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CAP 25 - Eu não vou ao médico

Notas do autor : Este capítulo tem conteúdo sensível que pode provocar gatilhos , caso não se sinta a vontade leia só até a metade ou pule esse capítulo

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Naquela noite nós dormimos tranquilos e abraçados assim como antes , Rhael não parecia tão cansado dessa vez e em muito tempo hoje havíamos conversado novamente como antes , de forma descontraida e animada foi como se ouvesse somente eu e ele no mundo.

-Meninos venham assistir com a gente se não estiverem ocupados , vamos ver aquele filme que vocês queriam assistir . - Max diz animada batendo na porta oque nos faz acordar .

-Estamos indo . - Rhael responde com um sorriso me puxando pra levantar da cama .

MAX NARRANDO *

assim que eu avisei o Julian e o Rhael sobre o filme eu voltei para o andar de baixo me sentando no sofá ao lado da minha namorada, meu pai e Ricardo também estavam ali sentados juntos no outro sofá.

-Eles vão vir ? - Ricardo perguntou .

-Estamos chegando sogrinho . - Rhael diz carismático descendo as escadas abraçado a cintura de Julian , os garotos então se sentaram no mesmo sofá que eu e Yas e foi quando apertei o enter no filme .

Era uma comédia de duas horas de duração e havia saído a poucos dias então todos estavam animados pra ver , a pipoca estava quentinha e o refrigerante geladinho , era muito bom aquele climinha ali com todo mundo reunidos na sala pra assistir ao filme no fim das contas nós éramos felizes vivendo do nosso jeito .

Nos primeiros minutos de filme eu já havia notado que a Yasmin não estava muito bem , ela que estava abraçada em mim suava frio oque já me levantou um alerta , eu estava começando a me preocupar com ela já que tinha mais de uma semana que ela não estava passando muito bem.

-Eu preciso ir no banheiro . - a garota disse afastando o meu braço pra conseguir se levantar .

quando a de cabelos cacheados ficou em pé a minha frente ela colocou a mão sobre a boca por um momento e então disparou a correr em direção ao banheiro do andar de baixo que ficava na cozinha.

-Ela não parece muito bem . - meu pai diz .

-Eu vou até lá. - eu disse me levantando e indo até a cozinha e então até o banheiro.

Assim que cheguei na porta Yas estava abaixada frente ao vaso sanitário, ela vomitava enquanto tentava segurar o próprio cabelo , me aproximei da minha namorada e segurei seu cabelo pra que ela não precisasse fazer isso .

-Gatinha deveria ir ao médico, você não me parece bem . - eu disse .

-Eu tô bem .. - ela mal fecha a boca e volta a vomitar novamente.

Estava nítido que algo com ela não estava certo , depois de um tempo ela pareceu melhorar um pouquinho e então lavou o rosto na pia e voltamos a sala .

-Tudo bem ? - Ricardo perguntou.

-Tá.. - a garota insiste mesmo seu rosto dizendo outra coisa .

-Bem nada , tem mais de uma semana que você tá assim Yas , só essa semana é a quarta vez que saiu correndo pro banheiro. - eu disse .

-Eu não vou ao médico Max , eu já disse que tô bem . - Resmungou a garota .

-Ao menos deixe o meu pai ou o Ricardo dar uma analisada em você, eles são médicos . - insisti .

-Não.. eu tô bem , eu vou pra casa . - ela disse irritada pegando a bolsa em uma mesinha no canto da sala e caminhando até a porta .

-Yas .. Yas .. - a chamei algumas vezes indo até ela e ela não parou . -Yasmin você está grávida? - perguntei de uma vez e todos ali olharam pra mim inclusive ela .

Vi quando os olhos dela se marejaram no silêncio em que ela se mantinha , ela voltou a seguir em direção a porta e ao segurar a maçaneta se virou pra mim , suas lágrimas desciam mas ela continuou a não falar nada e só saiu correndo .

Eu me apressei em sair atrás dela mas ela já havia entrado no carro e saído disparadamente.

Eu não sabia oque pensar e eu me sentia idiota ao voltar pra dentro de casa tendo perguntado algo assim.

-Max minha filha isso não se faz . - meu pai disse me olhando .

-Pai ela tá enjoada , vomitando , suando frio se o senhor me disser que não são sintomas de gravidez eu vou ouvir o sermão caladinha. - falo e o meu pai se mantém em silêncio.

-Estão namorando a uns 6 meses Max não tem como ela estar grávida. - Julian diz .

-Todos vocês sabem que se ela estiver não foi por minha causa . - disse com ironia indo até o balcão da cozinha e pegando a chave do carro do meu pai .

-Pode ser outra coisa . - Ricardo diz .

-Se ela me disser que não está, vou acreditar nela e se disser que não quer que eu insista que ela vá ao médico eu não vou insistir, mas , quero ouvir ela dizer que não é. - disse saindo pela porta de casa .

Eu retirei o Jeep da garagem e então sai em direção a casa da garota , quando cheguei logo notei que ela estava ali já que o carro estava parado frente a residência. Toquei a campainha e Thiago logo abriu a porta , ele parecia não ter visto a irmã já que estava tranquilo.

-Max oi. - ele diz com um sorriso .

-Oi Thi , eu vou conversar com a Yas. - disse indo em direção às escadas.

-Tá bem . - ele apenas concorda quando eu já estou terminando de subir os degraus .

A porta do quarto da de olhos verdes estava trancada oque me fez bater sutilmente.

-Yas .. vamos conversar amor . - eu disse baixo parada frente a porta , pude ouvir quando ela virou a chave destrancando a porta , eu respirei fundo por um momento.

