FÚRIA
Não estou no meu melhor momento, nem meu humor está no seu melhor dia, mas, ainda assim, tolero ficar com os homens na sala, fumando seus charutos, bebendo seus uísques servidos por mulheres seminuas enquanto fazem altas apostas em um jogo de pôquer clandestino, que envolve muito mais do que dinheiro. Vegas até pode ser a cidade dos jogos de azar, com grande parte deles legalizado pelo Estado de Nevada, entretanto, há certas apostas que estão às margens da lei. O que é muito mais emocionante.
Refugiados em uma sala vip e secreta em um dos meus cassinos, a entrada aqui é extremamente rigorosa e demanda que a pessoa tenha um passe especial, que não se consegue facilmente. A meia dúzia de homens em seus ternos caros, chapéus e suspensórios que estão aqui hoje, em plena luz do dia, sendo não mais que cinco da tarde, são gangsters das redondezas, políticos corruptos, cafetões e agiotas. Toda a porra da escória humana, juntos, em uma sala de oitenta metros quadrados.
Estou atento ao jogo quando uma das garçonetes, apenas de calcinha e sutiã, aproxima-se de mim, sentado no sofá analisando o blefe de um colega, e murmura no meu ouvido. Viro-me na direção das portas duplas da entrada do salão, notando um funcionário de alto-escalão do cassino, impecavelmente uniformizado, esperando por mim. Deixo minha bebida na mesinha ao lado e vou até ele, que me encaminha para fora. Sinto o carpete vermelho sob meus pés enquanto ele diz, muito polido:
— Senhor, perdão interromper sua diversão...
— Diga de uma vez o que quer.
O homem pigarreia, ajustando a gravata.
— Sua esposa. Insistiu em falar com o senhor. Está aguardando na cobertura.
Enrugo o cenho, estranhando a visita de Giovanna. Não só porque ela veio até aqui, sabe-se lá por qual motivo, mas também porque ela mal fala comigo desde o dia em que me assistiu fodendo a prostituta. Isso já tem pouco mais de um mês. Nunca conversamos sobre esse dia, muito porque quase não a vi nas últimas semanas, embora moremos no mesmo lugar. Não fiz questão de abordar o assunto — não vi motivos para tal —, e ela tampouco teve o mesmo interesse. Sua vinda ao cassino desperta minha curiosidade e por isso, só por isso, decido ver o que quer comigo.
Dispenso o funcionário, agradecendo por ter vindo me informar, e sigo até minha cobertura. No percurso, ligo o celular, que desativei para ter um pouco de paz, e encontro as mensagens do segurança dela me informando que viria para cá e todo o trajeto do GPS que fizera. Entro com cuidado, varrendo o local à procura dela. O hall de entrada está silencioso, assim como a sala principal e a de jantar. Não costumo usar muito esse lugar. Tenho meus próprios pontos de encontro com as prostitutas e nem gosto muito daqui. O cassino fica em um ponto muito privilegiado no centro de Vegas, é verdade, mas algo nesse lugar não me agrada. Talvez seja a decoração brega, que ainda segue os padrões de Bianco, ou porque esse lugar me traz recordações nada boas do velho Luigi. Nunca fiz questão de dar um toque mais pessoal por exatamente não frequentar tanto.
— Giovanna? — chamo-a.
— Aqui. — A voz vem do escritório.
Lá, eu a encontro de costas para mim e de frente para a mesa de madeira maciça que tem no ambiente, parecendo mexer ou observar alguma coisa.
— O que diabos quer comigo?
Quando ela se vira, sinto meu coração entalar na garganta. A garota abraça um pequeno buquê de flores e um ursinho de pelúcia, cinza. Seus olhos verdes me analisam atentamente, estudando minha reação. A desgraçada sabe que desestabilizou toda a minha estrutura. Que raios pensa que está fazendo?
— Você esqueceu em casa. Já foi ao cemitério?
