MAX NARRANDO*

Eu me sentia como se estivesse presa em um labirinto de dor, onde cada corredor conduzia a uma nova forma de sofrimento, cada batida do meu coração parecia um martelo a ecoar dentro do meu peito, cada respiração uma luta contra o peso insuportável que pressionava meus pulmões.

As lágrimas corriam pelo meu rosto, quentes e amargas, enquanto eu tentava conter os soluços que ameaçavam me sufocar, cada pensamento, cada lembrança dolorosa, parecia arrancar um pedaço da minha alma, deixando-me vazia e desolada.

Eu me sentia perdida, completamente só em um mundo que parecia conspirar contra mim , cada passo era uma batalha, cada momento uma tortura e eu não conseguia mais suportar o peso das minhas próprias emoções, e o desespero me consumia com uma chama voraz.

Tentei gritar, mas as palavras ficaram presas na minha garganta, sufocadas pelo peso da minha dor , eu me agarrei a qualquer fragmento de esperança que restasse, mas mesmo isso parecia escapar por entre meus dedos trêmulos.

E então, num momento de desespero absoluto, me vi à beira do abismo, encarando o vazio negro que se estendia diante de mim, não sabia se poderia continuar, se poderia suportar mais um segundo sequer da agonia lancinante que me consumia por dentro.

Foi nesse momento, quando alcancei o limite do sofrimento, que algo dentro de mim se quebrou , um grito rasgou minha garganta, ecoando pelo vazio da minha alma como um lamento selvagem e angustiante.

Me vi caindo, caindo em um abismo de escuridão sem fim, incapaz de encontrar uma saída e enquanto as lágrimas continuavam a cair, soube que estava perdida, perdida em um mar de pensamentos e memórias doloridas .

Naquela manhã eu abri a janela , olhei para o quintal calçado em cimento e pensei no quão menos dolorido seria me jogar dali , talvez fosse uma solução mais simples , mais fácil.

Talvez pareça patético eu ter chegado em um estado tão deprimente por uma garota, mas não foi totalmente por causa dela , foi a sensação de ser abandonada de novo , essa sensação que insistiu em me perseguir a vida inteira.

Mas não era assim que eu queria finalizar a minha história, o meu pai não merecia isso , Julian não merecia isso , então me afastei da janela me sentando a cama e foi quando a porta do quarto se abriu e Julian passou por ela .

Eu me afundava cada vez mais na escuridão de minha própria angústia, incapaz de encontrar uma saída, Julian parecia entender a profundidade do meu sofrimento e, com cuidado colocou um sorriso pequeno nos lábios .

—É muito bom você finalmente ter aberto essa janela Max. - ele disse acariciando os meus cabelos.

— O aniversário do seu pai está chegando. — continuou Julian, escolhendo suas palavras com cuidado. — Ele ficaria muito feliz em ter você lá. - Ele diz e eu ergui os olhos para encontrá-lo.

Uma mistura de tristeza e surpresa refletindo em meu olhar, eu nunca havia esquecido do aniversário do pai antes, mas desta vez, eu me sentia tão perdida que mal conseguia pensar em como eu não havia notado que a data era próxima, o aniversário do meu pai sempre foi uma data muito importante pra mim pois a minha mãe nunca estava em casa no dela .

— Eu sei que as coisas estão difíceis agora — continuou Julian, com voz gentil. — Mas estar lá com sua família pode ajudar a trazer um pouco de conforto.. E seu pai adoraria ter você por perto assim como todos nós. 

Eu hesitei por um momento, mas finalmente, depois de um momento de silêncio tenso, eu concordei em tentar. — Tudo bem — murmurei, minha voz mal audível. — Eu vou tentar.

Um pequeno sorriso apareceu nos lábios de Julian, ele sabia que isso não resolveria todos os meus problemas, mas era um passo na direção certa e no fundo eu também sabia disso .

— Ótimo — disse ele, tentando manter o ânimo em sua voz. — Vamos organizar tudo no decorrer da semana ,  vai se animar vai ver.  - ele diz .

Talvez, apenas talvez, o aniversário do meu pai pudesse ser o começo de uma jornada de cura.

Os dias que se seguiram foram uma montanha-russa de emoções para mim, Cada momento era uma batalha entre a esperança e o desespero, enquanto eu me preparava para enfrentar o aniversário do meu pai em um chalé alugado para o fim de semana.

