NOITE IV
MADELEINE
Já era a quarta noite e nada havia sido resolvido. Pergunto-me se seremos obrigadas a ficar nessa mansão até a vigésima noite.
Encarei minha comida. A conversa ao meu redor fluía normalmente. Eu não sentia fome e não conseguia prestar atenção em nada ao meu redor. Só conseguia pensar no toque frio do vampiro, ou como seus olhos vermelhos me analisavam no corredor escuro ontem pela amanhã.
Depois do que aconteceu na reunião, não tive coragem de contar para ninguém o ocorrido. Falar o quanto eu gostei daquele momento repugnante, não era bem uma escolha, todas as minhas irmãs me veriam como uma traidora ou pior, que eu estava me corrompendo por um monstro. Meu corpo estremeceu ao pensar nos olhos negros de Belledisse me julgando, me censurando. Eu não posso fazer isso.
— Vou caminhar um pouco — avisei, deixando a comida de lado.
— Você não pode perambular sozinha pela mansão. — Benedity lembrou.
— Vou caminhar até o meu quarto. — Forcei um sorriso enquanto seguia para a porta. Deixei meu véu cair sobre o rosto antes de sair da sala quente e abafada.
— Está tudo bem, Madeleine? — A voz de Belledisse me forçou a parar. Meus dedos tocaram a maçaneta gelada, em todos esses anos, eu nunca mentira para Belledisse, até agora.
— Estou bem irmã. Só estou cansada.
Deixei a sala sentindo minha consciência pesada. Segui para o meu novo quarto no primeiro andar. Subi as escadas de mármore escuro sem pressa, depois que deixei o salão principal, pude olhar a floresta escura pelas janelas abertas. Os corredores estavam iluminados por lamparinas. Apreciei em silêncio as folhas batendo umas contra as outras, o som do vento soprando, o aroma doce da floresta. Tudo naquele lugar era encantador. A luz da lua me permitiu ver o pequeno jardim lá embaixo.
Havia movimentação. Com a ajuda da lua, pude ver Turno com os outros da sua espécie. Pergunto-me se saíram para caçar. Belledisse comentou no almoço de hoje, que segundo o acordo do encontro entre as duas espécies. Eles teriam permissão para se alimentarem na pequena cidade que se encontrava a alguns quilômetros de distancia. Eu não aceitava aquilo, mas querendo ou não, eles precisavam se alimentar.
Fui tirada dos meus pensamentos quando escutei passos se aproximando. Virei-me a procura da fonte, entretanto, me deparei com o corredor vazio e escuro. Um arrepio correu pela minha nuca. Decidi voltar para o meu quarto mais rápido do que pretendia.
Mantendo a calma, segui meu caminho tentando ignorar a sensação de estar sendo observada. Retornei a escutar o som de passos se aproximando, parei bruscamente e olhei ao redor. Não havia nada e nem ninguém. Estavam tentando me assustar? O nome de Benna passou pela minha cabeça, não seria a primeira vez que ela faria isso.
Voltei a andar pelo correr me sentindo tensa. Meus ombros estavam duros e minhas unhas cravadas na palma da mão. Meus passos eram calmos e silenciosos, o som de passos me perseguindo começou, era um som oco de sapatos batendo contra a madeira. Para o meu desespero, os passos ficaram mais rápidos, eles pareciam cada vez mais próximos, como se estivesse correndo na minha direção, isso fez com que meu coração gelasse e meu corpo parasse bruscamente. Virei-me com a respiração ofegante. Tudo o que eu conseguia ver, era o correr mal iluminado.
— Quem quer que seja, acho melhor você parar o que está fazendo e dar meia volta. Você não sabe com quem está se metendo. — Esperei qualquer som que me indicasse que o responsável por aquilo estivesse ido embora. Mas nada aconteceu, todo o que eu conseguia ouvir naquele corredor era o silêncio ensurdecedor.
Dentro do meu quarto, me sentei na cama e suspirei longamente. Não acredito que a Benna esteja brincando comigo de novo. As brincadeiras no clã já não eram o suficiente? Estamos nessa mansão para trabalhar, para que a guerra entre bruxas e vampiro terminasse. Para que não precisássemos mais viver naquele deserto gelado.
Procurei o incenso no quarto novo. Aquele era um pouco menor do que o anterior. Havia apenas uma cama com lençóis vermelhos, um guarda-roupa de madeira escura, um tapete branco perto da cama e um criado mudo. Abri a gaveta e encontrei alguns incensos e velas. Acendi duas velas e um incenso de rosas. Voltei a me sentar na cama, pronta para fazer um encantamento que me ajudasse a dormir. Não quero acorda até o dia seguinte.
Fechei os olhos e comecei a sussurrar palavras de um encantamento, que eu mesma havia criado, só assim poderei descansar de verdade. Com as mãos entrelaçadas, comecei a acariciar minha pele com o polegar. Esse movimento me lembrou do vampiro. Eu não conseguia esquecê-lo. Por um momento, me peguei desejando senti-lo novamente, sentir sua pele macia e gelada, sentir sua mão forte me acariciando, me tocando, me desejando. Para a minha desgraça eu desejava o demônio. Pergunto-me se isso já é o bastante para me corromper.
