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Noite XVIII

  MADELIENA

Acendi a vela com um sopro. A chama dançou sobre a vela vermelha. Encarei o fogo por alguns segundos, as marcas feitas na cera foram muito bem trabalhadas. Passei o polegar sobre o nome de Belledisse, um brilho branco preencheu o nome e logo em seguida, se apagou.

— Interessante — alguém murmurou na escuridão do meu quarto. Meu corpo não ficou em alerta e não me senti incomodada com sua invasão. Marco deu um passo à frente, a pouca luz iluminou seu rosto bonito e suas roupas escuras.

— Não deveria estar aqui — avisei, deixando a vela sobre o chão de madeira. Marco sentou no chão para me fazer companhia, o observei por alguns segundos. Seus olhos vermelhos vasculhavam o meu rosto sem a proteção do véu. Ele não piscou quando seus olhos foram para o meu pescoço exposto e depois meus seios. — Já chega. — Ele voltou para os meus olhos.

— Não me interesso por mulheres — rebateu, com a voz firme. Peguei algumas ervas e as rasguei dentro do bule de chá. — Por tanto, devo admitir que entendo o desejo dele por você. — Um sorriso cresceu em seus lábios grossos.

— Obrigada, Marco — agradeci lentamente. Marco lambeu os lábios e engoliu em seco ao escutar seu verdadeiro nome. — O que faz aqui? Sua presença está prejudicando meu feitiço. — Peguei uma pequena pedra redonda e a joguei dentro do bule.

— Eu sei o que você está fazendo — comentou. Não lhe dei muita importância e peguei a cuia escura com água quente. — Acredita mesmo que isso vai enfraquecer a Belledisse? — Depois de despejar toda a água, o encarei.

— Você tem alguma ideia do que eu posso fazer? — questionei, deixando-o em silêncio. — Belledisse me escolheu porque eu possuo a magia mais pura entre nós. — Seus olhos vermelhos desceram para as velas negras espalhadas.

— Não tem medo que usando esse tipo de feitiço, sua magia se torne negra? — perguntou com calma.

— Não estou usando minha magia para prejudicar a Belledisse, é só para me proteger dela. — Sorri para ele. Observei seus olhos se estreitaram. — Por que está aqui? — insisti.

— Estou aliviado por você ter acordado — suas palavras não demonstravam isso. Olhei para seu rosto em silêncio, antes de voltar minha atenção para o feitiço. A chama consumia a cera rapidamente, eu não tenho muito tempo. — E que essa é uma nova chance de você romper sua ligação com ele.

Parei de balançar o bule com sua última declaração. O silêncio perdurou entre nós, as luzes amareladas dançavam em uma música lenta e melancólica. Respirei fundo, sabendo que teríamos a mesma conversa outra vez, voltei a balançar o bule. Escutei a pedra batendo contra o metal e o cheiro forte de ervas me invadir.

— Já conversamos sobre isso Marco. — Peguei o pequeno escorredor e o depositei sobre a xícara de cerâmica. O líquido esverdeado escorreu, assim que a xícara encheu, a vela vermelha se apagou. Marco a encarou rapidamente e depois a xícara. Seu rosto estava calmo, porém pude notar o leve tremor em seus dedos, antes que ele os entrelaçassem. — Você está com medo? — perguntei, sem esconder a malícia em minhas palavras.

Marco sorriu. Um sorriso bonito, que o deixava mais elegante. Marco é um homem belo que poderia conseguir tudo o que desejava com simples palavras. Seus cabelos longos e brancos o deixavam exótico, posso entender porque Tristen um dia o desejou.

— Não tenho medo de você Madaleina. — Seu sorriso continuou. — Já lutei com várias bruxas no decorrer da minha existência. Um simples feitiço não me causaria medo mesmo se eu quisesse.

— Claro que não — pisquei para ele. Soprei uma das velas, apagando a chama. A escuridão aumentou entre nós. — As noites estão terminando e logo não estaremos mais juntos. — Minha declaração parecia vazia e amarga. Eu não queria deixa-lo para trás, como uma lembrança prazerosa. Como a única coisa verdadeira que eu já tive em toda a minha vida.

