CAP 44 - E eu ? e o Rhael ?
RHAEL NARRANDO *
FLASH BACK ON
Então lá estava eu, sentado no consultório, esperando que o médico abrisse o envelope com os resultados dos exames, meu deus como eu estava nervoso pra caramba.. Cada segundo parecia durar uma eternidade, e o silêncio só aumentava a tensão no ar , sinto meu coração martelando no peito enquanto espero ansiosamente e o clima tenso no consultório só aumenta minha agonia que era constante e gradativa.
Finalmente, o médico quebra o selo do envelope, retira o papel, meus olhos fixos nele, prendo o fôlego, mal conseguindo conter a respiração, ele dá aquela olhada misteriosa na folha agora em sua mão e meus olhos estão grudados nele a ponto de eu nem piscar, meu coração batendo tão forte que eu tenho certeza que o médico deve conseguir ouvir.
Ele olha para o resultado por um momento, e então seus olhos encontram os meus, sua expressão séria diz tudo antes mesmo de pronunciar uma palavra, então, ele olha para mim , e aquele olhar dói , mais dói como um olhar nunca havia doído tanto.
—Eu sinto muito, Rhael.. Os resultados mostram que você é Reagente HIV positivo.
Ele diz e um choque percorre meu corpo, uma mistura de incredulidade e pavor... medo, dor.. É como se o chão tivesse sido arrancado debaixo de mim, deixando-me à deriva em um mar de desespero e lágrimas, lágrimas essas que não pediram permissão apenas desceram pela minha face .
Minha mente está um turbilhão, tentando processar o que isso significa para mim, para minha vida, para meu futuro... Medo, tristeza, raiva, tudo se mistura em uma confusão indescritível, tudo misturado numa bagunça só dentro da minha cabeça.
Fecho os olhos por um momento, tentando encontrar alguma centelha de dúvida, talvez ouvir ele dizer que havia se enganado, mas não aconteceu , as lágrimas que já escorriam pelo meu rosto não cessaram nem por um mísero segundo.
Pensa numa pancada! Parecia que eu havia sido empurrado do alto de um penhasco e que estava caindo em queda livre.
— Rhael.. embora seja uma notícia difícil de digerir, é importante que você saiba que o HIV não é mais uma sentença de morte. Existem tratamentos altamente eficazes disponíveis hoje em dia, que podem ajudar a controlar o vírus e permitir que você leve uma vida longa e saudável. - ele explica, sua voz suave enquanto fala sobre o tratamento disponível, ele continuou explicando tudo calmamente , falando sobre os remédios, os exames de acompanhamento..
No final das contas, eu saí de lá com uma mistura de sentimentos, mas pelo menos com um plano em mente. Ao sair do consultório, tudo que eu queria era correr para casa e me jogar no sofá, ligar a TV e fingir que o mundo lá fora não existia , abraçar o meu namorado e ouvi-lo dizer que aquilo tudo era só um pesadelo e que eu acordaria logo .
Mas, assim que entrei pela porta, fui recebido pelo silêncio ensurdecedor da minha casa vazia.
Caramba, a solidão bateu forte, sabe? Parecia que o lugar estava mais silencioso do que nunca, como se até mesmo os móveis estivessem cochichando sobre mim , era como se até o meu reflexo na tela da televisão estivesse me culpando.
Joguei-me no sofá, sentindo-me como uma estrela de novela mexicana em um momento dramático, comecei a encarar o teto como se ele fosse me dar todas as respostas para as perguntas que eu nem sabia que tinha e que agora me pertubavam.
E então, as lágrimas começaram a rolar , não as lágrimas dramáticas e teatrais como nas novelas, mas, aquelas lágrimas de verdade, que queimam e machucam, sabe? Aquelas que você tenta segurar, mas acabam escapando de qualquer jeito.
Olhei ao redor da sala, meio esperando que o meu namorado estivesse em casa , que ele decesse as escadas e viesse ate mim me abraçar , nem que fosse ao menos pra dizer o quantoeu fui descuidado ou qualquer outra coisa , só pra ouvir o som da voz dele , isso só fez a solidão parecer ainda mais real e o meu peito doer mais ainda .