Fico parado no meu lugar, sentindo o corpo rígido e frio. Eu não esqueci nada. Simplesmente decidi não ir ao cemitério dessa vez. Deixei as flores para Maggie e o ursinho do bambino no meu quarto, sobre a cama. Se ela achou, significa que foi fuxicar meu ambiente particular ou foi me procurar. Provavelmente a primeira opção porque ela sabia que eu passaria o dia no cassino hoje. Fiz questão que soubesse, ontem à noite, enquanto arranjava tudo com os caras e conversava com eles pelo celular, na cozinha, onde ela jantava.
— Não — respondo, a voz saindo mais dura do que previ, tentando compreender sua atitude.
Giovanna se vira, põe o buquê e o brinquedo sobre a mesa e depois se volta para mim de novo.
— Aí está. Não se esqueça outra vez.
Ela dá um passo à frente, fazendo menção de sair. Dou outro em sua direção, muito mais ameaçador e intimidador. Minha esposa entende o recado e para, recuando outro para trás.
— O que você quer?
— O que eu quero? — pergunta, parecendo genuinamente confusa com meu questionamento. Ela tomba a cabeça um pouco para o lado, olhando-me de uma forma inocente demais para quem desejou me ver fodendo bocetas alheias.
— Isso de me trazer as coisas que levaria para o túmulo deles. Que pretensões tem, Giovanna?
A expressão no seu rosto é de ultrajada.
— Pretensão nenhuma, Ettore. Sei que costuma ir todo mês ao cemitério e sempre leva algo para sua esposa falecida e seu bambino. Como dessa vez esqueceu em casa, pensei que faria bem trazer pra você. Não precisa me agradecer se não gostou, mas também não seja grosso.
Não gosto do tom de voz que me dirige. Por isso, avanço contra ela, que recua instantaneamente até esbarrar na mesa atrás de si. Encurralada. Aproximo-me o suficiente apenas para intimidá-la, mantendo a distância segura para cumprir a promessa de nunca a tocar.
— Meça a porra das suas palavras para falar comigo, Giovanna.
Ela empina o nariz aristocrático, como se me desafiando, e agora não tem mais aquele medo de mim como tinha segundos atrás. Às vezes acho que me desafia assim só para ter o prazer de ser encurralada, testar meus limites e me fazer perder a paciência o bastante para tocá-la. Será que é isso o que quer? Que eu a toque, de um jeito ou de outro? Mesmo que seja segurá-la pelo braço para lhe dar um safanão?
— Eu te fiz um favor, na melhor das intenções, porque me compadeço da sua dor. Você é um babaca sádico e cruel que não consegue manter o pau dentro das calças, mas continua sendo um ser humano que perdeu duas pessoas importantes e ainda sofre com isso. Só achei que seria significativo para você.
— Achou errado. — Nunca menti tanto na minha vida. Afasto-me dela, andando de costas.
Ela balança a cabeça em negativo.
— Tudo bem. Finja o quanto quiser que não definha no seu luto. Engrosse essa camada impenetrável de homem durão na minha frente e na frente das outras pessoas. Mas nós dois sabemos que, à noite, você se se tranca no seu quarto e bebe e chora até dormir.
Giovanna passa por mim, deixando um rastro de perfume que me perturba, e vai embora. Engulo a bílis amarga que sobe até minha boca, odiando que essa menina consiga ver através dos meus muros e que tenha razão.
Que esteja, malditamente, coberta de razão.
***
Não consegui não vir aqui. Havia decidido, mais cedo, que não viria. Mas o fato de Giovanna ter ido até o cassino com suas "boas intenções" me fez reconsiderar. Foi impossível simplesmente ignorar os objetos sobre a mesa e fingir que eu não queria, desesperadamente, vir ao túmulo deles, como de costume. Por isso, fingi que não teve influência de minha atual esposa nessa decisão súbita e vim, embora seja fim de tarde e esteja quase escurecendo. Passo o tempo de praxe aqui, definhando em minha dor, como ela adorou jogar na minha cara, então recupero o controle da situação e deixo o cemitério.