— Eu já falei para você Madaliena. Não é você que escolhe. — Sua voz se tornou macia, o que me pegou desprevenida. Apaguei outra vela.

— Ele não pode me forçar a ficar com ele, Marco. — O encarei intensamente. — Quando tudo isso acabar, eu voltarei para o meu clã.

— Mesmo depois do que a Belledisse fez com você? — questionou. Ele sustentou meu olhar.

— Isso mesmo. A Belledisse. Ela foi à única que me usou e me controlou. Eu a odeio mais do que tudo nesse mundo, por tento, as outras nunca me fizeram nenhum mal. — Apaguei a última luz. A escuridão se propagou entre nós. Os olhos vermelhos de Marco brilhavam no breu ao nosso redor.

— Elas sabiam o que Belledisse estava fazendo com você. Mesmo assim, elas não fizeram nada para impedi-la. Isso não é a mesma coisa Madaliena? Assistir alguém sofrer, sendo usada todos os dias, isso não fazem delas apenas outros monstros?

Abri a boca, mas a voz ficou presa na garganta. Pisquei, sem saber o que responder. O clã é tudo o que eu tenho. Sem elas, eu não terei nada e nem ninguém. Eu estaria sozinha em um mundo desconhecido e estranho.

— O que você acha que vai acontecer se você matar a Belledisse? — Voltei a encara-lo.

— Eu estarei livre — murmurei apenas para ele. — Eu seria uma mulher livre — repeti, gostando de como aquilo soava. — Não posso mais ficar presa a ela Marco. Não depois de tudo que ela me forçou a fazer.

— Eu sei que não — rebateu com calma. — Mas pense bem antes de fazer qualquer coisa. Se você decidir enfrentar a Belledisse, você precisa entender que estará sozinha. — Dessa vez, houve preocupação em suas palavras.

— Elas podem compreender meu motivo — comentei, esperando que ele concordasse.

— Acredita mesmo nisso? — Levantei do piso quente. Marco fez o mesmo.

— Sim.

Seus olhos vermelhos piscaram.

— Você mente muito bem, para uma bruxa que foi proibida a vida toda de mentir — confessou em voz baixa.

— Não é uma mentira — censurei, com o rosto quente. — Eu sei o que você está pensando — declarei, encarando seus olhos brilhantes. — Você acha que se eu enfrentar a Belledisse. Eu não irei sobreviver. — Esperei alguma resposta, mas Marco apenas me encarou.

— Você não merece isso — disse por fim. Com dificuldades, encarei a xícara no chão.

— Isso não vai acontecer. — Levantar a cabeça na sua direção. — Ele disse que não me deixaria morrer — revelei com um meio sorriso. Marco inclinou a cabeça.

— Tristen? — perguntou, surpreso.

— Não. O Deus Caído. — Depois que as palavras saíram, tudo ao meu se tornou frio. Marco deu um passo para trás. Seus olhos vermelhos se tornaram negros e sombrios. — Você já o conheceu? — perguntei, percebendo sua tensão. — Foi ele que me ajudou a sair daquele lugar. Claro, o Tristen foi o gatilho que me acordou, mas foi o Deus Caído que me libertou das correntes de Belledisse — contei. Marco deu outro passo, se afastando novamente. Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ele desapareceu. Passei a mão no pescoço, o ar pesado se foi, assim como a frieza. Suspirei, pegando meu vestido sobre a capa e o véu branco. Depois de vestida, peguei a xícara e a levei até o quarto de Belledisse.

Não demorei em chegar aos seus aposentos. Bati duas vezes antes de entrar. Encontrei Belledisse sentada na beira da cama, escovando os longos cabelos negros. Ela sorriu a me ver. Aproximei-me lentamente.

— Trouxe um chá para você — avisei, com um grande sorriso. Retirei meu véu, assim que lhe entreguei a xícara. — É o seu preferido.