Enfim, acabei me permitindo chorar um pouco. Porque, sério, às vezes, é preciso botar pra fora mesmo, não é? Mesmo que seja em uma sala vazia, com nada além do eco dos seus próprios soluços para te fazer companhia .
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Na manhã seguinte acordei enquanto meu namorado caminhava cômodo a dentro sem fazer muito barulho pegando alguns livros e colocando em uma mochila , minha cabeça ainda doia pela noite passada eo silêncio no cômodo era nitido até o som sonolento da minha voz .
—Você já vai sair de novo ? - perguntei baixo enquanto me sentava na cama esfregando os olhos , eu havia ido tarde pra cama naquela noite , esperei por ele até quase de manhã no sofá e ele não veio.
—Eu tenho que voltar pra casa amor , só vim pegar esses livros . -O olhar de Julian encontrou o meu e ele respirou fundo como se lamenta-se por eu tê-lo visto aqui .
—Você nunca tá aqui Julian . - eu disse desapontado, eu queria tanto ele comigo agora , nem que fosse pra chorar deitado no colo dele , nem que fosse apenas pra olhá-lo estudar, só queria ele aqui , queria sentir que eu era importante pra alguém enquanto o meu mundo parecia desabar.
—A Max não está bem Rhael . - ele disse baixo se aproximando da cama , e aquilo me irritou de uma forma que eu não sei explicar, talvez eu estivesse com ciúmes da atenção que era tirada de mim naquele momento.
—Ela deveria ver um psicólogo, já tem quase um mês, até quando vai durar isso !?. - resmunguei , enquanto abaixava a cabeça pra que ele não visse os meus olhos marejados.
—Ela vai melhorar logo eu espero . - ele disse ainda em tom baixo.
—Talvez devesse deixar o pai dela resolver isso . - disse olhando minhas mãos enquanto me forçava a não ter os olhos lacrimejando.
—Ela é minha amiga ,eu não vou só deixar pra lá. - Julian disse irritado.
—E eu sou seu namorado.. a gente mal se vê, tem semana que a gente nem se encontra. - resmunguei ainda mais , talvez até soando também um pouco irritado.
—Daqui a pouco vai dizer que eu tenho que escolher . - ele disse nervoso , foi quando gesticulei pra abrir a boca , eu iria contar a ele, eu tinha que contar... Talvez eu não tivesse coragem em outro momento.
Mas, eu fui interrompido e ele então continuou .—Eu amo você Rhael , amo mesmo, mais não ouse querer me fazer escolher, porque vai ser ela.. aquela garota é como se fosse minha irmã, ela é minha família e se eu literalmente tivesse que colocar a mão em brasa quente por alguém, seria por ela e eu nunca.. nunca mesmo vou deixar parecer que não.. não foi uma boa noite, Rhael. A Max... ela não está bem, conversaremos em outro momento - ele murmurou enquanto colocava a mochila nas costas e aquelas palavras me atingiram em cheio , era como ser rasgado de dentro pra fora.
Foi quando me levantei da cama, eu já me segurava pra não chorar novamente , as minhas mãos tremiam .
— O que aconteceu? Ela está bem? - perguntei baixo com a voz falha .
— Ela... está passando por um momento difícil. Eu fiquei com ela ontem à noite, e... foi assustador Rhael... Eu quase a perdi. - ele diz cabisbaixo.
Me aproximei , colocando as mãos em seus ombros com gentileza.
— Você é um cara incrível amor e eu jamais vou te pedir pra escolher.. Você está sobrecarregado, me deixe ao menos dividir esse peso com você ao invés de me afastar. - pedi e ele me deu um selinho um sorriso fraco e apenas foi embora sem nem sequer responder minhas últimas palavras.
O meu namorado havia ido , e oque havia ficado eram seus dizeres que gritavam na minha mente "Eu amo você Rhael , amo mesmo, mais não ouse querer me fazer escolher por que vai ser ela."
E eu ? E o Rhael ? E a importância que eu deveria ter ? Eu ao menos deveria ter ouvido um "E você Rhael.. está bem ?"
Se antes eu estava chorando agora eu chorava ainda mais , meu peito apertava como nunca havia apertado antes .
FLASH BACK OFF
Eu deixei ele bater , deixei ele descontar toda a sua raiva da minha atitude nas minhas coxas , seus tapas não doíam mais do que oque eu estava sentindo.