Belledisse contará uma vez, que uma de suas irmãs se deitou com um vampiro e que com isso, sua magia foi corrompida. Assim como o seu corpo e sua mente. Ela se revoltou contra suas irmãs e tentou assassinar Belledisse. Ela contou que arrancará o coração da própria irmã para se proteger, ela falou com detalhes como estava o coração da pobre bruxa. Ele estava negro, pegajoso e o cheiro de podre que emanava do coração a fez vomitar. Naquele momento, ela estava feliz por ter libertado sua irmã daquele sofrimento.
Abri os olhos rapidamente, quando algo gelado tocou minha pele. Meus olhos se encontraram com os vermelhos que invadiam meus pensamente. Meu corpo ficou sem reação ao vê-lo ali, ajoelhado na minha frente, em meu quarto, no meio da noite.
— Você não pode estar aqui — murmurei, desejando que aquilo fosse mais uma das minhas alucinações. — Por favor, vá embora. — Implorei, sentindo meu coração bater com força. Não posso ser traída pelo meu próprio corpo. Seu toque me causou arrepios, seus olhos vermelhos analisavam o meu rosto coberto pelo véu. Ele pegara a minha mão gentilmente e o levou até seus lábios.
Ele beijou minha pele. Mesmo seus lábios sendo gelado, ele deixará um rastro quente por onde passava. Seus lábios foram para meus pulsos. Parecia que meu coração estava preste a explodir e eu tinha total certeza que ele podia escuta-lo.
— Por que você está aqui? — O desespero em minha voz era evidente.
— Escutei você me chamando. — Sua voz rouca preencheu o vazio. Com sua resposta, pude sentir seu halito gelado de encontro com minha pele.
— Por que está fazendo isso comigo? — Ele levará a minha mão até seu rosto. Seu rosto belo e perfeito. Sem perceber, acariciei seu maxilar, passei o polegar sobre os seus lábios e queixo. Eu decorava cada parte do seu rosto.
— Quero que você sinta o quanto eu a desejo — respondeu lentamente. — Quero que sinta a necessidade do meu toque. — Meus dedos seguiam os movimentos de seus lábios desenhados com perfeição. Como eles podiam ser criaturas tão belas e malignas ao mesmo tempo?
— Não posso fazer isso — declarei. Não importa quantas vezes eu tentasse, eu apenas não conseguia parar de toca-lo. Mergulhei meus dedos em seus cabelos negros, seus fios eram sedosos e finos. — Isso seria um ato de traição contra minhas irmãs. Não posso ser tocada por ninguém e não posso me permitir ser corrompida por você. — Minha mão desceu pelo seu pescoço, pálido e macio.
— Você possui o conceito 'corrompida' de um jeito distorcido, jovem bruxa — rebateu ele, fazendo-me encarar seus olhos. — Tudo o que eu quero, é saciar o desejo que ambos possuímos. Esse sentimento que consome nossas mentes. — O vampiro levantou e o segui, sem desviar o olhar dos seus. Ele é alto, seu terno escuro o deixava mais elegante do que deveria. Sua mão tocou o meu ombro, me fazendo deitar na cama aconchegante. Seu corpo pairou sobre mim, ele segurava meus pés descalços e os acomodou na cama.
De joelhos na cama, ele abriu minhas pernas, roubando-me um suspiro brusco.
— Eu não posso fazer isso.
— Você não pode ou não quer? — Fiquei sem palavras quando ele pegou meu tornozelo e levou aos lábios. Meu vestido descer até o joelho, revelando um pouco mais de pele. Mordi a bochecha quando seus lábios gelados foram subindo e subindo.
— Eu não posso — respondi, depois de uma eternidade.
— A pergunta mais importante aqui é: Você quer? — Ele parou de me beijar e colocou minha perna de volta na cama. Não demorou muito para suas mãos voltarem a me tocar, seus dedos foram para minhas coxas, meu corpo ficava cadê vez mais quente com tudo o que estava acontecendo. O sentir fazerem pequenos redemoinhos na minha pele virgem. Minha respiração estava ofegante, meu coração não parava de pulsar com força e era difícil pronunciar qualquer palavra. — Responda-me jovem bruxa — mandou. Naquele momento, jurei ver desespero em seus olhos, mas eu sabia que era possível para um ser como ele sentir tal coisa.
— Eu quero — foi como assinar minha sentença de morte. Seus dedos subiam sem parar, meu corpo parecia preste a entrar em chamas. Suspirei com seu toque na minha calcinha, acariciando minha intimidade, o escutei suspirar, eu queria tanto prolongar aquele momento. Mas eu não podia, não posso fazer isso, depois de tudo o que aconteceu. Eu posso trair minhas irmãs, não posso trair Belledisse. Segurei seu pulso com força. — Mas não vou fazer isso. Você precisa ir embora — falei com dificuldades. Seus olhos vermelhos pareciam bilhar, seus lábios entreabertos estavam úmidos e revelava suas presas afiadas.
— Eu possuo a vida eterna, jovem bruxa. Posso esperar por você. — Antes que eu pudesse responder aquela declaração. Ele desapareceu sem fazer qualquer barulho e tão rápido quanto um piscar de olhos. Deixei meu corpo cair na cama, gemi de frustração e me amaldiçoei por ser tão fraca. Seu toque continuava na minha pele, seus lábios pareciam continuar me beijando. Eu sabia que aquela noite jamais me deixaria; seu toque nunca sairia da minha pele e a sensação dos seus cabelos entre os meus dedos, jamais seria esquecida.
...*...
Mais um capítulo publicado, espero de todo coração que tenham gostado. Obrigada a todos por terem lido, por cada voto e comentário. Muito obrigada.
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