— Muito obrigada, Madeliena. — A observei tomar um gole. Ela sorriu com o sabor. Não pude deixar de sorrir de volta. — Está deliciosa — murmurou, enquanto sentia o aroma suave do chá. — Por que está acordada há essa hora? — questionou. Ela tomou outro gole.

— Estava com fome, então fiz um pequeno lanche antes de me deitar — menti, sentindo um sabor doce encher minha boca. Era tão bom. Tudo estava indo tão bem. — Estou voltando para o meu quarto agora, aproveite o chá. — Coloquei meu véu. Belledisse me analisou por alguns segundos.

— Boa noite, Madaliena. — Deixei o quarto com um grande sorriso nos lábios.

~~*~~

TRISTEN

Estudei os últimos documentos da trégua. A luz da lamparina iluminava toda a mesa, onde havia vários papeis espalhados. Acomodei-me na cadeira e joguei meus pés sobre a mesa de madeira. Fechei os olhos por alguns segundo, não foi difícil encontrar os batimentos de Madaliena. Passei os dedos nos cabelos, desejando estar com ela. A conversar que tivemos na floresta foi agradável. Eu gostaria de escutar um pouco mais o som da sua voz, presenciar a curiosidade no seu rosto bonito ou sentir seus dedos acariciando minha pele.

As noites estão se esgotando, e Madaliena está pronta para me deixar. Esse pensamento me deixou irritado. Não é ela que decide quando tudo estará terminado, ela não pode simplesmente voltar para aquele covil. Levantei, pronto para encontra-la. Deixei os papeis em ordem antes de partir. Cheguei ao quarto de Madaliena em um salto silencioso, a encontrei deitada na cama de costas para a porta. Havia apenas uma vela ao lado da cama, observei seus ombros nus e depois suas pernas brancas. Aproximei-me lentamente, dei a volta na cama e encontrei seu lindo rosto. Madaliena estava com os olhos fechados e parecia relaxada sobre a cama macia e quente.

— Há quanto tempo pretende ficar em pé me observando? — Sua voz estava abafada por causa da almofada, mas pude escuta-la sem dificuldades. Não pude deixar de sorrir para ela. Apenas para ela.

— O tempo que eu desejar — respondi. Um sorriso radiante cresceu em seus lábios rosados. Com calma, me deitei ao seu lado. Seu corpo irradiava calor humano, o calor que eu tanto desejava e que já havia perdido há muito tempo. Afundei meus dedos entre seus cabelos negros, um cheiro suave de flores invadiu meus sentidos. Eu a desejava profundamente, seu cheiro, seu corpo, seus lindos cabelos e seu amor.

— Sentirei sua falta — seu sussurro fez meu coração bater. Meus dedos desceram para o seu pescoço fino. A sensação deles entre meus dentes foi mais satisfatória do que eu havia imaginado. Seu gosto era diferente, e eu gostei disso. Mais um motivo para mantê-la ao meu lado.

— Você não precisa sentir a minha falta — avisei, tocando sua bochecha com meus lábios. Madaliena suspirou com meu toque. Ela abriu os olhos e encarou o vazio. — Você pode ficar ao meu lado — contei, por fim. Madaliena levantou, dessa vez, ela olhou diretamente para mim. Não reclamei quando ela se aproximou e sentou em meu colo. Encarei seu pescoço e analisei sua camisola fina. Seus dedos abraçaram o meu pescoço com suavidade e sua intimidade quente sobre meu membro me deixava inquieto.

— Eu não posso fazer isso. — Madeliena beijou meu maxilar. Segurei seus quadris com força. Eu queria machuca-la profundamente por essas palavras ridículas. — Você sabe por que eu comecei com tudo isso. — Seus lábios quentes desceram pelo meu pescoço. Sua língua me provava e seus lábios, sugavam minha pele. O desejo de machuca-la logo se dissipou. — Você mesmo disso... — Ela comoçou a desabotoar minha camisa sem pressa. — É só para satisfazermos nossos desejos um pelo outro. Nada mais. — Encarei a janela fechada do outro lado do quarto. A lembrança não muito distante veio à tona. Isso não importava, não mais. Ela seria a minha rainha, minha senhora e minha Imperatriz. Ela me pertenceria querendo ou não. — E se eu escolhesse ficar ao seu lado. — Madaliena levantou a cabeça e me encarou. Seus dedos desceram cada vez mais. — Eu não sobreviveria muito tempo convivendo com sua espécie.