Eu deveria ir para casa, mas a última coisa que quero nesse momento é encontrá-la, de um jeito ou de outro. Aquela menina tem mexido com meu juízo de forma estranha desde que estivemos na Rússia. Quero dizer, não que nunca tenha chamado minha atenção, afinal, ela tem um belo par de pernas e seios. Ainda assim, a sensação que vem tomando conta de mim nas últimas semanas não é nada comparável ao último pouco mais de um ano e meio.
Por isso, resolvo amanhecer na rua. Para passar o tempo, vou até uma danceteria, que um dia pertenceu ao território da Mahyas D'Arezzo, mas há pouco mais de um mês está sob influência dos russos, como parte do acordo que Enrico e Nikolai fizeram. As áreas na Espanha ainda não foram reconquistadas completamente, pelo que soube, mas os dois chefes estão trabalhando para isso.
Entro no ambiente, ignorando a garota de programa que sem demora me recebe na porta, vestindo nada além de sutiã e calcinha de couro. Ela se agarra ao meu braço, oferecendo seus serviços. Por ora, só quero beber. Dispenso a mulher e me acomodo na área vip, em um dos estofados de cor espalhafatosa, e peço uma um Dry Martini. A garota me dá as opções de preparação do drink e opto pelo clássico com vermute seco. Tomo minha bebida vagarosamente, atento às pessoas à minha volta, divertindo-se, ignorando as prostitutas que me abordam e repetindo o drink mais vezes do que sou capaz de contar. Agradeço por ser bastante resistente a álcool.
— Ettore Martini — alguém diz, pondo-se ao meu lado.
O homem de moicano, bigode grosso e tatuagens e piercings no rosto tem um sotaque forte que reconheço de imediato antes mesmo de encará-lo. Russo. Smirnov.
— Yuri Smirnov. — Maneio a cabeça em sua direção, virando outro gole da minha bebida.
Yuri é um dos russos da área, a serviço de Nikolai, que comanda os negócios e lidera o clã que se instalou na cidade. Não faz tempo que estivemos juntos, dentro de uma mesma sala, selando nosso acordo russo-americano mafioso.
— Por que está sozinho? — pergunta, massageando o bigode.
— Não estou interessando em nenhuma das suas devushkas.
— Devushki — ele me corrige. Ergo uma sobrancelha, não sabendo a diferença. — O plural. — Faço um movimento com as mãos, de puro desdém. — De qualquer maneira, não estou me referindo às prostitutas.
Sua colocação me deixa curioso a ponto de me inclinar sobre os joelhos e olhá-lo criteriosamente. Yuri faz um movimento com a cabeça, indicando algo do outro lado da boate. Viro-me. Correção: ele me indicou alguém. Uma garota, casa dos vinte e tantos anos, loira de cabelos longos e lisos. Usa um conjunto de couro de minissaia e cropped. Pernas torneadas, seis fartos. Mesmo relativamente longe — uma distância de uns cinco metros — noto que morde o lábio inferior e me analisa sem qualquer pudor. Está sentada em outro sofá, junto de algumas amigas que conversam e riem sem parar.
— Ela não para de olhar pra você, desde que chegou. Então, volto a te perguntar, companheiro, por que está sozinho?
Um sorriso leve surge em mim. Não vim aqui atrás de sexo. Ao menos não sexo pago. Mas se a putinha está se atirando para cima de mim e está mais do que interessada, por que não? Talvez devesse levá-la para casa e deixar que Giovanna saiba que estou com ela e queira ver de novo. Leva apenas uma sinapse para compreender a porra que acabou de passar pela minha mente.
Viro o restante do meu uísque, dispersando meus pensamentos absurdos.
— Tem razão — digo para Yuri, sem olhá-lo.