Julian estava ao meu lado em cada etapa do caminho, oferecendo apoio inabalável e palavras de encorajamento , nós organizamos juntos cada detalhe, cuidadosamente.

Sua presença era como um raio de luz em meio à escuridão, e eu me sentia profundamente grata por tê-lo ao meu lado durante este momento difícil.

À medida que o sábado se aproximava, uma mistura de nervosismo e expectativa começou a crescer dentro de mim, eu me esforçava para me preparar mentalmente para o evento, lembrando a mim mesma que poderia enfrentar qualquer desafio, contanto que tivesse o apoio deles ao meu lado.

Na manhã do aniversário do meu pai, acordei com o coração acelerado e as mãos tremendo, escolhi uma roupa que me trouxesse conforto e confiança, e coloquei os meus tão amados saltos no pé ,

Julian chegou cedo para me buscar, ele tinha um sorriso alegre junto à Rhael que também parecia contente em me ver , eu me sentia bem melhor que nos dias anteriores.

Ao chegarmos ao chalé alugado, fui recebida pelos sorrisos calorosos de meus parentes e amigos , uma sensação de calma começou a se instalar em meu peito, naquele momento, eu me senti cercada pelo amor e à dor parecia ter diminuido um pouco , conforme o dia avançava, encontrei-me compartilhando risos e lembranças com meus entes queridos... e era bom , nossa como eu estava com saudades da sensação do peito suave e tranquilo.

Percebi que, apesar de todas as minhas lutas e dores, ainda havia momentos de alegria para serem vividos e que eu não poderia obrigar ninguém a querer vivê-los comigo.

O chalé alugado para o fim de semana estava decorado com balões coloridos e luzes cintilantes, criando uma atmosfera alegre e festiva , mesas cobertas com toalhas brancas estavam dispostas ao redor do espaço, cada uma decorada com arranjos de flores frescas .

sorri ao ver as pessoas queridas, sentindo-me grata pela presença de cada um... Aquilo era mais importante pra mim do que eu achei que seria .

— Max, querida, que bom que você chegou! - disse minha tia me abraçando calorosamente. - Estamos tão felizes em tê-la aqui para celebrar conosco.

— Obrigada, tia. - respondi retribuindo o abraço. - Estou feliz por estar aqui.

Meu pai e Ricardo estavam conversando animadamente perto da lareira, um copo de vinho na mão de cada um, me aproximei deles, sentindo um nó se formar em minha garganta , eu estava emotiva.

— Pai, Ricardo... - chamei, minha voz um pouco rouca de emoção , meu pai se virou e seu rosto se iluminou ao me ver.
— Max, minha querida! - ele exclamou, abrindo os braços para um abraço. E então corri para os braços dele, sentindo um calor reconfortante irradiar de seu abraço.
— Feliz aniversário, pai. - disse, minha voz embargada.

Ricardo se aproximou e me envolveu em um abraço também e era bom estar ali .

— Max.. - Ricardo disse gentilmente. - Estamos tão felizes por você estar aqui conosco.

— Obrigada, pai, Ricardo... estou feliz por estar aqui com vocês.

Eles se separaram e eu peguei um copo de suco da bandeja próxima , eu não estava afim de bebidas alcoólicas hoje ,  ergui o copo em um brinde silencioso, os olhos brilhando com gratidão pela família que eu tinha ao meu redor , eu sabia que aqueles ali não me abandonariam .

À medida que a noite avançava, a música tocava animada no fundo, e as conversas fluíam entre os convidados, ao ver Julian me aproximei dele.

— Hey, Julian. - cumprimentei  dando-lhe um leve soco no ombro. — Obrigada por estar aqui comigo hoje.

— Sempre estarei ao seu lado, Max. - Julian sorriu e passou o braço em torno dos meus ombros .

Enquanto conversavamos , Rhael se aproximou, segurando dois copos de bebida. Ele entregou um a Mim e outro a Julian, seu sorriso radiante iluminando seu rosto.

— Para o aniversário do seu pai. - disse Rhael, erguendo seu copo em um brinde.
— Para o aniversário do meu pai. - ecoou o meu copo eo de Julian, erguendo nossos copos em uníssono.