— Acha mesmo que eu deixaria alguém machuca-la em minha casa? — Minhas mãos desceram para suas pernas. Sua pele era sensível e lisa.

— Não. Mas nunca se sabe o que pode acontecer. — Ela se inclinou e me beijou. Um beijo lento e saboroso. Seus quadris se moveram, me fazendo arfar contra seus lábios carnudos. Ela sorriu contra minha boca, seus olhos estavam carregados de desejo e algo a mais. Madaliena se afastou. — Você não pode impedi-los de odiar uma bruxa, Tristen. Não quero viver sendo odiada por todos ao meu redor. — Suas mãos foram para o meu cinto. Ela o retirou sem se atrapalhar, seus olhos percorriam o meu corpo enquanto eu a admirava em silêncio.

Seus cabelos negros pareciam brilhar mesmo com pouca luz no ambiente. Sua pele pálida e macia implorava para ser tocada e mordida. Levantei a cabeça quando ela se afastou, ela retirou à calcinha antes de retirar minha calça do seu caminho. Não pude deixar de toca-la sobre a camisola branca, quase transparente. Acariciei seus seios quando ela voltou a sentar em meu colo. Sua intimidade úmida tocou em meu membro rígido. Respirei fundo, sentindo o seu cheiro. Madeliena girou os quadris, me provocando. Deixei seus seios e segurei suas coxas com força. Ela apoiou uma mão em meu ombro e a outra, segurou meu membro. Ela possuía os lábios rosados entreabertos, assim que eu a penetrou, Madeliena gemeu baixo. Não pude conter um suspiro de satisfação por estar dentro dela.

Ela estava tão quente. Tão úmida e apertada.

— Porra — murmurei, observando seus olhos cintilarem. Ela se moveu com calma. Seus cabelos roçaram meu abdômen, seu cheiro se misturava com o meu e tudo aquilo me deixava desorientado. Eu a queria completamente. Apenas para mim. Fechei os olhos e aproveitei a sensação de estar vivo. Meu coração batia por ela. Eu a acariciei lentamente, fazendo-a suspirar a cada descida e subida. Seu corpo se movia com sensualidade e ao mesmo tempo com inocência. Isso só me fez querer quebra-la de dentro para fora.

— Tristen... — Ela gemeu. Suas unhas arranhavam minha pele, isso não importava e não me causava dor. Tudo o que eu conseguia sentir, era ela apertando meu membro, ficando mais úmida, chegando ao limite por minha causa. As batidas do seu coração invadiam meus sentidos, assim como o encontro dos nossos corpos e o som dos nossos gemidos preenchia o silêncio do quarto como uma melodia de uma música única e perfeita. Ela não vai se livrar de mim tão facilmente.

— Não pare — pedi, segurando sua cintura com força. Madaliena jogou a cabeça para trás quando seu corpo estremeceu e eu a senti chegar ao clímax. Mesmo com seu corpo trêmulo, ela continuou se movendo, balançando os quadris em um ritmo constante e sedutor. Porra, ela tinha alguma noção de quanto mexia comigo?

Quando cheguei ao limite, gozei dentro dela. Seu corpo caiu sobre o meu. Por baixo da camisola, acariciei suas costas molhadas de suor. Ela estava ofegante e seu coração batia tão forte quanto o meu. É bom sentir isso. Estar com ela. Beijei seus cabelos antes de sentar e segurar seu corpo contra o meu. Madeliena levantou a cabeça e voltou a me beijar. Seus lábios inchados me beijaram sem gentileza. Seus olhos semicerrados revalavam o prazer que acabamos de sentir. Beijei-lhe de volta com a mesma intensidade.