Depois da foda bem dada, estou exausto e estranhamente sonolento. Rolo de cima da garota, sentindo os olhos pesarem, e não me importo em fechá-los por um tempo, querendo cinco minutos de descanso. Não sei exatamente quanto tempo passa, mas a impressão é que só tive a oportunidade de fechar os olhos, quando uma gritaria me traz para a realidade outra vez. Mal me localizo e vejo a loira com quem estive sendo puxada do meu lado, ainda nua, por um cara furioso. Ele grita com a mulher, chamando-a de um monte de nomes baixos.
Pronto, era o que me faltava. A vagabunda é comprometida.
Com a cabeça meio zonza, eu me levanto, procurando pelas minhas roupas. Ignoro que o desgraçado esteja agredindo a garota e me visto. Estou terminando de colocar minha camisa quando o cara me puxa pelo ombro e desfere um soco em mim. A agressão me desestabiliza por completo e cambaleio para trás, pego de surpresa.
Não sinto dor alguma porque estou consumido pela raiva. Se a puta da mulher dele trepou com outro homem, que se resolva com ela, não comigo que nada tenho a ver com a porra da história. Ele está partindo para cima de cima outra vez, mas consigo me desviar do golpe. Agarro-o pela gola de trás da camisa e devolvo o murro. Muito mais forte e potente. Chego a ouvir o nariz dele quebrar. O homem berra de dor e cai na cama, a mão no local atingido.
Atraídos pela confusão no quarto, outros dois homens aparecem, mas só reconheço um deles. Yuri. O russo olha para o maldito se retorcendo na cama e depois sobe os olhos para mim. Antes que possa falar alguma coisa, seu companheiro toma a dianteira:
— Porra, é o Ray!
Yuri o segura pelo ombro, como se quisesse contê-lo. Meus olhos vão para a garota no canto do quarto, onde está agachada, abraçando o próprio corpo e com os olhos úmidos. O cara que reconheceu o outro vai até ela, na intenção de ajudá-la.
— O que aconteceu aqui, Ettore? — Smirnov pergunta.
Fecho os botões da minha camisa.
— A putinha ali é comprometida. Eu não sabia e levei um murro por isso. Só revidei.
— Ela não é comprometida — Yuri rebate. — Era, mas sei que ela e Ray terminaram já tem uns três dias.
Não sei de onde eles se conhecem, não me interessa saber, mas não posso evitar a fúria exagerada nascendo dentro de mim com a nova informação. Em certo nível, até compreenderia a raiva do cara se ainda fossem a porra de um casal. Mas não são. Se já achei inaceitável ser socado achando que ela era comprometida, é ruim que vou aceitar ter sido esmurrado por uma puta que não é nada desse infeliz. Pensando nisso, avanço sobre ele, ainda gemendo na cama com o nariz arrebentado, decidido a acabar com a raça dele. Pego-o pela camisa, pondo-o de pé, e sei que deveria deixar para lá. O desgraçado está bêbado, provavelmente sofrendo por uma boceta que não vale a pena, e já o nocauteei. Mas ele mexeu com uma versão de mim implacável e cruel. Não vou perdoar. Não vou ceder. No momento que estou para arrebentar a cara do maldito, sou empurrado. Ergo os olhos e encontro o amigo de Yuri.
— É melhor se afastar dele — avisa. — Vá embora, Ettore. Não queira arrumar confusão conosco. — O sotaque, agora percebo, revela que é um dos russos.
Procuro pelos olhos de Yuri, que maneia a cabeça em positivo, como se concordasse com os argumentos do amigo.
— Não faça disso maior do que é, Martini — Smirnov aconselha.
Inspiro fundo. Ele tem razão. Embora não goste da sua intromissão, decido que não vale a pena. Não vou entrar em confusão com eles. Não quando temos um acordo e um trato de não-agressão. Aceno em positivo, pego meus pertences sobre a mesa de cabeceira e começo a sair quando o outro russo murmura:
— Porra louca dos infernos. Passou da hora de superar o luto.
Viro-me imediatamente na sua direção, compreendo a insinuação na sua voz.
— Alexei! — Yuri adverte.
