
    - Me solta! - seu dedo pousou entre meus lábios em um pedido claro para que eu fizesse silêncio, mordi seu dedo sem pestanejar. Os olhos verdes se arregalaram.
    - O que...? - Se perdeu nas palavras, fitando com uma expressão confusa o dedo vermelho.
    - Sabia que poderia te processar por tentativa de agressão?
    Ele jogou a cabeça pra trás e riu, com certeza achando minha ideia muito ridícula.
    - Agressão?!
    - Sim! Estava me apertando, aposto que vai ficar roxo. - Massageei meus ombros.
   Sua expressão se suavizou, e os olhos percorreram meu corpo a procura de qualquer resquício de hematomas causados por ele. Óbvio que não encontrou nada, eu estava sendo exagerada porque precisava intimidá-lo antes que ele me delatasse.
    - Está mentindo. - Estava começando a odiar sua mania de enfatizar as palavras. - Tem medo que eu vá até a portaria e diga exatamente o que acabou de acontecer aqui? - Ele sorriu quando não respondi.
   Meu corpo ainda se mantinha fixo na parede por vontade própria, se pudesse, entraria dentro dela e não sairia dali tão cedo.
    Graças ao meu péssimo e incontrolável mau gênio - que também pode ser definido como comportamento imaturo e inconsequente - agora estava em uma grande enrascada. Tinha me fodido bonito por causa de um cara idiota e arrogante. Tudo bem que eu não devia estar bisbilhotando, mas o que teria demais atrás daquela maldita porta?
   O que teria atrás daquela porta? Resisti ao impulso de dar uns tapas na minha cabeça. Minha curiosidade já estava me custando caro demais.
   Em São Francisco eu trabalhava como garçonete, chegava em casa com manchas de ketchup e os bolsos cheios de gorjeta. Aqui a única coisa que eu vinha ganhando era dor de cabeça e saco cheio, e olha que mal tinham se passado um dia de trabalho!
    De toda forma minha vida era diferente na Califórnia. Pelo menos o sr. Ruston, meu antigo chefe, era bonzinho. As vezes ele até me deixava sair mais cedo, geralmente quando eu tinha algum encontro com o Nick.
    Pensar em Nicholas andava sendo inevitável. Nos conhecemos na lanchonete mesmo. Ele ia lá toda manhã e fazia questão de ser atendido por mim. Eu não tinha muitos atrativos, por isso fiquei empolgada por um cara como ele requisitar o meu atendimento. Quase explodi de emoção quando o pedido de namoro chegou em um cartão com letra cursiva no meio de um buquê de rosas cor de rosa.   
     Namoramos por três anos, antes dele  se atolar até o pescoço em dívidas de jogos, resultado de sua ambição juvenil, mas nunca deixei de ser grata à ele por me ajudar a superar os piores dias de minha vida. Embora Nicholas não estivesse lá quando meu pai foi embora, foi ele quem ficou do meu lado quando descobrimos a doença de minha irmã, e se não fosse por sua causa, não sei se teria conseguido me manter em pé.
   Perder meu pai, perder o homem que amava e perder as esperanças já havia sido mais doloroso do que poderia aguentar.
   Não podia perder aquele emprego também, por mero capricho meu. Suspirei calculando as próximas palavras.
   - Sr. Laurent, certo? - Ele apenas continuou me fitando com aqueles olhos de esmeralda. - Sei que o que fiz foi extremamente imperdoável.
   - Imperdoável. - Concordou rapidamente.
   - ...E sei que você tem todos os motivos do mundo para desejar que me demitam, e...
    - Qual o seu nome? - Perguntou de repente.
   Pisquei algumas vezes, refletindo se falar meu nome ajudaria na minha identificação, mas de toda forma, o sr.Mcjake já sabia que eu estava ali.
    - Kimberlly Drayton. - Estendi a mão. Talvez colasse!
     Seus olhos recairam sobre minha palma estendida. Ele franziu a testa e não a apertou.
    - Não tente ser simpática. Não combina com você.
    Fechei a cara.
    - E o que você entende sobre simpatia? - Droga. Abaixei os ombros. Tinha me esquecido o intuito daquele diálogo. - Olha, eu só queria pedir desculpa por... toda essa situação constrangedora. Não tornará a se repetir. Prometo.
     - Claro que não se repetirá.
   Isso significava que estava decretado. Ele iria me denunciar à direção do hotel. Tudo bem, Kimberlly Drayton, você não precisa ter um surto. Respire, respire, respire.
     - Ei. - Falou em um tom leve, e só então percebi que respirava e expirava de forma audível. - Não precisa pirar. Não vou contar nada.
     Levantei os olhos, como se do nada tivesse brotado um chifre no meio da testa daquele homem. Talvez existisse um ser humano ali dentro.
     - Obrigada! - Sorri. - muito obrigada, muito mesmo! - Quase poderia abraçá-lo, mas óbvio que não faria isso. - E me desculpa! Tipo, de verdade.
     Retornando a sua expressão formal de mau humor, repetiu destacadamente :
     - Imperdoável.

  

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