— Eu não queria que essas noites terminassem. — Ela deixou meus lábios. Retirei-me de dentro dela, fazendo-a me abraçar e suspirar de leve.

— Eu também não — sussurrei, contra seus cabelos negros como a noite. Inclinei-me até o seu pescoço suado, com a língua, provei seu gosto salgado. — Você é perfeita para mim — confessei, antes de mordê-la. Madaliena se contorceu em meus braços. Abracei-lhe com força, enquanto sugava seu delicioso sangue. Ela sussurrava meu nome e arranhava minhas costas. Tudo aquilo, só me fez aprofundar ainda mais a mordida.

Depois de um tempo, libertei seu pescoço. Madaliena respirava com dificuldades contra meu ombro, seu corpo estava sem forças. Segurei seu rosto e a forcei a me encarar, ela abriu os olhos lentamente, revelando seus lindos olhos castanhos. Com os lábios molhados de sangue, eu a beijei. Madaliena provou o próprio sangue em um beijo profundo e brusco. Afastei-me quando ela me empurrou em busca de ar.

— Você é minha jovem bruxa.

Encarei seu rosto sonolento por um tempo. Minha atenção foi para o sangue escorrendo pelo seu pescoço pálido e sensível, meus olhos percorreram seus lábios inchados e manchados de sangue fresco. Uma euforia encheu meu peito bruscamente. Como ela podia ser tão perfeita? Levei meus lábios para o seu queixo, ela tinha o meu cheiro. Sorrir com a sensação de tê-la apenas para mim.

— Cada parte de você me pertence — sussurrei contra sua pele.

De um jeito ou de outro, você ficará comigo. Estará presa a mim.

~~*~~

Senti a presença de todos do outro lado da porta. Assim que entrei, fui recebido por vários olhos vermelhos. O lugar estava escuro, o que não me incomodava nem um pouco. Quando atravessei o vão da porta, todos abaixaram as cabeças. O cheiro de Madaliena em minhas roupas e pele era difícil de ignorar.

— O que é isso? — questionei, fechando a porta atrás de mim. — Uma festa surpresa? — Não pude deixar de brincar. Ninguém teve coragem de me encarar, a não ser o Marco. Ele estava apoiado na mesa. Seus braços estavam cruzados e seus cabelos longos caiam sobre os ombros — Marco? — Aproximei-me lentamente.

— Não precisamos esperar até a última noite para voltarmos. — Marco se pronunciou. — Já temos tudo que precisamos, podemos ir para casa agora. — Olhei ao redor com cuidado.

— E quando você decidiu isso? — perguntei, dando mais um passo na sua direção. Marco continuou imóvel.

— Revisamos todos os documentos e já assinamos os papeis — respondeu. — Não precisamos mais ficar nesse lugar meu senhor. Já conseguimos o que precisamos. Está na hora de enfrentar outro inimigo — declarou com a voz firme.

— Não vamos embora Marco — rebati ao mesmo tempo. Senti todos me encarando. Marco deixou o apoio e inclinou a cabeça. — Todos vocês voltem para os seus aposentos. — Não precisei mandar duas vezes, em segundos, estávamos sozinhos. — Por que está fazendo isso?

— Madaliena me contou que o Deus Caído a libertou das correntes de Belledisse. — Sua voz se tornou baixa. Fiquei paralisado com sua declaração repentina. — Acredito que ela tenha prometido alguma coisa a ele. — Seu rosto se tornou preocupado. Pisquei lentamente, ele não poderia estar aqui.

— Por que ela faria isso? Belledisse a criou para odia-lo, ela teme a ele, assim como todas as bruxas. — Sentei-me na poltrona marrom. Marco se aproximou e ficou parado na minha frente. — Ela não é tola em fazer um trato com aquele demônio trapaceiro. — A lembrança da noite em que eu o conheci veio à tona como o trovão em uma tempestade. Afastei aquela memória rapidamente, não quero estragar a minha noite com Madaliena com aquela lembrança. Ela só me causaria raiva e fúria.