Eu merecia afinal eu tinha que ter sido mais prudente, tinha que ter pensado mais antes de ter só metido os pés pelas mãos.
—Eu vou te dar o tempo que precisar pra me perdoar caso seja algo possível, eu amo você Julian . - eu disse e então beijei sua testa .
Olhar pra ele.. olhar pra expressão em seu rosto era doloroso, ele estava claramente perdido, e a culpa era minha , toda minha .
Eu me afastei , e me despedi saindo pela porta , deixando o amor da minha vida ali , eu queria muito o seu perdão, que seguissemos de onde havíamos parado , mas não seria.. eu sabia que não, mesmo que ele decidisse continuar comigo seria diferente, e a culpa não era dele .
JULIAN NARRANDO*
—Eu também te amo Rhael.. - murmurei em um sussurro baixo assim que ele saiu , foi quando eu me encolhi abraçando os meus joelhos em meio às lágrimas.
—Julian...você ta aqui ? Eu encontrei o Rhael na porta.. ele está com uma cara péssima.. - Max perguntou preocupada abrindo a porta e então me viu e sua expressão mudou instantaneamente. —Oque foi que aconteceu meu amor ? - ela veio apressadamente me abraçar se sentando ao meu lado na cama .
—Eu não passei em uma prova.. - menti , eu não queria que além de mim ela também pensasse sobre aquele assunto.
—Você vai se sair muito melhor na próxima você vai ver ... - ela me abraça apertado. —Já até sei oque vai animar você.. Praia... vem levanta vai lavar esse rosto que nos vamos em dez minutos anda logo . - ela diz autoritária com um sorriso largo me puxando pela mão.
—Nãã...
—Se você não levantar agora.. eu vou te arrastar até lá e te obrigar. - ela diz seria e eu me levanto sem vontade, entro no banheiro e ligo a torneira, deixando a água fria escorrer sobre o meu rosto por um momento.
Sinto as gotas geladas contra minha pele, tentando lavar não apenas as marcas das lágrimas, mas também a culpa que pesa em meu coração, encaro meu reflexo no espelho, os olhos cansados refletindo a confusão que se passa dentro de mim, respiro fundo, tentando encontrar alguma calma em meio o estado sofrido que estou.
Após secar o rosto, volto para o quarto e troco rapidamente de roupa com a Max ali mesmo , optando por um conjunto casual que é um dos poucos tipos das minhas roupas que estavam aqui , até nessas simples coisas o loiro vinha a minha cabeça.
Cada movimento é automatizado, enquanto minha mente continua a girar em torno das palavras trocadas com Rhael e das decisões que me levaram até aqui, até essa merda de momento.
Era como se a minha consciência me culpasse pelo resultado dele , afinal ele não teria ficado com ninguém quando eu o acusei por causa daquelas fotos .
Talvez ele também me culpasse, talvez não, não sei dizer se deveria... não sei nem sequer como me colocar em uma posição de olhar tudo isso de forma geral.
Saio de casa ao lado de Max, tentando forçar um sorriso que sei que não convence enquanto ela fala algumas coisas tentando me animar, e eu só caminho em silêncio , entramos no carro, o motor ronrona suavemente.
Enquanto percorremos as ruas, o trajeto curto parecia estar se estendendo como uma eternidade , e cada rapaz que eu via na calçada me fazia pensar nele , mesmo os que não tinham nenhuma semelhança.
Cada semáforo vermelho parece uma pausa forçada em meio ao turbilhão de pensamentos que rodopiam em minha mente, eu tento manter os olhos na estrada, mas minha atenção está dispersa, presa nas palavras não ditas e nas decisões não tomadas e se a garota ao meu lado falou algo em algum momento do percurso eu não ouvi .
Finalmente chegamos à costa, e o som suave das ondas quebrando contra a praia preenche o ar, dissipando parte da tensão que se acumulou durante o trajeto, Max estende a mão para mim, seu toque trazendo um breve alívio para minha alma atribulada, descemos do carro e caminhamos em direção à areia, e o som das ondas quebrando ao longe parece uma melodia suave em meio ao tumulto interno que me consome.