Olho para o tal Alexei, que me olha de volta, altivo, como se não me temesse.
— O que disse? — pergunto, dando um passo à frente, já sentindo o ódio tomar conta de cada célula do meu corpo.
— Que passou da hora de superar o seu luto — repete. — Você age assim, todo explosivo e violento, e coloca a culpa no luto, mas nós dois sabemos que é só um pretexto pra ficar descontrolado quando quiser. Porque, convenhamos, nem amar a sua esposa você era capaz.
Nessa hora, eu vejo vermelho. Yuri tenta me impedir, agarrando-me pelo ombro, mas consigo me desvencilhar de sua pegada e avançar em Alexei. O soco que o atinge é forte o bastante para derrubá-lo no chão. Monto nos seus quadris, aproveitando a sua vulnerabilidade, e começo a esmurrá-lo alucinadamente. Eu tolero muita coisa, muita coisa mesmo, mas nunca vou tolerar que falem de Maggie ou que ponham em dúvida o que eu tinha — e, de certa forma, ainda tenho — por ela. Não vejo nada durante os segundos seguintes, ou se noto, simplesmente ignoro. Ignoro que Yuri esteja tentando me tirar de cima do maldito. Consigo, tomado por uma força alimentada pela fúria, livrar-me de cada investida dele, e ignoro suas advertências. Só paro quando sinto o metal frio na minha nuca e o cão de uma arma sendo armado. Nesse momento, contudo, é tarde demais.
Alexei está morto.
Um segundo depois, recebo uma coronhada e apago.
***
Sinto uma dor aguda na nuca conforme desperto e vou me localizando. Meus braços também estão doloridos, principalmente os punhos. Quando tento mexe-los, não consigo. Só então me dou conta de que estou amarrado, minhas mãos nas costas. É o bastante para me despertar completamente. Remexo-me na cadeira antes de erguer o olhar e me localizar. O que me deixa completamente confuso.
Que porra está acontecendo?
Estou no escritório de Enrico no Paradise. Pelo vidro da janela logo ali, noto que é de dia e não deve ser mais que nove da manhã. Meu irmão está na minha frente, fumando um charuto, encostado à porta de entrada, o pé direito casualmente contra a madeira. A raiva no seu rosto é visível. Do outro lado da sala, Brooke brinca com sua Glock, os olhos no amante, como se esperando por qualquer ato impulsivo da parte dele que ela tenha que conter.
— O que está acontecendo? — pergunto, finalmente, tentando me desfazer das amarras de novo. Por que diabos estou amarrado?
— Você, como sempre, fodendo tudo — Enrico responde, voz controlada, mas sei que tem raiva em cada palavra. Meu irmão dá um passo na minha direção, ameaçador e firme. — Tem sorte por eu ter conseguido convencer Yuri a te trazer para mim em vez de te amarrar em um tronco e te deixar no meio do deserto de Las Vegas para morrer.
Nesse momento, recordo-me dos últimos acontecimentos e compreendo a magnitude do problema que causei. É por isso que estou nessa situação, amarrado como um porco prestes a ser abatido, como se fosse a porra de um inimigo dos Martini. Enrico está furioso e vai me punir.
— Tínhamos um pacto, Ettore — meu irmão prossegue, rondando-me. Ele está calmo demais, o que me deixa um pouco assustado. — Mais. — Subitamente, ele está às minhas costas, sussurrando no meu ouvido: — Eu tinha planos de controlar as áreas dos russos na Espanha. Você conseguiu foder com tudo em uma única noite.
Quero dizer que posso me explicar, mas não posso. Agi fora de mim, cegado por esse ódio incontrolável.
— Alexei está mesmo morto? — pergunto, só para ter certeza.
Enrico suspira pesadamente, ficando de frente para mim.
— Está. Nikolai está furioso e já revidou. Perdemos dois homens que estavam na Espanha para ajudar a recuperar o restante das áreas tomadas pelos sérvios e japoneses. O acordo está desfeito porque, caso não se lembre, querido irmão, tínhamos um trato de não-agressão que você infringiu. Estamos em guerra, provavelmente.