— Como você pode ter tanta certeza? — Seu questionamento me deixou em silêncio. — Por causa de Belledisse, Madaliena foi forçada a reprimir todos os tipos de sentimentos que um dia chegou a ter. Ela a criou para ser outra pessoa, enquanto à verdade Madaliena estava presa em algum lugar dentro de si mesma. Você não a conhece de verdade, assim como ela nem mesmo se conhece. O que quer que ela tenha prometido a ele. Não ficaremos no caminho, você sabe o que acontece se interferir.

O rosto de minha mãe invadiu meus pensamentos. Do seu corpo despedaçado e dos seus olhos vazios. A dor em meu peito me deixou quieto e melancólico. Pisquei, mandando aquela memória para as profundezas da minha mente.

— Resumindo, você quer que eu a abandone. — O encarei seriamente.

— No final de tudo, ela fará isso com você — rebateu, com o mesmo tom. — Todos sabem que ele está aqui, eu precisei avisar. Não ficaremos no caminho, quando ele chegar para buscar o que quer que ela tenha prometido. — Analisei a angustia em seu rosto e no seu corpo duro de tanta tensão. — Eu sei o que ele lhe causou, sei o quanto a perca o destruiu. — Seus olhos começaram a se tornar negros. Ele respirou com força.

— Pensei que você não se preocupava mais comigo — zombei, forçando um sorriso.

— Isso é diferente — gritou para mim. — Sei o que você faria se o encontrasse e todos nós sabemos o que o Deus Caído faria com você, se o atacasse. Se perdermos você, não teremos nenhum líder. Ninguém seguirá o seu irmão louco. Eu não o seguirei. Com a sua morte, seremos forçados a procurar outro jeito de sobreviver. — Marco me deu as costas rapidamente. O analisei passar os dedos nos cabelos longos antes de suspirar com força e voltar a me encarar. — Por favor, vamos embora desse lugar.

— Tudo bem — declarei por fim. Infelizmente, Marco tinha total razão. Se ele realmente estiver aqui, eu perderia completamente o controle. Mesmo depois de todos esses séculos, eu ainda o odiava pelo que fez a minha doce mãe e a minha querida irmã. Tudo por causa de um erro idiota, por um momento de desespero. — Mas eu preciso de mais uma noite nessa mansão. Quando o mundo lá fora estiver na escuridão, então partiremos. — Encarei o piso, Marco deixou o quarto com passos pesados. O silêncio se formou ao meu redor com a sua partida. Encarei os papéis sobre a mesa, tudo havia acontecido tão rápido. Estiquei minhas pernas, desejando que todo o plano ocorra como planejado. Madeliena não pode voltar para aquele lugar. Não pode me deixar e o mais importante, ela não pode morrer.

Com a mente pesada, fui tomar um banho. Quando deixei a banheira gelada, o cheiro de Madaliena havia enfraquecido. Enxuguei os cabelos e vesti uma roupa limpa. Olhei para o relógio no criado mudo. Já havia passado das onze da noite, talvez eu a encontre saindo do trabalho. Com os cabelos ainda molhados, deixei a mansão para trás e corri pela floresta escura e fria. Chegando a cidade, o lugar estava deserto. As ruas de pedras eram iluminadas pelos postes de luz velhos e pela luz fraca da lua. Segui para o bar com rapidez. Parei quando a encontrei se despedindo de alguns amigos em frente ao bar ainda aberto. A jovem garçonete possuía os cabelos soltos. Ela usava um casaco grande e negro, cobria todo o seu corpo pequeno e magro. Aproximei-me sem silêncio.

— Espere um pouco. — Segurando seu cotovelo, a forçando parar. Ela parou bruscamente e seu corpo inteiro endureceu. Quando ela se virou e me encarou, seu corpo pareceu relaxar. Um sorriso tenso surgiu em seus lábios pintados de rosa.

— Você me assustou. — Suas bochechas ficaram coradas.