Sinto a brisa acariciar meu rosto e a areia fria sob meus pés agora descalços, encontramos um lugar na areia e estendemos um pano para nos sentarmos, o sol aquecendo nossa pele enquanto observamos as ondas dançando à distância. Eu não tenho vontade de entrar na água, então permaneço ali, perdido em meus próprios pensamentos, enquanto Max se levanta e caminha em direção ao mar.
Observo-a se afastar, sentindo-me distante e desconectado, mesmo estando tão perto dela. Minha mente está ocupada com Rhael, com a angústia que se instalou em meu peito nas últimas 24 horas.
Fecho os olhos por um momento, tentando encontrar algum tipo de paz interior, mas só encontro mais perguntas sem respostas. O som das ondas quebrando contra a praia parece uma melodia triste, ecoando minhas próprias dúvidas e incertezas.
Quando finalmente abro os olhos, vejo Max voltando da água, os cabelos molhados grudados em seu rosto, ela parecia feliz , parecia finalmente recuperada , com um sorriso meigo a loira se senta ao meu lado, me lançando um sorriso gentil, mas eu sei que não consigo retribuir da mesma forma.
Permanecemos ali em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos, o dia vez ou outra ficava nublado assim como eu estava me sentindo .
Eu sei que tenho muito a resolver, mas por enquanto, decido apenas estar ali, presente no momento, mesmo que minha mente esteja em outro lugar.
Enquanto observava o mar, avistei uma figura familiar emergindo das ondas algumas dezenas de metros à frente. Era o professor Davens semi nu com seu físico atlético e um charme irresistível, ele saiu da água com uma graça natural, os músculos definidos gotejando água salgada, com uma elegância que parecia desafiar a idade, seus cabelos escuros molhados grudados na testa, destacando ainda mais seus olhos penetrantes, seu corpo esculpido pelo tempo e pela prática constante de esportes parecia desafiar as leis da gravidade, músculos definidos e firmes dando-lhe uma aparência muito mais jovem do que seus cinquenta anos.
Cada movimento fluído de seus braços e pernas revelava uma força e agilidade impressionantes, enquanto ele se aproximava da areia . Seu corpo era uma obra de arte ainda mais atraente sem todas aquelas roupas formais .
O sorriso de Diego era cativante, iluminando seu rosto bronzeado.. enquanto o observava, não pude deixar de admirar , assim como não pude deixar de notar como Diego parecia à vontade no ambiente, me vi hipnotizado pela sua presença por um momento.
Nossos olhares se encontraram brevemente, um sorriso atrevido brincou em seus lábios em minha direção antes que ele se afastasse, continuando seu caminho pela praia sem se aproximar de nós.
Um misto de alívio e decepção se misturou dentro de mim. Por um lado, era bom.. por não ter que enfrentar uma conversa desconfortável com ele. Por outro lado, a sensação de que ele tinha notado minha agitação interna permanecia, deixando-me inquieto.
Max e eu assistimos em silêncio enquanto Diego se afastava, sua figura se tornando cada vez menor à medida que se distanciava, era como se ele levasse consigo um pedaço da minha tranquilidade, deixando-me ainda mais perdido .
Max seguiu meu olhar e sorriu divertida , percebendo minha admiração silenciosa pelo professor. Ela me cutucou de leve com o cotovelo, provocando-me com um sorriso travesso,mas , eu apenas balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos inapropriados que insistiam em surgir em minha mente.
—Nós já podemos ir ? - perguntei com o olhar distante, eu só queria muito o silêncio do meu quarto .
—Oque foi?... a bichinha resolveu vir chorar na praia foi? - a voz irritante de Emily ecoou do lado oposto.
Era só o que me faltava, aquela piranha pra fuder com o resto da paz que me sobrava .
—Tá maluca garota ? - Max perguntou nervosa se levantando .
—Arrumou uma guarda costas é Julian.. patético. - ela ri com desdém.
—Vou te mostrar oque é patético sua vadia. - Max diz nervosa metendo a bofetada na outra.
Admito que eu não esperava tal reação, aconteceu tão rápido que em questão de segundos ambas estavam uma agarrada no cabelo da outra e eu tentando separar .
Eu nem sabia da onde aquela garota havia saído mais que que a situação havia perdido o controle era óbvio, eu tinha até medo do que ainda poderia acontecer nesse dia .
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