Vejo o desprezo cortar seu rosto. Custou muito a Enrico a última guerra entre máfias. Perdemos gente de todos os lados, sacríficos precisaram ser feitos, territórios tiveram de ser concedidos, e casamentos foram arranjados.
— Nikolai ainda não se pronunciou sobre isso — Brooke diz, estacionada no mesmo lugar, sem ter movido um músculo. — Ele revidou, mas talvez as coisas fiquem por isso mesmo. Vamos esperar, Enrico. Solte seu irmão.
Ele dá uma risada alta e desdenhosa. Não serei solto enquanto não receber o que mereço. O primeiro soco vem antes que eu espere, acertando-me no olho direito. Enrico grita um "você fodeu com tudo, seu bastardo filho de uma puta!" e desfere outro golpe, no mesmo lugar, quando mal processei a dor da primeira investida. O terceiro soco acerta o lado esquerdo, e dessa vez Enrico diz que deveria ter deixado Yuri fazer o que quisesse comigo, mais cedo, quando ligou e avisou da merda que eu tinha feito na boate e que estava comigo, prestes a dar dois tiros na minha nunca, mesmo que eu estivesse desacordado, ou a me levar até o deserto e me largar lá pra morrer de insolação. O quarto soco atinge minha boca, causando um corte na gengiva. Sinto o gosto ocre do sangue. Enrico puxa meu rosto para o seu, erguendo meu olhar.
— Pensando melhor, talvez eu devesse te entregar para Nikolai. Como uma oferta de paz. Sangue por sangue — rosna, a mão fechada acertando meu estômago.
— Não seria a primeira vez que me oferece para beneficio próprio, Enrico — provoco, quando recupero o fôlego, recordando-me que meu casamento com Giovanna foi arranjado por ele.
Ele brada, cheio de raiva, e me agride em série. No rosto, no estômago, na boca. Estou zonzo e quase perdendo a consciência quando ele subitamente se afasta. Pelo olho bom, porque o outro sinto que está um pouco inchado, noto que foi Brooke quem o controlou. Ela o segura pelo rosto, firme, e diz para ele se manter calmo e não fazer nenhuma bobagem que vai se arrepender depois. Meu irmão inspira e expira diversas vezes, acenando em positivo.
De repente, o vibrar de um celular chama nossa atenção para a mesa de Enrico. Levo um segundo para compreender que é o meu celular. Estico um pouco o pescoço. O contato da minha esposa identificado na tela.
— É Giovanna — informo. — Me deixe atender.
— Lide com sua esposa depois — meu irmão determina.
— É urgente, Enrico!
Ele solta uma risada seca.
— E como é que você sabe?
Encaro-o lentamente.
— Faz um ano e meio que estamos casados e é a primeira vez que ela me liga.
O homem parece notar a seriedade nas minhas palavras e, embora hesite só por um milésimo de segundo, ele me desamarra. Meus punhos mal estão libertos quando atendo o celular.
— Giovanna?
Um ofegar do outro lado da linha.
— Ettore! — O tom de desespero atravessa a linha. — Eles estão aqui.
Levanto-me da cadeira, um senso de urgência tomando conta de cada centímetro do meu corpo.
— Eles quem?
Uma porta se fecha. Mais respiração ofegante, como se estivesse correndo.
— Russos. Acho que são russos. Derrubaram o sistema de segurança, metralharam todos os soldados do complexo. E estão... estão atrás de mim, Ettore!
Por algum motivo que desconheço, sinto todo meu corpo abalado quando ela diz isso. O coração dispara e começo a suar frio com a ideia de ficar viúvo pela segunda vez.
— Se esconda— ordeno. — Estou a caminho.
***
Agora as coisas vão ficar sérias hahahaha. Me contem tudo o que acharam desse capítulo. Espero que tenham gostado. Semana que vem tem mais. Beijos no core <3
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