— Diga-me que tem internet em casa. — Exigi, ainda lhe segurando com força. Ela piscou, ainda em choque pelo susto.

— Por quê? — Sua voz suave falhou. Seu coração batia com força.

— Você tem? — Voltei a perguntar.

— Sim. Eu tenho.

— Leve-me a sua casa. — A soltei. A garota ficou vermelha. O brilho em seu olhar se alterou.

— Você quer ir a minha casa? — Um sorriso se formou em seus lábios pintados. Um sorriso diferente e malicioso. — Mas só para usar a internet? — Ouço o desejo e sua voz.

— Sim.

Minha resposta curta pareceu deixa-la constrangida. Depois de alguns segundos em silêncio, ela confirmou com um aceno e me guiou pelas ruas até a sua casa. Ela é pequena e simples, como todas naquela cidade.

— Aqui. — Ela me entregou um Laptop branco. Suas mãos estavam trêmulas. Sentei-me a mesa e esperei o Laptop ligar. A garota ficou sem saber o que fazer ao meu lado. Seu coração continuava batendo com força e sua excitação era evidente. — Você gostaria de algo para beber? Ou comer? — A encarei com sua última pergunta. Ela possuía os lábios entreabertos e o rosto corado.

— Não — respondi, voltando ao Laptop. Assim que internet pegou, comecei o processo para enviar uma mensagem a Elena. Enquanto escrevia, sinto a garota se mover pela casa. Enviei a mensagem e esperei o retorno. Por causa da trégua e por exigência de Belledisse, éramos proibidos de levar qualquer meio de comunicação para a mansão.

Esperei pacientemente a resposta de Elena. Os minutos foram se passando e nada. A garota continuava inquieta ao meu redor. Enquanto encarava a tela, ela parou atrás de mim. Sentir seu corpo quente e um cheiro forte de perfume.

— O que você acha? — A garota perguntou. Não precisei me virar para saber como ela estava, mas mesmo assim o fiz. Seu corpo rosado estava exposto e seus cabelos loiros amarrados, revelando seu pescoço fino. Seus seios eram firmes e seus quadris cheios. Ela é bonita. Seus olhos me encaravam com expectativa. Minha atenção foi para sua barriga e depois, sua intimidade completamente lisa.

A jovem garçonete se aproximou com passos suaves, voltei a encarar seu rosto. Ela possuía um olhar determinado. Quando ela se aproximou, o cheiro forte de perfume me fez suspirar fortemente.

— O que está fazendo? — perguntei, seriamente. Ela parou, sem saber o que responder. O som de notificação de chamada ecoou pelo apartamento. A garota de cabelos loiros piscou.

— Achei que poderíamos terminar o que começamos — sugeriu, dando um passo na minha direção. À noite em que eu tomei seu sangue, pareceu um momento distante. Franzi a testa, por saber que Madaliena tinha o poder de mexer com minha mente, assim como o meu corpo.

— Acho melhor você voltar para o seu quarto e vestir uma roupa — mandei, deixando-a paralisada. — Agora! — Ela pareceu pensativa com a ordem repentina. Mas me deu as costas e seguiu para o quarto. Voltei minha atenção para o Laptop.

"Você é um desgraçado sortudo. Tenho um funcionário que é obcecado pelas intocadas. Ele vem pesquisando os rastros de Belledisse há muito tempo. Nós encontraremos amanhã ao anoitecer, não ouse se atrasar novamente."

Enquanto lia e relia aquela mensagem, algo dentro de mim rugiu. Meu corpo tremeu de excitação e ansiedade. Na noite seguinte, Madaliena me deixaria, mas não por muito tempo, quando ela destruir tudo o que possuir. Ela não terá outra escolha a não ser chamar por mim.

Ela será apenas minha e eu serei apenas dela. Quando tudo isso terminar, nada poderá nós separar.

...*...

Muito obrigada a todos por terem lido e espero de todo coração que tenham gostado. Um aviso importante, o livro já está na fase final, então fiquem atentos as publicações. 

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