Assim que entrei fechei a porta atrás das minhas costas , minha namorada estava sentada na cama e havia uma folha de sufite dobrada ao lado dela sobre o colchão.

Ela se mantinha em silêncio enquanto eu me aproximava, seus olhos estavam úmidos e já começavam a se avermelhar .

-Me desc... - eu comecei a falar e foi quando ela estendeu a folha pra mim , foi quando me calei não terminando o que eu estava prestes a dizer .

Eu peguei meio receosa , assim que olhei logo vi a data que era de oito dias atrás , e então vi o nome seguinte "Exame Bhcg" meus olhos percorreram a folha e pararam sobre a palavra em maiusculo e negrito "POSITIVO" meus olhos se molharam no mesmo segundo , eu não estava conseguindo acreditar , meu coração começou a bater acelerado e eu sentia o meu corpo tremer levemente.

-Por que Yas ? - perguntei com os olhos marejados. -Achei que estávamos indo bem ..

-E nós estávamos. - ela diz baixo , sua voz era chorosa .

-Então porque ? Porque me traiu ? - ouvir a minha própria pergunta em voz alta era doloroso .

Meu peito estava apertado , eu não conseguia acreditar que a Yas tinha sido capaz de me trair .

-Eu não trai você. - ela diz chorando .

-E como está grávida se não me traiu ? - perguntei nervosa .

-Eu .. sinto muito. - ela diz se encolhendo na cama . -Eu tive medo Max , você não iria precisar saber disso eu iria resolver , eu vou resolver , só precisava ter escondido por mais alguns dias . - ela diz olhando os próprios dedos .

-Tá dizendo que vai abortar ? - perguntei ainda mais incrédula , eu parecia não conhecer mais aquela garota.

-A lei me ampara nessa decisão. - ela diz baixo.

-Até onde eu sei ainda não é completamente legalizado nesse país. - eu disse pensativa . -Tá dizendo que .. - eu não conseguia terminar a frase eu só conseguia vê-la se encolher ainda mais na cama dessa vez abraçada aos joelhos .

-Vá embora Max, por favor . - ela havia começado a soluçar em meio ao choro .

-Quando foi isso ? Porque não me contou? - Eu perguntei baixo me abaixando frente a ela .

-Eu não queria preocupar você. - ela diz baixo . -Foi dias antes do Natal, eu estava saindo do shopping tinha ficado até mais tarde na loja da minha mãe pra conferir o estoque, eu já estava na rua , estava entrando no meu carro .. - ela dizia aos prantos enquanto a abracei .

-Você foi a polícia? - perguntei a abraçando apertado.

-Eu fui , me disseram que iriam investigar mas que era complicado por ser tarde da noite e justo no ponto cego da camera , por isso eu troquei de carro eu não conseguia mais olhar pra ele .

-Deveria ter me contado meu bem . - eu disse acariciando os cabelos dela .

-A mãe do Julian que também era madrasta do seu irmão morreu dias depois , você já estava tão abalada eu não poderia te deixar ainda mais mal . - ela diz .

-Meu bem eu sempre vou estar aqui pra você, mesmo que o mundo esteja desabando lá fora . - eu disse baixo .

-Você me odeia por abortar ? - ela perguntou ainda chorosa .

-Eu não odeio você, vou estar do seu lado no que decidir .

Eu a abracei ainda mais e a puxei pra que nos deitassemos ali lado a lado com sua cabeça sobre o meu peito enquanto eu acariciava os seus cabelos , eu me sentia mal por não ter notado como a minha namorada estava diferente, como ela parecia mais assustada e como ela tinha mais medo , eu me sentia péssima por não ter estado lá pra ela , por não ter feito nada , por nem sequer ter notado que algo havia acontecido.

-Max ..

-Oi meu bem ?

-Não quero que ninguém saiba, você é a única pessoa além da polícia pra quem eu contei . - ela diz baixo .

-Não contarei a ninguém . - afirmei .

-Você pode ir até a clínica comigo? - ela pediu em um susurro.

-sim . - respondi beijando sua testa.

Os dias seguintes passaram lentamente , o relógio parecia quebrado e o tempo parecia demorar o dobro do tempo pra passar , nós havíamos dito aos outros que ela havia tido uma intoxicação alimentar e então seguimos com tudo como a garota queria . O dia de ir até a clínica havia chegado e assim como eu havia dito que faria a acompanhei até lá, me despedi com um beijo rápido enquanto ela adentrava a sala, a recepção daquele lugar era fria e solitária, mas, talvez fossem os meus pensamentos que não me tranquilazassem , um procedimento de pouco mais de uma hora parecia ter durado uma eternidade, eu não sei o que faria se fosse eu no lugar dela , Não sei se eu ficaria com o bebê , mas não julgo as atitudes tomadas por ela afinal poder decidir oque fazer ainda é e sempre será um direito dela .

O preconceito e a violência contra a mulher , contra lésbicas... ainda existe, e ele ainda destrói pessoas e vidas , o mundo deveria ser um lugar melhor onde era esse tipo de pessoas que deveriam fazer terapia antes de fazer algum mal à alguém, mas nós sempre vemos que quem vai pra terapia foi a vítima, e as pessoas agem como se fosse algo normal , não é. Eu espero que a polícia encontre esse desgraçado e que ele apodreça na cadeia .

E espero que em algum momento pessoas como nós possam andar nas ruas sem medo , sem temer pelo desconhecido.

Ela finalmente havia saído da sala , ela estava um pouco zonza e eu então me apressei em ir até lá a ajudando a sair dali , minha namorada chorava muito , e quanto mais nós caminhávamos em direção a saída mais ela chorava abraçada ao meu corpo .

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